Após mapear um potencial
nominal de 40 GW para instalação de parques eólicos em três lagoas e designar
um grupo de trabalho para discutir aspectos técnicos e impactos
socioambientais, o Sindicato das Indústrias de Energias Renováveis do Rio
Grande do Sul (Sindienergia/RS) deu mais um passo para consolidação da agenda
nearshore no estado. Membros da entidade foram recentemente a Holanda junto a
uma comitiva do governo e representantes de órgãos estaduais como a Fepam, no
intuito de conhecer mais sobre o negócio.
O presidente do sindicato,
Guilherme Sari, falou à Agência CanalEnergia sobre os aprendizados da viagem
com o surpreendente poder de evolução de um país que consegue, com limitado
recurso geográfico, desenvolver-se tanto e tão bem. Inclusive é referência em
construção de obras envolvendo eólica offshore e trabalhos em canais, águas e
diques, e mais recentemente com os aerogeradores em águas rasas e mais próximos
à costa.
“Temos que aprender com este povo que não enxerga problemas no desenvolvimento, seja em terra, abaixo do nível do mar ou no próprio oceano. São projetos comunitários, como no caso de 5 mil pessoas criando um CNPJ e alguns articulando as contratações e a operação”, comenta.
Comitiva viajou para Holanda para visitar diferentes parques e conversar com investidores e operadores sobre o negócio.
Sari, que também é diretor
comercial na DGE Soluções, disse que as observações em campo atestam que a
parte construtiva dos projetos é relativamente tranquila de ser administrada
por empresas brasileiras de dragagens. “São feitas por chapas, com as torres
sendo afundadas na areia, para depois um trabalho de compactação e
concretagem”, aponta, afirmando ser um processo simples e mais barato em
relação ao offshore, que exige navios e a instalação de plataformas.
Tramitação estadual
O executivo salientou que
existem muitos investidores já interessados em projetos desse tipo na Lagoa dos
Patos, a maior da América Latina, e que é estadual, não sofrendo interferências
federais como, por exemplo, a Lagoa Mirim, a segunda maior do Brasil e que
também tem potenciais mapeados, assim como a Mangueira, que é menor, mas está
próxima a outros recursos eólicos.
Ele citou um player
dinamarquês com conversas mais adiantadas e outros vindo do offshore, visto que
a tramitação estadual ser mais rápida, não requerendo Projeto de Lei e todo um
regramento e rito diferenciado.
“O que estamos buscando nesse
primeiro momento é a criação de uma segurança jurídica para uso das lagoas,
numa discussão ampla com as comunidades e agora também com o ministério público
estadual e federal”, define Guilherme Sari, do Sindienergia/RS.
Outro ponto abordado é a particularidade desse tipo de bioma como próprio do Rio Grande do Sul e o fato de, por esse mercado ser menor em relação ao offshore, poder ser mais acelerado em tempo, mirando o acontecimento para antes da previsão dos aerogeradores em mar, em 2030. “Entendendo que a questão fique à nível estadual temos essa estratégia de corrida temporal e vamos fazer debates com todos os candidatos a governador para ouvir as propostas”, acrescenta.
Licenciamento ambiental e instalações são menos complexas e mais baratas do que a eólica offshore.
Atualmente o Sindienergia/RS
conversa com investidores que foram ao governo estadual solicitar o avanço em
questões regulatórias, após o trabalho efetivo de consolidação de alguns pontos
técnicos e ambientais após uma Audiência Pública em janeiro desse ano.
“Está se criando na
Assembleia um entendimento de como se deve levar o uso da lagoa e até
melhorá-lo, com um potencial de pelo menos 10 GW na Lagos dos Patos sem criar
nenhuma interferência ao meio-ambiente”, avalia Sari.
Perguntado sobre uma possível
inserção da tecnologia próximo ao complexo eólico em Osório, o primeiro
instalado no país, e que conta com uma lagoa, Guilherme aponta que o potencial
da Lagoa dos Patos é muito maior por ser uma região próxima ao mar, separada
apenas por uma península mínima de terras.
“O vento daquela região é absurdo e constante, muito maior do que Cumbuco/CE”, exemplifica. “É o lado menos atrativo também do ponto de vista comercial, sem uso para o mar ou para a lagoa, com poucos moradores e fazendas e municípios de baixo IDH e que estão procurando investimentos que possam melhorar a situação econômica”, complementou.
O desafio da comunicação
Segundo
o presidente do Sindienergia/RS, a parte do licenciamento “é mais tranquila”,
com algumas preocupações de controle recaindo em aves migratórias e morcegos.
“Onde se tem terra a questão com pássaros é mais crítica do que na água, onde
os animais não tendem a pousar”, refere.
Questões como usos da lagoa
para pesca e outras atividades já começaram a ser levantadas e estudadas, com
Sari vendo interferências mínimas e em alguns casos ajudando até na
fiscalização de atividades indesejáveis, como a pesca de arrasto.
“O mais sensível é
estabelecer uma relação com as comunidades tradicionais e o entendimento de que
eles não serão prejudicados”, aponta, salientando esclarecimentos pertinentes
sobre o repasse de royalties e dúvidas acerca dos equipamentos e os impactos
ambientais e sociais.
O dirigente lembra que na última audiência pública o clima era controverso pelo desconhecimento do tema, com representantes falando em privatização da lagoa, não assimilando que o uso é específico para geração de energia.
“Licenciamento nearshore é menos complexo, só de tirar baleia, tartarugas marinhas, golfinhos e botos”, comenta, comparando também que a pesca no mar é mais profissional e industrial, sem falar nos mais diferentes usos da água sob domínio da União, diferentemente de apenas um traçado hidroviário nas lagoas. “Vemos uma ociosidade no uso da lagoa, que poderia ser compensada pela geração de energia elétrica”.
Antes da Holanda, uma
comitiva semelhante foi aos Estados Unidos, mais especificamente em Atlantic
City, onde está sendo implantado um parque offshore, no intuito de aprender
mais sobre legislação. Alemanha e Vietnã também se destacam como países com
muitos projetos de aerogeradores em calados de 5m de profundidade, semelhante
ao nearshore, mas que acontece um pouco mais distante da costa.
Ademais Guilherme Sari informou que o sindicato segue seu trabalho para que os agentes, população e o mercado entendam o encaminhamento que está sendo dado ao tema, que é de interesse de todos os investidores para entrarem em um eventual futuro leilão que venha acontecer para o desenvolvimento da atividade. “Temos um planejamento de viagens, inclusive o próprio retorno na região da Holanda e Bélgica”, indica.
Outra discussão pertinente que vem acontecendo na entidade é a questão da autossuficiência energética do estado, que é historicamente um importador da commodity. “Não queremos só ser o estado autossuficiente, mas também exportador o que passa por essa consolidação da eólica nearshore”, finaliza. (canalenergia)
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