sexta-feira, 10 de abril de 2015

Patrick Moore: entusiasta da energia nuclear

Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, diz que o Brasil tem a rara oportunidade de criar um parque energético baseado em duas fontes limpas de energia, a hidrelétrica e a nuclear.
Patrick Moore é hoje um entusiasta da energia nuclear, que ele considera, ao lado da hidrelétrica, a tecnologia mais limpa existente para produzir eletricidade. Atualmente ele é o cientista-chefe da Greenspirit Strategies, uma empresa de consultoria em assuntos de sustentabilidade e energia com sede em Vancouver, no Canadá, da qual é co-fundador. Moore falou ao repórter Roberto Machado.
A construção de hidrelétricas enfrenta a resistência dos ambientalistas. Eles têm razão?
O Brasil está numa posição ideal, pois tem a possibilidade de aumentar sua capacidade hidrelétrica. É um absurdo a existência de ambientalistas que são contra hidrelétricas. Deve-se ter cuidado ao fazer um reservatório, para ter certeza de que as espécies que lá habitam também existam em outros lugares, onde possam ser protegidas. Mas, em geral, a geração hidrelétrica é a melhor forma de energia renovável, ao lado da nuclear, porque é limpa, sustentável e não custa caro.
Não seria melhor investir na geração de energia eólica?
O problema da energia eólica é que sua instalação é muito cara, custa de duas a três vezes mais que uma usina elétrica bem localizada. Além disso, ela não é constante. Produz durante, no máximo, 30% do tempo. O que significa que nos 70% restantes é preciso extrair energia elétrica de outra fonte. A melhor sinergia possível do sistema eólico ocorre em conjunto com a geração hidrelétrica ou a gás, pois é necessário dispor de uma fonte de energia confiável e que se possa acionar e desligar rapidamente para contrabalançar os picos de geração eólica. Isso não é possível com uma usina termelétrica a carvão ou nuclear. Mas se deve levar em conta quanto custaria aumentar a capacidade de geração hidrelétrica versus o preço de implementação de fazendas eólicas. Por que investir em uma fonte duas a três vezes mais cara que o custo hidrelétrico?
A energia nuclear, que o senhor defende, está em declínio desde 2007. O que mudou?
Existe um declínio na porcentagem de energia nuclear, mas também temos de considerar que existem 56 novos reatores em construção no mundo, muitos deles na Ásia. A China, a líder nesse setor, está construindo vinte reatores. Chegará um momento em que as pessoas perceberão que, se quiserem a redução do uso dos combustíveis fósseis, deverá haver um aumento de energia nuclear. Não há alternativa.
Por que a energia nuclear enfrenta tanta resistência?
As pessoas que são contra esse tipo de energia estão preocupadas com o lixo nuclear. Na verdade, mais de 95% do potencial de energia permanece nesse lixo, o que o transforma em nosso mais importante recurso energético para o futuro. São milhares de anos de combustível nuclear que precisamos resguardar com segurança para uso das futuras gerações. Fala-se sobre o lixo nuclear como se houvesse pessoas morrendo em todo lugar por causa dele, quando, de fato, ninguém está sendo prejudicado e não existe probabilidade de que venha a ser num futuro próximo.
O senhor considera a energia nuclear a melhor opção?
Devido a isso, acredito que essa é a melhor opção. Se quisermos parar de queimar tanto combustível fóssil, trata-se da opção de maior confiabilidade e baixo custo. O Brasil, por exemplo, tem a boa opção de combinar energia nuclear com hidrelétricas. A única ressalva é que não se devem colocar todas as opções em uma única tecnologia.
Por que os ambientalistas se opõem à energia nuclear?
Nas décadas de 70 e 80, os ambientalistas fizeram a conexão entre energia nuclear e armas nucleares, ou algo do tipo, e decidiram que ela era malévola. Por causa deles é que tantas usinas termelétricas a carvão foram construídas nos Estados Unidos, China e Europa. Se não se deviam construir usinas nucleares, a opção que restava era a construção de usinas a carvão. De certo modo, o movimento verde foi responsável pela proliferação de termelétricas a carvão.
A possibilidade de uma falha de segurança em uma usina nuclear não justifica o temor que ela provoca?
Esse é um ponto muito interessante. O que ocorreu em Chernobyl foi um fato único e simplesmente não pode se repetir em outros reatores no mundo. O projeto da usina ucraniana era um desastre e foi um erro humano estúpido que causou a explosão. Devido ao modo como foram projetados, não é fisicamente possível que os reatores existentes nos Estados Unidos, Brasil, Argentina, China e França venham a explodir. De qualquer forma, Chernobyl foi o único acidente na história da indústria nuclear que causou perda de vidas.
O senhor gostaria de morar perto de uma usina nuclear?
Já me perguntaram isso na TV. Minha resposta foi: "Eu ficaria feliz vivendo dentro de uma usina, porque sei, pelas estatísticas, que está entre os lugares mais seguros do mundo!". É melhor olhar o histórico. É fácil fazer previsões desastrosas para o futuro. Mas são previsões, não fatos.
As possíveis consequências de um desastre, mesmo que pequenas, não seriam suficientemente fortes para desestimular o avanço da energia nuclear?
Não poderia ocorrer desastre maior numa usina nuclear do que a poluição causada pelas usinas a carvão atuais. (abril)

Nenhum comentário: