Estas informações são
remetidas voluntariamente por 36 países, que alimentam o banco de dados da
AIEA. A média registrada na última década foi de 185 ocorrências/ano.
Notícias veiculadas por
organizações da sociedade civil na mídia alternativa, pela internet, mostram
que o Brasil tem passado por situações graves, nos últimos meses, relacionadas
a materiais atômicos e os riscos decorrentes de sua exposição, podendo afetar a
saúde de pessoas e contaminar o meio ambiente.
Pelo perigo inerente às
atividades nucleares, elas devem estar cercadas do especial cuidado na
segurança em radioproteção. Elementos radioativos não podem ser usados para
comércio ilícito, muito menos ir parar nas mãos de traficantes
mal-intencionados, e assim podendo servir para propagar medo e violência, com
fins estratégicos e políticos.
Vazamento de água radioativa,
roubos, sumiços, armazenamento impróprio de rejeitos tóxicos e radioativos
provam a falta de controle, fiscalização e transparência das empresas das
Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Evidenciam também o descumprimento de
suas obrigações e deveres constitucionais perante a população. Assim a pauta
sobre o perigo da contaminação, provocados pela radiação, desde a exploração
mineral na natureza, suas diversas aplicações e usos, deve ser prioridade. É um
tema que afeta a saúde pública e o meio ambiente. E como tal é de interesse da
população, infelizmente não informada devidamente sobre a natureza da atividade
atômica, e que segue propositadamente alijada destas discussões.
Não esqueçamos que o setor nuclear brasileiro, guarda em sua trajetória um passado nebuloso. Desde o contrabando e exportação de areias monazíticas do litoral capixaba, baiano e fluminense; a cabulosa venda de urânio para o Iraque; o desastre socioambiental provocado pela Nuclemon; o secretismo do Programa Nuclear Paralelo; a tragédia do Césio-137, em Goiânia; a falta de transparência e de controle social; o recebimento de propina por gestores, até a omissão de informações para a população.
Lembremos episódios mais recentes que aprofundam o crescente desgaste da política nuclear brasileira:
16/09/2022 – Houve um
vazamento de água com material radioativo na usina nuclear de Angra 1,
contaminando a Baía de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Só no dia 29 do mesmo
mês, denúncia anônima levada ao Instituto Estadual do Ambiente/RJ (INEA)
denunciou o vazamento ocorrido duas semanas atrás. A Eletronuclear, responsável
pelas duas usinas do País, chegou a negar o fato, mesmo depois de ter recebido
notificação do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), que multou a empresa em fevereiro de 2023, após analisar os relatórios
apresentados pela Eletronuclear e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN), que na prática, são responsáveis por regular, licenciar e fiscalizar a
produção e uso da energia nuclear no Brasil.
A ocultação deste episódio
ampliou a desconfiança por parte da população e autoridades de ter havido
outros vazamentos sem divulgação. Também levou a embargos pela Prefeitura de
Angra dos Reis, da construção de Angra 3. Obra ícone da irresponsabilidade e
insanidade do setor nuclear. Iniciada em 1984, foi paralisada diversas vezes
nos seus 39 anos de obra inacabada.
29/03/2023 – Segundo
informações (www.taniamalheiros-jornalista.blogspot.com/2023/03/armadilha-parte-do-processo-de.html),
no final de fevereiro, início de março, ocorreu na Unidade de Enriquecimento de
urânio da Fábrica de Elementos Combustíveis (FEC), da Indústria Nucleares do
Brasil (INB), em Rezende (RJ), o rompimento de um equipamento, de onde vazou um
gás, o hexafluoreto de urânio (UF6), que ao reagir com a umidade do ar produz o
ácido fluorídrico (HF), líquido incolor, fumegante, de ponto de ebulição 20ºC
sob pressão normal. Portanto, nas condições ambientes, onde a temperatura é de
25ºC, ele é um gás incolor, altamente corrosivo.
As informações dão conta que
tais equipamentos, chamados de “armadilha”, servindo para recolher os
subprodutos do processo do enriquecimento de urânio realizado nas ultracentrífugas,
recorrentemente tem apresentado problemas.
A INB confirmou a ocorrência,
e como de praxe, tentou minimizar o problema, declarando que a quantidade
envolvida no vazamento foi “ínfima”, sem atingir o meio ambiente.
Neste caso também houve um
grande déficit de informações prestadas pela empresa sobre o ocorrido, o que
provocou dúvidas, incertezas, medo e pânico na população do entorno desta
unidade da INB.
13/06/2023 – a Barragem D4 da
Unidade de Descomissionamento de Caldas (MG), foi declarada em estado de
emergência Nível 1, com categoria de risco alto, pelo perigo de rompimento, que
provocaria uma tragédia ambiental inédita. A declaração de emergência veio após
fiscalização da Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pela
monitoração de barragens em todo o território nacional. O enquadramento em
níveis de emergência ocorre pela insegurança da integridade estrutural e
operacional da barragem.
