domingo, 28 de fevereiro de 2010

Etanol ganha passaporte para o mundo

Para o executivo, a partir de agora, a maior briga será para derrubar a tarifa de importação dos EUA sobre o combustível.
Quando foi escalado para presidir a maior associação da indústria canavieira do País (a Unica), em junho de 2007, Marcos Jank recebeu a missão de convencer o mundo das vantagens do etanol brasileiro e transformar o produto - que começava ser bombardeado no exterior por ambientalistas - em uma commodity, negociada no mercado internacional. Para cumprir o desafio, ele instalou equipes nos potenciais países consumidores do biocombustível.
A principal delas ficou em Washington para contrata-atacar o lobby dos produtores do etanol de milho, que sempre tentaram desqualificar o produto brasileiro.
Depois de muitos estudos, palestras, discussões e lobby junto ao Congresso americano, eles conseguiram a maior vitória da indústria canavieira nos últimos anos. Na quarta-feira, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol feito de cana como um biocombustível avançado, que reduz a emissão de dióxido de carbono em 61% comparado a gasolina. "Essa decisão nos dá o passaporte para colocar o etanol de cana no mundo", comemora Jank. A seguir trechos da entrevista:
Como o Sr. avalia a decisão?
Foi a principal conquista nesses quase três anos que estou aqui. Isso reflete um trabalho de equipe que foi montado desde o começo da minha gestão, que foi colocar escritórios no exterior. Essas pessoas estão fazendo um trabalho cotidiano. Entre Estados Unidos e Europa, são seis pessoas trabalhando full time nesses assuntos. Sabíamos que o debate seria o combustível de baixo carbono - o que quer dizer uma gasolina ou diesel que ao se adicionar ao etanol ou biodiesel reduz o seu teor das emissões - e que na medida em que passasse nesse teste a gente poderia entrar numa briga mais séria sobre tarifa.
O que vem pela frente agora?
Entramos na terceira fase do etanol, que é o reconhecimento do nosso produto no mundo. Passamos dois anos sendo muito criticados e agora o principal órgão regulador americano - equivalente ao nosso IBAMA, mas com uma estrutura muito maior - nos dá o passaporte para colocar o etanol de cana no mundo. Basicamente o que eles dizem é que o nosso álcool reduz as emissões em 61% comparado à gasolina enquanto o etanol de milho, 21%. O número é três vezes maior que o do milho. Isso incluindo o famigerado uso da terra. Eles não só medem as emissões desde o plantio da cana até o escapamento do carro como também acrescentam o uso direto e indireto da terra. O uso direto é a expansão da cana sobre a floresta, que não existe mais no Brasil. Hoje 99% da expansão da cana no País ocorre em área de pastagem ou áreas agrícolas. Mas eles alegavam que havia um efeito indireto, que quando há o aumento de uma área plantada em Piracicaba, por exemplo, eu empurro o boi para o cerrado ou para a Amazônia.
A decisão finalmente vai transformar o etanol em commodity?
Acho que estamos entrando na fase que será a consolidação do etanol como commodity global. Ganhamos o passaporte para isso. Daqui para frente o nosso futuro não é só substituir petróleo ou abastecer os carros flex brasileiros. Temos a terceira oportunidade que é o reconhecimento do etanol como elemento fundamental de mitigação de gases de efeito estufa no mundo.
Como pôr a decisão americana em pratica?
Primeira coisa importante, e não é por acaso, é que um acordo como esse que foi assinado esta semana entre Shell e Cosan já é reflexo do que ocorreu ontem. São duas notícias interligadas. Já estávamos verificando o interesse das petroleiras pelo etanol. Todas as grandes vieram conversar com a gente. Elas sabem que o etanol que sai da cana é o mais eficiente, que mais reduz emissões e o único comercialmente viável, como afirmou o próprio vice-presidente da Shell. Apesar das outras opções futuras, como etanol de celulose e carro elétrico, hoje concretamente a melhor alternativa é o etanol de cana. Esse passaporte nos abre a porta para o resto do mundo. O que falta agora? Falta derrubar a tarifa americana. Mas, na medida que empresas como BP e a Shell estão investindo nisso, elas ajudam a defender a causa lá fora, com grande poder de persuasão.
Mas quando vamos exportar mais etanol para os EUA?
Com a restrição das tarifas, por enquanto podemos elevar a exportação via Caribe até o limite de 7% do consumo americano. Mas isso tem custo alto. Além disso, não vamos conseguir fornecer uma quantia muito grande de etanol em um ou dois anos. Acho difícil ocorrer muita coisa este ano, até porque tivemos uma quebra de safra de 4 bilhões de litros de etanol. Por isso é importante derrubar a tarifa, porque teríamos previsibilidade de demanda e poderíamos investir no aumento da capacidade. E como se dará o debate da tarifa? A tarifa tem sido renovada pelo lobby do milho desde 1980, quando foi criada como temporária. A próxima renovação teria de ocorrer ao longo deste ano para não expirar em 31 de dezembro. E vão tentar renovar. Existe um discurso nacionalista nos EUA que diz: "Precisamos de segurança energética e não podemos depender do álcool brasileiro".
A decisão da EPA fortalece a consolidação do setor?
A consolidação começou a ocorrer desde a crise financeira e vai continuar intensa. O setor é muito segmentado. Temos 438 usinas nas mãos de 200 grupos econômicos. A tendência é um número menor de empresas com tamanhos cada vez maiores.

Uso de etanol evita emissão de CO2

O uso de etanol em carros flex já evitou emissão de mais de 83 milhões de toneladas de CO2.
O consumo de etanol em carros flex brasileiros, entre março de 2003 e janeiro de 2010, evitou a emissão de 83.548.948 de toneladas de gás carbônico (CO2) na atmosfera.
O consumo de etanol em carros flex brasileiros, entre março de 2003 e janeiro de 2010, evitou a emissão de 83.548.948 de toneladas de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Os dados foram registrados pelo "Carbonômetro", ferramenta criada pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) para medir a redução nas emissões de CO2 por carros equipados com motor flex e que utilizam o etanol como combustível.
De acordo com informações divulgadas na primeira semana de fevereiro pela Associação Nacional Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que foram compiladas pela UNICA, em janeiro de 2010 as vendas de carros bicombustíveis representaram 90% das vendas totais de automóveis, que chegaram a mais de 190 mil unidades.
Devido a alterações significativas no mercado de etanol desde outubro de 2009, os cálculos do Carbonômetro a partir de janeiro de 2010 utilizam nova base de consumo de etanol para veículos flex, definida temporariamente como 80% de consumo de gasolina tipo C e 20% de etanol. "Oportunamente essa relação será revista de modo a representar a dinâmica do mercado", explica Alfred Szwarc, consultor de emissões e tecnologia da UNICA.
1ª REVISÃO
Em outubro de 2009, a UNICA fez a primeira revisão na metodologia de cálculo do "Carbonômetro", revelando que o resultado final estava sub-dimensionado, o que vinha gerando resultados mais baixos que os benefícios reais na redução de CO2 em carros flex. Foi feito um ajuste na curva de sucateamento da frota em circulação, que projetava uma retirada exagerada de veículos em uso, afetando os resultados.
COMPENSAÇÃO
Para atingir o mesmo total de CO2 que deixou de ser emitido por carros flex em sete anos, de acordo com os dados do "Carbonômetro", seria preciso plantar e manter ao longo de 20 anos mais de 267 milhões de árvores nativas. A metodologia de cálculo da equivalência em árvores foi desenvolvida pela Organização Não-Governamental SOS Mata Atlântica, e está detalhada no site Etanol Verde, mantido pela UNICA. O site permite ainda acionar o "Carbonômetro", que integra a campanha "Etanol: uma atitude inteligente," lançada em agosto de 2008 para detalhar os benefícios do biocombustível produzido a partir da cana-de-açúcar para o meio ambiente e a sociedade como um todo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Agência ambiental americana reconhece etanol brasileiro

Agência ambiental do governo dos Estados Unidos reconhece eficiência do etanol brasileiro.
A Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) anunciou que o etanol brasileiro de cana-de-açúcar reduz as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 61% em relação à gasolina, o que o caracteriza como um “biocombustível avançado”.
O reconhecimento da EPA – que abre o mercado norte-americano e mundial para o etanol brasileiro e deverá contribuir para a redução das tarifas de importação impostas ao produto pelo governo dos Estados Unidos – aumenta ainda mais a necessidade de investimentos em pesquisas relacionadas ao biocombustível no Brasil, segundo pesquisadores.
“O governo dos Estados Unidos reconheceu algo que já estava bem claro para a comunidade científica. Trata-se de uma excelente notícia para o etanol brasileiro, pois a disponibilidade de um biocombustível avançado comercialmente viável é um elemento importante para a estratégia norte-americana de redução de emissões de GEE [gases de efeito estufa]. No entanto, a provável abertura do mercado criará uma demanda que só poderá ser suprida se tivermos um grande avanço tecnológico”, disse Luís Augusto Barbosa Cortez, professor titular da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Agência FAPESP
Segundo Cortez, a necessidade de aumento da produção poderá ter tal magnitude que somente seria possível de ser realizada com investimentos em pesquisa para o aprimoramento do etanol de primeira geração e para o desenvolvimento da produção de etanol celulósico – que deverá aumentar a produtividade sem expansão da área plantada de cana-de-açúcar.
“Essa boa notícia precisa ser acompanhada de investimentos para que o etanol tenha melhores indicadores, como custo de produção, redução de consumo de fertilizantes, produtividade agroindustrial, condições de trabalho no campo e redução de queimadas. A sustentabilidade do etanol tem que ser considerada em suas dimensões ambientais, sociais e econômicas”, disse.
Cortez, que é coordenador adjunto de Programas Especiais da FAPESP, coordena o Projeto de Pesquisa em Políticas Públicas da Cadeia Cana-Etanol (Diretrizes de Políticas Públicas para a Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo), apoiado pela Fundação e voltado para as rotas tecnológicas para a produção do etanol.
De acordo com avaliação feita pela União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), a decisão da EPA abre o mercado para a entrada de 15 bilhões a 40 bilhões de litros de etanol brasileiro nos Estados Unidos até 2022. A nova legislação norte-americana estabelece que o consumo mínimo de biocombustíveis deve ser de mais de 45 bilhões de litros anuais e, até 2022, esse volume deverá ser elevado para até 136 bilhões de litros.
“A decisão não abre o mercado apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, porque a EPA é reconhecida em todos os países e o etanol brasileiro provavelmente ganhará importância nas estratégias de redução de emissões de todos eles”, disse Cortez.
O pesquisador também coordena estudos sobre expansão da produção de etanol no Brasil visando à substituição de 10% da gasolina no mundo em 2025 por etanol de cana-de-açúcar, feitos pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), da Unicamp.
Para ser considerado um biocombustível avançado, o produto deve reduzir as emissões de GEE em pelo menos 40% em relação à gasolina. Artigos científicos indicaram que a redução do etanol brasileiro variava entre 60% e 90%, dependendo da metodologia de estudo. O etanol de milho norte-americano, em comparação, produz redução de cerca de 15%.
“Que eu saiba, por esse critério, não há nenhum outro biocombustível avançado comercialmente viável. O biodiesel europeu, que tem melhor desempenho, proporciona reduções na faixa de 20% a 30%. Os norte-americanos têm esperanças de conseguir essa classificação para o etanol de segunda geração, mas ele ainda não é comercial e quando estiver sendo produzido ainda será muito caro”, afirmou Cortez.
Aumento da produção
O professor da Feagri-Unicamp explica que o reconhecimento da EPA certamente ajudará a derrubar a tarifa de importação do etanol brasileiro nos Estados Unidos, que está estabelecida até o fim de 2010 em US$ 0,54 por galão.
A tarifa, estabelecida para proteger os produtores de etanol de milho nos Estados Unidos, é considerada um grande obstáculo para o produto brasileiro. Mas, segundo o cientista, o ideal é que elas sejam diminuídas gradativamente, com a criação de tarifas diferenciadas.
“Com essas tarifas eles protegem os fazendeiros, mas não reduzem as emissões o suficiente. Esse protecionismo é incoerente com as estratégias ambientais e deverá ser revisto. Mas é preciso que essa redução aconteça paulatinamente para que a indústria brasileira tenha tempo para se preparar para a imensa demanda que será gerada. Se a redução for repentina, isso poderá levar ao desabastecimento”, disse.
O reconhecimento da EPA do etanol brasileiro como biocombustível avançado não basta para que ele seja integrado à estratégia norte-americana, segundo Cortez.
“Para optar de fato pelo nosso etanol, eles precisarão analisar se o Brasil é um fornecedor seguro. O único jeito de garantir isso é aumentar a produção. Hoje, sabemos que uma simples alta na exportação do açúcar já é capaz de afetar o fornecimento de etanol no Brasil”, afirmou.
Cortez ressalta que hoje os Estados Unidos consomem cerca de 560 bilhões de litros de etanol por ano, enquanto o Brasil consome aproximadamente 40 bilhões de litros.
“Se o mercado norte-americano começar a demandar uma quantidade importante como 5 ou 10 bilhões de litros por ano, isso vai afetar significativamente o mercado brasileiro. Esse mercado é muito sensível ao preço do açúcar em nível internacional e ao consumo de álcool em nível interno”, destacou.

