O mundo sinocêntrico: a
iniciativa um cinturão uma rota, energia renovável e o Ártico.
A China
está buscando reconfigurar a globalização a seu favor, com a iniciativa Um
Cinturão Uma Rota (One Belt One Road, ou OBOR) que busca abarcar 68 países, em
quatro continentes, atingindo mais de 60% da população mundial, um terço do PIB
global e uma quarta parte de todos os bens transacionados no comércio
internacional. O volume de recursos mobilizados está previsto na casa de US$ 1
trilhão. Quarenta anos após as reformas de Deng Xiaoping (1904-1997), o ano de
2018 marca uma nova etapa para o engrandecimento do gigante asiático.
A
iniciativa OBOR tem a pretensão de criar uma ampla rede de infraestrutura e um
enorme mercado para os produtos da China. Além disto, pretende firmar uma
integração comercial e financeira sem restrições aparentes. Os outros pilares
da OBOR são a coordenação das políticas, a conectividade das telecomunicações e
os vínculos entre pessoas e as cidades.
Dentro
destes objetivos amplos, o governo central chinês emitiu orientações para
promover o chamado “Green Belt and Road”, para incorporar os princípios de
eficiência de recursos e a conscientização ambiental em toda a iniciativa,
promovendo o desenvolvimento da interconexão global de energia e alcançar a
sustentabilidade verde e com baixo teor de carbono.
A China já
é líder na produção de energia eólica e solar e avança a passos acelerados na
indústria de carros elétricos. Estima-se que a demanda global de energia
aumente 30% entre 2017 e 2040, sendo que no Sudeste Asiático, a demanda
energética deve chegar a 70% nos próximos 25 anos. Este crescimento exigirá um
enorme investimento em novas infraestruturas e um aumento na capacidade
energética.
O próprio
grau de poluição do ar está fazendo a China desacelerar o uso de carvão e
avançar no uso de energia limpa, transporte limpo, conservação e reciclagem de
recursos, prevenção e controle de poluição e eficiência energética. A China
pretende investir mais de US$ 360 bilhões até 2020 em energia solar e eólica.
Devido à política interna e aos avanços do mercado, a rede chinesa já está
melhorando na maximização da energia proveniente de recursos renováveis, mas
isso poderia ser ainda mais ajudado pela construção de linhas de transmissão
visando uma melhor integração com as regiões vizinhas.
O uso da tecnologia dos conectores de corrente contínua de ultra alta tensão (UHVDC), que são mais adequados para a transmissão em grandes extensões de produção energética, poderia absorver os excessos de produção, equilibrando a oferta e a demanda. A Iniciativa OBOR pode não só ajudar a interligar redes eléctricas e implantar mais energia renovável, mas também pode expandir os mercados de eletricidade para países com um potencial extremamente elevado de energia renovável, incluindo os países da Ásia Central. O potencial é enorme como mostra o mapa abaixo.
O uso da tecnologia dos conectores de corrente contínua de ultra alta tensão (UHVDC), que são mais adequados para a transmissão em grandes extensões de produção energética, poderia absorver os excessos de produção, equilibrando a oferta e a demanda. A Iniciativa OBOR pode não só ajudar a interligar redes eléctricas e implantar mais energia renovável, mas também pode expandir os mercados de eletricidade para países com um potencial extremamente elevado de energia renovável, incluindo os países da Ásia Central. O potencial é enorme como mostra o mapa abaixo.
A China
possui a tecnologia e os recursos e pode ajudar a alcançar uma matriz
energética mais renovável através da construção de parcerias e cooperação.
Evidentemente, existem dificuldades a serem superadas como os conflitos
políticos entre a China e a Índia, os dois países mais populosos do mundo. Se a
iniciativa Um Cinturão Uma Rota avançar na transição energética o mundo e o
meio ambiente vão ter perdas e ganhos.
Enquanto
isto, o governo Donald Trump promove um retrocesso nas políticas
ambientalistas, estimula o uso de combustíveis fósseis e aumenta o orçamento
militar anual para mais de US$ 600 bilhões para os Estados Unidos.
Ironicamente, os EUA querem construir um muro (ou uma Grande Muralha) para
defender o país, enquanto a China pretende construir uma Rede Inteligente para
unir o mundo, mudar a matriz energética e reduzir a degradação ambiental.
Existem
muitas dúvidas se este projeto de uma rede inteligente global e renovável é
viável tecnicamente, economicamente e politicamente. Existe muita ilusão sendo
vendida em nome das energias “limpas”. Mas, sem dúvida, o avanço da transição
energética é melhor do que a dependência dos combustíveis fósseis e a integração
dos países é melhor do que o isolamento.
No dia 18
de outubro de 2017, na abertura do 19º Congresso do Partido Comunista da China
(PCC), o presidente Xi Jinping fez um discurso que despertou a atenção mundial
projetando o crescimento da influência chinesa no mundo e estabelecendo a
perspectiva de uma “Nova Era”. O principal dirigente chinês proferiu um longo
discurso (de mais de 26 mil palavras) apresentando um balanço dos êxitos e
desafios da experiência chinesa, além de projetar um futuro grandioso para a
China.
O
denominado Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características
Chinesas para Uma Nova Era passará a ser estudado nas escolas e integrará os
“guias de ação” que todo bom comunista chinês deve seguir, indicando o retorno
da China ao papel de líder mundial, seja no campo econômico, político ou
militar.
