Mais
de 1.500 termelétricas queimam lixo para produzir energia no mundo. Brasil será
o 1º país a suprir refinaria de petróleo com biogás do lixo.
A
demanda por energia no mundo cresce de forma tão preocupante quanto o volume de
lixo. Harmonizar de forma inteligente essas curvas de crescimento constitui um
dos grandes desafios tecnológicos da atualidade. Essa é a razão pela qual vem
crescendo rapidamente o número de países que investem no aproveitamento
energético do lixo. São basicamente duas as rotas tecnológicas empregadas para
alcançar esse objetivo: a queima direta dos resíduos (waste-to-energy) ou a
queima do biogás produzido a partir da decomposição da matéria orgânica do
lixo.
Existem
hoje no mundo aproximadamente 1,5 mil usinas térmicas que queimam o lixo para
gerar energia ou calor. O Japão, o bloco europeu, a China e os Estados Unidos
lideram o ranking. No Brasil, não há térmicas com esse perfil em operação,
embora alguns municípios estejam bastante interessados no assunto. A tecnologia
é cara e o custo do megawatt-hora bastante elevado em relação à energia
convencional. A vantagem é a transformação do lixo queimado a
aproximadamente 12% de seu tamanho original em cinzas, que podem ser
usadas (se forem inertes) como base de asfalto ou matéria-prima para a
construção civil. Sem uma política pública que estimule essa fonte de energia
com a redução de impostos e outros incentivos, ela continuará desprestigiada e
marginal.
Ainda não está completamente superada a polêmica envolvendo a emissão de substâncias cancerígenas — dioxinas e furanos — que seriam liberadas a partir da queima do lixo. Nos países em que a combustão dos resíduos foi autorizada, o entendimento é de que a queima acima de 900ºC eliminaria o risco de contaminação. Em alguns desses países, onde a consciência ecológica é maior — Alemanha, por exemplo — foram exigidas novas tecnologias que assegurassem a qualidade dos gases emitidos.
Ainda não está completamente superada a polêmica envolvendo a emissão de substâncias cancerígenas — dioxinas e furanos — que seriam liberadas a partir da queima do lixo. Nos países em que a combustão dos resíduos foi autorizada, o entendimento é de que a queima acima de 900ºC eliminaria o risco de contaminação. Em alguns desses países, onde a consciência ecológica é maior — Alemanha, por exemplo — foram exigidas novas tecnologias que assegurassem a qualidade dos gases emitidos.
No
Brasil — onde a disponibilidade de terra torna a opção pelos aterros menos
complicada do que na maioria dos países desenvolvidos –, a exploração
energética do lixo tem sido possível a partir da queima do gás do lixo, também
chamado de biogás. A matéria orgânica descartada como lixo (especialmente
restos de comida, podas de árvore e restos de animais e vegetais) leva
aproximadamente seis meses para se transformar em metano, um gás combustível
que agrava o efeito estufa. A simples queima do metano, sem nenhum
aproveitamento energético, já assegura um benefício ambiental por transformar
CH4 (metano) em CO2 (dióxido de carbono). O metano é de
20 a 23 vezes mais danoso para a atmosfera do que o dióxido de carbono. Na
lógica do empreendedor, o retorno do capital investido se dá por duas vias: a
emissão de créditos de carbono (quando uma certificadora da ONU mede a
quantidade de metano queimado e converte esse número em papel com valor de
mercado para os países ricos signatários do Protocolo de Kyoto que assumiram o
compromisso de reduzirem suas emissões) e a venda de energia elétrica.
São Paulo (a cidade mais populosa e com o maior volume concentrado de lixo do país) largou na frente em 2004 instalando a primeira usina de biogás do país no aterro Bandeirantes. Depois, instalou a segunda no Aterro São João. JUNTOS, esses dois aterros (que já não recebem mais lixo) respondem por mais de 2% de toda a energia elétrica consumida na maior cidade do país. Em três leilões, foram vendidos mais de R$ 70 milhões de créditos de carbono, dos quais 50%, por contrato, ficaram com a Prefeitura. Uma receita extra, de onde muitos jamais esperavam receber um dia qualquer centavo.