Produção de etanol de pode afetar ecossistemas

Produção de etanol de cana-de-açúcar pode afetar ecossistemas regionais.
Emissão de poluentes à base de nitrogênio causa 'chuva seca', lado maléfico do etanol de cana-de-açúcar
Todo produto “sustentável” que se preze tem estampada na embalagem sua “pegada de carbono” – uma medida dos gases de efeito estufa emitidos durante sua produção. Quanto menor a pegada, menos o produto contribui para aumentar o aquecimento global e suas consequentes mudanças climáticas.
O etanol vem sendo visto com bons olhos justamente porque, ao contrário do petróleo, cuja queima lança no ar carbono que estava “fora de circulação” há centenas de milhões de anos, suas emissões são compensadas durante o crescimento das plantações de cana-de-açúcar, que absorvem CO2 no processo de fotossíntese. Isso praticamente zera o balanço de carbono.
Pegaria muito mal, porém, se fosse estampada na embalagem do etanol sua “pegada de nitrogênio”. Como quase todo tipo de agricultura intensiva, a cultura da cana-de-açúcar exige a aplicação de fertilizantes à base de compostos com nitrogênio, como o nitrato de amônio. Acontece que essa aplicação é extremamente ineficiente. Apenas 30% do nitrogênio dele é absorvido pela cana. O restante acaba se perdendo no solo, na água e no ar.
O nitrogênio é essencial à vida, faz parte do DNA, RNA e das proteínas; daí ser um dos ingredientes essenciais dos fertilizantes. Mas quando ele fica à disposição em excesso, espécies de plantas e micro-organismos que o absorvem mais rápido podem se proliferar e tomar o lugar das outras, destruindo o equilíbrio do ecossistema e sua biodiversidade. Nos ambientes aquáticos, o efeito é imediato: uma explosão de crescimento de algas libera toxinas e consome quase todo o oxigênio na água.
Vários estudos feitos no Estado de São Paulo – local da maior produção de cana-de-açúcar do mundo – já observaram como as águas arrastam nitrogênio fertilizante dos canaviais até córregos, rios e represas, onde ele degrada o ambiente aquático e as matas ciliares. Mas ao avaliar a concentração nas represas, os cientistas perceberam que somente o transporte pela água não explica toda a quantidade de nitrogênio encontrada.
O químico ambiental Arnaldo Cardoso, do Instituto de Química da Unesp, campus de Araraquara, suspeita que esse nitrogênio em excesso venha da atmosfera, na forma de uma poeira microscópica de nitrato de amônio. É como se fosse uma “chuva seca” de fertilizantes que se forma no ar a partir de gases emitidos pela queima da folhagem da cana feita antes da colheita. “Mas esse é um conceito que ainda não cristalizou na cabeça dos biólogos”, afirma Cardoso.
Em uma série de projetos com apoio da Fapesp e do CNPq, Cardoso, Cristine Dias e Andrew Allen, todos do IQ, monitoram desde 2003 as substâncias químicas no ar dos arredores de Araraquara, que fica no centro da maior região produtora de cana de São Paulo. Uma das análises da equipe, publicada em janeiro no “Journal of the Brazilian Chemical Society”, concluiu que essa chuva de fertilizante sobre rios, campos e florestas distantes até mais de 300 quilômetros dos canaviais é 12 vezes mais intensa do que a que aconteceria naturalmente. É como se alguém salpicasse fertilizante pela região.
Queima de palha da cana de todo o Estado de SP emite na atmosfera por ano o equivalente a 2,5 vezes as emissões de nitrogênio da Grande Campinas ou 50% daquelas da Grande São Paulo
Os dados levantados pelos químicos da Unesp mostram que as concentrações da maioria das substâncias, principalmente aquelas com nitrogênio, fósforo e potássio, aumenta durante a queima da palha da cana, entre maio e novembro. As concentrações dos óxidos de nitrogênio, por exemplo, dobram no período, e os picos nas suas concentrações coincidem com a frequência das queimadas.
Em estudo publicado em 2008 na revista “Environmental Science & Technology”, a equipe calculou que a queima de palha da cana de todo o Estado de São Paulo emite na atmosfera 57 mil toneladas de nitrogênio por ano. Isso equivale às emissões de nitrogênio de uma metrópole – cerca de duas vezes e meia as emissões anuais da Grande Campinas ou metade daquelas da Grande São Paulo.
Nas cidades, a principal fonte de nitrogênio no ar é a queima de combustíveis. Os óxidos de nitrogênio gerados participam de reações químicas na atmosfera produzindo nitrato de amônio, ácido nítrico – que contribui com a chuva ácida -, e ozônio, que na baixa atmosfera faz mal à saúde animal e vegetal.
A imensa maioria do nitrogênio no ar (99%) está na forma do inofensivo gás nitrogênio. Bactérias que vivem no solo e na água transformam naturalmente esse gás em óxidos de nitrogênio, amônia e amônio, todos compostos que reagem com seres vivos, também conhecidos como nitrogênio ativo.
Ao mesmo tempo, outro tipo de bactéria, também no solo e na água, vive de fazer a transformação oposta, devolvendo gás nitrogênio para a atmosfera. Os dois comportamentos fechavam um ciclo que permaneceu em equilíbrio até o começo do século 20. Desde então os fertilizantes e os motores a combustão mais que dobraram a produção global anual de nitrogênio ativo.
É um dos três problemas ambientais mais graves do mundo, junto com a acelerada perda da biodiversidade e a alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Para chamar atenção do público, o químico ambiental James Galloway, da Universidade de Virgínia, EUA, coordenou a criação de uma calculadora de “pegada de nitrogênio”, nos moldes da pegada de carbono, por enquanto apenas para os EUA e a Holanda. “Planejamos adicionar outros países em 2010″, diz Galloway.

Etanol pode elevar emissão de CO2

De acordo com a pesquisa, a produção de biocombustível poderá influenciar também na devastação do Cerrado e da Amazônia.
Estudo mostra que, para atingir meta de produção de etanol até 2020, serão necessários mais 35 mil km² de plantação de cana-de-açúcar.
Se não for feita com cuidado, a expansão da área plantada para elevar a produção nacional de biocombustível até 2020 pode forçar criadores de gado a avançar sobre o Cerrado e a Amazônia. O movimento provocaria desmatamento e a consequente emissão de gases do efeito estufa que o País levaria mais de 200 anos para compensar. É o que diz um estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
O estudo simula cenários em que, para elevar a produção de biocombustíveis em 35 bilhões de litros até 2020, a área plantada com soja aumentaria de 191 mil km², em 2003, para até 285 mil km², em 2020. A de cana iria de 55 mil km² para 90 mil km². Se esse padrão de substituição se mantiver e a produção de carne continuar aumentando, serão necessários 3 milhões de km² de pastagens no Brasil em 2020.
O valor significaria 44% a mais do que em 2003, e parte dessa área possivelmente seria subtraída do Cerrado e da Amazônia. A devastação provocaria emissões de CO2 que só seriam compensadas por séculos de uso de biocombustível.
Para evitar que isso aconteça, uma possibilidade seria diminuir as exportações de carne. Outra é aumentar a produtividade da pecuária. Segundo o professor da Universidade de São Paulo José Goldemberg, isso já TAM ocorrido. A secretária nacional de Mudanças Climáticas, Suzana Khan, teme que a publicação do estudo provoque um desserviço.
O trabalho, de pesquisadores de instituições da Alemanha e da Organização das Nações Unidas (ONU), foi encabeçado pelo brasileiro David Lapola.