O
presidente sul-coreano Moon Jae-in reuniu-se em dezembro com Xi Jinping e
reafirmou que a Coreia do Sul, um tradicional aliado dos EUA na Ásia, quer
mesmo engajar-se na Iniciativa OBOR. Enquanto a embaixadora de Trump na ONU,
Nikki Haley, e o diretor da CIA, Mike Pompeo, seguindo orientações do governo
Trump, ameaçam destruir a Coreia do Norte, a Coreia do Sul está claramente
movimentando-se na direção da China e da Rússia. O processo de Orientalização
do mundo está em andamento e parece que a China vai vencer a “Armadilha de
Tucídides”.
O fato é
que o ano de 2017 – marcado pela retração dos Estados Unidos e do Reino Unido
no cenário da globalização – pode ser considerado como o ano em que a China se
firmou como superpotência mundial. Portanto, assim como os Estados Unidos
superaram a Grã-Bretanha em 1871 e se engrandeceram nas décadas seguintes, a
atual mudança de hegemonia está mais do que nunca colocada e parece que
“Império do Meio” não vai recusar o papel de protagonista e não deixará de
assumir o comando das rédeas do mundo. A China entra em 2018 com energia
renovada e renovável.
O
secretário de Estado dos EUA, John Hay, em 1900, já previa que haveria uma
mudança geopolítica estratégica no mundo. Ele disse: “O Mediterrâneo é o oceano
do passado. O Atlântico é o oceano do presente e o Pacífico o oceano do
futuro”.
O que
ninguém previu foi o degelo do Ártico e a aliança econômica entre a Rússia e a
China para explorar os recursos do Polo Norte e criar uma nova rota de comércio
unindo o país mais populoso do mundo (China), com dois dos países de maiores
territórios (Rússia e Canadá), integrando as duas maiores áreas econômicas
(quando medido em dólares correntes), que são os Estados Unidos e a União
Europeia.
Reportagem do site Bloomberg (29/12/2017) mostra que à medida que o gelo do Ártico se derrete, os dirigentes dos países do Norte sentem que a economia do topo do mundo se aquece. Minas de ouro, estradas e um espectro completo de projetos de energia pontilham o horizonte – com a Rússia liderando o caminho e outros países do Ártico lutando para recuperar o atraso. Investir no topo do mundo não é fácil. Mas os gerentes do Guggenheim Partners passaram os últimos sete anos estudando a região e os últimos três acumulando um banco de dados de 900 projetos planejados, em processo, finalizados, cancelados e desejados da infraestrutura do Ártico.
Reportagem do site Bloomberg (29/12/2017) mostra que à medida que o gelo do Ártico se derrete, os dirigentes dos países do Norte sentem que a economia do topo do mundo se aquece. Minas de ouro, estradas e um espectro completo de projetos de energia pontilham o horizonte – com a Rússia liderando o caminho e outros países do Ártico lutando para recuperar o atraso. Investir no topo do mundo não é fácil. Mas os gerentes do Guggenheim Partners passaram os últimos sete anos estudando a região e os últimos três acumulando um banco de dados de 900 projetos planejados, em processo, finalizados, cancelados e desejados da infraestrutura do Ártico.
Alguns dos
projetos refletem grandes ambições para atualizar sistemas nacionais,
industriais e sociais. Outros são de menor escala e destinam-se a conectar
lugares remotos a padrões maiores de comércio. Em conjunto, eles exigiriam
tanto quanto US$ 1 trilhão em investimentos. Até agora, o dinheiro do petróleo
e do gás da Rússia deu ao presidente Vladimir Putin uma vantagem, uma vez que
as condições de mudança proporcionam acesso a novas riquezas. A Rússia tem uma
liderança esmagadora sobre seus vizinhos com quase 250 projetos potenciais.
Finlândia, os EUA e o Canadá seguem o número de itens da lista de desejos. A
energia eólica é uma das grandes oportunidades do círculo polar ártico.
Mas todos
estes projetos dependem da montanha de gente e de dinheiro da China, que já
está buscando avaliar estas novas oportunidades no âmbito da iniciativa Um
Cinturão Uma Rota (OBOR). A China busca se posicionar de maneira estratégica
para exercer o domínio econômico na região nas próximas décadas. O centro do
mundo pode se deslocar para o Ártico, dominado pelos investimentos da bandeira
chinesa, conforme mostra Anne-Marie Brady (2017).
Artigo de Evan Osnos, em The New Yorker (08/01/2018), mostra que tanto a China, quanto a Rússia e os Estados Unidos buscam “se tornar grandes novamente” e assumirem o papel de protagonista do mundo. O inusitado do momento atual é que a busca da China por um papel maior no mundo coincide com a busca dos Estados Unidos, de Donald Trump, por um papel menor.
Artigo de Evan Osnos, em The New Yorker (08/01/2018), mostra que tanto a China, quanto a Rússia e os Estados Unidos buscam “se tornar grandes novamente” e assumirem o papel de protagonista do mundo. O inusitado do momento atual é que a busca da China por um papel maior no mundo coincide com a busca dos Estados Unidos, de Donald Trump, por um papel menor.
Por outro
lado, a ironia de tudo isto é que o sucesso econômico do crescimento das
atividades antrópicas acontece no contexto do fluxo metabólico entrópico.
Quanto mais cresce a economia e a produção de bens e serviços, mais aumenta o
aquecimento global e o degelo dos polos e dos glaciares. Enquanto a China
avança na Eurásia e no Ártico, o degelo eleva o nível dos oceanos e pode deixar
Xangai (a cidade mais rica da China) debaixo d’água. Ou seja, a China pode
naufragar e acabar afogada pelo resultado do seu próprio sucesso econômico.
(ecodebate)
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