segunda-feira, 30 de março de 2015

Capacidade de energia eólica no Brasil aumentará 60% em 2015

Capacidade instalada de energia eólica no Brasil deve aumentar 60% em 2015.
Atualmente, a energia eólica representa 4,5% dessa matriz, com 241 usinas instaladas, gerando pouco mais de 6 GW.
A capacidade instalada de energia eólica no Brasil vai aumentar cerca de 60% em 2015, dos atuais 6 gigawatts (GW) para 9,8 GW, segundo projeções da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica), reforçando a presença desse modelo de geração de energia na matriz elétrica nacional.
Atualmente, a energia eólica representa 4,5% dessa matriz, com 241 usinas instaladas, gerando pouco mais de 6 GW.
Quatro dessas usinas iniciaram testes neste primeiro mês de janeiro: três na Bahia (Ametista – 28,54 MW, Maron – 30,24 MW, e Pilões – 30,24 MW), e um no Mato Grosso do Sul (Dourados – 28,58 MW).
O crescimento da energia eólica no Brasil tem sido constante nos últimos anos. Em 2013 foram contratados 4,7 GW de projetos eólicos, e em 2014, 2,3 GW – todos a serem implantados até 2019, quando a capacidade eólica brasileira deverá atingir 15,2 GW. (ecodebate)

Parques eólicos trazem melhorias para a população

Famílias têm terras regularizadas e sobrevivem com dinheiro de arrendamento.
A paisagem de Maria Domerina Tavares de Lira, que há 44 anos mora na Fazenda Ameixa II, é nova. Nos últimos meses, o quintal de terra batida, protegido apenas por uma cerca feita de galhos secos, ganhou um novo elemento: uma gigantesca torre de aço com quase 100 metros de altura, que em breve vai gerar energia elétrica com a força do vento para toda a população brasileira. Dona de 45 hectares de terra, Maria Domerina tem dois desses “cata-ventos” em sua propriedade. “A empresa queria construir três torres, mas fiquei com medo de tomarem minhas terras e só deixei colocarem duas. Qualquer coisa tinha uma área de reserva”, diz a dona de casa, que recebe R$ 1,3 mil por mês para arrendar parte de seu lote.
Família de Rafael Andrade vive com dinheiro de arrendamento
Aposentada e com cinco filhos sem emprego fixo, o dinheiro do arrendamento tem sido uma salvação. Antes a família vivia de duas aposentadorias, dela e da mãe, que morreu. Agora o dinheiro das torres tem bancado as contas e ainda dá para fazer alguns reparos na casa, de sete cômodos. A primeira providência, diz ela, foi pintar o imóvel que há anos não recebia uma “mão de tinta”. Também comprou arame para substituir a cerca de galhos. “Hoje em dia me arrependo de não ter deixado construírem mais uma torre. A renda seria maior”, diz ela, que tem 69 anos.
No município de Parazinho, o cenário de um antigo assentamento também tem tido mudanças radicais, não apenas pelas dezenas de torres eólicas no entorno da comunidade. Com o dinheiro dos 32 aerogeradores instalados na propriedade, cada uma das 29 famílias tem direito a R$ 1 mil por mês. O reflexo da renda extra está no amontoado de areia, pedra e cimento em frente às residências, quase todas em reforma. “Fiz um alpendre (varanda), troquei o portão e dividimos o lote com muros”, diz o morador Atiliano Carlos de Souza, que vive na casa com a mulher Maria de Fátima da Silva e Souza.
Para ele, no entanto, o melhor benefício do parque eólico, construído pela CPFL, é a regularização da terra da comunidade. O local era uma fazenda que foi comprada com dinheiro do Banco da Terra. O problema é que as famílias, que sobrevivem da agricultura familiar (milho, feijão e mandioca), não conseguiram pagar as parcelas anuais e ficaram inadimplentes. “Mas, com a construção do parque, o acordo foi que a empresa pagaria a dívida e descontaria do nosso pagamento durante cinco anos”, diz Souza. Portanto, dos R$ 1 mil a que cada morador tem direito, a empresa tem pagado R$ 500.
O casal Rafael Luiz de Andrade e Maria Anunciada Silva reclama do desconto. “Por enquanto, estamos recebendo pouco por causa da dívida, mas acreditamos que vai aumentar”, diz Andrade. Mesmo assim, eles já construíram uma cozinha nova e planejam um novo alpendre. “Se não tivesse esse dinheiro, teríamos de ir embora daqui, pois não tem o que fazer, não tem onde trabalhar.”
Projetos sociais. Os projetos eólicos – e em breve os solares – não trazem benefício apenas para a população que arrenda suas terras. Carentes de emprego e de auxílio do Estado, muitos moradores precisam só de um empurrão, como a aposentada Rita Francisca da Silva, que mora num assentamento próximo de João Câmara. Com a ajuda de um programa social montado pela CPFL, ela e outras 79 famílias estão conseguindo plantar culturas como milho, mandioca e algumas verduras. “Neste ano, a seca não tem ajudado muito, mas agora temos uma bomba de água para irrigar parte da plantação. O único problema é que o custo da energia elétrica é alta”, diz ela, que mora no local há 20 anos.
A presidente de uma associação de deficientes em João Câmara, Eunice Maria Xavier, também tem comemorado a construção dos parques eólicos no Estado. Depois de anos de luta, ela conseguiu ampliar o espaço onde atende 149 associados e ganhou novos equipamentos para a produção de vassouras e sabão. As vassouras são feitas com garrafa pet e o sabão, de óleo de cozinha. A produção é vendida nos supermercados da região e na associação. “O principal entrave é a falta de matéria-prima para fazer as vassouras. É difícil encontrar garrafas pet por aqui.” (OESP)

sábado, 28 de março de 2015

Aérea chinesa e o voo comercial movido a óleo de cozinha

Aérea chinesa conclui primeiro voo comercial movido a óleo de cozinha
Fornecido por AFP Uma companhia aérea chinesa completou neste sábado o primeiro voo comercial do país abastecido com um biocombustível feito à base de óleo de cozinha usado, em um momento em que o governo busca promover uma sustentabilidade ambiental.
Uma companhia aérea chinesa completou neste sábado o primeiro voo comercial do país abastecido com um biocombustível feito à base de óleo de cozinha usado, em um momento em que o governo busca promover uma sustentabilidade ambiental mais ampla.
O voo da Hainan Airlines, de Xangai para Pequim, utilizou biocombustível fornecido pela companhia China National Aviation Fuel e pela gigante da energia Sinopec, de acordo com um comunicado da fabricante de aviões americana Boeing.
O avião empregado, um Boeing 737, usou uma mistura 50% a 50% de querosene de aviação convencional e biocombustível feito de "óleo de cozinha usado, coletado de restaurantes na China", acrescentou. Uma porta-voz da Boeing confirmou à AFP que o voo tinha sido concluído no sábado.
O óleo de cozinha usado tem sido alvo da imprensa chinesa, que critica a forma como o rejeito algumas vezes é reutilizado ilegalmente para consumo humano.
A Sinopec, que foi criticada no documentário ambiental chinês "Under the Dome", alegou que o óleo usado poderia ter um fim melhor.
"Isto representa o compromisso determinado da Sinopec em avançar continuamente na inovação científica e tecnológica para promover desenvolvimento verde e com baixa emissão", destacou a Sinopec em um comunicado.
O primeiro voo no mundo movido inteiramente com biocombustível foi realizado em 2012, quando um avião decolou da capital canadense, Ottawa, mas alguns aviões comerciais usaram biocombustíveis misturados com querosene de aviação tradicional, que é derivado do petróleo.
A australiana Qantas e a canadense Air Canada já testaram biocombustíveis em seus voos comerciais.
No ano passado, a Boeing anunciou que iria cooperar com a chinesa Commercial Aircraft Corp. para desenvolver biocombustível de aviação. A empresa americana tem um projeto similar com um instituto de pesquisas vinculado à Academia Chinesa de Ciências.
A China é um mercado-chave para a Boeing, que estima que o país vai precisar de 6.020 aeronaves, a um custo estimado em US$ 870 bilhões até 2033. (msn)