Aprovação ambiental do etanol

Aprovação ambiental é 1º `round´ em briga internacional do etanol, diz Unica.
Órgão ambiental dos EUA recomendou etanol como combustível ecológico. Segundo o setor, esta vitória é trunfo para derrubar tarifas internacionais
Para os produtores brasileiros de etanol, 2010 será o ano de concentrar forças para derrubar barreiras e, enfim, ‘desencantar’ o antigo sonho vender globalmente o álcool de cana-de-açúcar fabricado no Brasil e transformar o produto em commodity negociada internacionalmente, como o petróleo.
O setor ganhou "injeção de ânimo" com notícias divulgadas esta semana, como a decisão da Environmental Protection Agency (EPA), o "IBAMA dos EUA", de classificar o álcool de cana-de-açúcar como “combustível avançado” e a parceria firmada entre Shell e Cosan, anunciada em 01/02/2010).
Na avaliação do presidente da Unica, Marcos Jank, a certificação oficial do combustível como opção "limpa" abre portas para a internacionalização do produto, mais conceituado pela agência do que o álcool à base de milho feito nos EUA. Para Jank, a certificação ajuda até a resolver problemas antigos, como a tarifa de importação imposta pelos EUA para o álcool brasileiro.
"Na medida em que o etanol brasileiro ganha um passaporte bem melhor que o etanol do milho, a operação de produção de etanol muito mais atrativa. É por isso que grandes petroleiras como a Shell estão interessadas", disse Jank ao G1.
Para o executivo, os usineiros devem aproveitar o momento de atenção e potenciais investimentos dedicados ao setor para conquistar avanços definitivos, como políticas públicas de estímulo à produção de energia renovável e um marco regulatório específico para o etanol.
Leia os principais trechos da entrevista:
- G1: A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos [EPA, na sigla em inglês] confirmou o etanol de cana-de-açúcar como biocombustível que pode contribuir para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. Isso é uma nova injeção de ânimo para o setor?
- Jank: Não tenho dúvida. Acho que estamos entrando em uma terceira fase da história do etanol. Houve a primeira, da substituição do petróleo nos anos 70, quando o Brasil tinha muita cana e resolveu ser o primeiro país do mundo a tentar uma alternativa renovável quando nem se falava em clima.
Depois, o programa entrou em crise nos anos 90 e veio o renascimento em 2003, quando a indústria automobilística resolveu transformar o Brasil no maior laboratório de carros flex do mundo. Hoje, 92% dos carros novos são flex, 40% da frota.
Agora está começando a nascer a terceira fase, que é a do etanol no mundo. Eu acho que essa decisão do EPA, o ‘Ibama’ dos EUA, [de] reconhecerem a cana como biocombustível avançado e o milho apenas como convencional, isso é o passaporte do nosso etanol para o mundo.
Nós ganhamos o passaporte, [mas] não conseguimos viajar ainda, porque falta derrubar a tarifa. Nós tivemos uma grande vitória, mas isso ainda não garante o acesso aos mercados.
- Essa recomendação da agência ambiental pode de alguma maneira influenciar a entrada do etanol brasileiro no mercado norte-americano?
- Tem imensa influência. Em todos os países grandes em que as grandes petroleiras atuam estão sendo implementadas legislações que obrigam a reduzir carbono no combustível. Na medida em que o etanol brasileiro ganha um passaporte bem melhor que o etanol do milho, a operação de produção de etanol fica muito mais atrativa.
A Shell é a terceira petroleira que entrou [no mercado de etanol, por meio de uma parceria com a brasileira Cosan, anunciada nesta semana]: a primeira foi a BP, que montou uma usina em Goiás. Depois [foi] a Petrobras, que falou que faria muitos investimentos e até agora só comprou uma pequena usina.
- Esse mercado mundial de etanol tem chances reais de se tornar realidade?
- Tem duas fases nessa história. Uma é a de que os órgãos reguladores certifiquem a qualidade dos diversos biocombistíveis, principalmente na questão ambiental, que foi o que o EPA fez agora. A vitória dessa semana é fruto de dois anos de trabalho muito intenso que envolveu o governo, a Unica e um monte de pesquisadores brasileiros.
A segunda etapa daqui para a frente é a redução das barreiras ao comércio, principalmente as tarifas dos EUA, Europa e Japão. A tarifa americana está programada para desaparecer em 31 de dezembro deste ano, só que desde 1980 ela é uma tarifa temporária e cada vez que ela vai desaparecer o lobby do milho vai lá e renova, e renova, e renova.
O que é diferente desta vez? Este ano, pela primeira vez, há muitos interesses em Washington para que a tarifa não seja renovada. A Unica está em Washington há três anos, montamos um escritório e atuamos o tempo todo para entender esse universo e participar dele. Para completarmos esse ciclo , precisamos agora batalhar para que tarifa caia, não só nos EUA mas também em outras regiões do mundo que ainda praticam a tarifa alta.
- O que a Unica pretende fazer para negociar a derrubada das barreiras?
- Nos EUA, o Legislativo fixa as barreiras. Então nossa principal atuação tem que ser no Congresso Americano. Cada lugar é de um jeito. Temos hoje sete pessoas e muitos consultores e especialistas trabalhando fora do país e os principais focos da atuação deles são o debate de clima, as regulamentações relacionadas a isso e depois as barreiras.
- O sr. é a favor da redução de taxas de importação ao etanol estrangeiro também no Brasil?
- Sim, inclusive a Camex (Câmara de Comércio Exterior) está para julgar um pedido nosso para zerar a tarifa de importação do etanol para o Brasil. O mais importante para nós é a coerência. Se estamos falando para o mundo inteiro que o etanol precisa ser uma commodity global, por que o Brasil então protege o etanol? Essa tarifa foi fixada no Mercosul e houve pressão de outros países para que ela ficasse nesse nível de 20%, mas nós entendemos que isso tem que desaparecer. Agora isso não deve desaparecer de graça, certo? É preciso que outros países façam o mesmo.
- No ano passado, o setor sucroalcooleiro do Brasil fez uma pausa na forte expansão dos últimos tempos, por causa da crise e de outros fatores. Qual a expectativa para 2010?
- A gente realmente sofreu muito com essa crise financeira. Dados do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) mostram que o nosso setor foi o que mais investiu no país em relação ao seu faturamento: eram 115 novas plantas desde 2005. Uma parte dessas novas plantas passou grandes dificuldades com a crise financeira global.
Esse processo vai continuar acontecendo. Hoje, são 430 usinas controladas por 200 grupos econômicos. São muitas empresas familiares, com pouca escala, dificuldade de acesso a capital, então eu acho que essa consolidação vai acabar acontecendo e gerar menos empresas e mais sólidas.
- Em 2009, usinas assinaram com o presidente Lula documento que prevê uma maior formalização dos trabalhadores do setor. Houve evolução neste sentido?
- A mecanização está acontecendo de forma bastante acelerada. Como você sabe, nós antecipamos o fim da queima da cana em São Paulo de 2021 para 2014. Nesse momento, já estamos chegando a 55% de área sem queima. São mais ou menos 600 máquinas [a mais] por ano, é uma quantidade grande de máquinas muito caras.
Por isso, lançamos no meio do ano o maior programa de requalificação de trabalhadores manuais da cana que há houve no planeta. A ideia é pegar 8 mil cortadores de cana por ano e requalificá-los. Sessenta por cento deles serão requalificados para trabalhar conosco, e 40% serão qualificados para outras atividades. Com o presidente Lula, assinamos um compromisso em que identificamos as 30 melhores práticas trabalhistas que são aplicadas no setor e as estabelecemos como parâmetro para usinas que assinaram este compromisso.
- O preço do etanol hoje é comparativamente mais caro do que o da gasolina. Há maneiras de evitar que isso ocorra sempre antes da colheita da safra?
- A gente começou essa safra com preços ao consumidor em São Paulo inferiores a R$ 1 e terminamos próximos a R$ 2. Essa variação não interessa nem ao produtor, nem ao consumidor, nem ao governo. Foi um ano muito atípico: em geral a variação de safra e entressafra é de cerca de 50%, o que já é alto.
O que aconteceu neste ano é que com a crise, as empresas venderam álcool muito barato no começo da safra para fazer caixa, o que fez com que o consumo disparasse. Quando veio o segundo semestre, o nível de chuva foi tão grande que a gente perdeu 4 bilhões de litros de álcool por causa da chuva, ficamos praticamente 70 dias sem moer. A chuva foi atípica e a crise financeira foi atípica. O presidente Lula conversou conosco, falamos com vários ministros e estamos trabalhando para implementar medidas, como criar estoques reguladores que reduzam essa volatilidade, [que] não interessa a ninguém.
- O sr. acha que o etanol ainda é ‘refém’ do petróleo? Ou seja, quando há mais descobertas de petróleo e o preço do produto cai, o etanol ‘sai de moda’?
- É indiscutível que o mundo acordou para questão da mudança do clima. Então toda a indústria petroleira está buscando saídas, a vinda da Shell é prova disso. Essa busca por uma matriz mais limpa e renovável é uma questão de legislação, os países estão desenvolvendo legislações duríssimas nessa área. Mesmo que Copenhague tenha sido um fracasso, os países estão caminhando.
O Brasil nesses 30 anos se tornou um grande exemplo: a cana é a segunda fonte de energia do país, 17% da matriz energética. Eu acho que, quando você descobre uma grande jazida de petróleo, é óbvio que é bom para o país. Agora, isso não pode acontecer em detrimento de uma experiência absolutamente inédita e bem-sucedida em biocombustíveis. Essa experiência tem que continuar; tem empresas querendo fazer bioplásticos a partir de etanol, tem empresas testando a possibilidade de fazer diesel e querosene a partir de cana de açúcar. Estamos testando motocicletas flex, espero que saia o ônibus a etanol. Podemos ser grandes produtores e exportadores de petróleo, mantendo uma matriz energética limpa no país.

Técnico recomenda prudência com o mercado do etanol

Embora conviva com a euforia de um mercado promissor, o Brasil precisa ter um pé atrás em relação à produção do etanol de cana de açúcar em médio e longo prazo. Em dez ou quinze anos, podem aparecer formas mais eficientes de produção do que a brasileira para substituí-la no mercado internacional. O alerta é do mestre em Economia Política e técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Pedro Silva Barros.
Como aponta o conhecido ditado popular, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Neste caso, é prudente o Brasil continuar desenvolvendo a produção de etanol de cana de açúcar, hoje muito mais eficiente do que o etanol de milho, como é feito nos Estados Unidos, mas de olho no surgimento de novas fontes de energia.
Ainda segundo Pedro Barros, a cana de açúcar tem uma importante capacidade de atender rapidamente à demanda existente, ao contrário de commodities como o café. Entretanto, mesmo com grandes investimentos em usinas de processamento
de cana, a demanda tem aumentado exorbitantemente no Brasil e no mundo, o que tem acarretado em falta de etanol de cana do mercado. Somente em território nacional, houve grande renovação da frota de veículos, com a adoção dos carros flex, e cerca de 90% dos consumidores de combustíveis optaram pelo etanol em 2009.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A arma secreta do etanol brasileiro

Como um modelo matemático cacifou o lobby que abriu o mercado dos Estados Unidos ao álcool da cana.
AUTORES - André (E), Laura, Marcelo, Luciane e Leila trabalharam para mostrar que o etanol não desmata a Amazônia.
Luciane Chiodi sonhou com o Blum na sua lua-de-mel. Por mais de um ano, ela e os colegas de trabalho Marcelo Moreira, Leila Harfuth e Laura Antoniazzi, coordenados por André Nassar, dedicaram-se integralmente ao Blum. Leila conta que acordava de madrugada, com insônia, pensando em mudanças que poderia fazer no Blum. "Era só isso de manhã, de tarde, de noite", disse Moreira. Blum?
Blum são as iniciais de "Brazilian Land Use Model", que significa Modelo Brasileiro de Uso da Terra. Trata-se de uma ferramenta matemática, formada por centenas de equações, que ajudou a convencer os Estados Unidos de que o etanol brasileiro não é responsável pelo desmatamento da Amazônia e, portanto, não deveria ser penalizado por isso.
O Blum é apenas uma peça de um dos mais bem sucedidos lobbies feitos por empresários brasileiros no exterior. No dia 4 de fevereiro, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol de cana como combustível avançado, com redução de 61% das emissões de dióxido de carbono (CO2) em relação à gasolina, acima dos 21% do etanol de milho. A decisão abre para o Brasil um mercado de até 40 bilhões de litros nos EUA nos próximos anos e funciona como um selo de garantia nos demais países.
Mas a vitória não veio de graça. Há três anos o etanol vinha sendo bombardeado por ambientalistas, que culpavam a cana pelos problemas na Amazônia, e por especialistas em segurança alimentar, que diziam que os biocombustíveis encareciam o custo dos alimentos.
Os usineiros brasileiros tinham de mudar essa imagem - uma tarefa difícil para um setor fragmentado e pouco internacionalizado. Sem saber direito que rumo seguir, a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) contratou Marcos Jank para dirigir a entidade. Filho de fazendeiros, Jank foi professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento em Washington. Com a bênção dos ex-ministros Luiz Furlan e Roberto Rodrigues, fundou o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), entidade financiada por empresários.
Jank ganhou carta branca dos usineiros para abrir escritórios no exterior. Ele contratou em Washington o lobista brasileiro Joel Velasco, que tinha trabalhado no gabinete do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore.
Velasco assumiu o cargo em dezembro de 2007 e passou a circular pelo Congresso americano e a acompanhar a tramitação da Lei de Segurança e Independência Energética. A lei dividiu o etanol em três categorias (convencional, avançado e celulósico), com previsões diferentes de consumo. E entregou ao EPA a tarefa de calcular em quanto o etanol de cana reduz a emissão de gases de efeito estufa. Mais complicado ainda: o cálculo deveria incluir o efeito indireto do uso da terra.
A determinação provocou polêmica no Brasil. Usineiros e pesquisadores são contra a ideia de que a expansão da cana no Centro-Sul empurra a pecuária para a Amazônia. Argumentam que é impossível medir isso e que outros problemas, como a ocupação ilegal de terras, provocam desmatamento.
"O problema é que, se querem contar extra-terrestres em Marte, não adianta argumentar que ETs não existem", disse Velasco. "Disse isso na Unica e apanhei muito." Mas foi com esse pragmatismo que a entidade decidiu influenciar nos cálculos do EPA.
Velasco se aproximou dos técnicos do órgão logo no início de 2008. "Comecei a participar de todas as conferências que faziam", disse. Jank reuniu cerca de 20 especialistas para elaborar os argumentos brasileiros. Coube à turma de André Nassar, diretor executivo do Icone, criar o modelo matemático Blum, que provou que o efeito indireto da cana na Amazônia é muito menor do que os americanos achavam.
Em maio de 2009, o EPA apresentou o primeiro cálculo: o etanol de cana reduzia em 44% a emissão de CO2. O resultado foi uma decepção. Para ser avançado, o etanol deveria ter alcançado 50%. Para ser comparado ao celulósico, que ainda não foi desenvolvido comercialmente, acima de 60%.
O resultado do EPA estava aberto à consulta pública. Era a hora de apresentar os argumentos técnicos. Em agosto de 2009, o Itamaraty trouxe uma missão do órgão ao Brasil. Joel conta que ouviu, pela primeira vez, informalmente, qual seria o resultado no início de janeiro. "Um amigo me ligou e disse: Está sentado? Soube que o número do EPA deu 61%."
O QUE É O BLUM
Brazilian Land Use Model
Em português, significa Modelo Brasileiro de Uso da Terra
É uma ferramenta matemática formada por centenas de equações, usada pelo lobby dos usineiros brasileiros nos Estados Unidos
Ela mostrou que o etanol não é responsável pelo desmatamento da Amazônia

