O
potencial da pongâmia é mais conhecido no mundo acadêmico do que na indústria.
O único grande projeto comercial de cultivo é da startup TerViva, da
Califórnia, empresa que apresentou a planta a Van Heesewijk. Entre as
características da pongâmia que atraíram a atenção do empresário está sua
longevidade: uma árvore pode chegar a 100 anos com produção anual. Com esse
atributo, o cultivo da árvore não exige retiradas constantes de biomassa -
vantagem em relação à palma, cujo ciclo é de 20 anos, ou mesmo em comparação
com a soja, de colheita anual.
Além
de reduzir custos, esse diferencial faz com que as emissões de carbono do
biocombustível do óleo de pongâmia sejam mais que compensadas em seu ciclo de
vida. Isso torna o produto atrativo a empresas da Europa e da América do Norte
que buscam alternativas renováveis, sobretudo no transporte de cargas e na
aviação.
“O
HVO/diesel verde e o SAF/combustíveis de aviação sustentáveis, são a única
maneira de descarbonizar essa indústria. Nos Estados Unidos e na Europa há um
crescimento enorme do mercado de HVO”, diz Van Heesewijk. “O grande desafio é a
matéria-prima”.
A
busca de alternativas à soja para produzir biocombustíveis não é novidade no
Brasil. Há cerca de dez anos, uma das grandes apostas para o biodiesel foi a
mamona, iniciativa que fracassou por causa da baixa produtividade da planta e
das dificuldades logísticas. Agora, porém, no caso do diesel e do querosene
verdes, Van Heesewijk acredita que a indústria vai procurar alternativas com
menor pegada de carbono do que a soja.
O empresário, filho de holandeses e economista de formação, deu os primeiros passos com o projeto há cinco anos, quando criou a empresa Investancia e convenceu family offices da França, Holanda, Itália e Inglaterra a investir na empreitada. Após levantar US$ 10 milhões, ele começou a fazer testes com variedades genéticas da planta originárias da Índia em três regiões do Chaco. O bioma, que se estende por Argentina, Paraguai e Bolívia, tem clima quente e chuvoso, propício ao desenvolvimento da árvore.
Biocombustíveis ganham destaque na matriz energética brasileira.
A
produção comercial começou neste ano. O local eleito para o cultivo foi o
distrito paraguaio de Carmelo Peralta, às margens do Rio Paraguai, na fronteira
com o Brasil, que, além de oferecer nível adequado de chuvas (1,4 mil
milímetros ao ano), tem terras baratas. Outro atrativo é a boa estrutura
logística da área, próxima de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul.
No
Paraguai, a Investancia ainda aproveitará a legislação local que incentiva a
locação de terras para reflorestamento. Mas a produção só se tornou
economicamente viável com a construção da biorrefinaria do grupo ECB na mesma
região, que demandará oleaginosas para a produção de HVO, bioquerosene (SPF, ou
SAF) e nafta “verdes”. No mês passado, Investancia e ECB fecharam um acordo de
fornecimento de 300 mil toneladas de óleo de pongâmia por 30 anos.
Para
cumprir o acordo, a Investancia expandirá o cultivo de pongâmia dos atuais 700
hectares 120 mil hectares, ocupados por pastos há mais de 12 anos. A área será
coberta por 50 milhões de árvores, que terão potencial para produção de 15
milhões de toneladas de vagens de pongâmia por ano. O ECB calcula que o volume
a ser fornecido pela Investancia será suficiente para garantir um terço de sua
produção no projeto Omega Green.
Mudas
são plantadas após um ano de cultivo em viveiros e no 2º ano, o gado que
pastava nas fazendas voltará às terras para criação em modelo silvopastoril. Produção
das vagens começará no 5º, em 2025, quando o Omega Green terá iniciado suas
operações.
Para
o investimento de US$ 300 milhões na nova etapa de expansão, a empresa
holandesa terá o apoio dos family offices e também os recursos da geração de
caixa da venda do farelo de pongâmia - que pode ser aproveitado para ração e de
créditos de carbono.
Investancia
está concluindo sua certificação para emitir VCUs (Verified Carbon Units)
segundo as regras do Verified Carbon System (VCS) e do Climate, Community and
Biodiversity Standards (CCBS). O reflorestamento de pastos será chave para a
certificação.
No campo, cada árvore de pongâmia sequestra em média 44 quilos de gás carbônico por ano, mais que qualquer outra oleaginosa. Se considerada essa média, o óleo de pongâmia tem capacidade de sequestrar 22,2 gramas de gás carbônico para cada megajoule de energia gerada com o combustível.
Pongâmia já é aposta para biocombustíveis.
Com
o projeto no Paraguai ainda no início, Van Heesewijk já tem planos de trazer a
pongâmia ao Brasil. O empresário comprou uma fazenda em Mato Grosso do Sul e
busca aprovação do Ministério da Agricultura para importar a planta, fazer
testes e sua “prova de conceito” da aposta comercial. (biodieselbr)
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