quinta-feira, 26 de março de 2015

Biodiesel, alternativa em produção de combustíveis

Biodiesel: uma alternativa para a produção de combustíveis
Fatores econômicos e sociais têm motivado o desenvolvimento de combustíveis alternativos como uma das possibilidades mais promissoras.
No Brasil, a soja é a única oleaginosa com escala suficiente para a produção imediata de Biodiesel.
Os efeitos das ações do homem sobre o ecossistema são catastróficas. Podemos vivenciá-los, por exemplo, nos períodos chuvosos, quando enchentes em diversas regiões do país, inundam casas e invadem avenidas devido  à poluição dos rios, ou nas geleiras polares, que a cada dia vêm se derretendo de forma absurda, aumentando o nível dos mares por causa da destruição da camada de ozônio que protege o planeta dos raios solares, ou, ainda, nas mudanças climáticas causadas pelo superaquecimento global. Estes, entre inúmeros outros fenômenos avassaladores tiveram uma única origem: o homem.
Neste sentido, buscando desesperadamente salvar o planeta, palavras como ecologia, preservação ambiental, meio ambiente, reciclagem, vida saudável, encontram-se em evidência no mundo e  atraído os olhares de milhares de pessoas.
Contribuir para uma vida mais saudável não se limita apenas às questões como alimentação, moradia e passeios, ela também diz respeito aos cuidados que o ser humano deveria ter com o meio em que se vive. Melhorar a condição de vida da população, deveria estar entre as prioridades de qualquer país.
Preocupados com a poluição, com a destruição da natureza à nossa volta e com o crescimento acelerado e desgovernado dos grandes centros urbanos, torna-se urgente, dentre as inúmeras providências a se tomar, a redução da emissão de poluentes, o que já é uma meta de dirigentes políticos e representantes de entidades ambientalistas e humanitárias.
Além disso, fatores econômicos e sociais têm motivado a busca e o desenvolvimento de combustíveis alternativos, apresentando-se o uso de biomassa (vegetais e seus produtos e subprodutos) como uma das possibilidades mais promissoras.
“É fato afirmar que a contínua e crescente pressão exercida pelo homem visando apenas os benefícios imediatos de suas ações, privilegiando o crescimento econômico a qualquer custo e relegando, a um segundo plano, a capacidade de recuperação dos ecossistemas vem agredindo, cada vez mais, ao meio ambiente.”, afirma o professor Elias Silva, do curso Técnicas de Avaliação de Impactos Ambientais, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.
Assim, a utilização de recursos renováveis, ou seja, que possam ser produzidos de acordo com as necessidades, como são os vegetais, é uma alternativa para a produção de combustíveis. Nesse contexto, a produção de um combustível a partir de óleos vegetais e gorduras animais, além de materiais residuais como óleos usados em frituras ou borras obtidas no processo de refino de óleos e gorduras, ou seja, o biodiesel, consiste em uma forma de reduzir a emissão de poluentes, promover benefícios econômicos e sociais para os povos e diminuir a dependência de derivados do petróleo.
“Em função do interesse em se descobrir alternativas ao uso do petróleo, vários ministérios, institutos de pesquisa e universidades se uniram para tornar possível o uso de óleo vegetal e seus derivados como alternativa ao diesel fóssil.”, afirma o professor Paulo Anselmo Ziani Suarez, do curso Produção de Biodiesel na Fazenda, produzido pelo CPT - Centro de Produções Técnicas.
O uso de óleo vegetal como combustível teve início no fim do século XIX, quando Rudolph Diesel, inventor do motor a combustão interna (motor diesel), utilizou em seus ensaios petróleo e óleo de amendoim como combustíveis.
Posteriormente, na segunda metade do século XX, as crises no mercado mundial de petróleo, ocorridas nas décadas de 70 e 90, aliadas ao aumento da demanda de energia e da consciência ambiental da população, conduziram a um movimento no sentido da produção de combustíveis alternativos provenientes de fontes renováveis. Neste cenário, os biocombustíveis, principalmente aqueles oriundos de óleos vegetais, têm um papel de destaque.
O biodiesel, um combustível renovável e biodegradável, para motores do ciclo diesel, produzido a partir de óleos vegetais ou de gorduras animais, já faz parte da matriz energética brasileira, contando com o apoio e o incentivo do governo.
O Brasil possui inúmeras fontes de óleos vegetais que poderão ser usadas para a produção de biodiesel.
Cabe aqui salientar que devido a sua grande biodiversidade, ao seu clima diversificado e as suas condições de terra, o Brasil possui inúmeras fontes de óleos vegetais que poderão ser usadas para a produção de biodiesel.
Para fazer o biodiesel, podem ser empregados diversos óleos e gorduras, animais ou vegetais. As alternativas para o fornecimento de óleo vegetal são diversas e podem ser obtidas conforme as espécies cultivadas em cada região.
No Brasil, a soja é a única oleaginosa com escala suficiente para a produção imediata de biodiesel, uma vez que cerca de 90% da produção brasileira de óleo provém dessa leguminosa. Mas existem alternativas de culturas que podem ser utilizadas como fonte de óleo vegetal, como o girassol, o algodão, as palmeiras, a mamona e plantas de ocorrência regional como o pequi, no Cerrado, o babaçu, no Norte e o pinhão-manso, no Nordeste.
Os resíduos de agroindústrias são fontes de gordura animal, como, por exemplo, o sebo de boi e a gordura de frango. Também, há a possibilidade de aproveitar óleos e gorduras usados em frituras, o que constitui um ótimo destino para esse material.
Para o Brasil, a produção de biodiesel é uma oportunidade tecnológica e estratégica que permitirá crescimento econômico em vários sentidos. O setor agropecuário é o segundo maior gerador de empregos no país, atingindo outros setores por seus efeitos multiplicadores. O projeto de produção de biodiesel torna-se ainda mais importante quando visa a utilização de culturas com importância regional, para extração do óleo, como mamona, dendê e pequi, o que promoverá o desenvolvimento das regiões produtoras.
Com a produção de oleaginosas em grande escala, o biodiesel se tornará  mais viável economicamente.
Atualmente, o custo do biodiesel pode ser elevado comparado ao do óleo diesel mineral. Mas, no longo prazo, com a produção de oleaginosas em grande escala, os custos podem ser reduzidos, enquanto a expectativa é de um aumento na cotação do petróleo, principalmente pelo esgotamento das reservas. Assim, com o tempo, o biodiesel se tornará mais viável economicamente. (cpt)

Óleo de cozinha usado entra em fase experimental no DF

Produção com óleo de cozinha usado entra em fase experimental no DF
A primeira usina do DF que utilizará o óleo e gorduras residuais (OGRs) para a produção de biodiesel encontra-se em etapa final de construção e terá capacidade de transformar até mil litros dessa matéria-prima em combustível por dia. Em fase experimental no mês de abril, a fábrica terá produção inicial estimada em 250 litros diários a partir de óleo de cozinha usado. A iniciativa partiu da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) em parceria com a Embrapa Agroenergia, com recursos da Agência Brasileira de Inovação (Finep). 
Batizado de projeto Biguá, ele surgiu depois que a Caesb começou a sentir no orçamento os transtornos causados pelo descarte incorreto do óleo de cozinha. Como são resíduos, os responsáveis decidiram denominá-la biguá — pequeno corvo com penas pretas e brancas e que tem os pântanos como habitat.
Além dos impactos ambientais, o resíduo do óleo de fritura jogado nos ralos de pia e vasos sanitários representa 30% dos gastos do órgão com a manutenção da rede. Cada litro derramado de forma indevida encarece R$ 0,25 no tratamento de esgoto. Atualmente, são despejados quase 12 milhões de litros de óleo todos os anos na rede do DF.
O programa de caráter socioambiental da Caesb passou a oferecer endereços para descarte do óleo. No início, o material recolhido era encaminhado às cooperativas e às associações de moradoras do Varjão, que transformavam a gordura em detergente e sabão, mas a coleta extrapolou as expectativas fazendo nascer a ideia da usina.
O engenheiro ambiental da Caesb e responsável pelo projeto, Carlo Renan Cáceres de Brites, disse que o biodiesel produzido no DF abastecerá, em breve, a frota do próprio órgão e dos parceiros do Biguá: a Embrapa Agroenergia e a Finep.
Será ainda utilizado para o funcionamento dos geradores responsáveis pelo tratamento de esgoto da capital. O processo gera outro subproduto, a glicerina, muito utilizada na fabricação de sabão, segundo Cáceres de Brites: "Temos um projeto em andamento para encaminhar esse material."
Atualmente, são coletados de 800 a mil litros de óleo por mês, mas a estimativa do engenheiro ambiental é que esse volume chegue a 150 mil litros. "Estamos realizando constantemente um trabalho de conscientização da população, pois o descarte do óleo de cozinha é uma ação que ainda gera dúvidas", esclareceu Cáceres de Brites. "Jogar o produto na pia da cozinha ou no vaso sanitário causam um grande problema nas redes de esgoto."
Descarte consciente
O processo para o armazenamento do óleo em casa é simples. Após utilizar o produto, a pessoa deve aguardar alguns minutos até o total resfriamento. Depois, basta depositá-lo em recipientes plásticos descartáveis — como os utilizados para armazenar amaciante de roupa, de água sanitária ou até mesmo garrafas PET. Esses vasilhames devem ser encaminhados aos 19 pontos de entrega voluntária.
Para volumes acima de 10 litros, a Caesb coletará no local. Bares, condomínios, indústrias, restaurantes ou similares podem se cadastrar como parceiros do projeto por meio do telefone (61) 3214-7989 ou pelo e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.">projetobigua@caesb.df.gov.br. (biodieselbr)

