Consumo de aparelhos condicionadores de ar e a crise
energética brasileira
Em um país como o Brasil, com cerca de 71% da energia
produzida a partir de matriz hidrelétrica, a necessidade de reduzir a
dependência em relação ao uso da água pela diversificação da matriz energética
e a busca por uso racional de energia ficam cada vez mais evidentes. A atual
escassez de chuvas, o baixo nível de reservatórios de água no país e o aumento
da renda média da população agravam, de forma explícita, o cenário de demanda
crescente e abalo da segurança da oferta de energia.
O Brasil é o 9º maior consumidor de energia elétrica do
mundo e o estudo da projeção do consumo para os próximos anos aponta
continuidade da tendência de crescimento, com uma elevação em cerca de 55%
(EPE, 2011). Grande parte dessa energia, assim como na maioria dos países do
mundo, é destinada ao condicionamento artificial do ar. O Brasil figura,
também, como o 5º maior comprador mundial de condicionadores de ar,
considerando os aparelhos de janela e splits. Tal demanda tem se elevado
rapidamente nos países desenvolvidos e ainda mais nas economias emergentes de
clima quente. No ano de 2005, o condicionamento ambiental já representava 20%
do consumo de energia elétrica no setor residencial brasileiro e 47% no setor
comercial (ELETROBRAS, 2009).
Desde 2001, o Brasil possui mecanismos legais para
direcionar a política nacional de conservação e uso racional de energia. Porém,
apenas em 2007 foi aprovada uma regulamentação específica de condicionadores de
ar, estabelecendo níveis mínimos de coeficiente de eficiência energética. Tal
coeficiente é a razão entre a capacidade total de refrigeração (expressa em
Watts) e a potência elétrica demandada (expressa em Watts). Em 2011, nova
regulamentação foi publicada alterando as exigências com o objetivo de elevar
os índices mínimos.
A elevação do desempenho dos equipamentos é uma necessidade
evidente, tendo em vista o atual panorama energético nacional. Porém, o nível
mínimo estabelecido na regulamentação brasileira ainda se mostra tímido se
comparado ao praticado em outros países. Os atuais níveis mínimos exigidos pela
legislação nacional são compatíveis apenas com o apresentado atualmente na
Índia e com o que havia na China em 2004. A China, porém, em 2010 já elevou tal
valor, e vários outros países analisados já apresentam dados superiores aos
brasileiros.
Uma análise a respeito de condicionadores tipo split
demonstra que economias como União Europeia, China e Japão comercializam
produtos com eficiência muito superior aos melhores equipamentos brasileiros. O
aparelho mais eficiente no Brasil apresenta coeficiente de eficiência
energética de 4,79 W/W. Já na China, país de onde são importados grande parte
dos condicionadores de ar consumidos no Brasil, há equipamentos com valores
superiores a 6,0 W/W, e no Japão tal coeficiente ultrapassa 6,5 W/W.
No Brasil, apesar da tendência de redução do uso de
condicionadores do tipo janela, é importante manter o diálogo com a indústria,
de forma a elevar os níveis mínimos de eficiência. Quanto aos splits, é
imprescindível e urgente a determinação de níveis mínimos de eficiência mais
elevados, impulsionando o mercado a privilegiar os melhores equipamentos. É
também importante a adoção do coeficiente de eficiência energética sazonal como
parâmetro na regulamentação brasileira para favorecer os equipamentos com
tecnologia inverter, notadamente mais eficientes que os convencionais.
(ambienteenergia)
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