quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Etanol brasileiro é aprovado por agência dos EUA

Órgão ambiental reconhece que combustível de cana reduz emissão de dióxido de carbono em 61%.
O etanol brasileiro conquistou ontem a maior vitória dos últimos tempos: a chancela para entrar nos Estados Unidos e, posteriormente, no mercado global. A Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol feito de cana-de-açúcar como um combustível avançado, que reduz a emissão de dióxido de carbono (CO2) em 61% comparado à gasolina.
A decisão abre um mercado para o biocombustível brasileiro nos EUA entre 15 bilhões e 40 bilhões de litros nos próximos 12 anos.
"O impacto de médio e longo prazo dessa decisão é mais importante até que uma eventual redução da tarifa de importação de etanol dos Estados Unidos", avaliou o representante-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em Washington, Joel Velasco. As usinas nacionais trabalham há dois anos para convencer o órgão americano do benefício do etanol para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
A nova legislação americana estabelece um consumo mínimo de biocombustíveis superior a 45 bilhões de litros este ano. A previsão é elevar esse volume para até 136 bilhões de litros em 2022. Uma fatia de 80 bilhões de litros será reservada para os biocombustíveis avançados, que são celulósico, diesel de biomassa e outros. O etanol brasileiro tem agora uma fatia garantida de 15 bilhões de litros ? um volume três vezes maior que todo o etanol exportado pelo Brasil em 2008.
Para ser considerado um biocombustível avançado, é preciso reduzir a emissão de CO2 em pelo menos 40% em relação à gasolina. Além de ocupar o espaço reservado para os "outros avançados", os usineiros brasileiros querem convencer os Estados Unidos de que o etanol de cana-de-açúcar pode ser usado também no lugar do celulósico, que ainda não tem produção comercial e deve chegar ao mercado com um custo bastante elevado.
A classificação de "avançado" é uma grande vitória para o combustível brasileiro. Antes dessa decisão, a agência americana já havia soltado uma minuta em que sinalizava que o etanol de cana reduzia em apenas 26% as emissões de CO2. O cálculo considerava outros fatores, como o uso da terra, ou seja, o aumento da área plantada de cana deslocaria outras culturas rumo a Amazônia.
O porcentual de 61% estabelecido pela EPA veio próximo do pleito da Unica, que dizia que o etanol reduz em 72% as emissões de CO2. O etanol de milho, por sua vez, diminui em 20% comparado à gasolina. Os produtores de milho fazem forte lobby no Congresso dos EUA por seu combustível.
Para combater esse protecionismo, a Unica montou uma estrutura, em Washington e no Brasil, com cientistas, professores e especialistas de lobby. "Boa parte da decisão dos EUA foi resultado do estudo técnico que enviamos à EPA", disse o diretor executivo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), André Nassar.
O próximo passo da Unica é derrubar a tarifa de importação do etanol nos EUA, que está em US$ 0,54 por galão, e expira no fim do ano. Para Velasco, a chancela da EPA é um grande trunfo. “A política americana é reduzir as emissões. Para usar o melhor biocombustível, o consumidor americano hoje paga mais por causa da tarifa.”
A decisão da EPA também deve impulsionar novos investimentos no setor de etanol no Brasil.

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