Fukushima e o ataque dos javalis radioativos
Desde o desastre de 2011, a
população de javalis aumentou mais de 300% - e eles estão espalhando radiação
por todo lado.
Fukushima tem lutado para se
reerguer depois da explosão da usina nuclear, há 5 anos. Em abril/16, por
exemplo, o governo anunciou a construção de uma muralha de gelo para
conter a água contaminada que ainda está vazando da usina. Outra questão é
a radiação, que tomou conta da cidade e tem causado danos genéticos
em insetos, pássaros e macacos - algumas borboletas, por exemplo, não conseguem
mais sair do casulo e bater as asas direito. Agora, um novo problema tem
atormentado as autoridades locais: uma população cada vez maior de javalis
radioativos tem tomado conta dos arredores de Fukushima e invadido plantações,
causando quase US 1 milhão em prejuízos para os fazendeiros locais. E o pior:
as autoridades não têm ideia de como contê-los.
Esses
porcos selvagens têm usado as casas e lojas abandonadas na cidade como refúgios
para a reprodução. Por isso, desde a evacuação, seus números explodiram,
passando de 3 mil para 13 mil. O problema é que, ao se alimentar
de plantas e outros animais menores, os bichos se contaminaram com césio, uma
substância radioativa e cancerígena. Os biólogos que estudam Fukushima não entendem
muito bem o por quê, mas a radiação não parece fazer mal aos javalis, embora
seja muito prejudicial para os seres humanos. Então, caçar os porcos para comer
está fora de questão - o que contribui para o crescimento cada vez mais
desenfreado da sua população.
População de javalis triplicou nos arredores de Fukushima.
População de javalis triplicou nos arredores de Fukushima.
Desde
2011, a polícia tem oferecido recompensas para os caçadores matarem os porcos
selvagens. Mas esta solução está ficando insustentável, porque é muito difícil
se livrar das carcaças: além de pesadas (um javali macho pesa em torno de 90 kg),
elas são radioativas, e por isso seu descarte pede um cuidado especial. Não dá
para simplesmente enterrá-las em qualquer lugar, porque cachorros e outros
bichos acabam cavando e encontrando os porcos mortos, comendo a carne
contaminada e, enfim, piorando tudo. Por enquanto, as autoridades
disponibilizam valas comuns para os javalis, mas há pouco espaço: só cabem 600
carcaças nas que existem hoje, e elas estão ficando cheias bem rápido.
Queimar
os javalis também não é possível, porque a fumaça espalharia as partículas radioativas,
contaminando outras cidades e ainda mais seres vivos. Existe um lugar
específico para incinerar materiais radioativos, mas ele só consegue se livrar
de três javalis por dia. Ou seja, em um ano, as autoridades só conseguiriam
descartar 1.092 carcaças, um número bem menor que o total de 13 mil - lembrando
que, em condições tão favoráveis, eles não vão parar de se reproduzir.
É
comum que animais vivam em espaços abandonados pelos seres humanos após
desastres naturais. Foi o que aconteceu em Chernobyl, palco de um dos maiores
acidentes nucleares que o mundo já viu: os números de veados, lobos, ursos,
linces e javalis triplicaram, mesmo com pelo menos um terço deles contaminados
com radioatividade - e olha que, por lá, o desastre aconteceu em 1986. Os
biólogos que estudam esses desastres explicam que a radiação faz mal para os
animais - mas a presença humana faz pior. Isso explica porque eles gostam tanto
de áreas abandonadas, mesmo com a radioatividade. (abril)
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