Usinas Hidrelétricas
reversíveis pelo mundo e outras considerações.
As usinas hidroelétricas
reversíveis – UHR´s, denominadas “baterias de água” do mundo, são responsáveis
por 95% da capacidade global instalada de armazenamento de energia e
agregam diversas vantagens, tais como custos durante a vida útil, níveis de sustentabilidade
e escala de capacidade. Segundo o “United States Department of Global Energy
Storage” existem atualmente cerca de 184 GW de capacidade instalada
mundial de usinas reversíveis, suportando a estabilidade dos sistemas elétricos
e reduzindo os custos operacionais destes sistemas, inclusive suas emissões de
gases de efeito estufa. A operação e a tecnologia das UHR nestes últimos
anos vêm sendo adaptadas para lidar com as alterações necessárias aos
sistemas elétricos, provocadas pela inserção crescente das energias
renováveis. O sucesso das fontes renováveis está causando importantes mudanças
nos sistemas elétricos em todo o mundo. Ocorrendo baixos níveis de penetração
de renováveis, as flutuações no suprimento de energia podem ser gerenciadas com
eficácia, estando os geradores convencionais existentes aptos a prover os
serviços necessários ao equilíbrio dos sistemas. Entretanto, na medida em
que a inserção das renováveis continua a crescer, em alguns
sistemas pode ocorrer o mau funcionamento dos geradores convencionais restando
aos operadores enfrentar o desafio de gerenciar eficazmente a
crescente variabilidade. Por esta razão tanto o planejamento como as operações
dos sistemas elétricos precisam ser adaptados e otimizados para adicionar “flexibilidade”
aos mesmos. Flexibilidade é um dos termos utilizados para referenciar a
capacidade dos sistemas elétricos de poderem manter um serviço ininterrupto
quando experimentam grandes e rápidas alterações de suprimento ou de demanda,
independentemente da causa. Esta flexibilidade nos sistemas elétricos pode ser
alcançada através de quatro pilares principais:
a) Suprimento
flexível de energia – através de turbinas a gás e hidroelétricas capazes de
iniciar operação rapidamente com geração despachável ajustável;
b) Demanda
flexível – quando os consumidores são incentivados a ajustar suas demandas de
acordo com os requisitos do sistema como, por exemplo, pela resposta de
demanda;
c) Interconexões
com sistemas elétricos adjacentes – expandindo essencialmente a área de
atuação na qual suprimento e demanda possam ser equilibrados, quando
está distante a conexão com geradores flexíveis; e,
d) Armazenamento
de energia – para equilibrar suprimento e demanda.
Apresenta-se a seguir uma
comparação das formas de armazenamento de energia elétrica e térmicas
atualmente existentes, registrando-se que as usinas reversíveis - UHR´s
constituem a tecnologia mais comercializada pelo mundo.
Figura
1 – Grau de Maturidade e de Comercialização das Tecnologias de Armazenamento
As usinas hidroelétricas
convencionais tradicionalmente têm suprido a geração flexível, da mesma
forma que o armazenamento de energia em grande escala, armazenando água em
reservatórios, quando a geração é reduzida, para acomodar o excesso das
energias variáveis. Este tipo de usina conseguiu suprir ao longo dos anos
a flexibilidade necessária para os sistemas elétricos, através da geração
modulada, em linha com as flutuações da demanda. Quando a geração é reduzida
para acomodar o excesso das energias variáveis o reservatório destas usinas
atua como um armazenamento. Geralmente as hidroelétricas convencionais possuem
grande potencial de manutenção da flexibilidade, mesmo com rápidas elevações
potenciais de demanda. No restante do mundo e em particular no Brasil, o
armazenamento através dos reservatórios do país reduziu-se drasticamente de 4
meses para 2,5 meses na ultima década, em virtude das transformações climáticas
mundiais causadas essencialmente pelo crescimento das emissões de gases de
efeito estufa. As Usinas hidroelétricas reversíveis – UHR´s têm, entretanto a
habilidade adicional de absorver o excesso de geração. Desde 1960, sua
tecnologia e operação vêm sendo adaptadas para a crescente evolução dos
sistemas elétricos, oferecendo nos dias atuais uma variação mais ampla
para equilíbrio dos mesmos, bem como serviços ancilares. Estas adaptações
envolvem principalmente turbinas-bomba com velocidade variável. Suprindo a
flexibilidade indispensável ao sistema, possibilitam a regulação de potencia e
o ajuste de cargas quando no modo de bombeamento, ao contrario das unidades
convencionais de velocidade fixa. As vantagens das maquinas da velocidade
variável sobre as de velocidade fixa, encontram-se na sua maior amplitude,
melhor eficiência e tempo de resposta mais rápido, podendo ainda ajustar o
consumo de energia quando operando no modo bombeamento, assegurando melhor controle
de frequência. Relativamente ao tipo de UHR a ser utilizado, de acordo com as
características especificas topográficas e hidráulicas do local selecionado,
pode-se selecionar 3 diferentes concepções básicas para o equipamento
eletromecânico ( turbina reversível):
a) Unidades Ternárias: na
fase inicial da tecnologia das usinas reversíveis, devido às limitações impostas
pelas quedas máximas, as unidades eram projetadas separadamente para
a bomba e a turbina, cada qual conectada ao motor-gerador. Assim, a unidade era
constituída por três partes principais: motor-gerador, bomba ( usualmente com
múltiplos estágios) e a turbina ( geralmente Pelton), possibilitando a operação
em altas quedas. Suas desvantagens: alto investimento inicial, trabalho
subterrâneo adicional, condutos separados para as turbinas e bombas, bem
como equipamentos eletromecânicos adicionais.
