Alunos da USP, ITA e MIT criam sistema para filtrar óleo de cozinha usado, que será vendido como combustível
Um grupo de alunos da Escola Politécnica da USP, do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, desenvolveu um protótipo de um sistema de filtragem para óleo de cozinha usado. Na última semana, o grupo de estudantes ministrou oficinas na Associação de Catadores de Arujá e Região (Cora) com o objetivo de testar o equipamento. A cooperativa recolhe o óleo usado em quatro restaurantes da cidade e também de residências, por intermédio de pontos de coleta.
Atualmente, o óleo bruto é vendido para empresas que produzem biodiesel ao preço de R$ 0,50 a R$ 0,60 o litro. Com a filtragem, o litro do óleo poderá ser comercializado ao preço de R$ 1,00 a R$ 1,25. “No total, recolhemos cerca de duas toneladas de óleo de cozinha por mês”, informa Carlos Henrique Nicolau, presidente da Cora. Além de aumentar a renda de catadores de recicláveis, a iniciativa vai evitar que esse óleo de cozinha seja descartado no meio ambiente de forma inadequada. Outro uso possível é a utilização como combustível em caminhões com motores convertidos.
A iniciativa faz parte do Green Grease Project’s, um projeto do MIT Community Innovator’s Lab que envolve cooperativas da Rede CataSampa, associação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis. O objetivo do Green Grease é buscar soluções ambientalmente corretas para o óleo de cozinha recolhido pelos catadores de recicláveis.
Além da Cora, outra entidade que recebeu os alunos para uma oficina foi a Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente (Cruma), em Poá, na Grande São Paulo. Outra participante da iniciativa é a Cooperativa de Reciclagem de Matéria-Prima do Alto Tietê (Cooperalto), de Biritiba-Mirim, ambas na região metropolitana de São Paulo.
O protótipo do sistema de filtragem foi desenvolvido pelas alunas do MIT Angela Hojnacki (engenharia mecânica) que coordena o projeto com Tendelle Sheu (economia) e Alexandra Fallon (MBA). Pelo ITA, participam os estudantes Caio Braz, Isadora Kimura, Allison Schraier, John Lee, Homero Esmeraldo, Antonio José Prado e Bernardo Jacintho. A USP é representada pelos alunos Rafael Machado, Denis Ferreira, Walter Volpini e André Cerciari, todos do PET Mecânica, grupo de iniciação científica da Poli que atua dentro e fora da Universidade buscando integrar o tripé ensino-pesquisa-extensão.
De acordo com Alexandra Fallon, do MIT, o protótipo teve um custo de R$ 130,00 e foi produzido com materiais fáceis de ser encontrados, como tambores, tecidos jeans, peneiras usadas em construção, mangueiras de gás etc, com o intuito de facilitar e baratear a sua produção. “O óleo sai da cozinha com restos de alimentos e outros resíduos e a filtragem dessas impurezas agrega valor ao produto”, aponta.
Segundo Alexandra, a filtragem é feita por meio de dois tambores e leva de 3 a 4 dias para filtrar 50 litros de óleo. No primeiro tambor, o óleo passa por uma peneira para retirar as impurezas maiores, como restos de alimentos. “Esses resíduos poderão ser comercializados para empresas produtoras de ração animal”, explica a aluna. No segundo tambor, o óleo é filtrado por meio de um tecido de jeans. Nesta segunda filtragem, é preciso deixar o tambor ao sol para o óleo decantar e, quanto mais sol houver, mais rápida será a filtragem.
Combustível – Alexandra explica que no ano passado o grupo trabalhou na conversão do motor de um caminhão da Cooperalto e outro da Cruma para utilização do óleo de cozinha bruto como combustível. Esse projeto acabou sendo interrompido, pois um dos caminhões se envolveu em um acidente e o outro apresentou problemas no motor.
Por isso, o próximo passo do projeto é realizar outras parcerias com outras universidades do Estado de São Paulo para ir aperfeiçoando o sistema de filtragem a fim de tornar o óleo filtrado cada vez mais adequado para uso em motores de caminhões a diesel convertidos. “Percebemos que este processo de filtragem é muito importante para a utilização do óleo de cozinha nos motores. Então quando este processo estiver bem desenvolvido, pretendemos voltar para o Brasil a fim de trabalhar na conversão de outros motores de caminhão”, destaca.
A iniciativa tem a coordenação de Libby McDonald, do MIT Community Innovator’s Lab, e teve suporte das professoras Tereza Cristina Carvalho, assessora de Projetos Especiais da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI) da USP e coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da Poli, e de Flavia Scabin, da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV). (EcoDebate)
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