Macaúba será alternativa para biocombustíveis em áreas degradadas

Macaúba pode ser alternativa para biocombustíveis em áreas degradadas
Grandes empresas aéreas internacionais estão em busca de alternativas para o querosene que move as turbinas e a macaúba pode ser a solução. Pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Viçosa (UFV) fecham a cadeia produtiva da macaúba que, agora, fica mais perto de se tornar uma matéria-prima viável para a indústria. E Minas Gerais pode estar à frente do negócio, aproveitando áreas de pastagens degradadas para cultivo agrosilvopastoril.
A UFV está participando da plataforma de bioquerosene de Minas Gerais e de reuniões com empresas aéreas comprometidas em reduzir, pela metade, a emissão de gases do efeito estufa até 2020. “Entre todas as outras opções, a macaúba promete ser a vedete do bioquerosene, não apenas pela qualidade do óleo, mas, também, por ser uma planta totalmente aproveitável do ponto de vista comercial”, afirma o professor Sérgio Motoike, coordenador da equipe de pesquisadores da macaúba na UFV.
A macaúba é uma palmeira oleaginosa presente em quase todo o território brasileiro, mas é em Minas Gerais que estão concentradas as populações mais produtivas. A planta é rústica, facilmente adaptável e já muito conhecida por agricultores. É comum ver os frutos serem comidos pelo gado ou por pessoas interessadas na amêndoa da planta, que tem cheiro doce e gosto de coco.
Há algumas décadas, era comum países como Paraguai e Brasil colherem a macaúba para retirar o óleo e fazer sabão. O problema, como explica o professor Motoike, era o difícil cultivo comercial da planta, porque a taxa de germinação das sementes era muito baixa e havia pouco conhecimento agronômico para melhorar a produtividade e as técnicas de colheita e processamento da planta. Estes problemas não existem mais. A equipe do Departamento de Fitotecnia da UFV estuda todo o processo produtivo da macaúba há mais de dez anos e já tem dominado todo o conhecimento necessário para que a macaúba se torne uma alternativa comercialmente viável para o Brasil.
Da semente à colheita
A UFV sedia, hoje, um grande banco de germoplasma da macaúba onde estão sementes e mudas de diversas variedades da planta do Brasil e de países latino-americanos. Segundo o professor Motoike, as sementes rústicas são usadas para fazer o melhoramento genético da planta, criando variedades mais produtivas e resistentes às pragas e adaptáveis aos diferentes climas e ambientes.
Transformar uma planta selvagem numa cultura planta agrícola domesticada requer um trabalho coordenado das diversas áreas da agronomia. O problema da germinação das sementes foi resolvido há muito tempo. Tanto que a UFV detém a patente do processo comercial de germinação, desenvolvido pela equipe do professor Motoike, em 2007, e já usado por empresas produtoras de mudas.
Depois de garantir mudas de qualidade, era preciso cuidar dos tratos agronômicos da planta. Essa tem sido a tarefa do professor Leonardo Pimentel que já desenvolveu pesquisas capazes de definir a melhor forma de plantio, espaçamento entre plantas e fileiras, exigências nutricionais para adubação e identificação das principais doenças que podem afetar um plantio comercial. Um pé de macaúba demora quatro anos para produzir frutos. A planta é perene e, bem adubada, produz por muitos anos. O plantio comercial pode comportar mais de 400 plantas por hectare. Com as novas tecnologias disponíveis, a expectativa é de uma colheita de 25 mil quilos de macaúba por hectare, o que gera cinco mil quilos de óleo por ano.
As pesquisas têm sido feitas com o apoio financeiro da Petrobrás, que tem interesse na planta para produção de biodiesel. Outras empresas europeias também estão de olho na macaúba. Para conhecer os avanços que as pesquisas da equipe de Viçosa já alcançaram, o Laboratório de Pós-colheita da macaúba na UFV recebe estudantes de vários países. Mas o professor Sérgio Motoike quer mesmo que a planta faça sucesso no Brasil, transformando-se em uma fonte de renda, sobretudo para pequenos agricultores.  “A macaúba é 100% aproveitável e tem potencial para ser uma cultura ambientalmente sustentável. Temos certeza de que é um investimento muito interessante”, afirma o professor.
Mil e uma utilidades
O que a indústria quer da macaúba é o óleo para fabricação de biodiesel e bioquerosene, mas os produtores têm outros atrativos para otimizar a cultura. 
Internamente, a macaúba produz dois óleos de qualidades diferentes. O da amêndoa é parecido com o óleo de coco ou de dendê. É perfumado, palatável e pode ser usado tanto na alimentação quanto na indústria cosmética recebendo valores maiores. Até o endocarpo, que é a parte que envolve a amêndoa pode ser aproveitada na produção de carvão vegetal ativado, com alto poder calorífico e fumaça livre de emissões tóxicas. 
Já o óleo para biocombustível é extraído da parte mole, o mesocarpo, que precisa ser processado de maneira correta para melhor aproveitamento. O que sobra da extração pode ser moído e virar farinha, tanto para alimentação humana como para ração animal, porque é palatável e não possui toxidez. 
A equipe da UFV já computou a produtividade de cada um dos subprodutos da macaúba para estimular o plantio e os resultados são muito interessantes do ponto de vista comercial.
Mas por que os produtores rurais ainda não tinham se rendido aos encantos financeiros da macaúba? Por três motivos, segundo o professor Sérgio Motoike. O primeiro deles era a falta de interesse de uma indústria de grande porte e uma aplicação concreta a longo prazo, como é o caso do bioquerosene sustentável para aviação. Segundo, porque faltavam pesquisas sólidas de toda a cadeia produtiva capazes de dar respostas aos agricultores. 
Por último, está um daqueles paradoxos do tipo ovo e galinha difíceis de resolver. Como, hoje, a macaúba é explorada de forma extrativista, os coletores precisam esperar um tempo considerável para acumular uma quantidade suficiente de cocos para valer a pena o esforço. Nesse meio tempo, os frutos apodrecem e o óleo rancifica perdendo boa parte do seu interesse comercial. “As vantagens da macaúba só fazem sentido se houver logística de colheita e o processo de extração do óleo for comercial”, afirma o professor José Antônio Grossi, responsável pelas pesquisas em pós-colheita e de qualidade dos óleos da macaúba.
Ele explica que a planta demora de 12 a 14 meses para formar completamente os frutos. Experiências com melhoramento genético já ampliaram o tempo em que o fruto fica aderido à planta, evitando a caída precoce e o apodrecimento. Outros estudos permitiram melhorar a tecnologia para armazenamento dos frutos e retardar a rancificação dos óleos. “A macaúba produz um hormônio que faz com que a maturação continue depois da colheita e já temos conhecimento para interferir neste processo”, diz o professor Grossi. “A boa notícia é que a técnica desenvolvida pela equipe da UFV, além de retardar o apodrecimento, também aumentou em 20% o teor de óleo na macaúba”, afirma o professor.
Alternativa
A sustentabilidade dos plantios comerciais é outro fator que anima pesquisadores e empresários. Isso porque a macaúba se adapta muito bem a plantios consorciados, sobretudo em áreas de pastagem. “Hoje, o Brasil tem 160 milhões de hectares de terra usada para pastagem. Só em Minas Gerais, 40% desta área está degradada pelo mau uso do solo. Precisamos transformar isso em oportunidade”, diz o professor Motoike.
A proposta da equipe do Departamento de Fitotecnia da UFV é estimular a produção agrosilvopastoril, ou seja, o consórcio de plantas e animais numa mesma área. Primeiro, é preciso recuperar os solos degradados pelas pastagens com adubação correta e realizar o plantio das palmeiras. Em três anos, as plantas crescem o suficiente para não serem comidas pelo gado
“A arquitetura da palmeira permite esse arranjo”, explica o professor Motoike.
As folhas não sombreiam o sub-bosque e deixam passar uma quantidade ideal para crescimento de pastagens como a braquiária. Além disso, as plantas fazem sombra, melhorando a ambiência para o gado. “É uma agricultura de dois andares”, brinca o professor Sérgio. Neste caso, a implantação do consórcio deve ser gradual, começando com um terço da área para dar tempo de as plantas crescerem e os solos se recuperarem. Outras plantas, como o dendê, com dossel mais denso, não permitem o consórcio.
“É um sistema fechado”, diz o professor. “Nossa proposta não é usar áreas destinadas a alimentos e sim aproveitar e recuperar áreas degradadas. Se a soja, por exemplo, ocupa áreas de pastagem, empurra a bovinocultura para a Floresta Amazônica. No sistema da macaúba, a convivência é saudável numa mesma área antes degradada”. As pesquisas também estão estudando o consórcio da macaúba com plantios de feijão.
A equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa já possui dezenas de trabalhos publicados sobre cultivo e pós-colheita da macaúba que estão à disposição de produtores e empresários interessados em conhecer melhor os benefícios da planta. Os professores também estão participando de reuniões com o setor produtivo para apresentar os resultados das pesquisas. (biodieselbr)

terça-feira, 24 de março de 2015

Risco de racionamento elétrico ainda é elevado

Risco de racionamento elétrico ainda é elevado, apesar das chuvas
O nível dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste precisa subir de 23,9% para 35% até o final de abril/15 para evitar as medidas de concessão na oferta de energia.
Usina hidrelétrica de Furnas opera com apenas 15% da sua capacidade devido aos baixos níveis de água, em 14 de janeiro de 2013.
Apesar do aumento no volume das chuvas, a possibilidade de um racionamento de energia no segundo semestre ainda segue viva e assombrando o governo federal. Em 04/03 o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão subordinado ao Ministério de Minas e Energia, estimou o risco de racionamento em 6,1%. O nível de segurança é de 5% - qualquer valor acima disso indica a possibilidade de colapsos no setor elétrico. Embora o risco ainda ultrapasse o padrão de normalidade, a notícia foi vista com otimismo pelo governo. No início de fevereiro, quando os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste chegaram a 16,8%, o risco de racionamento foi calculado em 7,3%, valor considerado altíssimo.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) garante que, se o nível médio dos reservatórios das usinas das regiões Sudeste e Centro-Oeste chegar a 35% no final de abril, será possível sobreviver ao período seco e chegar a novembro com 10% de volume de água, o suficiente para garantir a atividade mínima operacional das hidrelétricas. Atualmente, os reservatórios da região acumulam 23,9% do volume total armazenado. Um estudo da consultoria Thymos, elaborado com os dados do próprio ONS, mostra que, na verdade, o racionamento só será evitado ainda neste ano se chover pelo menos 90% da média histórica até novembro. Vale lembrar que, em pleno período úmido de 2015, a média de chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, não chegou a 60%.
Entidades do setor criticam a inabilidade do governo em tomar providências para administrar a crise. O problema é que, com a turbulência na política, a presidente Dilma Rousseff teme que um racionamento acenda ainda mais a insatisfação popular. Dilma chegou a vetar uma campanha de redução do consumo de energia, que seria veiculada na TV e rádio, por considerar que frases como "desligue o ar condicionado" fossem alarmar a população e aproximar o cenário atual à crise energética de 2001. As peças publicitárias tiveram que ser refeitas em tons mais "suaves", e começaram a ser transmitidas no início deste mês. Além da campanha, um aumento médio de 23,4% nas contas de luz foi começou a valer no início de fevereiro. Somado ao custo das bandeiras tarifárias, vigentes desde janeiro, o acréscimo foi de 32%. Em algumas cidades da região Sul, o tarifaço chegou a 48%. As distribuidoras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste tiveram reajustes proporcionalmente maiores que as do Nordeste e Norte porque, além de demandarem mais energia, também são as únicas que recebem luz gerada em Itaipu. A maior hidrelétrica brasileira produziu cerca de 10% menos energia no ano passado e suas tarifas, negociadas em dólar, ficaram mais altas por causa da desvalorização do real.
A cobrança, chamada de "reajuste extraordinário", pretende repassar parte do custo da caríssima geração de energia do ano passado. Por causa dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, as termelétricas tiveram que ser ativadas para garantir o fornecimento de energia. Além de consumirem materiais poluentes, como carvão e óleo, as usinas térmicas custam seis vezes mais em comparação à energia produzida por hidrelétricas. As empresas responsáveis pela distribuição tiveram que custear essa diferença para continuar atendendo seus clientes e, sem caixa disponível, recorreram a empréstimos que somam 17,8 bilhões de reais. Por causa do aperto fiscal, o Tesouro cortou o fluxo de socorro à Conta de Desenvolvimento Energético - fundo que custeia o setor - e as distribuidoras precisaram repassar o custo do empréstimo diretamente para as contas de luz. A dívida foi parcelada em dois reajustes extraordinários: um feito no início de março, e outro que será feito em 2016. O bolso do brasileiro pode esperar ainda outro aumento ainda em 2015, de 10%, que corresponde ao reajuste regular executado anualmente pelas distribuidoras.
O governo espera que a campanha publicitária, o tarifaço e o baixo ritmo econômico sejam suficientes para reduzir o consumo de energia e salvar 2015 de um racionamento. Entretanto, ainda que isso aconteça, não poupará uma crise no ano que vem. "O governo precisa fazer uma correção de rota imediatamente, ou teremos problemas de energia até 2018", afirmou João Carlos Mello, presidente da Thymos. Ele explicou, em um evento do setor em São Paulo, que operar com reservatórios abaixo dos 10% é perigoso, pois não se sabe exatamente o que há no fundo das represas. Muitas delas estão assoreadas, por exemplo. Além de haver chance de as usinas pararem completamente por falta de água para movimentar as turbinas, é imprudente esperar que o período de chuvas de 2016 recupere o nível dos reservatórios. Isso significa que, caso haja cortes de fornecimento de luz no próximo ano, haverá redução no ritmo de crescimento, frustrando os planos do governo de uma rápida recuperação econômica. (veja)