Lição para os americanos fazerem contas

Método brasileiro mostrou que cálculo dos EUA estava errado.
Para defender o etanol brasileiro, a equipe técnica da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) tinha dois grandes desafios. O primeiro era medir as emissões de gases de efeito estufa do combustível desde o plantio da cana até o escapamento do carro.
O segundo era calcular o uso indireto da terra - o quanto o avanço da cultura da cana no Centro-Sul contribui para empurrar a pecuária e a soja rumo à Amazônia. Os dados elaborados pelos pesquisadores brasileiros foram enviados à Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos.
Para a primeira tarefa, contaram com Isaías de Carvalho Macedo, um dos pais do etanol. Ele participou da fundação do Centro de Tecnologia da Coopersucar (CTC). Na conferência ECO 92, o setor pediu que o CTC mostrasse as vantagens do etanol e o pesquisador teve a ideia de provar que o etanol emitia menos CO2 que a gasolina.
"Naquela época, ninguém ligava para isso", contou Macedo. Ele fez os cálculos e produziu um documento de três páginas que mostrava que o álcool reduzia as emissões em 80% em relação à gasolina.
Uma das contribuições de Macedo foi apontar ao EPA, por exemplo, que, no Brasil, o calcário utilizado nas usinas de cana é orgânico. Nos Estados Unidos, o calcário é sintético, produzido por meio de um processo petroquímico. Parece um detalhe, mas faz toda diferença em termos de poluição
Outro ponto foi explicar que o bagaço da cana moída nas usinas é utilizado para produzir energia de biomassa, que substitui a energia "suja" das termelétricas a gás. "Ao utilizar o etanol, você está limpando o sistema elétrico", defende Macedo.
Para calcular o efeito indireto do uso da terra, a Unica pediu ajuda ao Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). O trabalho consistia em criar um modelo matemático para fazer a conta.
O Icone fez uma parceria com o Instituto de Política Agrícola e Alimentos (Fapri), da Universidade de Iowa. O Fapri havia sido contratado pela EPA para fazer o cálculo. Segundo André Nassar, diretor do Icone, os americanos utilizavam o mesmo modelo para qualquer país.
No primeiro cálculo do Fapri, o etanol de cana reduzia a emissão de CO2 em 44%. Nassar conta que havia erros de quem não conhece a agricultura brasileira. O Fapri não considerou os 204 milhões de hectares de pastagem ou que são produzidas duas safras de milho por ano.
O Icone encerrou a parceria com o Fapri em 2008 e não sabe se suas sugestões foram aceitas. Nassar, no entanto, rodou o modelo de consenso dos dois institutos com suas hipóteses e chegou a 60% de redução das emissões - menos que os 61% anunciados pelo EPA.
NÚMEROS
44% de redução
de emissões de CO2 na atmosfera para o etanol de cana foi o índice anunciado no primeiro cálculo feito pelo Instituto de Política Agrícola e Alimentos (Fabri) da Universidade de Iowa
61% de redução
de emissões foi o índice anunciado este ano pela Agência de Proteção Ambiental dos EUAP

Pesquisadores discutem geopolítica do etanol

Artigos de pesquisadores discutem geopolítica do etanol, crise e MERCOSUL.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) lançou em 09/02/10, o Boletim de Economia e Política Internacional. A publicação é o primeiro produto coletivo da nova área de estudos internacionais do Instituto, criada em 2009 no âmbito da Diretoria de Estudos, Cooperação Técnica e Políticas Internacionais (Dicod). Trimestral, o boletim tem como público alvo os gestores de políticas públicas vinculadas aos temas internacionais.
O editor da publicação, André Viana, diz que a ideia é dar visibilidade ao trabalho da área internacional do Ipea e estabelecer um diálogo com os atores da Esplanada dos Três Poderes e com outros setores, como a academia. “Nossa intenção é de que se problematizem os temas conjunturais e estruturais de forma profunda, mas não exaustiva, servindo de porta de entrada dos estudos mais completos elaborados pelos técnicos das diretorias”, disse.
Segundo o diretor da Dicod, Mario Theodoro, o boletim representa o avanço do IPEA na área internacional, reforçada com a chegada de 15 novos técnicos aprovados em concurso público realizado em 2009. “Eles se agregaram a colegas na casa que trabalhavam com a questão internacional. Agora temos uma diretoria estruturada, funcionando, trabalhando, discutindo as questões internacionais. A concretude de tudo isso está no boletim”, afirmou o diretor.
Temas
A primeira edição do boletim traz sete artigos, que contaram com a participação de 16 pesquisadores do IPEA. Durante a apresentação do boletim, três dos artigos foram apresentados pelos autores. Luciana Acioly falou sobre a reação dos países à crise econômica internacional e apresentou um quadro, presente no artigo, que mostra como 33 países utilizaram os instrumentos financeiros de resposta durante o período. Segundo a pesquisadora, enquanto os Estados Unidos utilizaram quase todos os instrumentos possíveis, a Turquia recorreu somente aos empréstimos de emergência do FMI.
Pedro Silva Barros falou sobre a geopolítica do etanol e os desafios para os próximos anos: diminuir as restrições dos mercados consumidores; aumentar o número de países produtores e enfrentar a campanha antietanol, com a aparente contradição entre a produção de alimentos e de biocombustíveis. Sobre a incerteza da oferta, o pesquisador diz que há como aumentar a produção. “Apesar do grande crescimento da demanda interna, há espaço forte para o aumento da produção porque a cana-de-açúcar, diferentemente de outros produtos agrícolas, pode responder rapidamente ao aumento da demanda. É preciso insistir nas políticas públicas para expandir a produção.”
As assimetrias estruturais no MERCOSUL foram o tema do artigo apresentado por Samo Sérgio Gonçalves. O artigo resume um estudo maior que será divulgado em breve pelo IPEA. Entre as políticas públicas na área, Samo destacou o Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL (Focem), criado para atenuar as diferenças em convergência estrutural, desenvolvimento da competitividade, coesão social e fortalecimento da estrutura institucional. A maior parte dos recursos vai para o Paraguai. “Embora pareça pouco e seja pouco US$ 100 milhões para o Brasil, para esses países menores é uma quantia não desprezível”, disse, explicando que os repasses do Focem equivalem a quase 1% do PIB paraguaio.

Europeu aluga terra para etanol na África

Empresas da Europa começam a alugar terras na África para produzir etanol, exportar livres de tarifas para o mercado europeu e concorrer no futuro com o biocombustível brasileiro.
A companhia suíça Addax Bioenergy acaba de assinar contrato com o governo de Serra Leoa, um dos países mais pobres do planeta, para aluguel de 10 mil hectares de terras visando produzir 100 milhões de litros de etanol a partir de cana-de-açúcar.
O projeto é estimado em US$ 200 milhões, com financiamento do Banco Europeu de Investimentos e Banco Africano de Desenvolvimento, além de apoio da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), segundo seus diretores. A produção deve começar em 2012. A empresa está em discussão também com indústrias brasileiras para o fornecimento de equipamentos.
A sueca Sekab, que costuma importar etanol do Brasil, é outra que tem projeto de aluguel de terra na Tanzânia. Além disso, começa a ser desenvolvido gradualmente um projeto tripartite, entre a União Europeia, Brasil e União Africana, para produção do combustível na África visando também o mercado europeu.
A Addax Bioenergy afirma que um argumento pesou forte na sua escolha: o etanol de Serra Leoa será exportado para os 27 países do bloco europeu livre da tarifa de € 192 por mil litros que é aplicada sobre o produto brasileiro.
Isso não inquieta os representantes brasileiros. Para cumprir sua meta de adicionar 10% de biocombustível na gasolina vendida no mercado europeu, a UE precisa importar. E há espaço para todos os produtores. Para os brasileiros, o importante no momento é transformar o biocombustível em commodity global. Além disso, os projetos na África estão longe de chegar à dimensão da produção brasileira.
Serra Leoa sofreu uma guerra até dez anos atrás e seus seis milhões de habitantes têm dificuldades para se alimentar. Mas a companhia suíça argumenta que o país está calmo hoje. Afora isso, o clima é favorável, a cultura irrigada da cana-de-açúcar dá rendimentos comparáveis ou superiores aos do Brasil, onde o rendimento energético é duas vezes maior que o etanol americano e a economia de CO2, três vezes superior. Um funcionário afirma que o projeto foi totalmente inspirado na experiência brasileira.
A Addax vai pagar aluguel de US$ 12 por hectare por ano, dos quais 60% serão pagos diretamente aos proprietários das terras. A plantação de cana não deverá atingir nem as zonas úmidas destinadas à produção de arroz, nem as florestas. A empresa promete criar dois mil empregos diretos.
O investimento em Serra Leoa está sendo submetido a estritas normas para reduzir impactos ambientais e sociais. Os bancos financiadores procuraram todas as garantias, para não serem acusados de participar da recolonização da África por meio da compra de terras para produção de algo que a população local ignora. Organizações humanitárias são céticas.
O fenômeno do "land grabbing" cresce. Esse é o termo usado para compra ou aluguel de vastas áreas de terras por investidores privados ou países ricos, como Arábia Saudita e Coreia do Sul, em nações em desenvolvimento, para produzir alimentos destinados à exportação. Desde 2008, 180 contratos teriam sido assinados, segundo um instituto de Oakland, nos EUA. O International Food Policy Research Institute estima que investidores estrangeiros já garantiam entre 15 milhões e quase 20 milhões de hectares de terras em países pobres entre 2006 e meados de 2009.
A Organização das Nações Unidas (ONU) começou a discutir um código de conduta para regular os investimentos estrangeiros em terras agrícolas. Mas serão regras voluntárias, que vão demorar um ano, talvez mais, para ser aprovadas.

