O número de
multinacionais comprometidas a usar energias renováveis está crescendo. É o
caso do Google, Ikea e Mars.
Em 2012, a Ikea teve destaque na imprensa
internacional com a promessa de usar fontes de energia renovável em todas as
suas lojas até 2020. Em mqio/16 a HP – multinacional da área de tecnologia com
sede nos EUA – assumiu o mesmo compromisso, prometendo alterar todo o seu
sistema de energia para fontes renováveis até 2020. O fato de a Ikea e a HP
estipularem o mesmo prazo para a mudança, apesar da diferença de quatro anos
entre as promessas, mostra uma grande mudança em direção à geração de energias
renováveis. Quando a Ikea fez a sua promessa, a empresa estava em processo de
construção da sua própria instalação de geração de energia. Atualmente, quatro
anos depois, a HP possui muitas outras opções.
Além dessas empresas, existem diversas outras
migrando para energias renováveis. Como parte da sua iniciativa, a HP assinou
um compromisso com a RE100, juntando-se a multinacionais como Google,
Starbucks, Novo Nordisk e Goldman Sachs. A RE100 é uma iniciativa global em que
as empresas mais influentes do mundo se comprometem a usar eletricidade 100%
renovável e trabalham para criar um crescimento na demanda corporativa por esse
tipo de energia. A iniciativa foi lançada há menos de dois anos por uma aliança
de empresas e organizações sem fins lucrativos.
De acordo com um relatório liberado pela aliança no
último mês, as empresas parceiras já mudaram, em média, metade das suas fontes
de energia para renováveis, sendo que algumas já atingiram suas metas.
Esse é um momento decisivo para empresas
interessadas em acelerar a mudança para energias renováveis. A constante queda
no preço das energias renováveis – energia solar caiu mais de 50% desde 2008 –
representa uma opção certa para a sustentabilidade corporativa. Diversas
empresas já perceberam as vantagens financeiras: o uso de fontes de energia
renováveis significa menos preocupações com a instabilidade dos preços dos
combustíveis fósseis.
“Nós vemos esse fato como um segredo para os
negócios sustentáveis”, explica Kevin Rabinovitch, diretor global de
sustentabilidade da Mars, Inc. “Preservar o planeta também pode economizar seu
dinheiro”.
No entanto, de forma geral, legisladores,
reguladores e prestadores de serviços ainda não entenderam a vontade das
corporações em adotarem fontes de energia sustentáveis. Apesar da melhora nos
preços, não é tão fácil adquirir energias renováveis ao mesmo custo das
energias convencionais em algumas localidades, devido a leis locais e
limitações de abastecimento, conforme o relatório publicado pela organização
não governamental de responsabilidade corporativa Ceres. Além disso, alguns
países, incluindo os EUA, têm apresentado inconsistência no apoio às energias
renováveis, tornando o acesso a essas fontes menos evidente.
As empresas participantes da RE100 oferecem
diversas possibilidades de acesso a 100% de energia renovável, seja comprando
créditos de energias renováveis (RECs), seja comprando energia limpa direto dos
produtores ou gerando energia no local.
Os RECs permitem que as companhias compensem o uso
de energia tradicional, garantindo que a quantidade equivalente de energia
gasta seja gerada por meio de fontes renováveis. No entanto, essa é uma medida
controversa e algumas empresas investigam detalhadamente os RECs, antes de
comprarem, para ter certeza de que eles estão de acordo com os seus princípios
ambientais e sociais. A Steelcase, por exemplo, só compra RECs gerados por
projetos sem emissão de carbono. No caso da SAP, multinacional do setor de tecnologia,
que tem o objetivo de tornar-se ainda mais sustentável, a empresa desenvolveu
um guia de compras que exige padrões bem específicos dos fornecedores.
“Apenas consideramos a compra de eletricidade
renovável produzida por meio de biomassa, se a produção não estiver ligada ao
carvão ou outro combustível fóssil e se a biomassa não estiver ligada ao
desmatamento”, explica o responsável ambiental global da SAP, Marcus Wagner.
“Além disso, nós exigimos que as usinas não tenham mais de dez anos, pois queremos
incentivar a inovação na produção de energia renovável”, completa.
O próximo passo no caminho das energias renováveis
será a compra dessas energias por meio de grandes produtores de energia eólica
ou solar para atender parte das necessidades das empresas. Algumas empresas já
estão realizando parcerias com fornecedores de energia para construir usinas de
energia solar ou eólica. A Mars fez uma parceria com a Sumitomo para a
construção de uma usina eólica no Texas com 118 turbinas, 200 megawatts, lançada
em 2015. Atualmente, a instalação produz eletricidade equivalente a 100% das
necessidades de energia da empresa nos EUA, o que elevou sua participação de
energia renováveis a 25% do seu uso global.
No ano passado, o Walmart fez uma parceria com a
Pattern Energy em outra usina eólica no Texas, comprometendo-se a comprar
metade da energia produzida pela instalação com capacidade de 200 megawatts.
Essa parceria corresponde a 18% da energia utilizada pela empresa nos EUA. O
Walmart já atingiu 32% do seu objetivo de usar apenas energia renovável.
Poucas empresas geram diretamente parte da sua
energia elétrica. Uma dessas exceções é a Gloogle, que possui atualmente 37% do
seu consumo energético total baseado em fontes de energia renovável. A Google
usa uma combinação de compra de energia renovável de fontes próximas às suas
instalações e investimento em projetos renováveis para atingir a sua meta,
incluindo uma planta solar de 1,9 megawatts na sua sede na Califórnia, que é
capaz de gerar 30% da necessidade energética nos horários de pico de uso
energético. O tamanho, o sucesso e a vontade da Google de ser o líder mundial
em sustentabilidade são exemplos para a indústria.
O processo de mudança para energia renovável, no
entanto, nem sempre é tranquilo. O entendimento completo do assunto, inclusive
como as energias são geradas, como comprá-las e como apoiar tecnologias
inovadoras, pode ser um desafio. Para evitar esse tipo de dificuldade, o
Walmart e outras 11 empresas decidiram criar em 2014 o grupo chamado Corporate
Renewable Energy Buyers’ Principles, uma organização que promove novas ideias e
tecnologias, tornando mais fácil a adoção de energias renováveis por empresas.
Entre as sugestões dadas pela organização, estão a criação de contratos em
longo prazo e acesso a financiamentos.
Outras fontes de informação sobre o assunto também
estão sendo criadas. John DeAngelis, responsável pelas energias renováveis do
departamento de sustentabilidade da Steelcase, falou sobre o Business
Renewables Center, parte da organização não governamental Rocky Mountain
Institute, localizada no Colorado. A organização é focada em encontrar soluções
voltadas a energias limpas, transportes eficientes e construções sustentáveis. O
Business Renewables Center da RMI trabalha oferecendo conselho para empresas
com o objetivo de migrar para as energias renováveis.
Diversas empresas participantes estão descobrindo
que o comprometimento com energias renováveis oferece muito mais vantagens do
que apenas o sentimento de fazer o que é certo. Além disso, a presença de
grandes corporações no mercado dos renováveis contribui com a criação de uma
demanda estável.
“O Walmart e outras grandes empresas comprometidas
com o uso de energias renováveis geram certa garantia ao mercado e incentivam
novos investimentos, o que ajuda a reduzir os custos para todo mundo”, explica
Gardner. (renenergyobservatory)
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