Com os novos incentivos a
projetos solares, país subiu duas posições no ranking mundial da consultoria EY
de atratividade para investimentos em energias limpas.
O Brasil entrou, pela primeira vez, na lista dos dez primeiros
colocados em um ranking mundial de atratividade para investimentos em energias
renováveis formulado trimestralmente pela firma de consultoria EY (antiga Ernst
& Young), que mede o ambiente de negócios em 40 países no segmento de
fontes limpas de energia. O Brasil subiu do 12º para o 10º lugar no
"Renewable Energy Country Attractiveness Index" (Recai), após a
decisão do governo federal de incentivar, a partir deste ano, a construção de
usinas solares no país.
A indústria eólica já se consolidou no mercado brasileiro, que
incentivou a instalação de aerogeradores a partir de 2003, logo após a crise e
o racionamento de energia elétrica em 2001. A indústria solar, porém,
ainda é marginal no Brasil. Os elevados custos dos painéis e a falta de
fabricantes locais de equipamentos, que hoje são produzidos em larga escala na
China, sempre emperraram os investimentos.
Mas esse cenário começa a mudar. A Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), braço de planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), começará a
oferecer neste ano contratos específicos de energia solar nos leilões de novos
empreendimentos de geração. Em seu relatório, a EY afirma que, em termos
de atratividade para investidores em energias renováveis, o Brasil é o lugar
mais "quente" do mundo neste momento. Depois vêm o Quênia e a
África do Sul.
"A instalação de parques solares é rápida e poderia ajudar o
Brasil neste momento de seca" afirma Mário Lima, diretor executivo de
consultoria em sustentabilidade da EY, citando a crise provocada pela queda nos
reservatórios das hidrelétricas. A eólica é uma fonte mais econômica, com
custos mais baixos, mas a solar exige menos tempo de instalação, compara o
executivo.
No ranking da EY, por exemplo, o Brasil já figura em 7º lugar em
atratividade para investimentos em parques eólicos construídos em terra - o
país cai para a 26ª posição na exploração de parques eólicos marítimos, que são
mais comuns nos Estados Unidos, China e Alemanha.
O Brasil ocupa a 10ª colocação em investimentos em usinas termossolares
e a 15ª posição em usinas solares fotovoltaicas.
Segundo Lima, o mercado brasileiro poderia se beneficiar dos pesados
investimentos feitos pela China no segmento de energia solar, o que vai manter
a tendência de queda nos custos dos equipamentos. Hoje, todas as usinas
solares do planeta possuem uma capacidade instalada de 50 GW. "Em
2018, a China pretende atingir sozinha 75 GW de potência instalada em energia
solar", diz Lima.
A China é altamente dependente de térmicas a carvão e está investindo
em fontes alternativas de energia para reduzir suas emissões de CO2,
afirma o executivo da EY. Os índices de poluição são alarmantes em
algumas cidades chinesas.
O Brasil, porém, precisa solucionar alguns gargalos para que a
indústria solar se desenvolva. Um deles, diz Lima, é a exigência de um
elevado conteúdo local para a concessão de financiamentos por parte do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que oferece crédito
para os fabricantes de equipamentos por meio da linha Finane.
Normalmente, 70% dos recursos investidos pelos empreendedores nos
projetos de geração de energia são alavancados. Mas, para conceder
empréstimos, o BNDES obriga que 60% dos equipamentos sejam fabricados
localmente.
Segundo Lima, há expectativas no setor de que a exigência de conteúdo
local seja reduzida numa primeira fase, para atrair fabricantes de equipamentos
de energia solar para o mercado brasileiro. O percentual, segundo ele,
poderia ser reduzido para 20%. Essas medidas estão sendo discutidas com o
governo brasileiro, mas não há ainda uma "clareza" de como essa
política será implementada, afirma Lima. Segundo ele, uma das hipóteses
debatidas seria a criação de uma linha de Finame específica para o setor solar.
"A energia solar é uma indústria de inovação e seria interessante
para o Brasil desenvolver esse tipo de tecnologia", diz Lima, ao ressaltar
que só a Weg, por exemplo, fabrica inversores no país. Em sua avaliação,
o modelo que o Brasil criou para a eólica é bem-sucedido e poderia ser usado
para a solar.
Em energia solar, o Brasil fica bem atrás do Chile, país que ocupa o
13º lugar no índice global da EY. Na utilização de energia solar
concentrada (CSP), tecnologia também conhecida como termossolar, os chilenos já
estão em segundo lugar no ranking mundial, com a construção de usinas no
deserto do Atacama.
A diferença, porém, é que a economia chilena é mais aberta à importação
que a brasileira, o que facilita os investimentos em projetos solares.
"No Chile, os investimentos são puxados pelo setor de mineração, que
consome muita energia. Pode-se criar sinergias interessantes entre os
projetos", afirma Lima, lembrando que o Brasil também possui uma indústria
de mineração desenvolvida. (institutosocioambientaldhc)
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