quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lição para os americanos fazerem contas

Método brasileiro mostrou que cálculo dos EUA estava errado.
Para defender o etanol brasileiro, a equipe técnica da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) tinha dois grandes desafios. O primeiro era medir as emissões de gases de efeito estufa do combustível desde o plantio da cana até o escapamento do carro.
O segundo era calcular o uso indireto da terra - o quanto o avanço da cultura da cana no Centro-Sul contribui para empurrar a pecuária e a soja rumo à Amazônia. Os dados elaborados pelos pesquisadores brasileiros foram enviados à Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos.
Para a primeira tarefa, contaram com Isaías de Carvalho Macedo, um dos pais do etanol. Ele participou da fundação do Centro de Tecnologia da Coopersucar (CTC). Na conferência ECO 92, o setor pediu que o CTC mostrasse as vantagens do etanol e o pesquisador teve a ideia de provar que o etanol emitia menos CO2 que a gasolina.
"Naquela época, ninguém ligava para isso", contou Macedo. Ele fez os cálculos e produziu um documento de três páginas que mostrava que o álcool reduzia as emissões em 80% em relação à gasolina.
Uma das contribuições de Macedo foi apontar ao EPA, por exemplo, que, no Brasil, o calcário utilizado nas usinas de cana é orgânico. Nos Estados Unidos, o calcário é sintético, produzido por meio de um processo petroquímico. Parece um detalhe, mas faz toda diferença em termos de poluição
Outro ponto foi explicar que o bagaço da cana moída nas usinas é utilizado para produzir energia de biomassa, que substitui a energia "suja" das termelétricas a gás. "Ao utilizar o etanol, você está limpando o sistema elétrico", defende Macedo.
Para calcular o efeito indireto do uso da terra, a Unica pediu ajuda ao Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). O trabalho consistia em criar um modelo matemático para fazer a conta.
O Icone fez uma parceria com o Instituto de Política Agrícola e Alimentos (Fapri), da Universidade de Iowa. O Fapri havia sido contratado pela EPA para fazer o cálculo. Segundo André Nassar, diretor do Icone, os americanos utilizavam o mesmo modelo para qualquer país.
No primeiro cálculo do Fapri, o etanol de cana reduzia a emissão de CO2 em 44%. Nassar conta que havia erros de quem não conhece a agricultura brasileira. O Fapri não considerou os 204 milhões de hectares de pastagem ou que são produzidas duas safras de milho por ano.
O Icone encerrou a parceria com o Fapri em 2008 e não sabe se suas sugestões foram aceitas. Nassar, no entanto, rodou o modelo de consenso dos dois institutos com suas hipóteses e chegou a 60% de redução das emissões - menos que os 61% anunciados pelo EPA.
NÚMEROS
44% de redução
de emissões de CO2 na atmosfera para o etanol de cana foi o índice anunciado no primeiro cálculo feito pelo Instituto de Política Agrícola e Alimentos (Fabri) da Universidade de Iowa
61% de redução
de emissões foi o índice anunciado este ano pela Agência de Proteção Ambiental dos EUAP

Nenhum comentário: