sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Não investir na transição para a energia limpa custa mais no longo prazo

Caso as tendências de aumento de temperatura não sejam contrariadas, o PNUMA prevê que os custos de adaptação enfrentados apenas pelos países em desenvolvimento ficarão na faixa de 140 a 300 bilhões de dólares por ano até 2030.

• De acordo com um relatório feito a pedido do secretário-geral da ONU, a meta de ter US$ 100 bilhões investidos até o ano passado na transição para a energia limpa não está sendo atingida.

• Os dados analisados são de 2018 e indicam que, até aquele ano, foram investidos US$ 79 bilhões no setor.

• O montante pode parecer grande, mas não se compara aos gastos militares mundiais em 2020, que foram estimados em pouco menos de US$ 2 trilhões.

• A ONU estima que as mudanças climáticas podem levar mais 100 milhões de pessoas à pobreza até 2030.

• Caso as tendências de aumento de temperatura não sejam contrariadas, o PNUMA prevê que os custos de adaptação enfrentados apenas pelos países em desenvolvimento ficarão na faixa de US$ 140 a US$ 300 bilhões por ano até 2030.
Inundações em Bangladesh destruíram casas em vilarejos remotos em Islampur.

A pedido do secretário-geral das Nações Unidas, um relatório sobre o financiamento da transição para a energia limpa foi publicado em 27/06/21. Os dados analisados são de 2018 e indicam que, até aquele ano, foram investidos US$ 79 bilhões no setor. O valor está abaixo da meta de US$ 100 bilhões estabelecidos até 2020, indicando um percalço significativo na luta contra a mudança climática.

A análise indicou que os investimentos em energia renovável e infraestrutura sustentável estão crescendo. No entanto, de janeiro/2020 a março/2021, globalmente foi gasto mais dinheiro em combustíveis fósseis, responsáveis por criar os gases nocivos que impulsionam as mudanças climáticas.

Muitos países carecem de recursos financeiros para fazer a transição para energia limpa e um modo de vida sustentável que poderia reverter a mudança climática. A ONU afirma que o financiamento do clima é a resposta porque não investir custará ainda mais no longo prazo e também porque existem oportunidades significativas para os investidores.

Financiamento climático – Em termos gerais, o financiamento climático se refere ao dinheiro que precisa ser gasto em uma ampla gama de atividades que contribuirão para desacelerar as mudanças climáticas e que ajudarão o mundo a atingir a meta de limitar o aquecimento global a um aumento de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Para atingir essa meta, o mundo precisa caminhar em direção à neutralidade de carbono. Isso significa reduzir suas emissões de gases de efeito estufa a praticamente zero até 2050. Para tanto, as iniciativas que devem ser financiadas incluem aquelas que reduzem as emissões de gases nocivos, assim como aumentam ou protegem as soluções naturais que capturam esses gases, como as florestas e o oceano.

O financiamento também visa aumentar a resiliência das populações mais afetadas pelas mudanças climáticas e ajudá-las a se adaptarem às mudanças nas condições climáticas, medidas que, por sua vez, ajudarão a reduzir o aquecimento.

O financiamento existe junto com as soluções, para fazer a transição para o que a ONU chama de economia verde. A energia renovável que fornece eletricidade sem produzir dióxido de carbono ou outras formas de poluição do ar é um bloco de construção crucial para impulsionar o crescimento econômico sustentável.

Riscos – Com o aumento das temperaturas globais, junto com a mudança dos padrões climáticos como aumento do nível do mar, aumento de secas e inundações, as populações mais vulneráveis do mundo estão enfrentando riscos cada vez maiores, insegurança alimentar e têm menos chances de sair da pobreza e construir uma vida melhor.

Na verdade, a ONU estima que as mudanças climáticas possam levar mais 100 milhões de pessoas à pobreza até 2030. Recursos financeiros significativos, investimentos sólidos e uma abordagem sistemática global são necessários para lidar com essas tendências preocupantes.

Com a queda do custo da energia limpa, 2021 pode iniciar a década sem carbono.

Valor dos investimentos – São necessários investimentos significativos e a cooperação internacional é crítica. Mais de uma década atrás, os países desenvolvidos se comprometeram a mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano até 2020 em apoio à ação climática nos países em desenvolvimento.

Pode parecer muito, mas compare isso com os gastos militares mundiais em 2020, que foram estimados em pouco menos de US$ 2 trilhões, ou os também os trilhões de dólares gastos por países desenvolvidos em ajuda relacionada à COVID-19 para seus cidadãos.

De acordo com um relatório de um especialista, feito a pedido do secretário-geral da ONU, a meta de US$ 100 bilhões não está sendo atingida (os últimos dados disponíveis para 2018 são de US$ 79 bilhões), embora o financiamento do clima esteja em uma “trajetória ascendente”. Portanto, ainda há uma grande lacuna nas finanças.

Oportunidade, não risco – Comunidades em todas as partes do mundo já estão sofrendo os efeitos financeiros das mudanças climáticas, seja a perda de safras devido à seca ou grandes danos à infraestrutura causados por enchentes ou outras condições climáticas extremas.

O enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, diz que a enorme quantidade de investimento necessária representa uma oportunidade e não um risco, argumentando que os benefícios que fluem desses investimentos superam dramaticamente quaisquer custos iniciais.

Também é cada vez mais aceito que os investimentos climáticos fazem sentido do ponto de vista econômico. Os casos financeiros e de negócios para energia limpa estão mais fortes do que nunca. Na maioria dos países, tornar-se solar agora é mais barato do que construir novas usinas de carvão. Os investimentos em energia limpa também impulsionam o crescimento econômico, com potencial para criar 18 milhões de empregos até 2030 e isso inclui as inevitáveis perdas de empregos com combustíveis fósseis.

Fonte do dinheiro – Em geral, o financiamento provém de uma ampla gama de fontes públicas e privadas, que apoiam iniciativas inovadoras de ação climática em nível local, nacional ou transnacional. Uma variedade de instrumentos financeiros pode ser usada para fornecer financiamento climático de títulos verdes a empréstimos diretos baseados em projetos para investimentos diretos em fornecedores de energia ou tecnologia.

Vale lembrar que a adaptação é apenas uma parte do complicado quebra-cabeça da ação climática. Uma vez que os esforços de redução e descarbonização e os esforços de resiliência global, tanto no mundo em desenvolvimento como no mundo desenvolvido são considerados, o custo anual excederá em muito US$ 500 bilhões e possivelmente até mais de US$ 1 trilhão.

Mas os benefícios dos investimentos serão muito maiores – a mudança para uma economia verde pode render um ganho econômico direto de US$ 26 trilhões até 2030 em comparação com os negócios normais.

A ONU afirma que busca combinar a “determinação do setor público com as capacidades de empreendedorismo do setor privado”, apoiando os governos para tornar os investimentos climáticos mais fáceis e atraentes para as empresas do setor privado.

Felizmente, a ONU relata que “os esforços para envolver o setor privado no cumprimento das metas de Paris estão ganhando impulso”. Muito do financiamento climático é canalizado por meio de vários fundos e programas da ONU.

Revolução energética limpa e renovável.

Próximos passos: Compromisso anual de US$ 100 bilhões “é um piso e não um teto” para o financiamento do clima, de acordo com a ONU. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/PNUMA estima que os custos de adaptação enfrentados apenas pelos países em desenvolvimento ficarão na faixa de US$ 140 a US$ 300 bilhões/por ano até 2030 e de US$ 280 a 500 bilhões anuais até 2050. (ecodebate)

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