Famílias
têm terras regularizadas e sobrevivem com dinheiro de arrendamento.
A paisagem de Maria Domerina Tavares de Lira, que há
44 anos mora na Fazenda Ameixa II, é nova. Nos últimos meses, o quintal de
terra batida, protegido apenas por uma cerca feita de galhos secos, ganhou um
novo elemento: uma gigantesca torre de aço com quase 100 metros de altura, que
em breve vai gerar energia elétrica com a força do vento para toda a população
brasileira. Dona de 45 hectares de terra, Maria Domerina tem dois desses “cata-ventos”
em sua propriedade. “A empresa queria construir três torres, mas fiquei com
medo de tomarem minhas terras e só deixei colocarem duas. Qualquer coisa tinha
uma área de reserva”, diz a dona de casa, que recebe R$ 1,3 mil por mês para
arrendar parte de seu lote.
Família de Rafael Andrade vive com dinheiro de
arrendamento
Aposentada e com cinco filhos sem emprego fixo, o
dinheiro do arrendamento tem sido uma salvação. Antes a família vivia de duas
aposentadorias, dela e da mãe, que morreu. Agora o dinheiro das torres tem
bancado as contas e ainda dá para fazer alguns reparos na casa, de sete cômodos.
A primeira providência, diz ela, foi pintar o imóvel que há anos não recebia
uma “mão de tinta”. Também comprou arame para substituir a cerca de galhos.
“Hoje em dia me arrependo de não ter deixado construírem mais uma torre. A
renda seria maior”, diz ela, que tem 69 anos.
No município de Parazinho, o cenário de um antigo
assentamento também tem tido mudanças radicais, não apenas pelas dezenas de
torres eólicas no entorno da comunidade. Com o dinheiro dos 32 aerogeradores
instalados na propriedade, cada uma das 29 famílias tem direito a R$ 1 mil por
mês. O reflexo da renda extra está no amontoado de areia, pedra e cimento em
frente às residências, quase todas em reforma. “Fiz um alpendre (varanda),
troquei o portão e dividimos o lote com muros”, diz o morador Atiliano Carlos
de Souza, que vive na casa com a mulher Maria de Fátima da Silva e Souza.
Para ele, no entanto, o melhor benefício do parque
eólico, construído pela CPFL, é a regularização da terra da comunidade. O local
era uma fazenda que foi comprada com dinheiro do Banco da Terra. O problema é
que as famílias, que sobrevivem da agricultura familiar (milho, feijão e
mandioca), não conseguiram pagar as parcelas anuais e ficaram inadimplentes.
“Mas, com a construção do parque, o acordo foi que a empresa pagaria a dívida e
descontaria do nosso pagamento durante cinco anos”, diz Souza. Portanto, dos R$
1 mil a que cada morador tem direito, a empresa tem pagado R$ 500.
O casal Rafael Luiz de Andrade e Maria Anunciada
Silva reclama do desconto. “Por enquanto, estamos recebendo pouco por causa da
dívida, mas acreditamos que vai aumentar”, diz Andrade. Mesmo assim, eles já
construíram uma cozinha nova e planejam um novo alpendre. “Se não tivesse esse
dinheiro, teríamos de ir embora daqui, pois não tem o que fazer, não tem onde
trabalhar.”
Projetos sociais. Os projetos eólicos – e em breve
os solares – não trazem benefício apenas para a população que arrenda suas
terras. Carentes de emprego e de auxílio do Estado, muitos moradores precisam
só de um empurrão, como a aposentada Rita Francisca da Silva, que mora num
assentamento próximo de João Câmara. Com a ajuda de um programa social montado
pela CPFL, ela e outras 79 famílias estão conseguindo plantar culturas como
milho, mandioca e algumas verduras. “Neste ano, a seca não tem ajudado muito,
mas agora temos uma bomba de água para irrigar parte da plantação. O único
problema é que o custo da energia elétrica é alta”, diz ela, que mora no local
há 20 anos.
A presidente de uma associação de deficientes em
João Câmara, Eunice Maria Xavier, também tem comemorado a construção dos
parques eólicos no Estado. Depois de anos de luta, ela conseguiu ampliar o
espaço onde atende 149 associados e ganhou novos equipamentos para a produção
de vassouras e sabão. As vassouras são feitas com garrafa pet e o sabão, de
óleo de cozinha. A produção é vendida nos supermercados da região e na
associação. “O principal entrave é a falta de matéria-prima para fazer as
vassouras. É difícil encontrar garrafas pet por aqui.” (OESP)
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