Um dos focos será a expansão da rede de pontos de recarga pelo país. A escassez de estações de abastecimento nas estradas e cidades é uma das principais preocupações do consumidor que deseja comprar um carro elétrico, o que inibe a expansão da frota e freia o interesse de montadoras em trazer seus modelos para o mercado nacional.
Por esse motivo, o setor vinha demandando formas de amadurecer a parte de infraestrutura.
A
Folha apurou que empresários e representantes do setor foram informados pelo
MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) de que o
programa Corredores Sustentáveis está em construção, mas não entrará na segunda
fase do Rota 2030, que deve se chamar Mobilidade Verde e é destinado a aumentar
a eficiência do setor automotivo.
O
ministério vai levar à Casa Civil uma proposta para que o programa seja
incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já que tem relação com
infraestrura. No entanto, por ora trata-se apenas de uma proposta.
Com
a entrada no PAC, o projeto ganharia prioridade e poderia contar com recursos
da União.
No
entanto, Ricardo Bastos, presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo
Elétrico), diz que a participação do governo deve ser menos em termos
financeiros e mais no sentido de dar previsibilidade aos investimentos que já
estão sendo feitos por empresas privadas nesse setor.
"Acho
que as empresas vão ter mais segurança jurídica e mais compromissos também de
que esses corredores que atravessam cidades e estados vão ter segurança
jurídica sobre a cobrança de tarifas, tributação, instalação".
Procurado, o Mdic confirmou, por meio de sua
assessoria, que o programa está em construção, mas que ainda não há detalhes de
como vai funcionar.
Apesar
das barreiras de infraestrutura, a frota de veículos eletrificados vem
crescendo no Brasil. Segundo Bastos, a ABVE começou o ano com a previsão de que
70 mil unidades seriam vendidas em 2023. Agora, a previsão é de 10 mil veículos
a mais.
"E quase um terço dessas 80 mil unidades já [são] produzidas no Brasil. Isso é muito importante, a eletrificação está crescendo, mas também está crescendo a produção nacional", afirma.
Presidente da Frente Parlamentar pela Eletromobilidade, o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) diz ter conversado com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Mdic, sobre o assunto e que ele teria demonstrado interesse em expandir a infraestrutura necessária para desenvolver a eletromobilidade no Brasil.
"Ainda
é necessário que se crie condições para que se tenha uma infraestrutura maior,
e aí sim se justifique as empresas se instalarem aqui no país", afirma.
Segundo
Cunha, o governo federal está trabalhando no programa para criar essa
infraestrutura —que passa principalmente pelos pontos de recarga— com o
objetivo de atrair novos consumidores de carros elétricos.
"A
necessidade de se ter hoje no Brasil mais postos de recarga é um dos assuntos
mais mencionados por quem está pensando em comprar um automóvel
[elétrico]."
Rafael
Rebello, diretor de power mobility da Raízen, diz que empresas do setor vêm
mantendo diálogo com o governo federal sobre o projeto, a fim de dar
contribuições.
A
companhia é controlada pela Shell, multinacional de petróleo que também é uma
das maiores do mundo em recarga rápida de veículos elétricos, com forte atuação
na China, Europa e EUA.
No Brasil, a Raízen opera o programa Shell Recharge, que instala pontos de recarga em algumas regiões. Hoje, são 25 estações prontas e outras 35 em obra. A expectativa é chegar, até março de 2024, a cem pontos de recarga rápida —que abastecem um veículo em cerca de 35 minutos.
Para ele, o Brasil tem um potencial enorme nesse mercado de elétricos, mas a rede de recarga será fundamental.
"A
gente acredita que ele [programa] é um passo superimportante para colocar o
Brasil nesse cenário de energia renovável e descarbonização, como também de
fomento à indústria automobilística no país", afirma.
O diretor cita algumas formas que o governo pode atuar nesse programa de expansão da infraestrutura. Legislação dedicada à instalação de redes de recarga, incentivos a distribuidoras de energia para priorização de projetos do tipo e disponibilização de espaços públicos são alguns exemplos.
"A gente pensa sempre em incentivo financeiro, mas existem incentivos não-financeiros também", diz. (biodieselbr)
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