b) Unidades turbina-bomba
reversíveis síncronas: a concepção ternária inicial foi logo substituída pelas
unidades reversíveis síncronas, a não ser para as altas quedas. Estas máquinas
operam com velocidade constante e pode passar facilmente do “modo” bombeamento
para o “modo” geração. São mais econômicas, pois requerem menores espaços. A
passagem de um “modo” para outro requer, entretanto algum tempo uma vez
que a direção de rotação deve ser alterada. Outro inconveniente deve-se a que
as eficiências das operações da turbina e da bomba não se encontram no mesmo
ponto, isto é, estes valores não podem ser maximizados simultaneamente para a
bomba e a turbina, resultando em menores eficiências para um dos “modos”.
c)Unidades turbina-bomba
reversíveis assíncronas com velocidade variável : Estas máquinas constituem o
tipo mais moderno de UHR, caracterizadas pela velocidade ajustável no “modo” de
bombeamento. Devido a sua maior amplitude de opções de regulação, estas
máquinas estão cada vez mais populares apesar de apresentarem custo de 20 a 30%
superior às de velocidade constante. Atualmente já é pratica comum a inclusão
nos projetos de algumas máquinas assíncronas, possibilitando assim suporte
e flexibilidade instantâneos para os sistemas.
Os principais parâmetros
para a implantação são: alturas geograficamente compatíveis entre os
reservatórios bem como disponibilidade de água. Os locais mais
propícios para posicionamento vão se encontrar
provavelmente em regiões mais montanhosas e de beleza cênica,
podendo possivelmente originar questões ambientais de natureza social
e ecológica a serem adequadamente administradas e solucionadas. Não obstante às
potenciais dificuldades para implantação de UHR´s, um considerável
número de países já instalou centenas de UHR´s sendo
que 23 deles implantaram 68 destas usinas com
capacidade instalada superior a 1000 MW, como: EE.UU - 10, China - 18, Japão -
14, Austrália - 1, França - 1, Espanha - 2, Reino Unido - 1,Taiwan - 2, Suíça -
1, Bulgária - 1, Índia - 1, África do Sul - 1, Itália - 3, Luxemburgo - 1,
Rússia - 1, Bélgica - 1, Alemanha - 1, Irã - 1 ,Áustria - 1, Coreia do Sul - 1,
Ucrânia - 2 e Indonésia - 1.
Vê-se que o Brasil já está
bem defasado do primeiro mundo em termos de armazenamento de energia
elétrica! A maior UHR atualmente existente encontra-se nos
EE.UU, Bath Country, com 3003 MW, entretanto, até 2021 a China completará
a implantação do Projeto Fengning com incríveis 3600 MW, passando a
figurar no primeiro lugar. A seguir alguns dados sobre os países com
maior armazenamento de energia , bem como dados gerais da maior UHR do
mundo, em fase final de implantação.
Figura
2 – Os 10 Países de Maior Capacidade Instalada de Armazenamento de Energia
Elétrica.
