sábado, 20 de fevereiro de 2010

Biodiesel sai à caça de novas matérias-primas para crescer

O avanço do biodiesel no Brasil deve impulsionar o apoio a pesquisas de novas matérias-primas para a ampliação do abastecimento no País. Segundo José Manuel Cabral de Sousa Dias, chefe adjunto de Comunicação e Negócios de Agroenergia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o assunto é prioridade no governo federal. O potencial de produção de óleo das plantas em estudo - macaúba, inajá, pinhão manso e tucumã - pode ultrapassar em até 793% o produto oriundo da soja, que atualmente responde por 85% da produção de biodiesel do País, de acordo com Dias. Em seguida aparecem sebo bovino, algodão e mamona.
Levantamento do Mapa aponta que a soja rende, em média, 560 quilos de óleo por hectare e o pinhão manso 1,9 mil. Já o dendê e a macaúba, nos números da Embrapa, podem atingir 5 mil. "O Brasil é um dos poucos países que tem matéria-prima em diferentes regiões. O que oferece segurança biológica maior", disse Dias.
Para Miguel Biegai, analista de bioenergia da Safras & Mercado, a soja como fonte de biodiesel, além da baixa produtividade, da competitividade com o setor de alimentos e da necessidade de plantio anual, não é interessante para as usinas por se tratar de uma commodity.
Ainda de acordo com Dias, editais de apoio a pequenos projetos já foram aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) executa, este ano, uma linha de pesquisa das culturas das oleaginosas tucumã e inajá. Uma parceria da Embrapa com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) desenvolve estudos para melhorar a prospecção de informações acerca da palmeira macaúba. Outro trabalho é desenvolvido pela Embrapa em conjunto com a Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM) na implantação de seis unidades de observação da cultura nos estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará en de Minas Gerais. A semeadura sincronizada para a produção de mudas foi realizada no último dia 27.
"A tendência tanto do governo quanto da iniciativa privada é incentivar cada vez mais estudos de culturas que possuem maior potencial de produção de óleo por hectare", afirma Dias.
A evolução do biodiesel brasileiro, segundo Dias, foi intensa nos últimos tempos. "Há cinco anos, não tínhamos quase nada, hoje, está em prática o B5 (mistura de 5% de biodiesel em diesel) e estima-se para 2010 uma produção de dois bilhões de litros. É muita coisa", considera.
Biegai explicou que a palma (dendê) é a mais pesquisada até agora, pois já existiam estudos avançados na Malásia e Indonésia que serviram como fonte de conhecimento para o Brasil. A macaúba, que leva de cinco a sete anos para começar a produzir óleo e depois se torna perene, com manutenção de baixo custo, e o pinhão manso, que pode produzir em dois anos e apesar de ter liberada a comercialização de sementes, de acordo com o analista ainda necessitam de mais estudos sobre pragas, linhagem ideal e período de colheita.
Dias informou que as sementes do pinhão são importadas da Índia por empresas particulares e que o manejo, o solo e o clima diferentes, aqui, no Brasil muitas vezes não proporcionam ao produtor o resultado esperado. "Ainda não temos dados sobre as necessidades de adubos e fertilizantes."
Em 2009, a Vale, deu seu primeiro passo em busca do óleo de palma como matéria-prima para o biodiesel. Uma parceria da usina com a Biopalma da Amazônia espera obter a matriz energética a partir de 2014. O investimento total previsto para obtenção estimada de 500 mil toneladas, por ano, do combustível é de US$ 500 milhões, destes US$ 305 milhões serão injetados pela Vale. O objetivo é abastecer as 216 locomotivas do Sistema Norte. A colheita dos primeiros frutos e a produção de óleo deve começar em 2011.
A Brasil Ecodiesel segue o mesmo rumo com pinhão manso: a empresa pesquisa e desenvolve a cultura no nordeste, norte e em Minas Gerais. Além de possuir três laboratórios de certificação no Ceará, Rio Grande do Sul e em Tocantins. Segundo Biegai, o setor aguarda para fevereiro anúncio sobre o preço referência do litro. O último foi fixado em R$ 2,35.

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