Usinas operam abaixo da
capacidade devido à excassez de chuva na região sul e no rio Paranapanema;
níveis de água nos reservatórios estão baixos.
A carência de chuvas
durante o fim do ano é a principal causa apontada para explicar o baixo nível
de água registrado nos reservatórios das hidrelétricas da região. O período de
seca pelo qual passou o sul do país, aliado à falta de chuvas na bacia do rio
Paranapanema, ocasionou um quadro atípico nas usinas hidrelétricas dessa
região. Desde setembro, nas usinas de reservatório, como Chavantes e Jurumirim,
o índice de operação está funcionando praticamente abaixo da metade, cuja média
normal é da ordem de 60%.
No país o
funcionamento das usinas é interligado, com a produção energética coordenada
pelo ONS (Operador Nacional do Sistema), que abrange todas as geradoras de
energia do país. As áreas são atendidas conforme a demanda regional. Se há um
baixo nível de água num determinado local, é necessário aumentar a geração numa
segunda região para compensar a área com déficit.
De acordo com
Fabiana Colturato Aidar, gerente adjunta de Comunicação da Duke Energy, empresa
concessionária de 8 hidrelétricas do rio Paranapanema — incluindo a de
Chavantes —, as usinas localizadas nessa bacia hidrográfica participaram desse
processo. “Devido à seca no sul, as usinas do sudeste, nas quais estamos
incluídos, tiveram que produzir mais energia para compensar a carência que lá
vinha ocorrendo”, explica.
Localizada na divisa
entre os estados de São Paulo e Paraná, a bacia do Paranapanema está sobre
influência das regiões sul e sudeste e experimentou com mais intensidade a
carência de chuvas gradativa nesse final de ano. “Por essa razão o nível foi
abaixando, em certos casos, chegando aos piores já registrados pela empresa”,
afirma.
É o caso da
hidrelétrica de Capivara, que registra o pior nível dos últimos 75 anos. Por
ser um reservatório de acumulação, a exemplo de Chavantes e Jurumirim, a
operação é controlada, a ponto de reservar a água num cenário de cheia. Porém,
no caso de baixo nível de água, como ocorre em decorrência da falta de chuvas,
o procedimento não tem o mesmo efeito. De acordo com informações do Centro de
Operação de Geração da Duke Energy (COG), que funciona 24 horas
ininterruptamente, a hidrelétrica de Chavantes está operando com a capacidade
de 28%, menos da metade da marca ideal — que seria entre 60% e 70%. Em
Jurumirim a capacidade nominal é de 31,5%. Na UHE de Capivara, cuja situação é
a mais crítica, a operação está em 14%. “Essa situação começou a se complicar
em setembro, quando passamos a registrar uma baixa gradativa no nível dos
reservatórios”, lembra Aidar.
O baixo nível da
água nas UHEs de operação levou a Duke Energy a realizar eventos em cidades
dessas regiões, com a participação de prefeituras, Defesa Civil, Polícia
Ambiental e Corpo de Bombeiros. O objetivo é esclarecer à população local e
ribeirinha a atual situação dos reservatórios.
No caso da UHE de
Chavantes, a diminuição do nível da represa causou o reaparecimento de pedras e
troncos de árvores que estavam submersos desde a década de 70. A recomendação
da empresa é de que as pessoas evitem utilizar essas áreas.
“Nós passamos a
divulgar os riscos dessas áreas para a população, pois começam a ficar
descobertas algumas ilhas e lugares onde as pessoas passam a pescar e acampar.
Recomendamos que as pessoas não venham até esses locais, pois são áreas
inseguras, podendo haver variação do nível da água em relação às outras
usinas”, aponta. A potência da hidrelétrica de Chavantes é de 414 MW, o
suficiente para abastecer de forma contínua uma área de cerca de 1 milhão de
habitantes.
Embora a situação
atual seja incomum, a gerente da Duke relata que as atividades se desenvolvem
normalmente, com uma produção menor de energia, já que o nível está abaixo do
normal. “A recuperação desses reservatórios deve acontecer na medida em que
chova bastante e isso deve levar um certo tempo. Se continuar chovendo, em
fevereiro a situação deve se equilibrar. Porém, se a média ficar abaixo do
esperado, a situação pode se complicar, pois o Paranapanema não está entre os
lugares mais úmidos neste momento”, descreve.
Além de Chavantes,
Jurumirim e Capivara, também estão localizadas no Paranapanema as UHEs de Salto
Grande, Canoas I e II, Taquaruçu e Rosana, todas sob concessão da Duke Energy.
A capacidade total instalada é de 2.237 megawatts, sendo responsáveis pela
geração de cerca de 3% de toda a energia produzida no país.
Sobre uma possível
correlação com a crise energética, a representante da Duke Energy Internacional
diz que o contexto de uma eventual falta de energia é um cenário próprio do
sistema brasileiro, motivado principalmente por questões referentes a
investimentos no setor de geração de energia. “A região sudeste do Brasil está
com boom de potencial energético. A situação do Paranapanema é muito localizada
e regional, decorrente da seca que houve no sul e da carência de chuva nessa
bacia mesmo. Em termos de Brasil, o conceito é mais complexo e diferente”,
explica. (uol)
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