Promoção da agroenergia industrial

Promover a agroenergia industrial para exportação é hipotecar a Soberania Alimentar.
O etanol brasileiro vem ganhando cada vez mais fãs na indústria mundial. Em janeiro, a Agência Americana de Proteção Ambiental classificou o etanol produzido da cana com um biocombustível avançado, ou seja, que sua emissão reduz significativamente a emissão de dióxido de carbono em relação à gasolina. “Na prática, a classificação do etanol de cana como “avançado” segundo o critério da agência dos EUA não altera em nada a continuidade dos padrões insustentáveis, ambientais e sociais do qual dependem o setor sucroalcooleiro no país. Este fato representa uma conquista importante para assegurar mercado nos EUA para o etanol de cana do Brasil, fruto de uma campanha de lobby do setor privado, com apoio de cientistas e do governo”, afirmou a pesquisadora Camila Moreno durante a entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line.
Camila, que é ativista da Ong Terra de Direitos, falou conosco sobre a fusão da Shell com a Cosan, a internacionalização do etanol brasileiro e da relação da expansão da produção de biocombustíveis com o aumento da pecuária nas matas. “Seria interessante um estudo destes que definisse a monocultura como crime ambiental e social e que recomendasse recuperação imediata dos ecossistemas degradados com vegetação nativa, com sistemas agroecológicos”, indicou.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – A Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol feito de cana como um biocombustível avançado, que reduz a emissão de dióxido de carbono em 61% comparado a gasolina. Qual o impacto dessa decisão?
Camila Moreno – Esta decisão vem sendo celebrada pela indústria como o ‘passaporte’ para o etanol brasileiro ganhar o mundo, uma espécie de passe ambiental para a aceitabilidade ‘ecológica’ do combustível, tanto junto à opinião pública como para fins de política pública. Na prática, a classificação do etanol de cana como “avançado” segundo o critério da agência dos EUA não altera em nada a continuidade dos padrões insustentáveis, ambientais e sociais do qual dependem o setor sucroalcooleiro no país. Este fato representa uma conquista importante para assegurar mercado nos EUA para o etanol de cana do Brasil, fruto de uma campanha de lobby do setor privado, com apoio de cientistas e do governo (em linha com a estratégia prevista no Memorando de Entendimento sobre Biocombustíveis assinado há três anos entre os dois países, a chamada “Aliança do Etanol”).
É preocupante, porém, que este tipo de credencial pseudo-ambiental vá contribuir para promover e legitimar a expansão das monoculturas de cana não apenas no Brasil, mas em países da América Central, do Caribe e da África, onde o modelo brasileiro para exportação é vendido e promovido como sustentável. Não se trata de cair no discurso ufanista do etanol verde amarelo ou da falácia que insiste em repetir o governo, de que “não aceita dedos estrangeiros sujos de óleo apontando para a matriz energética limpa do Brasil” – a crítica é interna mesmo: promover a agroenergia industrial para exportação é hipotecar a Soberania Alimentar do país. Não se trata de substituir a demanda atual de uma civilização dependente do petróleo pela biomassa – o impacto sobre os bens comuns como a terra, a água e a biodiversidade é gigantesco e em especial sobre os países tropicais, este não é um tema comercial, é uma questão política.
“Levando em conta todo o ciclo de vida destes combustíveis, a grande maioria revela um balanço negativo: acaba produzindo mais emissões de gases de efeito estufa do que pretende reduzir, comparado com os combustíveis derivados do petróleo”
Hoje, entre as várias críticas e denúncias com relação aos impactos ambientais e sociais da expansão dos agrocombustíveis sobre os territórios, a única que é levada em conta para fins de política pública reduz as questões de sustentabilidade ao “balanço energético” da produção. Ou seja, levando em conta todo o ciclo de vida destes combustíveis, a grande maioria revela um balanço negativo: acaba produzindo mais emissões de gases de efeito estufa do que pretende reduzir, comparado com os combustíveis derivados do petróleo.
A definição do EPA com relação ao etanol de cana é um precedente importante para outras definições no âmbito de políticas públicas de clima e energia de países importadores porque é a primeira que inclui a mudança do uso da terra (direta e indireta) no recálculo dos agrocombustíveis aceitáveis. Como o balanço de emissões é o critério-chave, assim como os EUA, a União Europeia também está em processo de definição ainda em 2010 da metodologia oficial (que inclui, e que devem comprovar reduções mínimas de gases de efeito estufa em comparação com os combustíveis tradicionais). Nos EUA, são no mínimo considerados “renováveis” os combustíveis que emitem 20% menos gases de efeito estufa; na União Europeia, serão incluídos os que emitem no mínimo 35% menos, até 2017, quando este quesito será elevado a 50%. Mas esta metodologia é altamente questionável, pois reduz o que é “sustentável” ao cálculo das emissões dos agrocombustíveis.
Os EUA, nos dados divulgados recentemente, classificaram o etanol de cana como “biocombustível avançado”, categoria que inclui as variedades que reduzem a partir de 50% de emissões (o etanol de cana ficou com 61%), mas também reabilitaram o etanol de milho doméstico (que havia sido comprovado como um balanço negativo, além de fator importante na crise alimentar global de 2008), como “combustível renovável”, ou seja, na categoria dos que reduzem no mínimo 20% em relação ao petróleo.
IHU On-Line – Paralelamente à decisão da agência americana, anunciou-se, no Brasil, a fusão da Shell com a Cosan. A fusão tem sido saudada pelo mercado como o que faltava para que definitivamente o etanol brasileiro entre no mercado americano. Qual é o significado dessa fusão?
Camila Moreno – Significa a infraestrutura de distribuição e comercialização da Shell no Brasil, a terceira maior do país com 4500 postos para comercializar o etanol. Além disso, a união das duas empresas inclui a co-geração de energia, além da participação da petrolífera em empresas de pesquisa e desenvolvimento a partir da biomassa. O acordo também é um precedente para a futura parceria das duas empresas em outros países, e da consolidação de um modelo de empresa de agroenergia de integração vertical. Esta fusão também concretizou o que era evidente e vínhamos alertando desde o início de que a estratégia em marcha para substituir paulatinamente o petróleo que se acaba por outras fontes não abre espaço para a democratização ou descentralização da produção e distribuição de energia, muito menos para rediscutir os atuais padrões de consumo da sociedade.
Pelo contrário: assistimos uma concentração sem precedentes das cadeias com maior poder corporativo no mundo: energia e agronegócio, com empresas petroleiras como a Shell, a BP (antiga British Petroleum), Chevron, Petrobrás, aliadas com a Cargill, ADM, Louis Dreyfus, Bunge, passando pela empresas de biotecnologia e agrotóxicos como a Novozymes, gigantes como a Monsanto, a Syngenta e novas como a Amyris. Apesar disso, a imagem que querem ter é de “renováveis e alternativos”.
IHU On-Line – A produção de etanol no Brasil está se internacionalizando?
Camila Moreno – Rapidamente, junto com uma evidente consolidação do setor, mas é um setor ainda de predominância do capital nacional e onde o aporte do BNDES teve e continua tendo um papel crucial.
Quanto aos movimentos recentes, houve o acordo entre Shell e Cosan, segundo a Datagro, a participação de empresas estrangeiras no setor é atualmente de 22.9% comparado com 12.4 no ano passado. A Bunge, transnacional que já atua no setor, anunciou que pretende investir nas operações de açúcar e etanol a maioria do dinheiro que ganhou vendendo suas operações de fertilizantes para a Vale. Por outro lado, ainda esta semana, está para ser anunciado um acordo de união das operações entre a Brenco (que inclui entre os acionistas o indiano Vinod Koshla e Steve Case, fundador da AOL) e a ETH bioenergia, braço de açúcar e álcool do conglomerado Oderbrecht. Além disso, a Petrobrás Biocombustíveis e a Braskem têm uma atuação crescente e importante na produção de etanol e em assegurar uma base agrícola para a crescente alcoolquímica e a produção de plásticos “verdes”. Inclusive, pode-se apontar um novo modelo de integração, surgindo para os pequenos agricultores como fornecedores de cana para estes fins, como se tem falado muito no RS.
IHU On-Line – Que perspectivas esse cenário gera?
Camila Moreno – Este cenário gera preocupação e a necessidade de retomar uma articulação nacional para esclarecer e debater com a população as contradições da estratégia da agroenergia e seguir denunciando e resistindo a imposição sobre os territórios de um projeto que está totalmente dissociado da soberania alimentar energética. Ao longo de 2007 e 2008, o tema dos agrocombustíveis foi um grande mobilizador de várias redes, movimentos e organizações no país e no exterior e serviu como um raio que, de certa forma, galvanizou o entendimento do que vem por aí, quais são as estratégias do chamado capitalismo verde, o que o sistema e as empresas estão propondo como sua versão para a transição para uma sociedade pós-petróleo. Ao invés de enfrentar a crise ecológica, a erosão da biodiversidade, o exaurimento dos solos, a contaminação por agrotóxicos, a água, vemos que a própria questão climática e energética ao invés de servir para rediscutir uma estratégia de autonomia, emancipação e economia solidária, está sendo utilizada para impor falsas soluções que aprofundam as injustiças sociais e ambientais desta sociedade.
IHU On-Line – Um recente estudo divulgado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) dá conta de que o biocombustível empurra o boi para a mata. Como você avalia isso?
Camila Moreno – Acho que estes estudos são importantes, por um lado, porque trazem dados e evidências objetivas, mas, por outro, as avaliações destes estudos são um tanto óbvias: que o crescimento do agronegócio para agroenergia vai ao final impactar sobre a fronteira agrícola e estas são o Cerrado e a Amazônia. É complexo pensar em isolar os fatores já que a expansão da fronteira agrícola e as dinâmicas de conversão da terra são os fatores combinados, com desmatamento, pecuária, monoculturas e a construção de infraestrutura que acompanha o projeto e as demandas territoriais hegemônicas do agronegócio (estradas, ferrovias, hidrovias, hidrelétricas, barragens para irrigação, portos, mineração para insumos agrícolas) – é o impacto sistêmico do agronegócio, monoculturas e da concentração das terras.
“Se recuperar pasto degradado fosse mais barato ou economicamente interessante para o modelo, não teríamos algo entre 70 e 140 milhões de hectares nesta condição atualmente”
Acho complicado cair em uma disputa de dados que referendam o critério reducionista das “emissões” que já falamos no início. Por isso, vejo como problemático, por exemplo, apontar que intensificar a criação de gado em 0.13 cabeças por hectare na média “permitiria expandir a produção de agrocombustíveis sem afetar as florestas”, assim como dizer que o “uso de azeite de palma” no lugar da soja, levaria ao menor impacto nas emissões. Se recuperar pasto degradado fosse mais barato ou economicamente interessante para o modelo, não teríamos algo entre 70 e 140 milhões de hectares nesta condição atualmente.
A expansão do gado extensivo é utilizada para assegurar presença ‘produtiva’ sobre terras e faz parte da estratégia para incorporar áreas desmatadas, públicas ou griladas. Há um cálculo econômico que não se reduz somente em ‘intensificar’, é como o agronegócio funciona, como se apropria de terra, além disso, as políticas públicas estão voltadas para ganhar cada vez mais mercados internacionais para vender carne, soja, etanol… como compatibilizar isso? Por outro lado, substituir as plantações de soja pela palma africana vai trazer os problemas desta outra monocultura, doenças, pragas, além de condições de trabalho que estão bem documentadas na Indonésia, Malásia, Colômbia etc. Seria interessante um estudo destes que definisse a monocultura como crime ambiental e social e que recomendasse recuperação imediata dos ecossistemas degradados com vegetação nativa, com sistemas agroecológicos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Em busca de culturas de energia mais sustentáveis