Falta de chuva prejudica produção de hidrelétricas

Usinas operam abaixo da capacidade devido à excassez de chuva na região sul e no rio Paranapanema; níveis de água nos reservatórios estão baixos.
A carência de chuvas durante o fim do ano é a principal causa apontada para explicar o baixo nível de água registrado nos reservatórios das hidrelétricas da região. O período de seca pelo qual passou o sul do país, aliado à falta de chuvas na bacia do rio Paranapanema, ocasionou um quadro atípico nas usinas hidrelétricas dessa região. Desde setembro, nas usinas de reservatório, como Chavantes e Jurumirim, o índice de operação está funcionando praticamente abaixo da metade, cuja média normal é da ordem de 60%.
No país o funcionamento das usinas é interligado, com a produção energética coordenada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema), que abrange todas as geradoras de energia do país. As áreas são atendidas conforme a demanda regional. Se há um baixo nível de água num determinado local, é necessário aumentar a geração numa segunda região para compensar a área com déficit.
De acordo com Fabiana Colturato Aidar, gerente adjunta de Comunicação da Duke Energy, empresa concessionária de 8 hidrelétricas do rio Paranapanema — incluindo a de Chavantes —, as usinas localizadas nessa bacia hidrográfica participaram desse processo. “Devido à seca no sul, as usinas do sudeste, nas quais estamos incluídos, tiveram que produzir mais energia para compensar a carência que lá vinha ocorrendo”, explica.
Localizada na divisa entre os estados de São Paulo e Paraná, a bacia do Paranapanema está sobre influência das regiões sul e sudeste e experimentou com mais intensidade a carência de chuvas gradativa nesse final de ano. “Por essa razão o nível foi abaixando, em certos casos, chegando aos piores já registrados pela empresa”, afirma.
É o caso da hidrelétrica de Capivara, que registra o pior nível dos últimos 75 anos. Por ser um reservatório de acumulação, a exemplo de Chavantes e Jurumirim, a operação é controlada, a ponto de reservar a água num cenário de cheia. Porém, no caso de baixo nível de água, como ocorre em decorrência da falta de chuvas, o procedimento não tem o mesmo efeito. De acordo com informações do Centro de Operação de Geração da Duke Energy (COG), que funciona 24 horas ininterruptamente, a hidrelétrica de Chavantes está operando com a capacidade de 28%, menos da metade da marca ideal — que seria entre 60% e 70%. Em Jurumirim a capacidade nominal é de 31,5%. Na UHE de Capivara, cuja situação é a mais crítica, a operação está em 14%. “Essa situação começou a se complicar em setembro, quando passamos a registrar uma baixa gradativa no nível dos reservatórios”, lembra Aidar.
O baixo nível da água nas UHEs de operação levou a Duke Energy a realizar eventos em cidades dessas regiões, com a participação de prefeituras, Defesa Civil, Polícia Ambiental e Corpo de Bombeiros. O objetivo é esclarecer à população local e ribeirinha a atual situação dos reservatórios.
No caso da UHE de Chavantes, a diminuição do nível da represa causou o reaparecimento de pedras e troncos de árvores que estavam submersos desde a década de 70. A recomendação da empresa é de que as pessoas evitem utilizar essas áreas.
“Nós passamos a divulgar os riscos dessas áreas para a população, pois começam a ficar descobertas algumas ilhas e lugares onde as pessoas passam a pescar e acampar. Recomendamos que as pessoas não venham até esses locais, pois são áreas inseguras, podendo haver variação do nível da água em relação às outras usinas”, aponta. A potência da hidrelétrica de Chavantes é de 414 MW, o suficiente para abastecer de forma contínua uma área de cerca de 1 milhão de habitantes.
Embora a situação atual seja incomum, a gerente da Duke relata que as atividades se desenvolvem normalmente, com uma produção menor de energia, já que o nível está abaixo do normal. “A recuperação desses reservatórios deve acontecer na medida em que chova bastante e isso deve levar um certo tempo. Se continuar chovendo, em fevereiro a situação deve se equilibrar. Porém, se a média ficar abaixo do esperado, a situação pode se complicar, pois o Paranapanema não está entre os lugares mais úmidos neste momento”, descreve.
Além de Chavantes, Jurumirim e Capivara, também estão localizadas no Paranapanema as UHEs de Salto Grande, Canoas I e II, Taquaruçu e Rosana, todas sob concessão da Duke Energy. A capacidade total instalada é de 2.237 megawatts, sendo responsáveis pela geração de cerca de 3% de toda a energia produzida no país.
Sobre uma possível correlação com a crise energética, a representante da Duke Energy Internacional diz que o contexto de uma eventual falta de energia é um cenário próprio do sistema brasileiro, motivado principalmente por questões referentes a investimentos no setor de geração de energia. “A região sudeste do Brasil está com boom de potencial energético. A situação do Paranapanema é muito localizada e regional, decorrente da seca que houve no sul e da carência de chuva nessa bacia mesmo. Em termos de Brasil, o conceito é mais complexo e diferente”, explica. (uol)

Racionamento pode ser evitado com reservatório a 35%

Racionamento pode ser evitado com reservatório a 35%, diz CPFL
Presidente da empresa diz que cenário de aumento da oferta e redução da demanda na casa de 5% evitaria problemas de abastecimento.
O país passará o ano de 2015 sem problemas de abastecimento desde que os reservatórios estejam entre 35% a 40% e com a redução do consumo entre 3% a 5%. Esse deve ser o resultado da combinação entre a retração da atividade econômica que o país vive este ano associado ao início de campanhas para o uso mais racional da energia  promovido tanto pela Abradee quanto pelo governo federal.
De acordo com o presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Jr, o maior impacto sobre o consumo deverá ser visto com a redução da atividade econômica. Ele estimou que no geral o país poderá ter uma queda de 3% no consumo como fruto do cenário econômico pelo qual o país passa. O restante poderá ser atribuído à redução da demanda dos consumidores. Porém, ressaltou que esse número depende diretamente do comportamento de consumo das pessoas. “Com 35% dos reservatórios passamos o ano sem nenhum problema”, disse ele.
Questionado se o problema não seria transferido para 2016, o executivo disse que o problema da crise hídrica é, obviamente, a falta de chuvas que atingiu o país. Com cerca de 70% da capacidade de geração de energia dependendo da fonte hidráulica, qualquer variação na hidrologia impacta a capacidade de geração. Contudo, por outro lado, se no próximo verão as chuvas se normalizarem ou ficarem próximos à média histórica é possível que os reservatórios voltem a um nível confortável de armazenamento e que não se tenha problema como o atual.
“Costumo dizer que a solução é que se tenha chuva, o racionamento é pior. No ano de 2001 a condição era diferente porque não tínhamos a capacidade térmica atual, além disso estamos adicionando nova capacidade de geração como das usinas do Madeira e eólicas. Portanto, estamos vendo o aumento da oferta ao mesmo tempo que se espera ligeira redução da demanda e se voltarem as chuvas, chegaremos ao final de abril de 2016 com 70% de armazenamento”, explicou ele. (canalenergia)

