Mesmo depois de 20 anos do
racionamento de energia o país continua sem aprender o que fazer. Nesse momento
de crise hídrica, avalia o Instituo Escolhas, avançar rumo às fontes renováveis
é o caminho estrutural para que o Brasil possa agregar mais segurança à sua
matriz e não por meio de soluções imediatistas como as que têm sido tomadas
atualmente.
Em um estudo publicado, o
Instituto aponta que nem a mentalidade tampouco as práticas mudaram uma vez que
se vê novamente a busca por geração térmica como saída para a questão. Na
análise da entidade, o governo mantém-se preso “soluções imediatistas e que já
se mostraram pouco efetivas, como também em termos estruturais”, aponta.
Um dos caminhos para mitigar
os efeitos seria a contratação massiva de fontes renováveis não hídricas, ou
seja, eólica, solar e biomassa para complementar a geração hidrelétrica do país
e ajudar na recuperação dos reservatórios. E cita também a necessidade de abrir
mais espaço na matriz para outras opções, como o biogás, que também poderia
contribuir para a geração centralizada com a realização de leilões dedicados.
Mesmo em relação à hidroeletricidade
o país continua utilizando “velhas fórmulas, baseadas em sequências históricas
que não consideram as profundas e aceleradas mudanças climáticas e ambientais”.
Em entrevista concedida à Agência CanalEnergia no final de junho, Larissa
Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, lembrou que na
bacia do Paraná, a mais afetada pela atual crise hídrica, tem-se notado uma
mudança no perfil de vazões nos últimos 20 anos. E ainda, que em momentos de
normalidade de chuvas o problema é esquecido e só volta aos holofotes quando a
seca bate à porta.
Na bacia do Paraná, a mais
afetada pela atual crise hídrica, tem-se notado uma mudança no perfil de vazões
nos últimos 20 anos, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.
E o relatório do Instituto
continua ao afirmar que o “fantasma de um racionamento, por mais que se tente
afastá-lo, é cada vez mais real. Logo, é preciso de uma vez por todas
considerar os efeitos das mudanças climáticas no planejamento e operação do
setor”.
Outra sugestão indicada na
publicação passa pela implantação de um sistema de gestão integrada dos
recursos hídricos. Isso significaria melhorar o monitoramento da água, com
planejamento e gestão efetiva de todos os dados relativos às retiradas, uso e
retorno desse recurso. Para isso, seria necessária a alteração das séries de
vazões, um monitoramento mais preciso das precipitações, com mais postos de
medição, melhor aparelhamento e distribuição geográfica. E ainda, a criação de
uma base de dados oficial sobre o tipo de sistema de resfriamento de cada termelétrica,
entre outras.
“É preciso, ainda, rever o
papel que cada fonte vem recebendo do planejamento energético brasileiro nas
projeções de expansão, sobretudo no que tange à insistência em ampliar a
participação do gás natural no mix elétrico. É possível garantir o
abastecimento de energia elétrica aumentando-se mais e mais a participação das
fontes renováveis – eólica, solar e de biomassa –, a ponto de tais fontes
atingirem participação de 44% no total da matriz elétrica em 2035, ante os 19%
atuais”, defende o Escolhas.
Velhas soluções
O Instituto critica a opção
que o governo tem dado por expandir a oferta de usinas termelétricas como a
alternativa para resolver o problema atual. Nesse contexto cita a MP 1055 com a
formação do CREG e a previsão da contratação de energia de forma emergencial,
que pode vir, de novo, das termelétricas que queimam combustíveis poluentes.
Na avaliação do Escolhas o
país precifica as fontes energéticas sem observar todos os seus atributos
ambientais e sociais, criando assim uma falsa ilusão de fontes “mais baratas” e
“mais caras” e ignorando os novos parâmetros que hoje deveriam guiar a expansão
energética.
O motivo para que esse
comportamento ocorra deve-se à falta de diálogo com outros setores, como o
agropecuário, o de saneamento e o de aterro sanitário/resíduos sólidos urbanos
(RSU), que podem garantir oferta elétrica tanto para o Sistema Interligado
Nacional (SIN) como para a geração distribuída.
Mas admite que seria injusto
não mencionar que de 2001 para cá houve mudanças na matriz elétrica brasileira.
A principal delas, continua, é certamente a maior diversificação de fontes.
Eficiência
Outro ponto destacado no
relatório do Instituto Escolhas está no ponto de eficiência energética. Se o
país tivesse adotado ações no passado seria possível ter economizado energia
por meio do não consumo.
Para a entidade continuamos
considerando supereficientes energeticamente aparelhos que, em outros lugares
do planeta, já se tornaram “lembranças do passado”. Cita que o país ganharia
caso o Inmetro passasse a exigir maior eficiência de equipamentos,
principalmente do ar condicionado e geladeiras.
Segundo dados apresentados no
estudo, com o alinhamento das políticas industriais e de eficiência energética
para os aparelhos de ar-condicionado, a energia que deixaria de ser necessária
para suprir o consumo brasileiro chegaria a R$ 68,5 bilhões até 2035. Seriam
240,94 mil GWh – metade do consumo registrado em 2020 – evitados apenas para
suprir o consumo dos aparelhos de ar-condicionado disponíveis para a população
do país hoje, com o nível de eficiência energética exigido pela legislação
atual. E isso, lembra, sem falar nas emissões de 6,7 milhões de toneladas de CO2
evitadas.
Nas geladeiras, o ganho
financeiro seria ainda maior e em menor tempo, com uma redução de 130 TWh de
consumo elétrico até 2030. Em consequência, aponta que a pressão do consumo
elétrico hoje seria bem menor.
Eficiência Energética é outra
fonte desprezada no Brasil. Hoje consumidor tem pouca margem para contribuir
com a redução de demanda por energia elétrica. Sérgio Leitão, Instituto
Escolhas.
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