Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, diz
que o Brasil tem a rara oportunidade de criar um parque energético baseado em
duas fontes limpas de energia, a hidrelétrica e a nuclear.
Patrick Moore é hoje um entusiasta da energia
nuclear, que ele considera, ao lado da hidrelétrica, a tecnologia mais limpa
existente para produzir eletricidade. Atualmente ele é o cientista-chefe da
Greenspirit Strategies, uma empresa de consultoria em assuntos de
sustentabilidade e energia com sede em Vancouver, no Canadá, da qual é co-fundador.
Moore falou ao repórter Roberto Machado.
A construção de hidrelétricas enfrenta a
resistência dos ambientalistas. Eles têm razão?
O Brasil está numa posição ideal, pois tem a
possibilidade de aumentar sua capacidade hidrelétrica. É um absurdo a
existência de ambientalistas que são contra hidrelétricas. Deve-se ter cuidado
ao fazer um reservatório, para ter certeza de que as espécies que lá habitam
também existam em outros lugares, onde possam ser protegidas. Mas, em geral, a
geração hidrelétrica é a melhor forma de energia renovável, ao lado da nuclear,
porque é limpa, sustentável e não custa caro.
Não seria melhor investir na geração de energia
eólica?
O problema da energia eólica é que sua instalação é
muito cara, custa de duas a três vezes mais que uma usina elétrica bem
localizada. Além disso, ela não é constante. Produz durante, no máximo, 30% do
tempo. O que significa que nos 70% restantes é preciso extrair energia elétrica
de outra fonte. A melhor sinergia possível do sistema eólico ocorre em conjunto
com a geração hidrelétrica ou a gás, pois é necessário dispor de uma fonte de
energia confiável e que se possa acionar e desligar rapidamente para
contrabalançar os picos de geração eólica. Isso não é possível com uma usina
termelétrica a carvão ou nuclear. Mas se deve levar em conta quanto custaria
aumentar a capacidade de geração hidrelétrica versus o preço de implementação
de fazendas eólicas. Por que investir em uma fonte duas a três vezes mais cara
que o custo hidrelétrico?
A energia nuclear, que o senhor defende, está em
declínio desde 2007. O que mudou?
Existe um declínio na porcentagem de energia
nuclear, mas também temos de considerar que existem 56 novos reatores em
construção no mundo, muitos deles na Ásia. A China, a líder nesse setor, está
construindo vinte reatores. Chegará um momento em que as pessoas perceberão
que, se quiserem a redução do uso dos combustíveis fósseis, deverá haver um
aumento de energia nuclear. Não há alternativa.
Por que a energia nuclear enfrenta tanta
resistência?
As pessoas que são contra esse tipo de energia
estão preocupadas com o lixo nuclear. Na verdade, mais de 95% do potencial de
energia permanece nesse lixo, o que o transforma em nosso mais importante
recurso energético para o futuro. São milhares de anos de combustível nuclear
que precisamos resguardar com segurança para uso das futuras gerações. Fala-se
sobre o lixo nuclear como se houvesse pessoas morrendo em todo lugar por causa
dele, quando, de fato, ninguém está sendo prejudicado e não existe
probabilidade de que venha a ser num futuro próximo.
O senhor considera a energia nuclear a melhor
opção?
Devido a isso, acredito que essa é a melhor opção.
Se quisermos parar de queimar tanto combustível fóssil, trata-se da opção de
maior confiabilidade e baixo custo. O Brasil, por exemplo, tem a boa opção de
combinar energia nuclear com hidrelétricas. A única ressalva é que não se devem
colocar todas as opções em uma única tecnologia.
Por que os ambientalistas se opõem à energia
nuclear?
Nas décadas de 70 e 80, os ambientalistas fizeram a
conexão entre energia nuclear e armas nucleares, ou algo do tipo, e decidiram
que ela era malévola. Por causa deles é que tantas usinas termelétricas a
carvão foram construídas nos Estados Unidos, China e Europa. Se não se deviam
construir usinas nucleares, a opção que restava era a construção de usinas a
carvão. De certo modo, o movimento verde foi responsável pela proliferação de
termelétricas a carvão.
A possibilidade de uma falha de segurança em uma
usina nuclear não justifica o temor que ela provoca?
Esse é um ponto muito interessante. O que ocorreu
em Chernobyl foi um fato único e simplesmente não pode se repetir em outros
reatores no mundo. O projeto da usina ucraniana era um desastre e foi um erro
humano estúpido que causou a explosão. Devido ao modo como foram projetados,
não é fisicamente possível que os reatores existentes nos Estados Unidos,
Brasil, Argentina, China e França venham a explodir. De qualquer forma,
Chernobyl foi o único acidente na história da indústria nuclear que causou
perda de vidas.
O senhor gostaria de morar perto de uma usina
nuclear?
Já me perguntaram isso na TV. Minha resposta foi:
"Eu ficaria feliz vivendo dentro de uma usina, porque sei, pelas
estatísticas, que está entre os lugares mais seguros do mundo!". É melhor
olhar o histórico. É fácil fazer previsões desastrosas para o futuro. Mas são
previsões, não fatos.
As possíveis consequências de um desastre, mesmo
que pequenas, não seriam suficientemente fortes para desestimular o avanço da
energia nuclear?
Não poderia ocorrer desastre maior numa usina
nuclear do que a poluição causada pelas usinas a carvão atuais. (abril)
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