É comum a expressão
"lixo atômico" ser usada para se referir aos resíduos radioativos
produzidos pelas usinas nucleares, hospitais e indústrias. Na verdade, resíduo
radioativo é qualquer material
resultante de atividades humanas que emitem radiação em quantidades superiores
aos limites estabelecidos por normas do governo de cada país e para o qual a
reutilização é imprópria ou não prevista.
Os resíduos
radioativos são organizados em três classes, segundo o nível de radioatividade
que apresentam: de baixa, média e alta atividades. São classificados também em
função da meia-vida dos elementos radioativos presentes nos mesmos, como
rejeitos de longa e de baixa duração.
Os resíduos de baixa
atividade (“Low Level Waste – LLW”) compreendem, principalmente, materiais
ligeiramente contaminados como papéis, plásticos, vestimentas e ferramentas.
Também são classificados dessa forma a maior parte dos gases e dos líquidos
ativados ou contaminados produzidos durante a operação de uma Usina Nuclear. Já
os resíduos de média atividade (“Intermediate Level Waste – ILW”) compreendem
filtros, resinas e outros materiais que sofreram contaminação.
Atualmente, existem
tecnologias seguras para o gerenciamento de resíduos de média e baixa
atividades, desde sua coleta até o armazenamento nos depósitos iniciais. No
caso do Brasil, os resíduos sólidos de baixa e média atividades são
acondicionados em embalagens metálicas, testadas e qualificadas pela Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e transferidos para os depósitos iniciais,
construídos na própria Central Nuclear de Angra dos Reis (foto à esquerda).
Esses depósitos são permanentemente controlados e fiscalizados por técnicos de
proteção radiológica e especialistas em segurança da Eletronuclear.
Os resíduos de alta
atividade (“High Level Waste – HLW”) têm atividade de vida longa e, como geram
quantidades consideráveis de calor (calor de decaimento), necessitam de
resfriamento por no mínimo 10 anos. Durante esse período, esses resíduos são
mantidos em instalações de armazenamento inicial (piscinas de resfriamento de
combustível usado como a de Angra 1 na foto à direita) junto às centrais
nucleares que os produziram, obedecendo normas internacionais de segurança. O
Brasil é signatário da Convenção Internacional para Gerenciamento Seguro de
Rejeitos Radioativos e Combustível Usado, sendo periodicamente auditado pela
Agência Internacional de Energia Atômica com base em relatório que bianualmente
é encaminhado a essa organização.
Além dos resíduos
produzidos pelas usinas nucleares, há aqueles produzidos pela área da saúde e a
industrial. A CNEN mantém, armazenadas em seus institutos no Rio de Janeiro, em
São Paulo, em Belo Horizonte, em Goiânia e em Recife, fontes radioativas em
desuso, recebidas de clínicas médicas, hospitais, indústrias e centros de
pesquisa. O transporte, o tratamento e o armazenamento desses materiais também
são realizados seguindo padrões internacionais de segurança recomendados pela
Agência Internacional de Energia Atômica.
Como a quantidade de
resíduos radioativos produzidos no Brasil é pouca quando comparada à de países
que têm uma participação maior da energia nuclear em suas matrizes energéticas
(França, Japão e os Estados Unidos, por exemplo), os resíduos que estão
estocados nos Depósitos Iniciais da Central Nuclear em Angra e nos da CNEN
deverão permanecer onde estão até que seja construído um depósito de longo
prazo ou definitivo, cuja responsabilidade de implantação é da CNEN.
Segundo a própria
Eletronuclear, o esgotamento da capacidade de armazenamento do Centro de
Gerenciamento de Rejeitos da Central Nuclear dar-se-á em 2020, quando, segundo
planejamento da CNEN e da Eletronuclear, o depósito definitivo de resíduos
radioativos já estará implantado. Para os elementos combustíveis usados, a
capacidade das piscinas existentes é até 2021. Entretanto, está em andamento a
construção de um depósito inicial de combustível irradiado na Central Nuclear
para armazenar os combustíveis irradiados que hoje estão nas piscinas anexas
aos reatores.
O Comitê de
Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB), criado em julho de 2008
por decreto do Presidente da República, estabeleceu como meta que o Depósito
Final de Rejeitos Radioativos de Baixa e Média Atividades (Repositório
Nacional) entre em operação em 2018 e que o Depósito Intermediário de Longa
Duração para combustível usado, em 2026.
As bases conceituais
para a implantação do Repositório Nacional de Rejeitos Radioativos de Média e
Baixa Atividades já estão elaboradas e estudos sobre as condições geológicas
favoráveis à localização desse repositório estão sendo realizados pela CNEN. O início
das obras está previsto para 2014. Cabe destacar que o destino final dos
resíduos de baixa e média atividades há muito tempo não constitui um desafio
tecnológico apreciável, estando tecnicamente resolvido nos diversos países que
possuem parques de geração nucleoelétrica bem maiores que o brasileiro e
utilizam a energia nuclear na medicina, na agricultura e na indústria.
É importante
esclarecer que os combustíveis usados ainda guardam cerca de 40% de sua
capacidade de gerar energia. Por essa razão, alguns países, como França, Japão,
Rússia, Índia e China têm como política a reciclagem dos combustíveis
irradiados através de reprocessamento e utilização de combustível de óxido misto
Urânio-Plutônio (MOX) em reatores do tipo LWR - que usam água leve como
refrigerante.
O reprocessamento
dos elementos combustíveis visa à separação do material físsil e fértil,
principalmente Plutônio e Urânio, dos produtos de fissão, para eventual uso
posterior como combustível. O objetivo principal do reprocessamento é reduzir o
volume de rejeitos. Sua política é, também, uma ação ecológica que visa a
preservar os recursos naturais (jazidas de urânio).
Essencialmente, 95%
do combustível usado nada mais é do que urânio, material físsil e, portanto,
combustível passível de reciclagem. Dos restantes 5%, cerca de 3% são elementos
radioativos que decaem rapidamente e, após um ou dois anos, representam ameaça
insignificante. De fato, apenas 2% do material que sai do reator, após
transformar massa em energia por cerca de três anos, constituem resíduos
radioativo de alta atividade e longo prazo de decaimento. Por conseguinte,
soluções definitivas (repositórios eternos) ainda não existem porque até então
não são imediatamente necessárias.
No caso brasileiro,
a reciclagem de elementos combustíveis usados ainda não é viável nem técnica
nem economicamente. Por isso, o Depósito Intermediário de Longa Duração para
elementos combustíveis usados será projetado, construído e operado de forma a
garantir tecnicamente o armazenamento seguro, isto é, isolado do público e do
meio ambiente, do combustível usado pelas usinas nucleares nacionais existentes
e a serem implantadas, por período não inferior a 500 anos (!). A seleção do
local está prevista para 2016 e o início da construção para 2021.
Essa concepção, que
permite a armazenagem com opção de recuperação posterior do combustível,
permite esperar responsavelmente a melhor solução técnica e econômica para o
destino final dos resíduos de alta atividade, ou a decisão de reciclagem do
combustível usado para a geração de energia elétrica, solução que já é
praticada por diversos países. Os brasileiros terão assim a tranquilidade de,
nos próximos séculos, não sofrerem qualquer efeito negativo decorrente desses
resíduos, guardando para as futuras gerações a possibilidade de utilizar esse
material como uma fonte de energia adicional. (conhecerparadebater)
Nenhum comentário:
Postar um comentário