terça-feira, 24 de agosto de 2021

Solução estrutural da crise hídrica passa pelas renováveis

Solução estrutural da crise hídrica passa pelas renováveis, aponta Escolhas.
Estudo aponta que mentalidade e práticas para combater a crise hídrica no Brasil são as mesmas de 20 anos atrás e não contemplam eficiência energética nem mudanças climáticas.

Mesmo depois de 20 anos do racionamento de energia o país continua sem aprender o que fazer. Nesse momento de crise hídrica, avalia o Instituo Escolhas, avançar rumo às fontes renováveis é o caminho estrutural para que o Brasil possa agregar mais segurança à sua matriz e não por meio de soluções imediatistas como as que têm sido tomadas atualmente.

Em um estudo publicado, o Instituto aponta que nem a mentalidade tampouco as práticas mudaram uma vez que se vê novamente a busca por geração térmica como saída para a questão. Na análise da entidade, o governo mantém-se preso “soluções imediatistas e que já se mostraram pouco efetivas, como também em termos estruturais”, aponta.

Um dos caminhos para mitigar os efeitos seria a contratação massiva de fontes renováveis não hídricas, ou seja, eólica, solar e biomassa para complementar a geração hidrelétrica do país e ajudar na recuperação dos reservatórios. E cita também a necessidade de abrir mais espaço na matriz para outras opções, como o biogás, que também poderia contribuir para a geração centralizada com a realização de leilões dedicados.

Mesmo em relação à hidroeletricidade o país continua utilizando “velhas fórmulas, baseadas em sequências históricas que não consideram as profundas e aceleradas mudanças climáticas e ambientais”. Em entrevista concedida à Agência CanalEnergia no final de junho, Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, lembrou que na bacia do Paraná, a mais afetada pela atual crise hídrica, tem-se notado uma mudança no perfil de vazões nos últimos 20 anos. E ainda, que em momentos de normalidade de chuvas o problema é esquecido e só volta aos holofotes quando a seca bate à porta.

Na bacia do Paraná, a mais afetada pela atual crise hídrica, tem-se notado uma mudança no perfil de vazões nos últimos 20 anos, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.

E o relatório do Instituto continua ao afirmar que o “fantasma de um racionamento, por mais que se tente afastá-lo, é cada vez mais real. Logo, é preciso de uma vez por todas considerar os efeitos das mudanças climáticas no planejamento e operação do setor”.

Outra sugestão indicada na publicação passa pela implantação de um sistema de gestão integrada dos recursos hídricos. Isso significaria melhorar o monitoramento da água, com planejamento e gestão efetiva de todos os dados relativos às retiradas, uso e retorno desse recurso. Para isso, seria necessária a alteração das séries de vazões, um monitoramento mais preciso das precipitações, com mais postos de medição, melhor aparelhamento e distribuição geográfica. E ainda, a criação de uma base de dados oficial sobre o tipo de sistema de resfriamento de cada termelétrica, entre outras.

“É preciso, ainda, rever o papel que cada fonte vem recebendo do planejamento energético brasileiro nas projeções de expansão, sobretudo no que tange à insistência em ampliar a participação do gás natural no mix elétrico. É possível garantir o abastecimento de energia elétrica aumentando-se mais e mais a participação das fontes renováveis – eólica, solar e de biomassa –, a ponto de tais fontes atingirem participação de 44% no total da matriz elétrica em 2035, ante os 19% atuais”, defende o Escolhas.

Velhas soluções

O Instituto critica a opção que o governo tem dado por expandir a oferta de usinas termelétricas como a alternativa para resolver o problema atual. Nesse contexto cita a MP 1055 com a formação do CREG e a previsão da contratação de energia de forma emergencial, que pode vir, de novo, das termelétricas que queimam combustíveis poluentes.

E essa crítica é estendida ao Congresso Nacional também que incluiu 8 GW de potência em novas térmicas a gás natural na MP 1031, convertida na lei 14.182.Nesse caso por incluírem as usinas em uma região como o Nordeste, onde os usos múltiplos da água tem levado a taxas como a criada no Ceará, já que as centrais de geração também precisam de água para operar. E, claro, onde não há a infraestrutura para disponibilizar o combustível.
Crítica do Escolhas à geração térmica decorre desta ser a mesma solução adotada 20 anos atrás.

Na avaliação do Escolhas o país precifica as fontes energéticas sem observar todos os seus atributos ambientais e sociais, criando assim uma falsa ilusão de fontes “mais baratas” e “mais caras” e ignorando os novos parâmetros que hoje deveriam guiar a expansão energética.

O motivo para que esse comportamento ocorra deve-se à falta de diálogo com outros setores, como o agropecuário, o de saneamento e o de aterro sanitário/resíduos sólidos urbanos (RSU), que podem garantir oferta elétrica tanto para o Sistema Interligado Nacional (SIN) como para a geração distribuída.

Mas admite que seria injusto não mencionar que de 2001 para cá houve mudanças na matriz elétrica brasileira. A principal delas, continua, é certamente a maior diversificação de fontes.

Eficiência

Outro ponto destacado no relatório do Instituto Escolhas está no ponto de eficiência energética. Se o país tivesse adotado ações no passado seria possível ter economizado energia por meio do não consumo.

Para a entidade continuamos considerando supereficientes energeticamente aparelhos que, em outros lugares do planeta, já se tornaram “lembranças do passado”. Cita que o país ganharia caso o Inmetro passasse a exigir maior eficiência de equipamentos, principalmente do ar condicionado e geladeiras.

Segundo dados apresentados no estudo, com o alinhamento das políticas industriais e de eficiência energética para os aparelhos de ar-condicionado, a energia que deixaria de ser necessária para suprir o consumo brasileiro chegaria a R$ 68,5 bilhões até 2035. Seriam 240,94 mil GWh – metade do consumo registrado em 2020 – evitados apenas para suprir o consumo dos aparelhos de ar-condicionado disponíveis para a população do país hoje, com o nível de eficiência energética exigido pela legislação atual. E isso, lembra, sem falar nas emissões de 6,7 milhões de toneladas de CO2 evitadas.

Nas geladeiras, o ganho financeiro seria ainda maior e em menor tempo, com uma redução de 130 TWh de consumo elétrico até 2030. Em consequência, aponta que a pressão do consumo elétrico hoje seria bem menor.

Eficiência Energética é outra fonte desprezada no Brasil. Hoje consumidor tem pouca margem para contribuir com a redução de demanda por energia elétrica. Sérgio Leitão, Instituto Escolhas.

“A eficiência energética é outra fonte desprezada, mais um sinal do nosso atraso. Ainda pensamos o planejamento como uma relação linear entre oferta e demanda, quando justamente o que se pede agora é o oposto: de quanto menos energia iremos precisar para fazer o país funcionar. Mas hoje há pouca margem para que o consumidor contribua com a redução do consumo”, reforça o presidente do Escolhas, Sergio Leitão.
Segundo sua análise, o consumidor não pode ser culpado pela crise elétrica. Segundo Larissa Rodrigues, mesmo se hoje ele tivesse recursos financeiros para substituir equipamentos menos eficientes por outros mais eficientes, não os encontraria no mercado. Com isso defende que é preciso também renovar a oferta de produtos para o consumidor. Senão, ele continuará pagando a alta conta dos sobressaltos elétricos. (canalenergia)

Nenhum comentário: