Geração de energia à carvão segue caindo em todo o
mundo, mas ainda aquém das necessidades climáticas globais.
Pelo
quarto ano consecutivo, o número de usinas de energia operadas a partir de
carvão caiu em todo o mundo em 2019, de acordo com um novo relatório publicado
hoje pela Global Energy Monitor, com apoio do Greenpeace International, Sierra
Club, e o Centre for Research on Energy and Clean Air.
Esta
é a 5º edição do relatório, que faz um levantamento sobre projetos novos de
energia termelétrica de carvão. Dentre suas conclusões, destaca-se que, desde
2015, houve uma queda anual de 16% na construção de novas infraestruturas para
carvão no setor, totalizando 66% de queda ao longo desses anos. Em 2019, a
construção de novos projetos desse tipo foi 5% menor que em 2018 e 66% menor
que em 2015.
A
despeito do declínio observado em novos projetos de carvão, a capacidade
instalada de geração energética a partir desse combustível cresceu cerca de
34,1 gigawatts (GW) em 2019, o primeiro crescimento desde 2015. Quase 2/3 (43,8
GW) dos 68,3 GW adicionados foram instalados na China. Fora desse país, a
capacidade instalada caiu pelo segundo ano consecutivo, já que o resto do mundo
desativou mais capacidade (27,2 GW) do que construiu (24,5 GW).
“A
geração energética a carvão caiu de forma recorde em 2019, à medida que fontes
renováveis cresceram e a demanda caiu”, diz Christine Shearer, principal autora
do relatório e diretora do programa de carvão do Global Energy Monitor. “De
toda forma, o número de novas plantas adicionadas ao grid acelerou, o que
significa que as usinas globais de energia a carvão estão operando menos – ou
seja, mais plantas gerando menos energia. Para bancos e investidores que continuam
sustentando esses projetos, isso significa menor lucro e risco mais elevado”.
Ainda
que a implementação de novos projetos energéticos a carvão tenha caído ao redor
do mundo, as tendências observadas na China seguem sendo alarmantes. A
quantidade de nova capacidade energética a partir desse combustível fóssil
adicionada ao grid aumentou em 2019, mesmo que a utilização dessas plantas
tenha caído, o que indica uma sobrecapacidade piorada. Projetos anteriormente
abandonados foram retomados já que os controles sobre sobrecapacidade foram
flexibilizados no país.
“O
lobby da energia a carvão na China está pressionando por centenas de novas
usinas termelétricas no país até 2030, em contrariedade aos compromissos
globais da China de ser um contribuidor na luta contra a mudança do clima”,
explica Lauri Myllyvirta, analista-chefe no Centre for Research on Energy and
Clean Air. “Como formuladores de políticas públicas buscam por outras formas
para estimular a economia após a crise do coronavírus, uma onda de novos
projetos de carvão seria o pior tipo de desperdício. Tanto os compromissos
climáticos da China como a maior competitividade de tecnologias de energia
limpa significam que as instalações para energia limpa vão se acelerar,
limitando o espaço para geração a carvão crescer”.
Entre
os membros da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE),
a capacidade energética a carvão vem decaindo desde 2011. Quase metade da
capacidade abandonada em 2019 se deu nos Estados Unidos, a segunda maior já
registrada. Na União Europeia, o abandono de capacidade foi o 4º maior
registrado. Sob Trump, o descomissionamento de usinas a carvão cresceu 67% em
comparação com a administração Obama: a média de desativação sob a gestão
anterior foi de 8,2 GW anuais entre 2009 e 2016, e de 13,7 GW por ano no atual
governo (2017-2019), (veja figura abaixo).
“A
desativação de usinas a carvão não apenas continuou sob Trump, mas se acelerou
nos últimos”, diz Neha Matthew-Shah, representante do Sierra Club para justiça
ambiental internacional. “O carvão simplesmente não é competitivo frente a
alternativas mais baratas e menos poluentes para a economia energética moderna.
Está na hora dos Estados Unidos se conscientizar disso e abraçar a transição
energética limpa”.
Enquanto
Estados Unidos e União Europeia se distanciam do carvão, o Japão é agora o
maior gerador de energia a carvão entre os países da OCDE. O país tem 11,9 GW
de capacidade energética a partir desse combustível em desenvolvimento
doméstico, o que aumentaria as emissões de dióxido de carbono ao longo da vida
útil de sua infraestrutura de carvão existente em 50% (de 3,9 para 5,8 bilhões
de toneladas). Fora de suas fronteiras, o capital japonês está por trás de 24,7
GW em novos projetos a carvão, maior do que a capacidade instalada atual da
Austrália (24,4 GW).
“Ainda
que o carvão siga avançando em alguns países asiáticos, no resto do mundo o que
vemos é claramente um declínio desse combustível para geração de energia. Esta é
uma tendência global que deve continuar nos próximos anos”, aponta Gyorgy
Dallos, estrategista global do Greenpeace International. “Infelizmente, China e
Japão seguem contrariando essa tendência global, se tornando os países com
maior capacidade em instalação e financiando projetos desse tipo na Ásia”.
Mesmo
com a queda no desenvolvimento de novos projetos energéticos baseados no carvão
em 2019, o mundo segue fora de uma trajetória que permita viabilizar as metas
do Acordo de Paris sobre mudança do clima. A capacidade instalada para geração
de energia a carvão precisa cair 80% até 2030 para que possamos ter condições
de manter o aumento de temperatura média global abaixo de 1,5°C, de acordo com
projetos do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
(IPCC). Além disso, as Nações Unidas pediram que o ano de 2020 seja o último
para novas propostas de plantas energéticas a carvão.
“O
mundo já possui mais capacidade energética a carvão do que poderia ter dentro
do Acordo de Paris”, diz Greg Aitken, analista de pesquisa financeira para o
Global Energy Monitor. “Está na hora dos investidores e financiadores se
alinharem à realidade”.
Energias
renováveis ou energias alternativas.
Nota:
O tamanho médio das unidades geradoras a carvão é de 350 megawatts, sendo que a
maioria das centrais elétricas tem duas ou mais unidades deste tipo.
(ecodebate)