Modelos
que combinam etanol com eletrificação é a proposta da campanha para diminuir em
50% as emissões até 2030.
A
Stellantis, holding que agrega marcas de veículos como Fiat, Jeep, Ram, Peugeot
e Citroën, está desenvolvendo um projeto no Brasil onde oferece soluções
tecnológicas e componentes para veículos híbridos que combinem etanol e
eletrificação.
Stellantis
vê híbridos a etanol como rota mais rápida para eletrificação brasileira
Para
o vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis América do Sul, João
Irineu Medeiros, a expansão da oferta de veículos híbridos movidos a etanol vai
permitir uma transição mais gradual da frota brasileira em direção à
eletrificação.
Na
medida em que investimos nos motores híbridos elétricos, vamos fazendo uma
transição equilibrada do ponto de vista ambiental, econômico e social,
combinando essa tecnologia da eletrificação e estimulando o uso do etanol”,
defendeu em entrevista à agência epbr.
O
setor de transportes é responsável pela maior parte das emissões globais de
dióxido de carbono (CO2) e a substituição de frotas é uma das ações adotadas
para lidar com os impactos das mudanças climáticas.
Na
Europa, a estratégia é a eletrificação. No Brasil, e no hemisfério Sul, a
Stellantis, que reúne as marcas Fiat Chrysler, Peugeot e Citroën, acredita ser
possível seguir outra rota.
Recentemente,
a montadora anunciou que vai lançar no Brasil, até 2024, três modelos de
veículos com motores híbridos-flex e um totalmente a etanol.
Os
híbridos são os modelos preferidos dos brasileiros. Em 2022, cerca de 62% das
vendas de eletrificados no país foram de veículos híbridos.
Medeiros
explica que diferentes realidades levam a diferentes comportamentos em relação
à eletrificação, mesmo na Europa. A estratégia da montadora
franco-ítalo-americana é trazer essa experiência para o cenário da América do
Sul, considerando a relevância do mercado automotivo brasileiro na região.
“Não
ficamos presos à análise da solução, mas olhamos para o desafio, que é a
descarbonização. A matriz energética brasileira tem um potencial enorme de
descarbonização e já vem fazendo um dever de casa que muitas vezes não é
contabilizado”.
Como exemplo, cita a matriz elétrica com mais de 80% de participação de renováveis, e a forte presença do etanol no mix de combustíveis que abastece os veículos leves.
A velocidade dessa transformação, no entanto, depende da implementação de uma política mais abrangente.
O
governo brasileiro tem discutido iniciativas relacionadas à industrialização de
baixo carbono no setor automotivo por meio do programa Combustível do Futuro, e
do Rota 2030, para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias de
descarbonização.
Segundo
Medeiros, a política de fomento aos biocombustíveis é o caminho para uma
transição energética mais harmoniosa.
Atualmente,
27,5% da gasolina vendida nos postos tem etanol, e o governo estuda elevar esse
percentual para 30%.
“O
Combustível do Futuro é estratégico para que a gente possa desenhar essa
transição energética de uma forma equilibrada. O pensamento da Stellantis se
alinha muito aos conceitos do programa”, afirma.
A montadora tem meta de reduzir 50% das emissões de carbono até 2030 e alcançar o net zero já em 2038. Até o final desta década, planeja eletrificar 20% da linha de produtos.
Opção da Stellantis pelo etanol
O
executivo explica que a escolha pelo etanol no curto prazo é impulsionada pela
abrangência das frotas de veículos flex fuel – que utilizam tanto o
biocombustível quanto gasolina – e pelo aproveitamento das linhas de produção.
“Quanto
maior for o mix de uso do etanol, maior vai ser a descarbonização realizada no
curto prazo porque a tecnologia já está em campo, com mais de 85% dos veículos
que circulam hoje na frota brasileira”, comenta o executivo.
“Ou
seja, não precisamos pegar as linhas de produção que temos hoje e transformar
para veículos 100% elétricos”, completa.
Além
disso, em termos de emissões, o biocombustível de cana é tão ou mais eficiente
que a eletrificação no Brasil.
A
Stellantis fez um estudo comparando as diferentes rotas de descarbonização para
veículos leves e concluiu que o ciclo completo de um carro totalmente elétrico
à bateria emite praticamente o mesmo que um carro 100% a etanol.
“Na
produção de um carro elétrico, metade da emissão de CO2 é da
produção da bateria”, conta Medeiros.
Custos
da eletrificação
A
bateria também responde por metade do custo de um veículo elétrico.
Na
visão do vice-presidente da Stellantis, os preços dos veículos elétricos ainda
não são atrativos à população e a hibridização pode tornar os veículos mais
acessíveis.
“Entrar
na eletrificação é fundamental, mas a gente não precisa entrar na eletrificação
com um custo tão alto para o consumidor. Temos essa oportunidade através de uma
tecnologia de hibridização”.
Outra
vantagem dos carros híbridos, de acordo com Medeiros, é que a tecnologia requer
uma menor quantidade de minérios, como o lítio usado em baterias, em comparação
com os veículos totalmente elétricos.
“A
bateria é quarenta vezes menor do que a bateria de um carro 100% elétrico, ela
está ali para poder auxiliar o motor elétrico que, por sua vez, vai auxiliar no
motor de condução interna”.
Hoje, os países estão buscando soluções para desenvolver as cadeias de matérias-primas críticas e essenciais para expandir a rota da eletrificação e consultorias já alertam para um risco de escassez até 2030.
“Precisamos fazer escolhas de biocombustíveis e de níveis de eletrificação que sejam condizentes com a realidade dos mercados, para que todas as pessoas possam ter acesso a essas tecnologias”, defende Medeiros. (epbr)
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