“Em vez de prestar atenção aos alertas dos
cientistas, a primeira administração de Dilma Roussef dobrou a posta na causa
do problema climático: o governo subsidiou os combustíveis fósseis e deu
incentivos a compra de carros.”
Em seu pronunciamento à nação na noite do dia
8 de março, por ocasião do Dia da Mulher, a presidente Dilma Rousseff deu um
passo importante: reconheceu que a “grave crise climática” que o Brasil
atravessa é uma componente do quadro de deterioração econômica e ebulição
social que emerge no país. Dilma, porém, chama a seca de “coincidência” e de
“situação passageira”. Ao fazê-lo, não apenas ignora dados produzidos por seu
próprio governo, como também perde mais uma oportunidade de atacar um problema
de frente, deixando fermentar crises futuras.
O país vem desde 2011 enfrentando períodos de
secas anormais, que atingiram o Nordeste e também o Centro-Sul, onde se
concentra a população brasileira, onde é gerada a maior parte da nossa energia
hidrelétrica e onde é produzida a maior parte dos alimentos que chegam à nossa
mesa.
Diferentemente do que sugeriu a presidente,
porém, a seca e seu impacto sobre a população não são obra do acaso: verões
mais secos e quentes no Centro-Sul e no Nordeste do país são esperados num
cenário de mudanças climáticas causadas por emissões de gases de efeito estufa. Modelos regionais de clima produzidos pelo INPE,
um órgão do governo federal, sob encomenda da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República, indicam que a tendência do clima para
a região neste século é de mais calor e menos chuva. O desmatamento acumulado
na Amazônia pode estar contribuindo para agravar esse quadro. Relatório após
relatório, o IPCC, o painel do clima da ONU, vem apontando que a frequência de
eventos climáticos extremos está aumentando.
O novo clima do país veio para ficar, e novos
recordes de estiagem ou de enchente são imprevisíveis – mas sabemos que eles
virão. São dados que estão, para usar uma frase da própria Dilma, “ao alcance
de todos e de todas”.
Em vez de prestar atenção aos alertas dos
cientistas, a primeira administração de Dilma Rousseff dobrou a aposta na causa
do problema climático: o governo subsidiou os combustíveis fósseis e deu
incentivos à compra de carros. Quando as hidrelétricas começaram a secar,
expandiu a geração por termelétricas fósseis. O então ministro de Minas e
Energia, numa atitude irresponsável, exortou a população a consumir mais,
quando deveria ter adotado um amplo programa de eficiência energética e redução
de consumo – que talvez nos poupasse de estar agora à beira do racionamento.
Essas atitudes, aliadas à confusão regulatória da renovação das concessões de energia,
transformaram um evento climático extremo numa crise nacional. O novo Código
Florestal, que reduz a proteção de matas ciliares, expõe os habitantes dos
biomas Mata Atlântica e Cerrado a mais efeitos da seca no futuro.
O governo brasileiro precisa parar de fingir
que o clima do país não mudou enquanto fica torcendo pela chuva e pedindo
“paciência e compreensão” dos brasileiros que estão pagando mais pela energia e
pela comida. Se quiser construir uma saída duradoura para a crise atual, a
presidente Dilma Rousseff precisa levar as mudanças climáticas e as energias
renováveis a sério. Quem sabe aqui esteja o verdadeiro “pacto nacional” capaz
de dar um novo rumo a seu segundo mandato. (ecodebate)
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