Bioenergia
é parte da solução para transição energética mundial.
Juntamente
com outras fontes de energia renovável, como a energia eólica, a solar e a
hidrelétrica, a bioenergia será uma das soluções que países da América Latina e
da África poderão adotar para tornar suas matrizes energéticas mais limpas e
mitigar os impactos das mudanças climáticas globais.
A
avaliação é de um grupo de pesquisadores autores do relatório Bioenergia e
Sustentabilidade: América Latina e África.
O
relatório contou com a contribuição de 154 pesquisadores de 31 países, membros
do Comitê Científico para Problemas do Ambiente (Scope, na sigla em inglês),
agência intergovernamental associada à Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O
trabalho foi coordenado por integrantes dos programas FAPESP de Pesquisa em
Bioenergia (BIOEN), de Pesquisas em
Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA) e de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
“Todas
as energias renováveis, como a hidrelétrica, a solar e a eólica, terão papéis
fundamentais para fornecer eletricidade e substituir combustíveis fósseis na
matriz energética brasileira e de outros países da América Latina e da África”,
disse Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo (IB-USP) e membro da coordenação do BIOEN.
“Mas
a bioenergia é uma opção especialmente interessante, uma vez que pode fornecer
combustíveis que se encaixam na infraestrutura atual, usando recursos próprios
dos países dessas regiões”, disse.
Uma
das vantagens da bioenergia em relação às outras energias renováveis é que
a biomassa pode ser armazenada para produzir energia
contínua em vez de intermitente, o que facilita o uso e a integração em redes
elétricas não confiáveis.
Além
disso, a bioenergia pode ser implantada em escala na América Latina e fornecer
segurança energética no setor de transporte em um curto período de tempo,
segundo o relatório.
“Em
um momento de transição energética pelo qual o mundo passa hoje, em que se tem
buscado alternativas de fontes de energias renováveis e
sustentáveis, que possibilitem diminuir as emissões de carbono, é preciso
adotar soluções mais fáceis de serem implementadas. E a bioenergia é uma
delas”, disse Souza.
No
Brasil, a substituição de 36% da gasolina por etanol de cana nas últimas quatro décadas mostrou a
rapidez com que a transição para as renováveis pode ser feita.
Atualmente,
a cana-de-açúcar contribui com 17% da matriz energética do país e 25% das
necessidades de gasolina. Além disso, isso pode ser expandido
significativamente.
A
produção brasileira de etanol até 2045 poderá deslocar até 13,7% do consumo de
petróleo bruto e 5,6% das emissões de dióxido de carbono (CO2) do
mundo em relação a 2014.
Isso
poderia ser alcançado sem o uso de áreas de preservação de florestas ou terras
necessárias para sistemas de produção de alimentos no país, segundo o
relatório.
“É
possível combinar a preservação e recuperação florestal e a produção de
matéria-prima para a bioenergia. As florestas armazenam 18 vezes mais carbono
do que a cana-de-açúcar e a combinação de ambos, mais os aumentos esperados na
produtividade devido à melhoria da tecnologia, provavelmente manteria a
produção de etanol juntamente com os benefícios do uso sustentável da
biodiversidade”, destaca o documento.
A
alta densidade de energia do etanol (cerca de 70% da gasolina) também ressalta
o potencial do biocombustível para ser usado no transporte e ajudar a garantir
uma transição rápida para uma matriz de energia renovável juntamente com a
energia solar e a eólica, ainda sujeitas a desenvolvimento devido à falta de
eficiência, ponderam os autores do relatório.
Líder na produção científica de bioenergia
“A
bioenergia será uma parte da solução que o mundo adotará para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa, que necessitará de uma combinação de muitas
maneiras de gerar energia, adequadas a cada região”, disse, no workshop, Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
“Há
lugares em que será possível plantar cana-de-açúcar, como no Brasil, na África
e no Caribe. E outros que terão que gerar energia nuclear, fotovoltaica ou
eólica. Não haverá uma solução única”, disse.
De
acordo com dados apresentados por Brito Cruz, todos os cenários sobre o futuro
da energia no mundo, elaborados por entidades como a Agência Internacional de
Energia (IEA, na sigla em inglês), preveem o aumento do uso de biocombustíveis,
especialmente em transporte.
A
entidade estima que, em 2075, 35% dos veículos híbridos – com um motor de
combustão interna e outro elétrico, por exemplo – utilizarão biocombustíveis.
“Há
uma visão de que os carros puramente elétricos serão a opção para reduzir as
emissões de carbono. Mas não se leva em conta de que os carros puramente
elétricos terão que ser carregados, e a eletricidade para abastecê-los terá que
ser produzida de alguma maneira”, disse José Goldemberg, presidente da FAPESP.
Segundo
Goldemberg, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) cerca de 90% da eletricidade é produzida a partir de carbono.
E, além do Brasil, só há outros quatros países no mundo – Nova Zelândia,
Noruega, Suécia e Islândia – onde mais de 40% da energia primária que utilizam
é proveniente de fontes renováveis, destacou Brito Cruz.
“Isso
é decorrente de todo um esforço de pesquisa e desenvolvimento em bioenergia
feito no país nas últimas décadas”, ressaltou Brito Cruz.
O
Brasil hoje – e especialmente o Estado de São Paulo – lidera a produção
científica sobre bioenergia, particularmente relacionada à cana-de-açúcar. Os
pesquisadores brasileiros, vinculados em grande parte a universidades e
instituições de pesquisa no Estado de São Paulo, publicam cerca de 120 artigos
por ano relacionados à bioenergia, destacou Brito Cruz.
“Isso
é resultado de investimento em pesquisa nessa área”, avaliou. “A FAPESP
financia milhares de projetos relacionados à bioenergia e já investiu R$ 150
milhões no Programa BIOEN, que atualmente tem 80 projetos de pesquisa em
andamento e mobiliza mais de 300 cientistas, dos quais 229 são de São Paulo, 33
de outros estados e 52 do exterior”, enumerou. (CETESB)
“Isso
é resultado de investimento em pesquisa nessa área”, avaliou. “A FAPESP
financia milhares de projetos relacionados à bioenergia e já investiu R$ 150
milhões no Programa BIOEN, que atualmente tem 80 projetos de pesquisa em
andamento e mobiliza mais de 300 cientistas, dos quais 229 são de São Paulo, 33
de outros estados e 52 do exterior”, enumerou. (CETESB)
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