domingo, 22 de março de 2015

Produção de energia com resíduos da agropecuária

Briquetes prontos para gerar energia em indústrias e fábricas que utilizam caldeiras.
O Brasil possui condições vantajosas para produzir energia, mas a recomendação é de que não sejamos dependentes de fontes não renováveis como o petróleo, o gás natural, o urânio ou do carvão mineral. Necessitamos buscar fontes renováveis de energia. No Brasil, a biomassa é a principal fonte de energia renovável. Ela gera calor, energia elétrica e pode ser transformada em biocombustível sólido como briquetes, resultante da compactação de resíduos vegetais, por exemplo. Como somos um dos maiores produtores agrícolas e florestais do mundo, a quantidade gerada de biomassa residual pode e deve ser melhor aproveitada, especialmente na forma de briquetes e péletes.
Os briquetes podem ser produzidos a partir de qualquer resíduo vegetal, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dilcio Rocha, que participa da Dinapec 2015. Em sua apresentação feita para um público formado por professores, universitários, estudantes, produtores e empresários ele explica em detalhes como os briquetes são feitos, suas vantagens, utilização e investimento para produção.
Dentre os materiais utilizados para produzir os briquetes o pesquisador cita a serragem e restos de serraria, casca de arroz, sabugo e palha de milho, palha e bagaço de cana-de-açúcar, casca de algodão, casca de café, soqueira de algodão, feno ou excesso de biomassa de gramíneas forrageiras, cascas de frutas, cascas e caroços de palmáceas, folhas e troncos das podas de árvores nas cidades. Os briquetes possuem diâmetro superior a 50 mm e substituem a lenha em muitas aplicações, inclusive em residências (lareiras e churrasqueiras), hotéis (geração de vapor) em indústrias (uso em caldeiras) e estabelecimentos comerciais como olarias, cerâmicas, padarias, pizzarias, lacticínios, fábricas de alimentos, indústrias químicas, têxteis e de cimento. Do ponto de vista econômico, o pesquisador alerta para a realização de um plano de negócio, já do ponto de vista ambiental ele afirma que a tendência é se tornar um bom ou excelente investimento.
No Brasil são produzidos cerca de 1,2 milhão de toneladas de briquetes por ano. Destes, 930 mil toneladas são de madeira e 272 mil toneladas de resíduos agrícolas. A taxa de crescimento da demanda de briquete é de 4,4% ao ano, o que demonstra a importância potencial no mercado de energia renovável, atesta o pesquisador. Ele afirma também que nosso país possui condições vantajosas para produzir com sucesso briquetes como também péletes, outro substituto da lenha em muitas aplicações. “A prática é excelente opção para vários setores produtivos agregarem valor aos resíduos que hoje são subaproveitados”.
Fábrica de briquetes demonstra linha de produção para visitantes
A oficina sobre briquetes incluiu a visita a uma empresa de Campo Grande, MS, que produz briquetes, a Eco Esfera Indústria e Comércio de Artefatos de Madeiras. No local os visitantes tiveram a oportunidade de acompanhar a linha de produção, ver o funcionamento das máquinas, etapas da fabricação e tirar dúvidas com o proprietário Glauco Silva, um adepto da preservação do ambiente. O briquete tem alto poder calorífico e produz pouca fumaça, diz Glauco. “É um produto 100% reciclado e é feito de madeira com baixo teor de umidade. Produzimos o industrial feito em forma de bolachas e o em forma de tarugos de 5 a 10 centímetros de diâmetro e 40 centímetros de comprimento, para utilização em fornos de padarias e pizzarias e também para uso doméstico. É um combustível ecologicamente correto, substituindo a lenha”. Segundo ele, o poder de calor do briquete é de 5000 Kcal/kg e o da lenha 750 kcal/kg e 1 tonelada de briquete corresponde a três árvores altas preservadas ou 7 mde madeira.
Participantes da oficina de briquetes na Dinapec ficaram satisfeitos com as apresentações e a programação do evento. “Divulgar esta tecnologia de aproveitamento de resíduos é importante”, disse Brenda Farias, estudante de zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que igualmente com outras 12 universitárias ficaram surpresas com a visita à fábrica Eco Esfera. “Foi muito bom assistir a palestra e ver de perto o processo de fabricação dos briquetes, disse Brenda, que não sabia da existência em Campo Grande de uma fabrica de lenha ecológica”. Fábio Alexandre, gerente da Agropecuária AGRO HB, também saiu da Dinapec com boa impressão. “Fiz a inscrição nesta oficina porque tenho interesse em fazer este tipo de aproveitamento na fazenda”. Já o engenheiro mecânico e professor da Universidade Federal da Grande Dourados, Antonio Carlos de Souza, lamentou não ter divulgado mais o evento entre os colegas. Ele aproveitou para levar uma publicação técnica da Embrapa sobre produção de briquetes e uma amostra do produto para apresentar aos seus alunos do curso de engenharia de energia.
O pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dilcio, que ministrou a oficina de briquetes pela primeira vez na Dinapec gostou da receptividade do público. Disse que a Dinapec é aconchegante e uma feira tecnológica interessante e que a Embrapa tem tudo para dar um salto ainda maior neste tipo de ação. (ecodebate)

Obras de transmissão e geração de energia em 2015

Obras de transmissão e geração de energia serão prioridades em 2015
A crise energética vem definindo novas prioridades para o mercado de energia. Em reunião com o Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, afirmou que para o 2015 obras de transmissão e geração de energia serão priorizadas.
Com a preocupação de ter um sistema cada vez mais robusto, a medida será focada na conclusão das obras das hidrelétricas Jirau, Santo Antônio, Belo Monte e Teles Pires, e a Usina Nuclear Angra 3, além das linhas de transmissão que levarão a energia de Belo Monte ao restante do país. (ambienteenergia)

Firjan e as garantias de suprir energia no país

Firjan sugere medidas para garantir o suprimento de energia no país
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) entregou ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, uma lista de propostas para enfrentar a crise elétrica e garantir o suprimento de energia no país. Entre as medidas, a entidade defende a necessidade de ampliar a comunicação com a sociedade, com uma campanha de conscientização sobre a necessidade de economizar energia de forma intensa. “Todos temos responsabilidade enquanto brasileiros e seres humanos para sustentar o país”, disse o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouveia Vieira.
Segundo ele, houve uma coincidência entre o que a entidade está propondo e o que o governo já está planejando. Recentemente, Braga disse que o governo está preparando uma cartilha para orientar a população sobre a importância do uso racional de energia.
A Firjan também alertou que em caso de necessidade de racionamento de energia o governo observe as peculiaridades do setor, como a sazonalidade, e que as regras sejam comunicadas com a máxima antecedência possível. De acordo com Vieira, o consumo de energia das indústrias deve ser menor este ano. “Como o crescimento não vai ser brilhante neste ano, naturalmente vai haver um reequilíbrio na questão do consumo de energia elétrica.”
A ampliação do uso de geradores, turbinas e motores das indústrias também foi sugerida, com contrapartidas às empresas que ampliarem sua geração, como redução de impostos e aumento da oferta de crédito para aquisição de geradores. Outra medida apresentada é a simplificação de exigências das linhas de crédito para ações de eficiência energética.
Outras medidas apontadas pela Firjan, segundo Vieira, são a redução da iluminação em prédios públicos, monumentos e vias, sem prejudicar a segurança da população. Em médio e longo prazo, a entidade defende a necessidade de eliminar o atraso na construção de usinas de geração de energia elétrica e expandir a geração de energia nuclear. (ambienteenergia)

sexta-feira, 20 de março de 2015

Rejeitos orgânicos, óleos, graxas são aproveitados na geração de energia

Resíduos de tratamento de esgotos: rejeitos orgânicos, óleos, graxas podem ser aproveitados na geração de energia.
Pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP demonstra o potencial de reuso e de aproveitamento de resíduos gerados nas estações de tratamento de esgoto (ETEs) como fonte de energia. Durante o trabalho foram avaliados os aproveitamentos de três diferentes tipos de resíduos removidos no tratamento preliminar dos esgotos: óleos e graxas, rejeitos removidos no gradeamento e areia. Além da geração de energia pela queima de rejeitos orgânicos e produção de biogás, resíduos de areia podem ser usados na construção civil. Os resultados do trabalho são apresentados na tese de doutorado de Nayara Batista Borges do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento do Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS) da EESC.
Coleta dos resíduos nos gradeamento grosseiro e fino: (a) modo convencional de disposição nas caçambas e (b) dispositivo condutor utilizado na pesquisa.
Atualmente, a disposição final dos detritos é feita em aterros sanitários, o que gera um alto custo que atinge até 50% do gasto operacional de uma ETE. Como referência para a pesquisa, foi escolhida a ETE Monjolinho em São Carlos (interior de São Paulo), que tem capacidade de atender 258 mil habitantes e possui sistema preliminar destinado à remoção de rejeitos pelas etapas de gradeamento (fino e grosseiro) e desarenador, equipamento que tem a função de realizar a separação física, por diferença de gravidade, e ao mesmo tempo decantar os sólidos de maior tamanho.
Os detritos removidos nas unidades de gradeamento grosseiro e fino foram separados e agrupados de acordo com a tipologia de matéria orgânica sujeita à decomposição — como restos de alimentos, animais, fios de cabelo, galhos e folhas — além de plásticos, papéis, tecidos, pedras e outros. Posteriormente, avaliou-se o potencial energético desses resíduos mediante realização da análise do poder calorífico, que é a quantidade de energia por unidade de massa (ou de volume, no caso dos gases) liberada na oxidação de um determinado combustível.
No total, após o processo de secagem em uma estufa do tipo agrícola, a queima dos rejeitos captados nas duas unidades de gradeamento geraram 1.094 KWh de energia, o que corresponde à economia de R$ 437,70, e considerando os R$ 18,70 de despesa com o transporte e disposição das cinzas, obteve-se o lucro de R$ 419,00.
Etapas do procedimento de limpeza e secagem da areia residual: (a) preliminar, (b) peneiramento, (c) lavagem e (d) secagem.
Geração de energia
Ressalta-se que esses custos referem-se apenas aos gastos operacionais, pois não foi realizada a análise envolvendo os cálculos de implantação e manutenção do incinerador. A pesquisadora destacou que a geração de energia utilizando os restos removidos nos gradeamentos de apenas uma estação de tratamento de esgoto não seria rentável, tendo em vista sua baixa produção e o elevado custo de implantação de equipamentos para esse fim. Uma possível solução para viabilizar a queima dos detritos seria enviá-los às centrais de geração de energia de resíduos sólidos urbanos.
Verificou-se também o elevado potencial de aproveitamento da sobra de areia, removida dos desarenadores, como agregado miúdo na incorporação de argamassas para revestimento e preparação de concreto não estrutural, desde que seja submetida ao procedimento de limpeza e secagem. “Ao aproveitar a areia removida, além de diminuir danos ambientais por sua disposição inadequada, pode-se reduzir impactos decorrentes da extração desse material em rios a ser destinado para a construção civil”, explicou Nayara.
Nessas condições, comprovou-se a viabilidade técnica e econômica de utilização da areia residual, pois ela apresentou menores custos: um total de R$ 3.530,43 em comparação à disposição em aterro sanitário, que gera o custo de R$ 4 mil. “Essa diferença pode ser ainda mais significativa para ETEs de grande porte. Portanto, sob o ponto de vista econômico, é mais vantajoso aproveitar a areia do que dispô-la em aterros sanitários”, afirmou.
Nayara ainda obteve resultados a partir da gordura removida dos desarenadores. O trabalho demonstrou que a degradação do material reduz cargas orgânicas, além de gerar biogás durante o processo anaeróbio (na ausência de oxigênio), que pode ser consumido na própria estação. Avaliou-se também a potencialidade de produzir biocombustível, porém os resultados dessa avaliação demonstraram que há dificuldades técnicas e baixa potencialidade de retorno econômico.
Por fim, cabe ressaltar que a pesquisa resultou em um dos objetivos previstos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que visa incentivar o desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluindo a recuperação e o aproveitamento energético. Além disso, atendeu o artigo 9 da referida lei, que estabelece que todos os resíduos sejam reaproveitados e tratados, e somente os rejeitos desses processos sejam dispostos em aterros sanitários. A pesquisa foi orientada pelo professor José Roberto Campos, da EESC, e teve a colaboração do professor Javier Mazariegos Pablos e dos técnicos do Laboratório de Construção Civil do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos. (ecodebate)