A unidade da INB, em Caldas,
primeiro complexo minero-industrial do Brasil a extrair e produzir concentrado
de urânio em pó. Desativada em 1995, hoje abriga toneladas de material
radioativo (urânio e tório), provenientes de atividades industriais locais e de
outros Estados, rejeitos da mineração, que estão a céu aberto com materiais
pesados e muita lama radioativa.
A Usina de Santo Amaro-USAM,
que funcionou no Brooklin (zona sul da cidade de São Paulo), até 1992, extraía
minerais pesados e terras raras utilizando solventes, a partir de areias
monazíticas. Caldas recebeu cerca de 75% do subproduto deste processo,
conhecido como “Torta II” (fosfato contendo metais pesados de terras raras –
terra contaminada), aumentando o já extenso passivo ambiental no Planalto de
Poços de Caldas. O restante do lixo atômico da USAM foi para outros locais.
A situação presente do
armazenamento dos rejeitos é muito preocupante, e tem provocado grande
inquietação na população do Planalto de Poços de Caldas, de seus municípios
limítrofes. A INB, seus dirigentes, ao longo dos anos têm criado animosidades
com os gestores municipais e moradores pelo desrespeito na relação de bem
informar os problemas quando se trabalha com materiais radioativos, e os
cuidados a serem tomados.
29/06/2023 – A mineradora AMG
Brasil, no município de Nazareno, a 150 km de Belo Horizonte (MG) informou à
CNEN o furto de dois equipamentos de medição que utilizam fontes seladas de
Césio-137, mesmo material radioativo que causou a tragédia em Goiânia, em 1987.
A diferença entre as fontes utilizadas em aparelhos de radioterapia e de
aparelhos de medição, é que a quantidade de césio, neste caso, é menor. Mas o
manuseio incorreto é extremamente perigoso, podendo causar danos graves à
saúde. As consequências dependem do tempo de exposição e da dose recebida.
Neste raro “final feliz”, os dois equipamentos foram encontrados incólumes em
10/07/23, em uma empresa que revende sucatas em São Paulo.
17/0/2023 – Foi constatado o
desaparecimento de duas cápsulas, contendo gás hexafluoreto de urânio
enriquecido (UF6) na Fábrica de Combustível Nuclear, em Resende (RJ). Tal
material é utilizado na fabricação de elementos combustíveis para as duas
usinas atômicas de Angra (RJ). Cada tubo possui cerca de 8 gramas de urânio
enriquecido (4,5 %). A confirmação do “sumiço” destes dois tubos aconteceu em
16/08/23. Até o hoje segue desconhecido o paradeiro do urânio à deriva, que
conduz perigos radiológicos e químicos significativos, em caso de manipulação
imprópria (https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/uranio-a-deriva-no-rio-de-janeiro-tem-perigos-radiologicos-e-quimicos-significativos/).
03/08/2023 – Dois pacotes com
fontes radioativas (radiofármacos com o radioisótopo Flúor-18) foram roubados
de um veículo que seguia da empresa R2 Soluções em Radiofarmácia, sediada em
Duque de Caxias (baixada fluminense), para entrega em centros médicos em São
Paulo. A radioatividade do referido radioisótopo é bastante reduzida, visto que
sua meia-vida é inferior a 2 horas (109 minutos). O que significa reduzido
potencial de causar mal à saúde. Mas, deve-se evitar qualquer contato direto
com o material. Os pacotes roubados não foram recuperados.
Nos casos relatados, o setor nuclear alega que os efeitos sobre os seres humanos e o meio ambiente são “neglicenciáveis”. Assim tentam minimizar a possibilidade de contaminação e/ou de uma provável catástrofe. Mas os fatos ocorridos, em tão breve período de tempo, evidenciam a irresponsabilidade, incompetência técnico-administrativa e a falta de cuidados obrigatórios, quando se trata de material radioativo. Ficam evidentes falhas nos protocolos de segurança, relativos ao deslocamento, manuseio e armazenamento de material tão perigoso à vida. E, ao contrário do que afirmam os órgãos do setor nuclear, a manipulação por pessoas despreparadas pode ocasionar gravíssimos danos à saúde e ao meio ambiente. Há ainda a possibilidade destes materiais terem sido roubados, desaparecidos sob circunstancias criminosas, para fins de terrorismo nuclear.
Por outro lado, os meios de comunicação corporativos não dão importância às más notícias referentes à questão nuclear. Desprezam ouvir e divulgar opiniões diferentes. E assim se associam aos grupos que, por diferentes razões, defendem esta fonte de energia cara, suja e perigosa. (ecodebate)
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