segunda-feira, 30 de março de 2015

Parques eólicos trazem melhorias para a população

Famílias têm terras regularizadas e sobrevivem com dinheiro de arrendamento.
A paisagem de Maria Domerina Tavares de Lira, que há 44 anos mora na Fazenda Ameixa II, é nova. Nos últimos meses, o quintal de terra batida, protegido apenas por uma cerca feita de galhos secos, ganhou um novo elemento: uma gigantesca torre de aço com quase 100 metros de altura, que em breve vai gerar energia elétrica com a força do vento para toda a população brasileira. Dona de 45 hectares de terra, Maria Domerina tem dois desses “cata-ventos” em sua propriedade. “A empresa queria construir três torres, mas fiquei com medo de tomarem minhas terras e só deixei colocarem duas. Qualquer coisa tinha uma área de reserva”, diz a dona de casa, que recebe R$ 1,3 mil por mês para arrendar parte de seu lote.
Família de Rafael Andrade vive com dinheiro de arrendamento
Aposentada e com cinco filhos sem emprego fixo, o dinheiro do arrendamento tem sido uma salvação. Antes a família vivia de duas aposentadorias, dela e da mãe, que morreu. Agora o dinheiro das torres tem bancado as contas e ainda dá para fazer alguns reparos na casa, de sete cômodos. A primeira providência, diz ela, foi pintar o imóvel que há anos não recebia uma “mão de tinta”. Também comprou arame para substituir a cerca de galhos. “Hoje em dia me arrependo de não ter deixado construírem mais uma torre. A renda seria maior”, diz ela, que tem 69 anos.
No município de Parazinho, o cenário de um antigo assentamento também tem tido mudanças radicais, não apenas pelas dezenas de torres eólicas no entorno da comunidade. Com o dinheiro dos 32 aerogeradores instalados na propriedade, cada uma das 29 famílias tem direito a R$ 1 mil por mês. O reflexo da renda extra está no amontoado de areia, pedra e cimento em frente às residências, quase todas em reforma. “Fiz um alpendre (varanda), troquei o portão e dividimos o lote com muros”, diz o morador Atiliano Carlos de Souza, que vive na casa com a mulher Maria de Fátima da Silva e Souza.
Para ele, no entanto, o melhor benefício do parque eólico, construído pela CPFL, é a regularização da terra da comunidade. O local era uma fazenda que foi comprada com dinheiro do Banco da Terra. O problema é que as famílias, que sobrevivem da agricultura familiar (milho, feijão e mandioca), não conseguiram pagar as parcelas anuais e ficaram inadimplentes. “Mas, com a construção do parque, o acordo foi que a empresa pagaria a dívida e descontaria do nosso pagamento durante cinco anos”, diz Souza. Portanto, dos R$ 1 mil a que cada morador tem direito, a empresa tem pagado R$ 500.
O casal Rafael Luiz de Andrade e Maria Anunciada Silva reclama do desconto. “Por enquanto, estamos recebendo pouco por causa da dívida, mas acreditamos que vai aumentar”, diz Andrade. Mesmo assim, eles já construíram uma cozinha nova e planejam um novo alpendre. “Se não tivesse esse dinheiro, teríamos de ir embora daqui, pois não tem o que fazer, não tem onde trabalhar.”
Projetos sociais. Os projetos eólicos – e em breve os solares – não trazem benefício apenas para a população que arrenda suas terras. Carentes de emprego e de auxílio do Estado, muitos moradores precisam só de um empurrão, como a aposentada Rita Francisca da Silva, que mora num assentamento próximo de João Câmara. Com a ajuda de um programa social montado pela CPFL, ela e outras 79 famílias estão conseguindo plantar culturas como milho, mandioca e algumas verduras. “Neste ano, a seca não tem ajudado muito, mas agora temos uma bomba de água para irrigar parte da plantação. O único problema é que o custo da energia elétrica é alta”, diz ela, que mora no local há 20 anos.
A presidente de uma associação de deficientes em João Câmara, Eunice Maria Xavier, também tem comemorado a construção dos parques eólicos no Estado. Depois de anos de luta, ela conseguiu ampliar o espaço onde atende 149 associados e ganhou novos equipamentos para a produção de vassouras e sabão. As vassouras são feitas com garrafa pet e o sabão, de óleo de cozinha. A produção é vendida nos supermercados da região e na associação. “O principal entrave é a falta de matéria-prima para fazer as vassouras. É difícil encontrar garrafas pet por aqui.” (OESP)

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