Eficiência energética pouparia uma Belo Monte ao País
Além de pagar preços altíssimos pela energia consumida – em torno de US$ 130 por megawatt-hora (MWh) em consumidores industriais – o Brasil ainda perde o equivalente à energia que será gerada por Belo Monte por ano em desperdício de energia elétrica. Não sem razão o governo federal tem em fase final de aprovação o Plano Nacional de Eficiência Energética, que prevê redução de 10% no consumo, meta alinhada com o Plano Decenal e também com o Plano Nacional de Energia 2030. Isso é alentador, pois, finalmente, a eficiência energética passa a fazer parte da matriz energética.
O tema foi um dos cenários abordados em congresso promovido em São Paulo pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), na última semana, evento que superou todas as nossas expectativas e reuniu mais de 400 participantes. Tivemos reunida uma massa crítica de excelência, com participação de representantes do Ministério de Minas e Energia (MME), da Secretaria de Estado de Energia, além de acadêmicos (USP, Unicamp, Unifei), professores do SENAI, gestores e consultores, além de empresários e executivos das empresas dos serviços de conservação de energia (Escos).
Encontros como este sinalizam o potencial extraordinário que se abre para o mercado de eficiência energética no País. As estimativas com redução no consumo de eletricidade e combustíveis variam entre 5% e 40%, conforme a tecnologia envolvida, o setor econômico e as condições específicas das empresas. Especificamente para energia elétrica, estima-se reduzir, com o trabalho das Escos, 8% em média nos projetos de EE, o que equivale dizer 29 milhões de megawatt-hora/ano (MWh).
Além do potencial de redução no consumo de energia, o setor acaba de receber mais um forte impulso com a chegada da Norma ISO 50001, voltada a sistemas de gestão de energia, que foi publicada no último dia 15, juntamente com a versão brasileira. A norma é uma ferramenta fundamental para a gestão energética no chão de fábrica, edificações, nos estabelecimentos comerciais e mesmo nas residências. É uma norma de processos de melhoria e a certificação é baseada nos resultados aferidos. Dado o seu alcance, a norma vai impactar 60% do mercado global de energia.
O que se lamenta, no entanto, são as poucas operações de financiamento realizadas no Proesco, programa do BNDES criado em 2008 para fomentar projetos de Eficiência Energética. O montante até agora envolvido nesse tipo de operação não passa de R$ 33,5 milhões. Nas operações realizadas pelas Escos – empresas prestadoras de serviços de conservação de energia – os valores são ainda mais tímidos: R$1,8 milhão, em quatro projetos aprovados nos últimos dois anos.
Outro ponto a lamentar é o uso do Programa de Eficiência Energética das Concessionárias (PEE) como ferramenta política, com forte viés no atendimento de programas sociais para populações de baixa renda, distorcendo o objetivo original do PEE, que era o de atuar como agente catalisador de projetos de eficiência energética com atendimento a todo o mercado.
Tais desafios terão de ser vencidos, certamente, à custa do diálogo e de congressos como o realizado pela Abesco, onde foram ouvidas argumentações de todos os agentes envolvidos – Escos, Governo, agentes financeiros e consultores jurídicos, que acabarão levando a um modelo ideal nos contratos de performance. Mas, independentemente desse aspecto, já avançamos muito no que se refere a tecnologia e serviços em eficiência energética, o que ficou demonstrado em dezenas de cases apresentados no evento, em projetos que atingiram até 35% em reduções.
Tais resultados nos deixam otimistas e confiantes no trabalho realizado pelas Escos. Ao apresentar soluções, elas criam oportunidades de negócio para toda a cadeia, elevam níveis de competitividade da indústria nacional e ainda contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa e, consequentemente, para uma economia verde e sustentável no Planeta. (EcoDebate)
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