BNEF: expansão do setor será
liderada pela solar e eólica até 2050.
Perspectiva é de que o país
demande investimentos da ordem de US$ 155 bilhões nesse período e mais US$ 13,7
bilhões caso seja considerada a inclusão de sistemas de armazenamento.
O cenário para os próximos 30
anos no setor elétrico brasileiro é de atração de investimentos que elevarão a
matriz elétrica nacional em 222 GW. Essa é uma das conclusões apresentadas pela
BloombergNEF em sua versão 2019 do relatório New Energy Outlook. O país deverá
passar de 159 GW de capacidade instalada para 325 GW em 2050. A perspectiva é
de que o país demande investimentos da ordem de US$ 155 bilhões nesse período,
segundo as projeções da empresa. Se considerar a inclusão de baterias o
investimento pode ter um acréscimo de mais US$ 13,7 bilhões, basicamente em
dispositivos de pequeno porte para geração distribuída.
O grande destaque que o
relatório específico sobre o Brasil traz é que a expansão da matriz deverá se
dar de forma mais expressiva por meio da solar fotovoltaica tanto em grande
escala mas, principalmente, pela geração distribuída. Ao final do período
analisado o país poderá alcançar volumes instalados de 70 GW em GD, 54 GW em
solar centralizada além de outros 42 GW em energia eólica. Ao mesmo tempo
deverá ser registrado um descomissionamento de 55 GW em usinas nas próximas
três décadas.
De acordo com a analista da
BloombergNEF, Luiza Demôro, essas
estimativas consideram dados sem a influência de qualquer política pública ou
incentivo a partir da metade da próxima década em termos de expansão da capacidade
mais barata e com sentido econômico. “O cenário é de que em 2050 o Brasil tenha
cerca de 50% de sua matriz elétrica total baseado em fontes intermitentes e
isso só será possível por conta do papel das usinas hidrelétricas que podem
atribuir maior flexibilidade”, apontou a executiva em apresentação a clientes em
01/08/19.
A expansão nos próximos 30
anos, continuou a executiva, está baseada nas fontes eólica e solar. A primeira
manterá a liderança no volume adicionado até o início da década de 2030. Após
esse período o crescimento estará baseado na solar que será a líder no
crescimento da matriz elétrica nacional. Isso daria uma média de expansão na
casa de 1,6 GW em média no horizonte analisado.
“A matriz brasileira caminha
para chegar em 2050 composta por 98% de fontes renováveis”, Luiza Demôro, da
BloombergNEF.
Apesar das previsões de
redução da presença da fonte hidrelétrica na matriz nacional, a fonte hídrica
terá um papel fundamental para apoiar o parque de geração nacional. Hoje a
fonte representa cerca de 68% da capacidade de geração e a tendência nos
próximos anos é de desaceleração da implantação ao passo que passará a
representar apenas um terço da geração brasileira. Na curva de geração
projetada em 2050 a fonte deverá ser utilizada para segurar o sistema quando a
solar não estiver disponível, ou seja, prioritariamente no período noturno,
enquanto a solar será a responsável pelo grande volume de energia injetada ao
longo do dia.
“A
matriz brasileira caminha para chegar em 2050 composta por 98% de fontes
renováveis”, apontou a analista. “A complementaridade entre a eólica e a
hídrica mostra que a adição de fontes intermitentes é possível nos próximos
anos”, disse.
Inflexão
Segundo a BNEF, há dois pontos
de inflexão no relatório que apontam atualmente a eólica como fonte de geração
mais barata do que a geração a gás natural no Brasil. E esse é um fenômeno
classificado como interessante, pois aqui é que se obteve esse resultado ao
comparar o LCOE da fonte dentro dos países que fazem parte do relatório. “Nos
outros países esse ponto de inflexão está na fonte solar” resumiu James Ellis,
chefe de pesquisa da BNEF para a América Latina, lembrando que a eficiência
dessa fonte no Brasil é um ponto fora da curva da normalidade por estar acima
de qualquer outro local do mundo.
Luiza Demôro acrescentou
ainda que essa linha de transição de custo entre a solar e o gás natural também
vai chegar, mas isso deverá ser verificado apenas no início da década de 2030.
Até por isso a previsão da BNEF de que a fonte solar deverá acelerar seu
desenvolvimento apenas daqui a 11 anos.
Nesse sentido o papel do
consumidor também será relevante em termos de investimentos em sistemas de
geração distribuída. Tanto que a projeção é de que o país seja o segundo
mercado global em termos de participação da geração descentralizada em todo o
mundo. Essa estimativa tem como base a expectativa de aportes em GD mais
elevados do que em geração solar centralizada, como apontado anteriormente pela
BNEF. Em 2050, o Brasil deverá ficar atrás apenas do Japão em termos de
participação dessa forma de geração.
Na avaliação da analista, nem
mesmo a perspectiva de introdução do programa federal Novo Mercado de Gás,
anunciado recentemente pelo governo federal, seja capaz de mudar esse ponto de
inflexão de custos. Demôro avalia que esse mercado pode demorar para ser
implementado no país. Para ela, a diferença das curvas de custo estão se
distanciando rapidamente em decorrência da tendência mundial de redução de preços
das renováveis.
Para ela, quando o preço do
gás realmente cair a um nível esperado pelo governo a curva de custo já estará
em um nível afastado e que não permitirá mudança nesse ponto. A não ser que a
mudança seja rápida, poderíamos ver a extensão do gás ainda competitivo para a
geração por um curto espaço de tempo, mas que no longo prazo a tendência é das
renováveis não poderem ser enfrentadas.
A
versão 2019 do New Energy Outlook apontou que reduções significativas nos
custos de tecnologias de energia eólica, solar e baterias resultarão em uma
rede alimentada quase pela metade pelas duas fontes de energia renovável com
maior crescimento até 2050 em todo o mundo.
A demanda de eletricidade
deve aumentar 62%, resultando em um aumento de quase o triplo da capacidade de
geração global entre 2018 e 2050. Isto irá atrair US$13,3 trilhões em novos
investimentos, dos quais US$5,3 trilhões serão direcionados para plantas
eólicas e US$4,2 trilhões para plantas solares. Além dos gastos com novas
usinas geradoras, US$840 bilhões serão investidos em baterias e US$ 11,4
trilhões para expansão da rede elétrica. (canalenergia)
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