Nota do Observatório do Clima: Seca não é ‘coincidência’

“Em vez de prestar atenção aos alertas dos cientistas, a primeira administração de Dilma Roussef dobrou a posta na causa do problema climático: o governo subsidiou os combustíveis fósseis e deu incentivos a compra de carros.”
Em seu pronunciamento à nação na noite do dia 8 de março, por ocasião do Dia da Mulher, a presidente Dilma Rousseff deu um passo importante: reconheceu que a “grave crise climática” que o Brasil atravessa é uma componente do quadro de deterioração econômica e ebulição social que emerge no país. Dilma, porém, chama a seca de “coincidência” e de “situação passageira”. Ao fazê-lo, não apenas ignora dados produzidos por seu próprio governo, como também perde mais uma oportunidade de atacar um problema de frente, deixando fermentar crises futuras.
O país vem desde 2011 enfrentando períodos de secas anormais, que atingiram o Nordeste e também o Centro-Sul, onde se concentra a população brasileira, onde é gerada a maior parte da nossa energia hidrelétrica e onde é produzida a maior parte dos alimentos que chegam à nossa mesa.
Diferentemente do que sugeriu a presidente, porém, a seca e seu impacto sobre a população não são obra do acaso: verões mais secos e quentes no Centro-Sul e no Nordeste do país são esperados num cenário de mudanças climáticas causadas por emissões de gases de efeito estufa. Modelos regionais de clima produzidos pelo INPE, um órgão do governo federal, sob encomenda da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, indicam que a tendência do clima para a região neste século é de mais calor e menos chuva. O desmatamento acumulado na Amazônia pode estar contribuindo para agravar esse quadro. Relatório após relatório, o IPCC, o painel do clima da ONU, vem apontando que a frequência de eventos climáticos extremos está aumentando.
O novo clima do país veio para ficar, e novos recordes de estiagem ou de enchente são imprevisíveis – mas sabemos que eles virão. São dados que estão, para usar uma frase da própria Dilma, “ao alcance de todos e de todas”.
Em vez de prestar atenção aos alertas dos cientistas, a primeira administração de Dilma Rousseff dobrou a aposta na causa do problema climático: o governo subsidiou os combustíveis fósseis e deu incentivos à compra de carros. Quando as hidrelétricas começaram a secar, expandiu a geração por termelétricas fósseis. O então ministro de Minas e Energia, numa atitude irresponsável, exortou a população a consumir mais, quando deveria ter adotado um amplo programa de eficiência energética e redução de consumo – que talvez nos poupasse de estar agora à beira do racionamento. Essas atitudes, aliadas à confusão regulatória da renovação das concessões de energia, transformaram um evento climático extremo numa crise nacional. O novo Código Florestal, que reduz a proteção de matas ciliares, expõe os habitantes dos biomas Mata Atlântica e Cerrado a mais efeitos da seca no futuro.
O governo brasileiro precisa parar de fingir que o clima do país não mudou enquanto fica torcendo pela chuva e pedindo “paciência e compreensão” dos brasileiros que estão pagando mais pela energia e pela comida. Se quiser construir uma saída duradoura para a crise atual, a presidente Dilma Rousseff precisa levar as mudanças climáticas e as energias renováveis a sério. Quem sabe aqui esteja o verdadeiro “pacto nacional” capaz de dar um novo rumo a seu segundo mandato. (ecodebate)

A crise elétrica e a grande imprensa

Sem dúvida é grave a situação do setor elétrico. E pode se tornar dramática se medidas urgentes não forem tomadas. Pode-se até repetir o desabastecimento ocorrido há 15 anos, por deliberada decisão política de não se fazer os investimentos necessários na geração, transmissão e distribuição de energia.
As condições de hoje não são as mesmas do passado recente, mas os resultados da atual crise poderão ser idênticos. A oferta e o consumo de energia cresceram, como também cresceu a malha de transmissão. Mas nada cresceu como a ganância das distribuidoras privatizadas que – lastreadas em contratos draconianos de concessão (também chamados de privatização)– impõem ao consumidor uma das mais caras tarifas de energia elétrica do mundo, enquanto a qualidade dos serviços prestados é sofrível. E piora com o passar do tempo.
Para o não especialista, ávido por compreender o que se passa para ter a sua opinião, reina uma grande confusão. Pois uma grande parte dos chamados “especialistas”, convidados a opinar e debater, e dos chamados “articulistas”, ou “formadores de opinião”, acaba cometendo uma fraude contra os cidadãos. Querem fazer crer que o que dizem são comentários objetivos, isentos, sem ideologia. Quando estão, na verdade, comprometidos com os interesses das empresas, do capital, do mercado.
Não assumir a visão ideológica é cinismo, empulhação. Dizem acreditar de fato que a mão invisível do mercado pode tudo, que o liberalismo é o que pode resolver os problemas existentes. Problemas esses resultantes essencialmente da mercantilização da energia elétrica, promovida pelos guardiões do pensamento do mercado a partir de 1995, e que culminou no racionamento de 2001/2002. Em 2004, depois de sofrer pequenas mudanças cosméticas, o Modelo do Setor Elétrico passou a ser chamado de “Novo Modelo do Setor Elétrico”.
Dizem que a situação vai de mal a pior por obra e culpa do governo de plantão. Falam em nome de uma ideologia à qual devotam uma crença inabalável, e prestam um desserviço aos interessados em informações, quando emitem opiniões baseados em um só lado da moeda. Partidarizam a discussão, fazem a luta política em um contexto no qual a política elétrica atual é uma continuação daquela de governos e partidos políticos que governaram o país desde o começo da Nova República. É o sujo falando do mal lavado.
O que esses “especialistas” não questionam é a existência de uma concentração de poderes e de um acentuado caráter autoritário na condução da política do setor elétrico no país, o que acaba subordinando o futuro ao presente. Verifica-se que, ao longo do tempo, feudos partidários foram instalados no governo federal, sendo um deles o Ministério de Minas e Energia, cujo segundo escalão concentra muitos órgãos com alto e forte poder de decisão financeira e administrativa. É uma excrescência este ministério, tão relevante e estratégico ao país, ser considerado como moeda de troca no “toma lá, dá cá” das composições políticas. E o loteamento político do atual Ministério de Minas e Energia repete fórmulas já usadas nos governos anteriores.
Preconiza-se, com urgência, uma maior publicização da questão energética na sociedade, incentivando o debate de ideias e o confronto de interesses em condições adequadas de informação e conhecimento, se constituindo assim em instrumentos fundamentais na formulação de uma estratégia energética sustentável e democrática. A democratização do planejamento do setor energético por meio da abertura de espaços efetivos e transparentes de participação e controle social é tarefa para ontem.
Dentre as medidas recentes tomadas para combater a crise elétrica, uma que se convencionou chamar de “realismo tarifário” promoveu um aumento desproporcional e despropositado das tarifas elétricas, beneficiando diretamente o caixa das distribuidoras, que exercem um forte lobby junto às autoridades do setor elétrico. Sem dúvida, energia mais cara acarretará menor consumo, que assim aliviará, em parte, a pressão sobre a demanda, i.e. sobre o sistema como um todo.
Entre essas e tantas, debater a regulação econômica da mídia é mais do que necessário é urgente. Somente assim poderemos almejar uma sociedade com mais pluralismo e mais democracia, com cidadãos que poderão olhar criticamente uma notícia sob variados pontos de vista e não apenas a partir da “verdade única” dos colunistas, dos “especialistas”, desses endeusadores do oráculo do mercado. (ecodebate)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Difícil e angustiante lutar contra usinas nucleares no Brasil

