sábado, 14 de agosto de 2021

Hidrelétricas matam toneladas de peixes em rios e reservatórios no Brasil

Eventos de morte em massa desses animais foram registrados em todas as bacias hidrográficas do país entre 2010 e 2020, principalmente em trechos de rios próximos a usinas.
A tilápia é uma das espécies de peixes prejudicadas pela presença de usinas hidrelétricas em rios e reservatórios brasileiros.

A operação de usinas hidrelétricas pode ser responsável pela morte de toneladas de peixes ocorridas nos últimos 10 anos em todo o Brasil. É o que aponta um estudo inédito da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e das universidades federais do Pará (UFPA) e de Tocantins (UFT), publicado na revista Neotropical Ichthyology em 09/07/21.

O estudo investigou as maiores causas de mortes de peixes em rios e reservatórios do Brasil a partir de uma revisão sistemática sobre casos específicos de mortes massivas desses animais entre 2010 e 2020. Os eventos de mortalidade de peixes foram registrados em todas as bacias hidrográficas brasileiras, principalmente em trechos de rios abaixo de usinas hidrelétricas. Em 2007, no reservatório da hidrelétrica de Xingó, localizada entre os estados de Alagoas e Sergipe, foram perdidas 297 toneladas de tilápia.

A Usina de Serra do Facão foi um dos locais pesquisados pelo grupo.

Hidrelétricas matam toneladas de peixes e ameaçam espécies nos rios brasileiros, aponta estudo.

Levantamento mapeou cardumes mortos nos últimos dez anos no Brasil em decorrência de operações de usinas nas bacias hidrográficas.

A mortandade dos peixes produz impactos sociais e econômicos para as populações de pescadores e ribeirinhos que dependem de peixes para viver e acontece com frequência em áreas de hidrelétricas ao redor do mundo todo, conforme aponta o levantamento. “A morte de peixes em barragens é algo constante, e sempre ‘misterioso’. Os peritos vão ao local investigar e acabam atribuindo a morte ao fator que parece mais provável, porém com fraca fundamentação científica”, explica Angelo Antonio Agostinho, um dos autores do estudo.

Segundo o estudo, as operações de enchimento do reservatório, ligamento e desligamento de turbinas e de abertura e fechamento de comportas de vertedouros, nas hidrelétricas causam mudanças repentinas no ambiente. Isso afeta a quantidade de oxigênio e de outros gases na água, além da quantidade de água, o que pode levar à morte dos peixes.

“O início do funcionamento de uma usina, quando as máquinas são testadas para garantir que foram corretamente projetadas, fabricado, instalado e operado, é uma grande oportunidade para avaliar se suas características físicas e operacionais são amigáveis aos peixes da região”, enfatiza Agostinho.

O estudo fornece informações para orientar a tomada de decisões nas vistorias e planejamento da instalação de novas hidrelétricas para minimizar a morte de peixes. Desde os anos 1970, houve um declínio de 84% das espécies de peixes de água doce no mundo, segundo relatório de 2018 da organização não governamental World Wide Fund For Nature (WWF). A intenção dos pesquisadores é de que, antes da implantação de uma usina, os resultados deste estudo possam ser incluídos no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) – documentos técnicos que contém a avaliação completa dos pontos favoráveis e desfavoráveis físico, biótico e socioeconômico do local que vai abrigar a hidrelétrica.

O peixe está nadando tranquilamente em uma represa quando, de repente, é sugado pelo duto que leva até a turbina de uma usina hidrelétrica. Em questão de segundos, vai ser arremessado do outro lado da barragem. Seu organismo será seriamente afetado: e nem é pela queda.

Imerso na água, o peixe está em um ambiente de alta pressão – que para ele é natural. Quando ele é sugado e de repente jogado para o outro lado da represa, ele sofre uma descompressão instantânea.

“Isso acontece em menos de um segundo. Quando ele passa pelas pás [da turbina], sofre a descompressão: o ar de sua bexiga natatória se expande muito velozmente, muitas vezes dobrando, triplicando o tamanho. Essa bexiga se expande e empurra tudo o que está à volta, chegando a romper órgãos”, explica o biólogo e ecólogo Andrey Leonardo Fagundes de Castro, professor na Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ).

“Acontece muitas vezes do estômago sair para fora da boca, o intestino para fora do ânus, o olho pular para fora da cavidade ótica. Hemorragia em todas as partes do corpo. É uma questão muito séria”, descreve ele. (revistagalileu)

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