China, emergindo como maior importadora de petróleo do
planeta, e gás natural, reduzindo a dependência dos EUA, são os protagonistas.
Desde o dia em que a Petrobrás anunciou que o campo de Tupi
(hoje, Lula) tinha reservas recuperáveis de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de
óleo em novembro de 2007, uma nova geopolítica do petróleo foi desenhada.
Nesse meio tempo, o gás natural ganhou status de fonte
energética do futuro e ajudou os Estados Unidos a reduzirem sua dependência dos
países do Oriente Médio. Ao mesmo tempo, o mundo viu a China emergir como a
maior importadora de petróleo do planeta, ultrapassando os EUA. Isso explica a
recente aproximação dos governos do Brasil e da China no setor de energia.
O advento de novas técnicas de exploração tornou viável o
aproveitamento das reservas de petróleo e gás não convencional nos EUA. Desde
2007, a importação americana de petróleo caiu 22,37%, para 10,58 milhões de
barris diários em 2012, segundo a petrolífera BP. Isto também ajudou a brecar o
declínio na produção americana de óleo, que estava em queda desde 1984. De 2007
a 2012, a produção dos EUA cresceu 29,7%, para 8,90 milhões de barris por dia.
A exploração dos recursos não convencionais também derrubou
o preço do gás negociado nos EUA e o descolou da trajetória de preços do
petróleo. O Henry Hub, preço do mercado à vista americano, passou de US$ 8,86
por milhão de BTU (BTU, British Termal Unit, corresponde a 252,2 calorias e é
medida usada internacionalmente) para US$ 2,7 por milhão de BTU entre 2008 e
2012, uma queda de 69,5%. Isto tem permitido uma recuperação da atividade
industrial americana, atraindo fábricas para o país.
"Se a tecnologia dos EUA para a exploração dos recursos
não convencionais for viável em escala global, isso cria uma pressão sobre o
preço do petróleo em médio e longo prazos", disse o coordenador do Grupo
de Economia de Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE/UFRJ),
Edmar de Almeida. Os EUA já projetam passar de importadores a exportadores de
gás em 2020.
Segundo o especialista em exploração da ZAG Consultoria,
Pedro Zalán, importantes descobertas de gás foram feitas em Moçambique,
Tanzânia e no Mediterrâneo, próximo a Israel. Isto reforçou o papel do gás como
potencial substituto do petróleo. "O gás, entre 30 e 40 anos, será um
grande competidor do petróleo, porque é um recurso muito mais abundante e
limpo", disse.
Para Almeida, a menor dependência externa reduzirá a
liderança energética dos EUA, que atua como uma espécie de "polícia"
do mercado para evitar oscilações drásticas no preço do petróleo. Este
movimento marca, ao mesmo tempo, a ascensão da China como ator relevante na
nova geopolítica energética. O governo americano prevê que a China se torne
este mês a maior importadora de petróleo do mundo, fato que aumenta o poder de
influência das estatais chinesas e justifica o interesse em projetos como
Libra.
Novamente, os recursos não convencionais podem ter impacto
decisivo no futuro da China. O EIA estima que o território chinês seja o palco
da maior reserva global de óleo e gás não convencional, o que poderia reduzir a
dependência externa chinesa. Contudo, especialistas têm dúvidas se a experiência
americana poderá ser repetida em outros países e se essa exploração é
economicamente viável no longo prazo.
Reservas
Outra mudança significativa na geopolítica do petróleo foi a
ascensão da Venezuela ao topo no ranking das reservas mundiais, superando a Arábia
Saudita. Em 2007, o país era apenas o sexto colocado, com reservas de 99,4
bilhões de barris. Em 2012, a Venezuela já contabilizava 297,6 bilhões de
barris de óleo, superando também o Canadá, que caiu de segundo para terceiro
lugar.
Em contrapartida, Zalán diz que o Canadá vem se consolidando
como o grande fornecedor de petróleo dos EUA, tomando um papel que pertencia à
Venezuela até a ascensão do Chavismo. (OESP)
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