Estudo mostra óleo de palma e cana de açúcar como culturas de energia mais sustentáveis.
A cana de açúcar produzida no Brasil e o óleo de palma da Malásia e da Indonésia foram classificados como os biocombustíveis mais sustentáveis da atual geração, de acordo com pesquisas da Wageningen University, da Holanda.
Pesquisadores do departamento de ciências da planta da universidade compararam nove safras considerando a erosão do solo, a água usada para cada unidade de energia produzida e o uso de nitrogênio, segundo Sander de Vries, autor do estudo comparativo.
Em termos de energia líquida, a cana de açúcar tem a melhor pontuação entre as culturas energéticas. “O milho, que pontua menos, é 10% da cana”, explica De Vries.
A produção de biocombustíveis elevou a 83 bilhões de litros em 2008, e representaram 1,5% do consumo global de transporte de combustível, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Os biocombustíveis da primeira geração têm enfrentado uma “crítica pesada” sobre seus efeitos no ambiente a longo prazo.
Sorgo na China, bem como óleo de palma e cana-de-açúcar, faz o uso mais eficiente da terra, água, nitrogênio e pesticidas para produzir uma unidade de energia, de acordo com o estudo publicado na revista Biomass and Bioenergy. Desde que a florestas não sejam desmatadas para essas três culturas, elas produzem "muito menos" gases de efeito estufa do que os combustíveis fósseis, segundo o estudo.
“Gasta-se muita água para produzir cana de açúcar, mas, no equilíbrio, você tem um grande retorno”, explicou De Vries. “Você recebe de volta muita cana de açúcar”.
Nove criterios
As culturas foram comparadas por um ranking contra o melhor desempenho de plantas em cada um dos nove critérios, disse De Vries. Açúcar de beterraba na Europa, mandioca na Tailândia e soja no Brasil tiveram uma classificação média, de acordo com o estudo.
"Em cada caso, olhamos para a área de produção dominante. Com relação à erosão, o óleo de palma tem uma boa pontuação, canola também. A soja não é boa em termos de energia líquida, mas é em termos de eficiência de nitrogênio”.
O óleo de palma foi mais sustentável em relação à manutenção da qualidade do solo, de acordo com o estudo, que ignorou os efeitos sobre as sociedades, economias e biodiversidade.
O milho dos Estados Unidos e o trigo da Europa, usados para produzir etanol, tiveram a pior pontuação das nove culturas, em sustentabilidade.
"É preciso muita energia para processar essas culturas", disse De Vries. "Para o milho é positivo. Já para o Para o trigo, o equilíbrio entre as reduções de gases com efeito de estufa é zero".

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Lixo pode virar combustível de aviação

British Airways transforma lixo em combustível de aviação.
Fábrica do grupo britânico deve ficar pronta dentro de quatro anos.
A companhia aérea British Airways vai construir a primeira fábrica europeia destinada a transformar lixo em combustível para aviação. Cerca de meio milhão de toneladas de resíduos serão utilizados anualmente para gerar 72,8 mil metros cúbicos de combustível.
Segundo a rede britânica BBC, a nova planta vai produzir aproximadamente o dobro do combustível necessário para todos os voos que saem do City Airport, o menor dos aeroportos londrinos. Graças a esse programa de reciclagem, será possível reduzir o volume produzido de metano - gás de efeito estufa que chega a ser mais potente que o dióxido de carbono.
A planta será construída pela companhia americana Solena Group, e a British se comprometeu a comprar todo o combustível que for produzido. Segundo o anúncio, a fábrica deve começar a funcionar em aproximadamente quatro anos.
As fontes ideais de matéria orgânica para esse programa são resíduos com alto teor de carbono. Eles serão introduzidos em um gaseificador de alta temperatura. O resultado desse processo será posteriormente submetido a um procedimento químico para gerar biocombustível.
O combustível produzido na nova fábrica já pode ser utilizado em outros países, mas seu uso ainda não está autorizado no próprio Reino Unido. No entanto, a British Airways acredita que vai conseguir as permissões necessárias até que comece a produção.
TESTES BRASILEIROS
No Brasil, o estudo de combustíveis alternativos para a aviação também já começou. Em 2012, a companhia aérea Azul e a Embraer devem realizar o primeiro voo experimental - sem passageiros - com o uso de um querosene obtido da cana-de-açúcar. A Azul aceitou testar, em um dos seus jatos Embraer, o bioquerosene, que está sendo desenvolvido pela multinacional de biotecnologia Amyris.
Embora o processo de certificação do novo combustível seja longo, o querosene de origem renovável poderá começar a ser produzido em escala industrial em 2013 como uma alternativa ao de origem fóssil, responsável pela alta carga de emissões de CO2 na aviação. As emissões do tráfego aéreo são responsáveis por 2% de todos os gases de efeito estufa liberados na atmosfera. Em 2050, esse porcentual deve chegar a 3%.
Em novembro/2009, a Gol também anunciou sua entrada em um projeto de pesquisa de biocombustível para aviões - o Sustainable Aviation Fuel Users Group - em português, grupo de usuários de combustível de aviação sustentável. O programa reúne empresas aéreas e provedores de tecnologia, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento de novas fontes sustentáveis de combustível para aviação, alcançando uso comercial.
O grupo trabalha em dois projetos preliminares de pesquisa. O primeiro estuda a sustentabilidade do cultivo do pinhão manso como alternativa para geração de combustível sustentável. E outra frente de estudos é relacionada ao uso de algas, com o objetivo de certificar que sua utilização atende aos critérios de sustentabilidade. Um tipo de biocombustível feito com babaçu também já foi testado.

Biodiesel sai à caça de novas matérias-primas para crescer

O avanço do biodiesel no Brasil deve impulsionar o apoio a pesquisas de novas matérias-primas para a ampliação do abastecimento no País. Segundo José Manuel Cabral de Sousa Dias, chefe adjunto de Comunicação e Negócios de Agroenergia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o assunto é prioridade no governo federal. O potencial de produção de óleo das plantas em estudo - macaúba, inajá, pinhão manso e tucumã - pode ultrapassar em até 793% o produto oriundo da soja, que atualmente responde por 85% da produção de biodiesel do País, de acordo com Dias. Em seguida aparecem sebo bovino, algodão e mamona.
Levantamento do Mapa aponta que a soja rende, em média, 560 quilos de óleo por hectare e o pinhão manso 1,9 mil. Já o dendê e a macaúba, nos números da Embrapa, podem atingir 5 mil. "O Brasil é um dos poucos países que tem matéria-prima em diferentes regiões. O que oferece segurança biológica maior", disse Dias.
Para Miguel Biegai, analista de bioenergia da Safras & Mercado, a soja como fonte de biodiesel, além da baixa produtividade, da competitividade com o setor de alimentos e da necessidade de plantio anual, não é interessante para as usinas por se tratar de uma commodity.
Ainda de acordo com Dias, editais de apoio a pequenos projetos já foram aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) executa, este ano, uma linha de pesquisa das culturas das oleaginosas tucumã e inajá. Uma parceria da Embrapa com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) desenvolve estudos para melhorar a prospecção de informações acerca da palmeira macaúba. Outro trabalho é desenvolvido pela Embrapa em conjunto com a Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM) na implantação de seis unidades de observação da cultura nos estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará en de Minas Gerais. A semeadura sincronizada para a produção de mudas foi realizada no último dia 27.
"A tendência tanto do governo quanto da iniciativa privada é incentivar cada vez mais estudos de culturas que possuem maior potencial de produção de óleo por hectare", afirma Dias.
A evolução do biodiesel brasileiro, segundo Dias, foi intensa nos últimos tempos. "Há cinco anos, não tínhamos quase nada, hoje, está em prática o B5 (mistura de 5% de biodiesel em diesel) e estima-se para 2010 uma produção de dois bilhões de litros. É muita coisa", considera.
Biegai explicou que a palma (dendê) é a mais pesquisada até agora, pois já existiam estudos avançados na Malásia e Indonésia que serviram como fonte de conhecimento para o Brasil. A macaúba, que leva de cinco a sete anos para começar a produzir óleo e depois se torna perene, com manutenção de baixo custo, e o pinhão manso, que pode produzir em dois anos e apesar de ter liberada a comercialização de sementes, de acordo com o analista ainda necessitam de mais estudos sobre pragas, linhagem ideal e período de colheita.
Dias informou que as sementes do pinhão são importadas da Índia por empresas particulares e que o manejo, o solo e o clima diferentes, aqui, no Brasil muitas vezes não proporcionam ao produtor o resultado esperado. "Ainda não temos dados sobre as necessidades de adubos e fertilizantes."
Em 2009, a Vale, deu seu primeiro passo em busca do óleo de palma como matéria-prima para o biodiesel. Uma parceria da usina com a Biopalma da Amazônia espera obter a matriz energética a partir de 2014. O investimento total previsto para obtenção estimada de 500 mil toneladas, por ano, do combustível é de US$ 500 milhões, destes US$ 305 milhões serão injetados pela Vale. O objetivo é abastecer as 216 locomotivas do Sistema Norte. A colheita dos primeiros frutos e a produção de óleo deve começar em 2011.
A Brasil Ecodiesel segue o mesmo rumo com pinhão manso: a empresa pesquisa e desenvolve a cultura no nordeste, norte e em Minas Gerais. Além de possuir três laboratórios de certificação no Ceará, Rio Grande do Sul e em Tocantins. Segundo Biegai, o setor aguarda para fevereiro anúncio sobre o preço referência do litro. O último foi fixado em R$ 2,35.

Biodiesel: 40% da matéria-prima vem da agricultura familiar

Cerca de 40% da matéria-prima utilizada para a produção de biodiesel da Biopar é comprada de agricultores familiares. O volume é 10% maior do que o necessário para as empresas do setor conquistarem o Selo Combustível Social. Atualmente, o programa de inclusão da empresa beneficia 451 famílias de 11 municípios do norte e sudoeste do Paraná, que entregam soja e culturas de inverno para a produção do combustível. Nesta safra atual já foram negociadas 400 mil sacas da oleaginosa desses agricultores familiares, segundo Nivaldo Tomazella, diretor industrial da empresa.
Entre alguns benefícios que o programa da Biopar oferece, está o pagamento de R$ 1 a mais do valor que foi comercializada cada saca de soja. Essas famílias também recebem assistência técnica. Uma empresa especializada, conforme Tomazella, foi contratada para atendê-los. "O Selo Combustível é interessante para os nossos negócios, mas o incentivo social, de inclusão desses produtores, é o mais importante", afirma o diretor da Biopar. A matéria-prima comprada dos agricultores familiares será esmagada pela própria Biopar - por meio de um serviço terceirizado. A empresa conta com 56 funcionários e possui três tanques para armazenar 1,1 milhão de litros de biodiesel cada.
Para José Carlos Farias, diretor presidente do Sistema de Cooperativas da Agricultura Familiar Integrada (Coopafi), a importância de poder participar desse projeto é que isso representa o início de um espaço estratégico de produção e comercialização para os produtores. O Sistema envolve 17 pequenas cooperativas no Paraná e conta com cerca de 3 mil produtores em todo o Estado. Cinco dessas cooperativas, da região sudoeste do Estado, terão unidades de recebimento de soja para encaminhar à Biopar.
Farias ainda acrescenta que o Selo Social é uma forma da própria indústria se relacionar diretamente com o produtor. "Para nós, pequenos produtores, é interessante entender e participar desse processo de âmbito nacional", frisa o agricultor. Além disso, segundo ele, é uma maneira de ter um ganho a mais - com o prêmio de R$ 1 a mais por cada saca de soja - e pelo acesso à assistência técnica. "Com a assistência, a gente discute a propriedade como um todo, isso nos ajuda a definir as culturas que serão plantadas no inverno, por exemplo, e ajuda o agricultor familiar a encontrar um caminho para permanecer no campo".

Biodiesel: subsídio dos EUA não afeta Brasil

A decisão do Congresso norte-americano em manter ou não os subsídios para os produtores de biodiesel nos Estados Unidos não terá um impacto no mercado brasileiro de biodiesel nem nas atividades da Brasil Ecodiesel. A afirmação foi feita hoje pelo diretor de relações com investidores da companhia, Charles Mann Toledo. A atual política de subsídios aos produtores norte-americanos expirou em 31 de dezembro e era esperado que a renovação da lei fosse levada ao Congresso. No entanto, a pauta foi retirada em um primeiro momento. Sem o subsídio, de cerca de US$ 1 por galão (equivalente a 3,79 litros), a produção norte-americana perde competitividade em relação ao diesel mineral, de petróleo. O principal mercado exportador do biodiesel norte-americano é a Europa que, recentemente, questionou a existência dos subsídios dos EUA e embargou suas importações do produto norte-americano.
Para Toledo, os subsídios são muito importantes para a manutenção da indústria de biodiesel dos Estados Unidos e, por isso, eles serão mantidos. "A extensão do crédito deve voltar a ser incluída na pauta do Congresso e ser aprovada em breve. O lobby é forte e, de acordo com o setor, esta indústria cria perto de 30 mil empregos nos Estados Unidos", disse.
Toledo explica que, como o biodiesel norte-americano vai basicamente para exportação para a Europa, qualquer mudança na produção dos EUA não afeta nem o setor brasileiro nem a Brasil Ecodiesel. "Nós não exportamos, e um mercado exportador de biodiesel consolidado brasileiro apenas deverá ser configurado no médio e longo prazo", disse.
O executivo não acredita que as ações da Brasil Ecodiesel estejam subindo por conta do impasse existente no setor em relação aos subsídios. "A empresa está em um processo de reestruturação, conseguiu sair do vermelho e já apresenta lucros firmes, está em fase de revisão de seus ativos. Seria especular dizer que as ações estariam em elevação apenas por conta de um evento", afirmou.

Fonte principal de biodiesel ainda é a soja

Para o pesquisador Dilson Cáceres, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), para que o pinhão-manso se torne uma cultura comercial e seu óleo passe a servir de matéria-prima para a produção de biodiesel um longo caminho precisa ser percorrido. A começar pelo melhoramento genético da espécie. Segundo ele, o cultivo do pinhão-manso apresenta uma série de problemas, como doenças desconhecidas e, portanto, difíceis de serem controladas. O pesquisador também cita a maturação não uniforme dos frutos. Ou seja, numa mesma planta é possível encontrar tanto brotos florescendo, quanto frutos em ponto de colheita e até secos.
Conforme o especialista, para que uma espécie seja usada para a produção de biodiesel em escala industrial é preciso que ela se torne uma cultura. E, para tanto, deve ter capacidade de produzir grandes colheitas para ser viável economicamente. "O pinhão-manso ainda está distante disso, pois sem a maturação uniforme não é possível fazer colheita mecânica, apenas a manual e esta ainda requer repasses, o que aumenta o custo."
Cáceres estende sua previsão também para outras espécies cogitadas como produtoras de óleo para biodiesel, como mamona, macaúba e abacate. Para ele, falta domínio de tecnologias de produção para essas cultivares. "Sabe-se que a mamona pode produzir até 4 mil quilos de óleo por hectare. No entanto, o que se vê no campo é a extração de apenas mil quilos/hectare", diz. "Por essa razão, quase todos os 2 bilhões de litros de biodiesel que o País irá produzir este ano virá de uma cultura que possui tecnologias de produção bem conhecidas: a soja, embora ela seja grande produtora de proteínas e menos de óleo."
Mesmo com todos as barreiras, Cáceres crê que espécies como o pinhão-manso podem, sim, ser usadas como grandes fornecedoras de óleo para biodiesel. "O que me faz acreditar é que há uma grande quantidade de pesquisadores e extensionistas trabalhando para este fim, tanto no melhoramento genético quanto em técnicas agrícolas."

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Impacto ambiental dos biocombustíveis

Questões sobre impacto ambiental dos biocombustíveis podem alterar as políticas europeias.
Um alto funcionário da agricultura europeu sugeriu que os estudos que ainda serão divulgados pela Comissão Europeia poderiam ser usados para “acabar” com os biocombustíveis, que foram fortemente incentivados e subsidiados, por levarem em conta seu impacto ambiental total.
A sugestão, escrita nas margens de uma correspondência interna que foi vista pelo “The International Herald Tribune”, poderia pressagiar um recuo ainda maior das políticas a favor dos biocombustíveis, que já foram considerados cruciais pela Comissão Europeia na luta contra a mudança climática.
O setor já foi perseguido por argumentos de que a principal justificativa para as políticas que apoiam os biocombustíveis – de que eles oferecem menos impacto que os produtos fósseis – é equivocada. Muitos defensores do meio ambiente sustentam que um grande número de combustíveis derivados de plantações não merecem subsídios públicos ou incentivos à produção.Reportagem de James Kanter, The New York Times.
Os governos europeus concordaram em dezembro de 2008 que apenas os biocombustíveis capazes de reduzir as emissões em 35% em relação aos combustíveis fósseis estariam qualificados para alcançar as metas do bloco comercial naquele momento.
Mas, na época, os governos orientaram a comissão para investigar a mudança indireta do uso da terra e, dependendo das descobertas, decidir se era necessário redefinir quais biocombustíveis colaboravam com as metas.
Os estudos da comissão têm como objetivo determinar o volume de emissões gerado quando florestas ou terras são desmatadas para dar lugar à produção de alimentos que havia perdido espaço para os biocombustíveis. Transformar a terra em plantações pode liberar grandes quantidades de gases de efeito estufa quando a vegetação é retirada. Arar a terra também libera no ar o carbono armazenado no solo. No jargão dos especialistas em emissões, estes efeitos são conhecidos como “mudança indireta do uso da terra”, ou “Iluc”, na sigla em inglês.
Num memorando, Jean-Luc Demarty, o mais alto funcionário civil do departamento de agricultura da Comissão Europeia, escreveu para um colega em dezembro que “o uso descontrolado das Iluc acabaria com os biocombustíveis na UE”.
Suas palavras sugerem que a maioria dos modelos usados nos estudos para calcular as emissões condenaria os combustíveis derivados das plantações atualmente existentes na União Europeia. Este, dizia sua anotação escrita à mão, “é provavelmente o objetivo” dos que se opõem aos incentivos para algumas formas de biocombustível.
Demarty recusou-se a comentar o assunto, mas outros funcionários não contestaram a autenticidade da anotação.
Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental concluiu que vários biocombustíveis continuariam cumprindo os limites de emissões mesmo após as mudanças no uso da terra resultantes do aumento da demanda pelos biocombustíveis. Mas no caso do etanol derivado do milho, a agência disse que os fabricantes teriam que usar “tecnologias avançadas e eficientes” durante a produção para cumprir os limites norte-americanos.
Na Europa, funcionários da Comissão estão tentando proteger os interesses influentes da agricultura e da indústria enquanto mantêm uma política climática de credibilidade.
A porta-voz da Comissão Europeia Marlene Holzner recusou-se a comentar o que, segundo ela, são documentos internos de trabalho.
Um grupo de ativistas ambientais e advogados disponibilizou o documento da Comissão Europeia ao “The International Herald Tribune” esta semana. Eles afirmam que os estudos apoiarão o argumento para usar menos biocombustíveis e querem que a comissão o divulgue.
O grupo sem fins lucrativos Transporte e Meio Ambiente, sediado em Bruxelas, pediu que os estudos fossem divulgados pela primeira vez há quatro meses.
Holzner disse que o “amplo alcance” do pedido impede que “seja possível checar todo o material relevante” dentro do prazo normal de divulgação de documentos. De acordo com as regras europeias, a Comissão tem a obrigação de responder aos pedidos de informação, mas não necessariamente de atendê-los. Holzner, entretanto, disse que uma “primeira leva” de estudos deve ser divulgada na próxima semana.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Biocombustível empurra boi para a mata

Segundo autores, troca de petróleo por álcool de cana e biodiesel levaria 250 anos para compensar as emissões provocadas por tal desmate.
Ao aumentar a produção de biocombustíveis para substituir o petróleo, o Brasil pode dar grande contribuição para o mundo reduzir as emissões de gases-estufa, mas essa política pode acabar sendo um tiro pela culatra, indica um novo estudo. Se a tendência atual de mudanças no uso da terra continuar, plantações de cana-de-açúcar e soja tomarão o lugar de pastagens, e estas serão empurradas para áreas de floresta, desmatando e emitindo carbono.
Isso é o que indica uma projeção feita pelo ecólogo paulista David Lapola, da Universidade de Kassel (Alemanha), autor principal de um estudo publicado na edição de hoje da revista "PNAS". Segundo ele e seus coautores, se o Brasil cumprir seu objetivo para 2020 -aumentar em 35 bilhões de litros a produção de álcool e em 4 bilhões de litros a de biodiesel de soja- essas duas culturas empurrariam as pastagens para cerca de 60 mil km² de floresta, desmatando uma área maior do que a Paraíba.
Segundo os cientistas, a troca de petróleo por biocombustível levaria 250 anos para compensar as emissões desse desmate.
As conclusões de Lapola e seus colegas saíram da projeção de uma tendência que já se verifica. "Identificamos quais seriam as mudanças diretas de uso da terra, e a maioria era biocombustível tomando lugar de pasto", explica Lapola. "As mudanças indiretas eram o gado que estava naquele espaço sendo realocado em outras regiões, sobretudo Amazônia e cerrado." Mais de 90% da expansão da soja na Amazônia em 2006, por exemplo, ocorreu sobre áreas de pastagem.
Especialistas afirmam que o estudo do ecólogo é consistente, mas sua conclusão é polêmica. Para o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, especialista em política energética e membro do conselho editorial da Folha, o artigo tenta "assegurar que na distribuição internacional do trabalho (agricultura) o Brasil se mantenha como produtor de alimento barato".
"Se esse alerta pretende criar desconfiança em relação a nossos produtos, acho ruim, principalmente agora que os EUA acabam de reconhecer o etanol brasileiro como um combustível avançado", diz Suzana Kahn Ribeiro, secretária nacional de Mudança Climática.
Lapola explica que seu trabalho não deve ser visto como uma profecia incontornável, mas como um dado a partir do qual planejar ação. Segundo ele, por exemplo, se a produtividade do gado tiver um pequeno aumento de intensidade, de 0,09 cabeças por hectare para 0,13, o problema poderia ser contornado. A recuperação de pastos degradados e abandonados também ajudaria.
Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, essas mudanças já estão acontecendo. "Nos últimos 20 anos a área de pastagem diminuiu, e a produção de carne aumentou."
Lapola, porém, defende que o governo atue para fomentar a produção intensiva. "Muitos subsídios hoje vão para aquisição de animais, manutenção da infraestrutura e várias outras coisas, mas pouco vai para incentivar o aumento da intensidade da criação ou a recuperação das pastagens degradadas."

