Hoje, um dos principais problemas da sociedade moderna é a produção de resíduos sólidos e sua destinação. Desde a revolução industrial, quando a produção de bens de consumo aumentou, ao lado do crescimento populacional exponencial, há cada vez mais a produção de resíduos sólidos. Estima-se que a produção semanal de resíduos por pessoa é de 5 kg ou 40,5 toneladas de lixo produzido ao longo de sua vida, se considerar que viverá até os 75 anos.
Em 2010, o Brasil produziu 61 milhões de toneladas de resíduos, 6,9% a mais do que em 2009. Deste montante, apenas 57,6%, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), possuem destinação adequada, seja para aterros sanitários ou reciclagem. Isso que dizer que temos 42,4% de resíduos com destinação inadequada, produzindo lixões que impactam o solo e a atmosfera com emissões de gás metano (gás de efeito estufa).
Diante deste cenário, se faz imperativo questionar: O que fazer com estes resíduos? Como solucionar este mal? Outro problema a ser enfrentado, e de mesma causa – produção de bens de consumo e crescimento populacional- é a forma de suprir a demanda energética de um contingente de sete bilhões de habitantes.
Dois problemas de difíceis soluções, não? Errado. Na verdade, ambos possuem a mesma solução. E ela se chama biomassa. Poucos percebem, mas ela foi a primeira fonte de energia do homem. O homem utilizava a madeira para obtenção de fogo e energia. Ela existe desde os primórdios, mas hoje é subutilizada.
A biomassa é qualquer material constituído por substâncias de origem orgânica – vegetal, animal e microrganismos, tais como madeira, produtos e resíduos agrícolas, resíduos florestais, resíduos pecuários, excrementos de animais, esgoto e resíduos sólidos podem ser utilizados na forma bruta como combustível e fonte de energia.
Estima-se que a quantidade de biomassa existente na terra é da ordem de dois trilhões de toneladas ou 400 t por pessoa. Em termos energéticos, isso corresponde a mais ou menos 3.000 EJ por ano, ou seja, oito vezes o consumo mundial de energia primária (da ordem de 400 EJ por ano). Embora grande parte da biomassa seja de difícil contabilização, devido ao uso não comercial, estima-se que, atualmente, ela representa cerca de 14% de todo o consumo mundial de energia primária. Esse índice é superior ao do carvão mineral e similar ao do gás natural e ao da eletricidade.
Apesar de ser uma fonte de energia renovável em farta quantidade e a baixo custo, deve-se tomar cuidado com seu impacto ambiental, com a emissão de gases de efeito estufa, com exceção dos vegetais que emitem a mesma quantidade de CO2 sequestrada durante seu ciclo de vida.
Além disso, dependendo do processo utilizado na obtenção de energia (Combustão ou queima direta, Gaseificação, Pirólise, Liquefação, Fermentação e Digestão Anaeróbia), são lançados na atmosfera gases tóxicos, como as dioxinas, substâncias cancerígenas que podem ser evitados com a instalação de filtros e chaminés controlando esta emissão em níveis aceitáveis.
Diante deste grande potencial energético, o Brasil pretende instalar a sua primeira usina termelétrica movida a partir da queima de resíduos sólidos. A tecnologia já é empregada em 35 países e chega tardiamente ao nosso país. A inédita unidade deve ser instalada em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e orçada em cerca R$ 600 milhões. Terá a capacidade de processar até mil toneladas de resíduos para gerar constantes 30 MW – suficientes para abastecer uma cidade com 200 mil habitantes ou 25% da população desta cidade.
Apesar do plano energético brasileiro 2030 prever um decréscimo desta fonte, de 5,7% da matriz brasileira para 5%, acredito que este será o primeiro investimento de muitos que virão, principalmente após a edição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12305/2010), que estimula o gerenciamento destes resíduos e proíbe o funcionamento de lixões nas zonas urbanas a partir de 2014, obrigando as cidades a criarem aterros sanitários. Já há movimentos no Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Todas as cidades com mais de 1 milhão de habitantes têm potencial para instalar uma usina termelétrica movida à queima de resíduos sólidos.
Os resíduos orgânicos, aqueles considerados úmidos, passariam por um processo chamado digestão anaeróbica, algo como a compostagem, em que o gás metano liberado na decomposição seria transformado em energia. Já os secos, com exceção do que pode ser reciclado, seriam incinerados e também transformados em energia.
Preocupa-me, no entanto, a possibilidade de a reciclagem ser preterida, tendo em vista a maior facilidade de incinerar todos os resíduos. A reciclagem jamais poderá ser abandonada, pois ela possibilita a redução de uso de recursos naturais e de energia. Os valores não podem ser invertidos. A reciclagem deve ser sempre a prioridade no tratamento de resíduos sólidos urbanos.
Outro problema a ser enfrentado é o custo do tratamento destes resíduos. No caso da prefeitura de São Bernardo do Campo, que paga atualmente R$ 60 para tratar a tonelada de lixo em aterros; na Holanda, por exemplo, o processamento em uma usina térmica chega a custar 90 euros (R$ 207).
Outro problema a ser enfrentado é o custo do tratamento destes resíduos. No caso da prefeitura de São Bernardo do Campo, que paga atualmente R$ 60 para tratar a tonelada de lixo em aterros; na Holanda, por exemplo, o processamento em uma usina térmica chega a custar 90 euros (R$ 207).
Temos a tendência de escolher sempre o processo mais barato. Porque o governo escolheria o processamento que custa mais do que o dobro do tratamento em aterros? Nem sempre a melhor escolha é a mais barata. Mas o investimento se pagaria em termos energéticos e na diminuição dos impactos ambientais.
Gosto muito desta fonte de energia. Ela elimina dois males da sociedade moderna de uma vez só, é renovável e de baixo impacto ambiental, barata e em farta quantidade, e, sobretudo, pode ser instalada nos grandes centros urbanos, sem a necessidade de grandes redes de transmissão. Ela foi a primeira. E será sempre a melhor fonte de energia limpa e renovável a ser utilizada. (ambienteenergia)
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