Figura 3 – Antevisão da Usina Reversível de Fengning - China - 3600 MW
Reservatório superior:
48.830.000 m3
Reservatório
inferior: 66.150.000 m3
Queda: 425m
Potencia Instalada: 12x300MW-
Turbinas- Bomba Francis com velocidade variável, 3600 MW
Fabricação: Andritz
Inicio de construção:
2013
Operação: A partir de 2019
até 2021
Fase 1 – 6x300 MW
Fase 2 – 6x300 MW
Custo: US$ 1,87 bilhões
Geração Anual: 3.424 TWh
O armazenamento de energia e
as UHR´s serão decisivos na aceleração dos enormes esforços
globais voltados para as metas da mitigação climática e do desenvolvimento
sustentável, estabelecidas respectivamente em 2015, nas Conferências de Paris e
Nova York. Em seu recente relatório especial referente aos impactos do
aquecimento global, o painel intergovernamental para as mudanças climáticas
salientou que a redução das emissões para alcançar o limite estabelecido de 1,5
graus centigrados demandará rápidas decisões de longo alcance em toda a
economia mundial. Segundo o Painel, existem caminhos para alcançar
tal meta, mas todos eles compartilham característica semelhante, ou seja,
emissões de gases de efeito estufa aproximando-se de zero, com as energias
renováveis representando a maior parte do suprimento futuro de
eletricidade. O relatório apresentado enfatiza ainda os recursos para flexibilização
dos sistemas elétricos como facilitadores para o desenvolvimento acelerado das
energias renováveis. A característica principal das UHR consiste em equilibrar
a natureza variável das energias eólica e solar, suprindo energia confiável em
grande volume, em função da demanda, durante períodos sustentáveis, evitando a
necessidade de sua restrição durante os períodos de geração excessiva. Como as
fontes renováveis continuam a desalojar a geração despachável através de
combustíveis fósseis, a flexibilidade dos sistemas elétricos torna-se uma
ferramenta crucial para evitar interrupções para os consumidores, bem
como variações extremas de preços pela sua volatilidade. Quanto à
eficiência das UHR, considerando-se as perdas por evaporação da superfície
exposta da água, bem como as perdas no sistema de conversão (turbina-bomba e
motor-gerador), estima-se poder ser alcançada uma recuperação de energia
da ordem de 70%-80% ou até mais, segundo alguns autores. A densidade
energética das UHR necessita de vazões significativas e ou de grande
diferença de nível entre os dois reservatórios para a obtenção de volumes
significativos de armazenamento. Para armazenar grandes quantidades de energia
é imprescindível a obtenção de um grande corpo de água, localizado relativamente
próximo e em altitude tanto maior quanto possível do segundo corpo de agua.
Figura
4 – Concepção Geral de uma Usina Reversível - UHR
A seguir apresentam-se custos
estimados de UHR´s de acordo com a experiência europeia e em função da etapa de
projeto.
Figura 5 – Custos Específicos de URH´s em milhões de Euros / MW
Segundo a Ilha–International
Hydropower Association, até 2030 estima-se que a capacidade instalada mundial
de UHR será incrementada em cerca de 78000 MW, com a maior parte desta expansão
acontecendo na China (cerca de 50000 MW). O maior motivador para esta
expansão na China é a crescente necessidade de maior flexibilidade nos
seus sistemas elétricos, principalmente com a finalidade de reduzir os
cortes das energias variáveis. As mudanças regulatórias em 2015 na China,
colocaram entretanto a responsabilidade pelas UHR´s com os operadores dos
sistemas de transmissão, ao invés das companhias de geração. Assim, o
crescimento das reversíveis tem sido supervisionado pelas 2 maiores empresas de
transmissão da China, State Grid Corporation of China e China Southern Grid.
Figura 6 – Incrementos da Capacidade Instalada de UHR entre 2018 e 2030
Na Europa, a capacidade
instalada das UHR foi estimada até 2030 com um crescimento modesto, entre 8000
MW e 11000 MW, também motivadas pela necessidade da obtenção de maior
flexibilidade para os sistemas, devido aos problemas causados pelo crescimento
das energias variáveis. Entretanto, em alguns países as barreiras para o
crescimento das UHR encontram-se na incerteza de retorno financeiro como
acontece nos longos casos de arbitragens de energia, bem como na incerteza de
retorno compensatório pelo fornecimento de capacidade de carga, equilíbrio do
sistema e fornecimento de serviços ancilares, pela falta de uma regulamentação
específica. Os maiores incrementos na Europa no período 2018-2030 estão
previstos para a Suíça, Áustria, Reino Unido, Portugal e França bem como alguns
projetos prospectivos na Romênia, Irlanda e Ucrânia os quais provavelmente
terão prosseguimento. As incertezas acima referenciadas constituem
essencialmente o caso do Brasil! As autoridades do setor elétrico já estão
conscientizadas para o valor desta tecnologia, mas, entretanto, torna-se
fundamental a rápida criação da legislação e regulamentação pertinentes,
disciplinando técnica e comercialmente o fornecimento dos seus diversos
produtos e dos serviços ancilares: regulação de carga, regulação de
frequência, capacidade de reserva, suporte de tensão, blackstart, etc.
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