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cresce programa de reciclagem de óleo

Em menos de seis meses, o serviço de coleta de óleo doméstico passou dois 2 mil litros por mês para seis mil. O trabalho teve início em setembro do ano passado. O aumento de 200% mostra que mais pessoas deixaram de jogar o óleo utilizado no preparo dos alimentos pelo ralo da pia e passaram a dar a destinação correta para esse produto: a reciclagem, evitando a contaminação da água dos rios.
Segundo Igor Arantes, da empresa Disk Oleo, a solicitação em Piracicaba tem aumentado, mas houve também grande procura das cidades da região, como Águas de São Pedro, São Pedro, Anhembi, Rio Claro, Limeira, Americana, Charqueada. "Estamos atuando num raio de 80 quilômetros. Nesses locais temos parceria com as prefeituras que disponibilizam um local para as pessoas deixarem o óleo", contou.
Em Piracicaba, a coleta é feita nas residências. "Para solicitar o serviço a pessoa precisa ter no mínimo dois litros de óleo usado. Geralmente as pessoas colocam em uma garrafa PET. Na coleta a pessoa recebe um cupom para concorrer a prêmios mensais".
O óleo coletado é encaminhado para uma usina de biodiesel. "O combustível feito com esse óleo de cozinha reciclado, o biodiesel, emite 65% menos gás carbônico (CO2) que o diesel comum e não emite enxofre, que é lançado no ar pelo combustível de petróleo", contou.
A estimativa é que um litro de óleo de cozinha, jogado pelo ralo da pia contamine até um milhão de água. Essa quantidade seria suficiente para uma pessoa viver por cerca de 14 anos, segundo Ana Maria de Meira, educadora do USP Recicla, um projeto da Universidade de São Paulo.
SABÃO. Ana Maria ensinou que outra forma de evitar que o óleo de fritura seja jogado no esgoto é transformá-lo em sabão. O potencial poluidor desse sabão é menor do que o óleo ou os detergentes líquidos mais usados. "Há alguns estudos que mostram que a cadeia química do sabão feito com o óleo se quebra mais facilmente do que a do detergente comum, que apesar de ser biodegradável é o responsável pela espuma que podemos observar nos rios poluídos", disse.
O preparo desse sabão é ensinado em oficinas do USP Recicla. Ana Maria alerta que é sempre recomendado o uso de EPIs (Equipamento de Proteção Individual), como luvas de borracha e máscara no rosto. "Não pode preparar o sabão em recipientes metal, como alumínio, porque ocorre uma reação química que pode provocar acidentes. O sabão tem de ser preparado em um balde de plástico e de preferência usar um cabo de vassoura para misturar. Desse modo a pessoa fica mais afastada dos produtos. Ele nunca deve ser feito na presença de crianças", alertou
A culinarista Claudete Cury faz esse sabão constantemente e aprova o resultado na limpeza. "Os guardanapos de cozinha ficam sem manchas e brancos. Esse sabão é muito bom para lavar roupas e também louças", disse.
Segundo ela, o sabão é fácil de fazer, mas durante o preparo, é preciso mexer a mistura sem parar, por cerca de 20 minutos, até dar o ponto de engrossar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Biocombustível cresce sem desalojar alimentos

Biocombustível cresce sem desalojar alimentos, e cana avança sobre pastagem.
A ideia de que há uma guerra por espaço acontecendo no interior do Brasil entre o plantio de comida e a produção de biocombustíveis é errada, dizem especialistas. A expansão do cultivo de cana-de-açúcar para para produzir etanol não afetou, até hoje, áreas de cultivo de alimentos, segundo os estudos.
"Até aconteceram mudanças localizadas de cultura, mas no todo não foi significativo. Existem 200 milhões de hectares de pasto no Brasil. Não são os cinco milhões que a cana ocupa que vão fazer falta", diz Roberto Schaeffer, especialista em energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de um trabalho sobre o assunto na última edição da revista científica "Renewable Energy".
O Brasil tem 60 milhões de hectares dedicados à agricultura.
Segundo cientistas como Schaeffer ou José Goldemberg, físico da Universidade de São Paulo e um dos pais do Proálcool (que também publicou um estudo recentemente sobre o tema na revista "Energy Policy") é justamente para cima dos pastos --e não dos cultivos de alimentos-- que a cana avança, com algumas exceções nos anos 1970 e em alguns poucos locais atualmente.
Os dados mostram que os plantios de café, laranja ou feijão não se alteraram com o crescimento das plantações de cana mesmo em São Paulo, grande produtor nacional de etanol.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Primeira termelétrica a bicombustível

Petrobras testa conversão da primeira termelétrica bicombustível capaz de gerar energia a partir do etanol
Uso de etanol para gerar energia elétrica reduz emissões poluentes na atmosfera.
A Usina Termelétrica Juiz de Fora (UTE JF) será a primeira do mundo a gerar energia elétrica a partir do etanol, a primeira a usar combustível renovável para geração de energia e a primeira unidade flex-fuel (bicombustível). Uma solenidade em Juiz de Fora (MG), promovida pela Petrobras, marca a mudança.
A unidade está operando, em fase de testes, com o etanol desde o último dia 31 de dezembro de 2009 e terá capacidade instalada de 87 megawatss (MW). A solenidade contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
O projeto da UTE foi desenvolvido em parceria com a multinacional General Electric (GE). “Vamos rodar três meses com etanol, medindo as emissões. Estamos com uma expectativa bastante grande em relação ao desempenho e às emissões dentro dos níveis-padrão. Do ponto de vista ambiental, é algo extremamente relevante”, disse a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster.
Segundo ela, se os resultados forem positivos, surgirão oportunidades de negócios para uso em outros países, como o Japão, que têm turbinas semelhantes. “O Brasil será o primeiro país do mundo a produzir energia a partir de etanol”, observou a diretora, explicando que a turbina a ser utilizada terá capacidade para gerar 45 megawatts e foi adaptada pela GE para operar tanto com gás quanto com etanol.
“Temos as melhores expectativas para mostrar a viabilidade técnica e econômica da produção de eletricidade com uma fonte menos poluente”, afirmou Maria das Graças. Na sua avaliação, mesmo sendo um combustível mais caro que o gás para uso de geração de energia, “o álcool é uma alternativa aos combustíveis fósseis, estará à disposição em caso de necessidade e poderá ser beneficiado pelos projetos de incentivo à redução das emissões de poluentes”.
Outro fator destacado pela diretora é o fato de que há atualmente, em todo o mundo, uma grande expectativa sobre a redução de emissões de gás carbônico e, por isso, “o projeto deverá facilitar a entrada dessas usinas em países desenvolvidos”.
Uso de etanol para gerar energia elétrica reduz emissões poluentes na atmosfera
O uso do etanol na geração de energia elétrica, cujo processo de conversão será inaugurado nesta terça-feira pela Petrobras na usina termelétrica de Juiz de Fora vai reduzir as emissões de gases na atmosfera. Essa foi uma das principais conclusões constatada durante o período de teste da unidade, que vem sendo realizado desde a manhã do último dia 31 de dezembro.
Segundo a Petrobras, a queima do etanol para geração de energia elétrica teve início às 10h25 do dia 31 de dezembro e os testes avaliam o desempenho da turbina consumindo etanol, a vida útil dos equipamentos e os níveis de emissões atmosféricas, como o óxido de nitrogênio, bem como a competitividade econômica desse novo combustível frente às demais fontes de geração termelétrica.
Na avaliação da estatal, nos primeiros dias de testes, o resultado tem se mostrado bastante satisfatório. Em 150 horas de geração de energia elétrica com etanol, entre os dias 31 de dezembro e 13 de janeiro, verificou-se redução de 30% na emissão de óxido de nitrogênio, comparando com as emissões do gás natural.
O Centro de Tecnologias do Gás Natural e Energias Renováveis (CTGAS-ER), parceria entre Petrobras e SENAI, montou uma estação de monitoramento na UTE Juiz de Fora para realizar a medição em tempo real das emissões de óxidos de nitrogênios, de óxidos de carbono e de óxidos de enxofre.
Ainda na avaliação da Petrobras, a geração de energia elétrica a partir do etanol abre, além de grandes oportunidades para o país com ganhos econômicos e energéticos, também ambientais.
“Além da segurança energética resultante da diversificação das fontes de geração, há ainda a criação de um novo segmento de mercado para o etanol no Brasil e no exterior, a redução dos níveis de emissões atmosféricas e a possibilidade de negociação de créditos de carbono no mercado internacional, por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), garante a estatal.
“Essa é mais uma iniciativa da Petrobras para diversificar as fontes de suprimento para geração de energia elétrica e estimular a produção de combustíveis renováveis, dando maior flexibilidade ao sistema elétrico brasileiro”, sustenta ainda a empresa.

Etanol brasileiro é aprovado por agência dos EUA

Órgão ambiental reconhece que combustível de cana reduz emissão de dióxido de carbono em 61%.
O etanol brasileiro conquistou ontem a maior vitória dos últimos tempos: a chancela para entrar nos Estados Unidos e, posteriormente, no mercado global. A Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol feito de cana-de-açúcar como um combustível avançado, que reduz a emissão de dióxido de carbono (CO2) em 61% comparado à gasolina.
A decisão abre um mercado para o biocombustível brasileiro nos EUA entre 15 bilhões e 40 bilhões de litros nos próximos 12 anos.
"O impacto de médio e longo prazo dessa decisão é mais importante até que uma eventual redução da tarifa de importação de etanol dos Estados Unidos", avaliou o representante-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em Washington, Joel Velasco. As usinas nacionais trabalham há dois anos para convencer o órgão americano do benefício do etanol para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
A nova legislação americana estabelece um consumo mínimo de biocombustíveis superior a 45 bilhões de litros este ano. A previsão é elevar esse volume para até 136 bilhões de litros em 2022. Uma fatia de 80 bilhões de litros será reservada para os biocombustíveis avançados, que são celulósico, diesel de biomassa e outros. O etanol brasileiro tem agora uma fatia garantida de 15 bilhões de litros ? um volume três vezes maior que todo o etanol exportado pelo Brasil em 2008.
Para ser considerado um biocombustível avançado, é preciso reduzir a emissão de CO2 em pelo menos 40% em relação à gasolina. Além de ocupar o espaço reservado para os "outros avançados", os usineiros brasileiros querem convencer os Estados Unidos de que o etanol de cana-de-açúcar pode ser usado também no lugar do celulósico, que ainda não tem produção comercial e deve chegar ao mercado com um custo bastante elevado.
A classificação de "avançado" é uma grande vitória para o combustível brasileiro. Antes dessa decisão, a agência americana já havia soltado uma minuta em que sinalizava que o etanol de cana reduzia em apenas 26% as emissões de CO2. O cálculo considerava outros fatores, como o uso da terra, ou seja, o aumento da área plantada de cana deslocaria outras culturas rumo a Amazônia.
O porcentual de 61% estabelecido pela EPA veio próximo do pleito da Unica, que dizia que o etanol reduz em 72% as emissões de CO2. O etanol de milho, por sua vez, diminui em 20% comparado à gasolina. Os produtores de milho fazem forte lobby no Congresso dos EUA por seu combustível.
Para combater esse protecionismo, a Unica montou uma estrutura, em Washington e no Brasil, com cientistas, professores e especialistas de lobby. "Boa parte da decisão dos EUA foi resultado do estudo técnico que enviamos à EPA", disse o diretor executivo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), André Nassar.
O próximo passo da Unica é derrubar a tarifa de importação do etanol nos EUA, que está em US$ 0,54 por galão, e expira no fim do ano. Para Velasco, a chancela da EPA é um grande trunfo. “A política americana é reduzir as emissões. Para usar o melhor biocombustível, o consumidor americano hoje paga mais por causa da tarifa.”
A decisão da EPA também deve impulsionar novos investimentos no setor de etanol no Brasil.