De como é difícil e angustiante lutar contra usinas nucleares no Brasil – Um pequeno testemunho
“Que Deus nos guarde disso, mas é muito maior entre nós a probabilidade de ‘catástrofes’, piores do que as de Chernobyl e de Fukushima” escreve Chico Whitaker, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, no artigo em que defende a extinção do programa nuclear brasileiro.
Eis o artigo.
(Este texto está sendo escrito e divulgado num momento de crises políticas, sociais e econômicas que estão criando muitas tensões no Brasil. Pode parecer que passo ao lado delas como se não existissem. O que ocorre, na verdade, é que não podemos parar nossas lutas porque as coisas fervem em outras áreas. Especialmente no caso do nuclear, em que cada dia que passa é crucial, como indico ao tratar de explicar o porquê de minha angustia. Mas aproveito para mandar um recado ao Ministro da Fazenda (no final da nota ix). Se ele o ouvir, será bom para nossa luta mas também para as demais…)
Se alguém do ainda pequeno grupo de brasileiros que lutam contra usinas nucleares no Brasil aborda uma pessoa conhecida ou desconhecida e toca no assunto de sua luta, a primeira reação é de surpresa: nuclear? O que é isso? Se perguntamos se lembram do que aconteceu há quatro anos em Fukushima, surge um pequeno laivo de interesse: Fukushima? Ah sim! O terremoto? O tsunami? Isso mesmo, mas também o acidente nas usinas nucleares… Ah sim, realmente… Mas na memória do nosso interlocutor o lugar, os fatos são tão longínquos, no tempo e no espaço! Nem tentemos lembrar a catástrofe anterior, ocorrida em Chernobyl em 1986, na então União Soviética…
Se insistimos em nossa conversa, dizendo que temos duas usinas nucleares funcionando no Brasil (são duas?) e uma terceira em construção, e que corremos riscos semelhantes, o espanto aumenta. Passam a nos olhar até com certa desconfiança. E se forem como eu, um pouco mais idosos, o olhar passa a ser penalizado e de condescendência: coitado do velhinho, a cabeça está começando a girar…
Os mais atenciosos (e informados) recordam uma notícia saída há pouco nos jornais: pois é, parece que a usina de Angra andou tendo uns defeitos e parando. Somos obrigados a dizer que de fato houve essa parada, mas a dizer também, em respeito à verdade, que isto acontece tão frequentemente que o apelido da velha usina que parou (Angra I) é vagalume: acende/apaga.
Temos então que aproveitar, diante da porta entreaberta pelo nosso interlocutor: o grande problema é a usina de Angra II e a nova, Angra III, que ficará pronta, segundo as promessas, em 2018. O projeto de construção de ambas foi elaborado nos anos 70, antes dos três maiores e mais conhecidos acidentes ocorridos com usinas nucleares: em Three Miles Island (nos Estados Unidos), em 1979, em Chernobyl (na então União Soviética), em 1986 e agora em Fukushima em 2011 (no Japão).
Para manter o interesse de nosso ouvinte completamos, rapidamente: a partir de Three Miles Island foi cunhado o conceito de acidente “severo”, para designar aqueles em que, por uma série de falhas técnicas ou humanas, o calor dentro da usina derrete o reator que está no centro de seu funcionamento. Pois bem: apesar de denúncia feita antes mesmo de Fukushima por especialistas em segurança, retomadas pelo Ministério Público Federal, nenhuma modificação foi introduzida no projeto para respeitar as novas normas editadas, a fim de evitar acidentes “severos”, pela Agencia Internacional de Energia Atômica após os acidentes dos Estados Unidos e da União Soviética.
Em geral os olhos de nosso interlocutor se arregalam um pouco. Damos-lhe então mais um susto: os equipamentos que estão sendo montados para que a usina de Angra III comece a funcionar foram comprados no início dos anos 80 e ficaram trinta anos encaixotados e, além de poderem estar obsoletos, os materiais e até o aço neles usado podem ter “trabalhado” e já não apresentarem a mesma resistência.
Deveríamos então parar a conversa e deixar que essa rara pessoa que teve a gentileza de nos ouvir converse com seus travesseiros. Mas em geral estamos tão preocupados com os riscos que nos cercam que tendemos a despejar nela, logo, toda a informação de que dispomos. Eu mesmo muitas vezes não consigo me conter porque, no meu caso, a questão me angustia, mais do que me preocupa. Talvez porque seja um neófito no assunto.
Na verdade, eu era tão desinformado quanto as pessoas que hoje abordo – para pedir, por exemplo, que assinem uma iniciativa popular proibindo usinas nucleares no Brasil (ver o formulário dessa iniciativa em www.xonuclear.net). Com a formação que recebi, inclusive na Universidade, pouco sabia dos problemas dos raios X que vivemos recebendo, das radiações descobertas por Pierre e Marie Curie que curam doenças, do que pesquisavam os físicos nucleares que conseguiram produzir a bomba atômica. Não sabia que recebemos continuamente, em nossa vida cotidiana, radiações de solos graníticos que contem urânio e radiações cósmicas quando viajamos de avião. Tinha pouca informação até mesmo do acidente radiológico de Goiânia em 1987, em que 19 gramas de césio 137 inadvertidamente manipulado vitimaram tanta gente. E pouco ou nada sabia da existência – e dos problemas – das minas de urânio no Brasil e no mundo.
Fui empurrado para dentro desse tema pouco antes de completar oitenta anos, por um casal de amigos da juventude que tinham participado, há trinta e cinco anos, da mobilização que conseguira impedir a construção de usinas nucleares em Jureia, no litoral sul de São Paulo. Eles já sabiam de coisas de que só agora vim a saber. Inclusive em sua luta naqueles tempos tinham pedido ao nosso grande poeta Carlos Drummond de Andrade que escrevesse algo a respeito, e ele redigiu uma Carta aos Deputados com muitos e impressionantes dados, que continua atualíssima (ver em www.xonuclear.net).
Meus amigos me disseram então que, frente à catástrofe que ocorrera no Japão, não podíamos, no Brasil, continuar passivos.
Comecei a ler, perguntar, ouvir, estudar, procurando entender o que estava acontecendo e porque milhares de pessoas em todo o mundo (menos no Brasil e em países cujos governos estão sendo ainda enganados pelo lobby nuclear) se mobilizam contra a opção de produzir eletricidade com energia nuclear. E quanto mais estudo, leio, ouço, mais angustiado vou ficando.
O “museu de horrores”
As consequências dos acidentes nucleares acabam por criar um verdadeiro “museu de horrores”.
Já na entrada da sua sala principal nos contam qual é o grande problema das usinas nucleares: seus operadores nunca serão capazes de evitar que falhas em seu funcionamento (os bons cientistas nos dizem que não há obra humana 100% segura) se encadeiem umas às outras, levando ao derretimento dos reatores, quando então fenômenos químicos incontroláveis provocam explosões.
Ora, essas explosões disseminam partículas radioativas em grande quantidade. Em Chernobyl, essa disseminação foi 1.000 vezes maior do que a provocada pela bomba atômica de Hiroshima. E a nuvem radioativa que se desprendeu cobriu toda a Europa. A disseminação dessas partículas pode ocorrer também por vazamentos em acidentes menores, chamados “incidentes” – sem fusão do reator nem explosões. Num caso ou noutro, no entanto, tais partículas levam milhares de anos (algumas, milhões de anos) para deixarem de emitir as chamadas “radiações ionizantes”, que provocam doenças – muitas fatais – nos seres vivos irradiados ou contaminados.
Por isso os acidentes com derretimento do reator e explosões são chamados tecnicamente de “severos”. Mas deveriam ser chamados mais propriamente de “catástrofes”: suas consequências são muito mais amplas, muito mais mortíferas e de muito mais longo prazo que os vazamentos ocorridos nos “incidentes”, assim como as de quaisquer outros acidentes naturais ou resultantes de ações humanas. Tive a oportunidade de visitar Fukushima e entender melhor o sentido da palavra “catástrofe”.
Na segunda sala do “museu” nos mostram o problema do lixo nuclear, tecnicamente chamado de “rejeito” ou “resíduo” nuclear. Ele resulta do funcionamento normal dos reatores, em que se produz calor (para obter o vapor d’água que, em alta pressão, moverá as turbinas que produzirão eletricidade) “quebrando” átomos de urânio (operação chamada tecnicamente de “fissão” de urânio, que teve que ser previamente “enriquecido” com átomos físseis). Esse “combustível”, que se tornou “lixo”, é composto de milhões de novos elementos, criados com a fissão: as partículas radioativas que se disseminam em caso de explosão.
Mas o “lixo radioativo” é composto também de tudo que foi utilizado para as usinas funcionarem, desde as luvas, “escafandros” e uniformes dos operadores que trabalhem em áreas radioativas, até às próprias peças do reator e dos edifícios que o abrigam, quando a usina for desmontada no momento, que sempre chegará, em que se complete seu “prazo de validade”.
Será então preciso “esconder”, por centenas ou milhares de anos , todo esse “produto” das usinas, para que a nossa e muitas gerações futuras não venham a ser por ele irradiadas ou contaminadas.
Não convém, na minha opinião, que pessoas mais impressionáveis visitem as salas seguintes do “museu”. São menos técnicas e um pouco menos frias. Mostram as consequências dos acidentes nos corpos de pessoas contaminadas com a radioatividade ou intensamente irradiadas, os diferentes tipos de doenças que as atingem, especialmente as crianças, o drama das populações evacuadas de locais onde houve acidentes, as malformações que surgem nos filhos que conseguem gerar.