São Paulo (a cidade mais populosa e com o maior volume concentrado de lixo do país) largou na frente em 2004 instalando a primeira usina de biogás do país no aterro Bandeirantes. Depois, instalou a segunda no Aterro São João. JUNTOS, esses dois aterros (que já não recebem mais lixo) respondem por mais de 2% de toda a energia elétrica consumida na maior cidade do país. Em três leilões, foram vendidos mais de R$ 70 milhões de créditos de carbono, dos quais 50%, por contrato, ficaram com a Prefeitura. Uma receita extra, de onde muitos jamais esperavam receber um dia qualquer centavo.
Do
outro lado da Via Dutra, no município de Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, o gigantesco Aterro de Gramacho (que até ser encerrado em junho do
ano passado ostentava o título nada honroso de maior aterro de lixo da América
Latina) hospeda uma empresa privada que investiu mais de R$ 250 milhões
para poder explorar o biogás acumulado em quase 35 anos de lançamentos diários
dos resíduos do Rio de Janeiro e de boa parte da Região Metropolitana. Por
contrato, a empresa se comprometeu a fornecer para a Refinaria Duque de Caxias
(da Petrobras) 70 milhões de m³ de biogás por dia pelos próximos 15 anos. Esse
volume de gás, que seria suficiente para abastecer todas as residências e todos
os estabelecimentos comerciais do Estado do Rio, vai suprir 10% da demanda
energética da Reduc. O biogás será retirado com a ajuda de 300 poços (260 já
foram instalados) que bombearão o combustível até uma estação de tratamento
construída no próprio aterro. Ali o gás será limpo, seco e bombeado através de
um gasoduto de 6 km de extensão até a refinaria (pelo menos 1,2 km de
tubulações passarão debaixo de áreas de mangue e rios). A operação será
iniciada ainda neste primeiro semestre.
Num
país que gera 182.728 toneladas de lixo por dia, dá pra imaginar o que
isso significa em termos de energia? Pelas contas do Ministério do Meio
Ambiente, considerando apenas os 56 maiores aterros do país, o biogás acumulado
seria suficiente para abastecer de energia elétrica (311 MW/h) uma população
equivalente à do município do Rio de Janeiro (5,6 milhões). O cenário para 2020
aponta uma produção ainda maior de energia (421 MW/h) , suficiente para
abastecer quase 8,8 milhões de pessoas, a população de Pernambuco.
Em
outro estudo lançado esta semana pela Abrelpe (Associação Brasileira das
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) se deteve na análise de 22
aterros sanitários que já manifestaram interesse explorar o gás do lixo.
Segundo o “Atlas Brasileiro de Emissões de GEE (gases de efeito estufa) e Potencial
Energético na Destinação de Resíduos Sólidos”, o biogás estocado nesses aterros
(280 MW/h) poderia abastecer 1,5 milhão de pessoas. Para isso, seriam
necessários investimentos de aproximadamente R$ 1 bilhão. Até 2039, esse
potencial poderá chegar a 500 MW/h, o suficiente para abastecer 3,2 milhões de
pessoas, o equivalente à população do Rio Grande do Norte.
Embora
o Brasil necessite importar dos Estados Unidos a microturbina que transforma o
biogás em energia elétrica, aproximadamente 80% das instalações contam com
equipamentos fabricados no Brasil. É consenso entre os especialistas do setor
que o Brasil deveria estimular o aproveitamento energético do lixo com uma
política pública específica, que desonerasse os custos e estimulasse novos
investimentos.
Em
um país onde a produção monumental de lixo gera enormes impactos
socioambientais, a geração de energia elétrica a partir dos resíduos é uma
ideia que merece atenção, investimentos e um ambiente de negócios favorável à
inclusão do biogás em nossa matriz energética. (qsmswork)
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