Especialistas dizem que
cadeia produtiva da energia solar precisa de incentivos
Para atender a demanda por
energia brasileira é importante a ampliação das energias renováveis na matriz
energética do país. A energia solar fotovoltaica pode ser uma boa opção. Mas
para que esse setor se desenvolva no Brasil é importante a ampliação de
políticas industriais no ponto de vista de instalação de sistemas, mas também
na cadeia produtiva.
Para o presidente-executivo
da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Abesolar), Rodrigo
Lopes Sauaia os fabricantes que querem se estabelecer no Brasil não têm
condições de competir em termos de preço com o produto importado.
Apenas 20% dos insumos e
maquinários estão incluídos no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico
da Indústria de Semicondutores e Displays (PADIS). "O Brasil tem que
ampliar e incluir todos os anexos dos componentes faltantes no programa,
visando a redução da carga tributária para os fabricantes nacionais",
afirma.
Assim, o equipamento
produzido no Brasil sem o apoio de uma política industrial é muito mais caro
que o equipamento internacional por causa da excessiva carga tributária
incidente sobre os insumos e maquinários. "No Brasil, a carga tributária
da matéria-prima é de 40% a 50% mais cara do que fora do país, principalmente
em comparação com a Ásia", revela.
O sócio-diretor da Neosolar
Energia, Raphael Pintao concorda com a Abesolar. "É muito complicado para
um fabricante se estabelecer no Brasil. A carga tributária dificulta a
competição com fabricantes estrangeiros, especialmente os chineses. Resumindo,
o custo de fabricar no Brasil é mesmo mais alto, porém em alguns casos pode ser
compensado pelo financiamento mais barato, como do BNDES", explica.
O gargalo da indústria
nacional são os módulos e a células fotovoltaicas. Para Rafael, o Padis é
positivo, porém não é suficiente. "O reflexo é que pouco se vê de concreto
em termos de fabricação nacional. Há muitos anúncios de fábricas, mas nada de
concreto, ainda que este cenário esteja mudando aos poucos, afinal até dois
anos atrás também havia muito pouca demanda se compararmos com o cenário
atual", explica.
José Renato Colaferro,
Diretor de Operações da Blue Sol - Energia Solar pontua que o Padis possibilita
a diminuição da carga tributária, principalmente para os fabricantes de
equipamentos de energia solar fotovoltaica, provocando um efeito benéfico as
empresas, impactando na diminuição dos custos de matéria-prima e,
consequentemente, torna os sistemas solares mais baratos, o que por sua vez
torna os sistemas mais atrativos aos consumidores finais.
Para ele apesar de haver
carga tributária alta, o Brasil já apresenta os fundamentos necessários para um
mercado de energia solar relevante. "Temos, por exemplo, alta
disponibilidade solar em todo território nacional, tarifas elétricas altas, que
melhoram o retorno sobre investimento em um sistema fotovoltaico e um mercado
potencial de dezenas de milhões de consumidores. O país também precisa de
geração distribuída de energia, dado os atrasos nas linhas de transmissão e a
tendência a diminuição de grandes obras hidroelétricas no futuro, substituídas
pela geração mais próxima do consumo e descentralizada", pontua.
Outra lei que beneficia em
parte essa produção é a Lei da Informática, que concede incentivos fiscais para
empresas do setor de tecnologia, enquadrando cabos, conectores, eletrônicos e
inversores.
Para todos os especialistas
ainda há muito a ser feito para melhorar o ambiente da energia fotovoltaica no
Brasil. Falta a adesão por parte dos estados ao convênio do Confaz, que isenta
o ICMS sobre a exportação de energia. Apenas Goiás, Pernambuco e São Paulo
assinaram esse acordo. Também podem ser criados mecanismos que melhorem a
atratividade do solar do ponto de vista dos grandes consumidores de energia,
para os quais o retorno hoje ainda é menor do que para clientes residenciais.
"A criação de melhores linhas de financiamento para a energia solar por
parte de instituições financeiras também teria um impacto muito positivo",
explica Colaferro.
Energia mais barata
Para implantar um sistema de
energia fotovoltaica em uma residência de tamanho médio, com quatro moradores,
com um consumo médio por mês de 200 a 250 KW/h por mês, o investimento varia de
R$ 5 a 25 mil. O período de pagamento do investimento em redução da conta de
energia será de seis a, no máximo, 12 anos.
E para atrair mais micro
produtores entraram em vigor em março novas regras. A Resolução Normativa
687/2015, da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que atualiza a REN
482/2012 é um marco do setor.
Uma dos destaques é a
autorização de que vizinhos e condôminos podem gerar e compartilhar a própria
energia. Além disso, a Aneel aumentou os limites de potência instalada. O teto
para a modalidade de microgeração foi estabelecido em 75 kW. Os microgeradores
ainda estão autorizados a utilizar a energia em um local diferente daquele onde
ela é produzida.
Com relação aos procedimentos
necessários para se conectar à rede da distribuidora, a Aneel estabeleceu
regras que simplificam o processo. Assim, foram instituídos formulários padrão
para realização da solicitação de acesso pelo consumidor e o prazo total para a
distribuidora conectar usinas de até 75 kW, que era de 82 dias, foi reduzido
para 34 dias.
De acordo com as novas regras, o prazo de validade dos
créditos na conta de luz passou de 36 para 60 meses, sendo que eles podem
também ser usados para abater o consumo de unidades consumidoras do mesmo
titular situadas em outro local, desde que na área de atendimento de uma mesma
distribuidora. (udop)
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