Se conseguimos falar um pouco que seja desse “museu de horrores”, tentamos convencer as pessoas a se preocuparem com a questão nuclear fazendo paralelos entre o Brasil e o Japão. Por exemplo, lembrando que esse país é conhecido pelo seu avançado nível tecnológico e pela disciplina de sua população e apesar disso, a catástrofe ocorreu por lá. E que, se o Brasil está menos ameaçado por terremotos ou por tsunamis como os do Pacifico, os indígenas que viviam na praia de Angra em que se encontram nossas usinas a chamaram de Itaorna, o que em sua língua quer dizer Pedra Podre… Nem falemos dos deslizamentos de terra que já provocaram enormes dramas na região.
Ora, não estão sendo tomadas no Brasil as devidas precauções. Nós nos orgulhamos da nossa cultura criativa do “jeitinho”, mas dá para brincar com usinas nucleares, para evitar falhas técnicas, mal funcionamento de equipamentos, erros humanos na operação dos reatores? A irresponsabilidade fica evidente quando ouvimos nossas autoridades do setor afirmarem olimpicamente, depois e apesar do acidente de Fukushima, que nosso programa nuclear vai continuar em andamento, como previsto e, inclusive, com quatro novas usinas a serem construídas à beira do Rio São Francisco.
Por outro lado, que destino está sendo pensado no Brasil para o lixo atômico que já se acumula em Angra, nas chamadas “piscinas” em que tem que ser mantido permanentemente refrigerado, dentro dos edifícios dos reatores, para que não venha a explodir? Embora a Justiça Federal já tenha levantado algumas exigências, o problema está sendo “deixado para depois”.
Fui a Angra e vi a insuficiência das medidas de emergência a tomar em caso de acidente, a precariedade das chamadas “rotas de fuga”, a dimensão insignificante (depois dos desastres de Chernobyl e Fukushima), das áreas com população a evacuar imediatamente.
Que Deus nos guarde disso, mas é muito maior entre nós a probabilidade de “catástrofes”, piores do que as de Chernobyl e de Fukushima. Elas poderiam até interditar nossas belas cidades e praias da Costa Verde. Rio e São Paulo estariam a salvo de nuvens radioativas porque Deus, sendo brasileiro, certamente acionaria algum contra ciclone para impedir que elas chegassem a essas cidades? Temos diante de nós um típico “crime anunciado”.
Denunciar esse crime se torna, portanto uma obrigação de todos os brasileiros de bom senso. Mais do que, no entanto adequar Angra III às boas normas, teríamos que nos encaminhar para o total abandono da opção nuclear para produzir eletricidade, como já o fizeram a Alemanha, a Bélgica e a Suíça, que definiram prazos para desligar todas as suas usinas (cujo desmonte leva, aliás, tanto tempo e custa tanto dinheiro como construí-las), ou ainda na Itália, por decisão tomada por força de um plebiscito. Seria tristemente necessária mais uma “catástrofe” em algum lugar do mundo, para que os nucleocratas e os políticos que os seguem se vejam impossibilitados de defender essa opção?
Porque a angustia
Ler, ouvir e estudar ajuda a desmontar os mitos da energia limpa, barata e segura que os promotores da energia nuclear colocam em nossas cabeças de cidadãos comuns. Mas o que de fato angustia é que cada dia que passa é mais um dia de risco que corremos. E a cada dia que passa mais lixo nuclear se acumula nas entranhas das nossas usinas, sem que saibamos o que fazer dele.
Causa angustia também constatar que, por outro lado, quanto mais o tempo passa, depois do acidente de Fukushima, menos gente se interessa pelo que lá ocorre ou pela luta ainda incessante dos japoneses contra os vazamentos de agua que se tornou radioativa ao ser usada para resfriar os escombros dos reatores. Ou seja, a “catástrofe” a evitar, que mobilizaria as pessoas, não chega a preocupa-las porque se transforma em algo cada vez mais longínquo. E, enquanto isso, o lobby nuclear, nacional e internacional, ganha força e apoio na sociedade e no governo, com suas publicações, encontros, seminários, bolsas de estudo e propaganda enganosa, contando com muito dinheiro para mobilizar profissionalmente uma infinidade de técnicos, políticos, funcionários do governo, comunicadores, docentes universitários, jovens estudantes de física ou engenharia nuclear para manter e ampliar a opção nuclear na matriz energética brasileira.
Na verdade, nossa tarefa é difícil porque queremos chamar a atenção para uma hipótese pavorosa, mas de fato ela é somente uma hipótese. É como se estivéssemos numa planície povoada de um grande e diversificado número de pessoas entregues aos seus afazeres e lutas. Mais adiante, no horizonte, uma montanha como as que gostamos de fotografar no sol nascente ou poente. Sabemos que atrás dela há uma máquina terrível, um verdadeiro monstro mecânico impessoal, que acumula em suas entranhas, continuamente, perigosos elementos radioativos que produz ao se alimentar. Sua aparência não é assustadora, pelo contrário. Muito bem pintado de cores tranquilas, compõe-se bem com a paisagem atrás da montanha, e até com os rios e mares de que necessita para se refrigerar. E os seres humanos que o fazem funcionar cuidam dele numa azáfama continua, tem alto nível técnico e cientifico e explicam a quem lhes pergunte e a quem não lhes pergunte o bem que fazem à espécie humana.
Mas sabemos que o monstro, mais dia menos dia, sem nos avisar e quando menos o esperarmos, pode escapar do controle dos que pensam que o dominam e vomitar na planície, por sobre a montanha, milhões de “seres radioativos” totalmente invisíveis, que penetrarão na terra, na água, nas plantas, nos animais, nos nossos corpos, ou pairarão no ar para que os respiremos, ou até que uma “chuva negra” os baixe para mais perto de nós. Muitos de nós morreremos em curto ou médio prazo e nossa planície se tornará inabitável, com a radioatividade que nela penetrou insistindo em impedir a vida e em promover mutações genéticas nos animais, plantas e seres humanos.
Dizemos então aos nossos amigos e inimigos: para sobrevivermos todos – sejamos ricos ou pobres, velhos ou jovens, mulheres ou homens, de esquerda ou de direita – paremos a máquina antes que ela nos faça esse mal, e a desmontemos, enterrando seus pedaços o mais fundo que pudermos, porque estão todos radioativos.
Eles nos dizem então: mas temos tantos problemas a resolver! Dificuldades econômicas do país/ reforma política/ democratização do poder/ pedidos de impeachment/ crise hídrica/ corrupção e ganância/ luta por moradia e saúde/ aquecimento global/ desmatamentos e desertificação/ acidificação dos oceanos e buraco de ozônio/ discriminação racial/ loucuras da geo-engenharia/ avidez da mineração e dos investidores/ necessidade de abandonar os combustíveis fosseis/ consumismo e produção industrial mundial desenfreada destruindo a natureza/ liberdade de expressão e orientação sexual/ terceira guerra mundial que parece que já começou/ barbárie do terrorismo que decapita como na Revolução Francesa ou queima vivo como na Inquisição ou dos drones que matam indiscriminadamente soldados, líderes políticos, civis, mulheres e crianças/ violência nas cidades, etc., etc., etc.! É muita coisa urgente, importante a resolver se quisermos chegar a um convívio humano pacifico e duradouro! E temos que conscientizar muita gente que não desvia os olhos de seus umbigos! Não dá para perder o foco disso tudo só por causa dessa máquina que está silenciosamente iluminando nossas casas!
Temos que dizer: sim, mas… a máquina está ali atrás da montanha, fora de nosso horizonte visual e mental, prontinha para nos destruir a todos, apesar de suas pacatas aparências… Livremo-nos logo do monstro! E se de repente ele destrambelhar? Nem teremos mais tempo nem condição para nos dedicarmos à solução dos demais problemas. Tudo de bom que tivermos construído terá que ser abandonado… E olhem que é extremamente fácil encerrar agora mesmo o assunto: basta uma emenda em nossa Constituição.
O pânico
Não sei se em nossas leis a criação de pânico é tipificada como crime de terrorismo. Mas se insistirmos muito em chamar a atenção, na planície, para a gravidade da ameaça do monstro escondido atrás da montanha, é possível que comecemos a criar certo pânico, que não se conseguiria aplacar nem com a grande quantidade de recursos que o lobby nuclear despeja nos cofres das prefeituras da região que seria mais atingida por um acidente. Poderemos ser processados por isso, inventando-se figuras jurídicas tão criativas como o “domínio do fato”, como se fez no episódio do mensalão. E serão muito duros conosco porque a questão nuclear está, no Brasil e outros lugares, na mão de militares. E para militares, guerra é guerra.
Melhor trabalhar para juntar comunicadores que inventem formas e meios de alertar as pessoas do “crime anunciado” das usinas de Angra dos Reis. E juntar técnicos, cientistas, docentes universitários dispostos a desmontar as mistificações com que nossas autoridades conseguem manter a opção nuclear. E a levar nossos políticos a se informarem um pouquinho mais. O que precisamos é acordar – sem esperar que o monstro comece a rosnar – e mobilizar um número suficiente de habitantes da planície para que pressionem os poderes constituídos, porque só isso pode levá-los a desmontar a linda máquina – infernal – que a ciência foi capaz de construir.
Mas para terminar num tom positivo e esperançoso – pensando especialmente nos que dizem que precisamos de alternativas se encerrarmos o programa nuclear – não deixa de ser animador constatar que, no Fórum Social Temático sobre Energia em agosto de 2014, o então candidato e atual governador de Brasília assumiu o compromisso de transformar nossa Capital Federal na primeira Cidade-Sol brasileira, movida prioritariamente pela energia solar. A Frente por uma nova Política Energética no Brasil está mobilizando ativamente toda a ajuda que pode, inclusive pela boa utilização do Acordo Brasil Alemanha de 2008 sobre energias renováveis, para que ele consiga cumprir esse compromisso. Todos estão vivamente convidados a participar desse esforço. (ecodebate)