Parque Eólico
Beatrice Offshore, na Escócia.
O potencial técnico de geração de energia eólica do
Brasil no mar é de 700 GW, segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia.
O documento foi elaborado após seis processos de
licenciamento ambiental para a construção de usinas eólicas no mar (eólicas
offshore) terem sido abertos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), todos em fase de licenciamento prévio.
Segundo o presidente da EPE, Thiago Barral, o
estudo Roadmap Eólica Offshore Brasil, publicado em 23/01/20, é o “documento
mais completo, sob o ponto de vista de planejamento”, sobre essa fonte de
energia produzida no mar feito no Brasil.
Segundo Barral, a EPE percebeu que havia lacunas de
informação sobre as eólicas offshore e barreiras para que essa fonte de energia
se apresentasse de forma competitiva no Brasil. O mapa se baseia em
experiências no exterior, em especial na Alemanha, Reino Unido e China e aponta
onde estão as barreiras e as possíveis linhas de ações para remover essas
dificuldades. “Um raio X de onde estamos e para onde podemos ir”, disse Barral.
O próximo passo será identificar os investidores públicos e privados que podem
desenvolver essas ações.
Potencial
O estudo da EPE apurou que quanto mais distante e
mais profundo, maior é o potencial técnico de geração de energia eólica no mar
e maior também o custo associado. Embora alguns países estejam explorando
energia eólica a profundidades maiores, o mapa indica que a tendência é por
profundidade da lâmina d’água de 50 metros. Nesses locais, o potencial técnico
é de 700 GW.
O principal local para a instalação de eólicas no
mar no Brasil é o Nordeste, com 68% de potencial de aproveitamento dos ventos
no mar. A Região Sul também apresenta potenciais positivos, bem como o Sudeste,
disse Barral.
Dos seis projetos com pedido de licenciamento prévio no IBAMA, três
mostram potencial de geração de 3 GW cada. São o Complexo Eólico Marítimo
Jangadas, no Ceará; o Complexo Eólico Maravilha, no Rio de Janeiro; e o
Complexo Eólico Marítimo Águas Claras, no Rio Grande do Sul, todos da empresa
Neoenergia.
Fontes
renováveis
Barral explicou que, da mesma forma que ocorreu na
Europa, o interesse pela energia eólicas no mar está relacionado à busca de
fontes renováveis para substituir os combustíveis fósseis, além da cadeia
produtiva e da demanda crescente de energia. “A busca por fontes que não
agravem problemas de poluição”, disse.
Segundo o presidente da EPE, os custos para
instalação de usinas eólicas no mar são mais elevados. Envolvendo distância,
profundidade e tipo de fundação, entre outros fatores, no exterior, esses
custos variam entre US$ 2 mil e US$ 6 mil por quilowatt (kw). Em moeda
nacional, o investimento oscila entre R$ 8,7 mil e R$ 15,8 mil por kw, baseado
na referência internacional. Em terra, o custo de implantação de uma usina
eólica é de R$ 4 mil por kw. A capacidade instalada hoje das eólicas em terra é
de 15 GW, informou o presidente da EPE.
Problemas
Barral explicou que um fator que eleva o custo é a
conexão com o sistema na costa e sua integração com o sistema interligado.
Outros problemas envolvem a adaptação da indústria nacional para atender à
eólica offshore em termos de escala, ou seja, da maior dimensão para os
equipamentos atualmente usados nas usinas em terra, a infraestrutura dos portos
e embarcações para atender à demanda das eólicas offshore, assunto que poderá
envolver a Marinha.
O presidente da EPE enxergou como positiva a
abertura de consulta pública pelo IBAMA sobre o licenciamento ambiental para
essas usinas, tendo em vista o ineditismo no Brasil desse tipo de investimento.
Ele avaliou que o fato de estarem no mar, a princípio, não traz nenhuma questão
que não possa ser superada, mas admitiu que, como se trata de zonas costeiras
que são mais populosas, poderá haver conflitos com outras áreas, como o
turismo, mas que devem ser superados.
Segurança
jurídica
Para Barral o ideal é que as eólicas no mar se
integrem aos mecanismos aplicados às demais fontes de energia. Em relação ao
arcabouço regulatório para dar segurança jurídica para o desenvolvimento de
projetos offshore, ele indicou a necessidade de se trabalhar para aperfeiçoar a
legislação. O modelo deve privilegiar a livre iniciativa.
Em razão do complexo logístico, o tempo de construção dessas usinas
eólicas no mar pode se estender de dois a três anos e meio, com base na
experiência internacional. Nas eólicas onshore (em terra), o prazo de conclusão
é de um ano. Barral acentuou que a intenção do estudo é iniciar a discussão
sobre o tema. “A ideia é dar uma contribuição, mostrando que é viável, apesar
da complexidade”. Ele acredita que as eólicas no mar são uma “possibilidade que
pode surgir em um horizonte não muito distante”.
O trabalho contou com parceria da Marinha, do IBAMA
e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e teve apoio do Banco
Mundial (Bird), da agência de cooperação alemã e da Embaixada Britânica.
(ecodebate)
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