domingo, 22 de maio de 2016

Grandes empresas investem para tornarem-se 100% renováveis

O número de multinacionais comprometidas a usar energias renováveis está crescendo. É o caso do Google, Ikea e Mars.
Em 2012, a Ikea teve destaque na imprensa internacional com a promessa de usar fontes de energia renovável em todas as suas lojas até 2020. Em mqio/16 a HP – multinacional da área de tecnologia com sede nos EUA – assumiu o mesmo compromisso, prometendo alterar todo o seu sistema de energia para fontes renováveis até 2020. O fato de a Ikea e a HP estipularem o mesmo prazo para a mudança, apesar da diferença de quatro anos entre as promessas, mostra uma grande mudança em direção à geração de energias renováveis. Quando a Ikea fez a sua promessa, a empresa estava em processo de construção da sua própria instalação de geração de energia. Atualmente, quatro anos depois, a HP possui muitas outras opções.
Além dessas empresas, existem diversas outras migrando para energias renováveis. Como parte da sua iniciativa, a HP assinou um compromisso com a RE100, juntando-se a multinacionais como Google, Starbucks, Novo Nordisk e Goldman Sachs. A RE100 é uma iniciativa global em que as empresas mais influentes do mundo se comprometem a usar eletricidade 100% renovável e trabalham para criar um crescimento na demanda corporativa por esse tipo de energia. A iniciativa foi lançada há menos de dois anos por uma aliança de empresas e organizações sem fins lucrativos.
De acordo com um relatório liberado pela aliança no último mês, as empresas parceiras já mudaram, em média, metade das suas fontes de energia para renováveis, sendo que algumas já atingiram suas metas.
Esse é um momento decisivo para empresas interessadas em acelerar a mudança para energias renováveis. A constante queda no preço das energias renováveis – energia solar caiu mais de 50% desde 2008 – representa uma opção certa para a sustentabilidade corporativa. Diversas empresas já perceberam as vantagens financeiras: o uso de fontes de energia renováveis significa menos preocupações com a instabilidade dos preços dos combustíveis fósseis.
“Nós vemos esse fato como um segredo para os negócios sustentáveis”, explica Kevin Rabinovitch, diretor global de sustentabilidade da Mars, Inc. “Preservar o planeta também pode economizar seu dinheiro”.
No entanto, de forma geral, legisladores, reguladores e prestadores de serviços ainda não entenderam a vontade das corporações em adotarem fontes de energia sustentáveis. Apesar da melhora nos preços, não é tão fácil adquirir energias renováveis ao mesmo custo das energias convencionais em algumas localidades, devido a leis locais e limitações de abastecimento, conforme o relatório publicado pela organização não governamental de responsabilidade corporativa Ceres. Além disso, alguns países, incluindo os EUA, têm apresentado inconsistência no apoio às energias renováveis, tornando o acesso a essas fontes menos evidente.
As empresas participantes da RE100 oferecem diversas possibilidades de acesso a 100% de energia renovável, seja comprando créditos de energias renováveis (RECs), seja comprando energia limpa direto dos produtores ou gerando energia no local.
Os RECs permitem que as companhias compensem o uso de energia tradicional, garantindo que a quantidade equivalente de energia gasta seja gerada por meio de fontes renováveis. No entanto, essa é uma medida controversa e algumas empresas investigam detalhadamente os RECs, antes de comprarem, para ter certeza de que eles estão de acordo com os seus princípios ambientais e sociais. A Steelcase, por exemplo, só compra RECs gerados por projetos sem emissão de carbono. No caso da SAP, multinacional do setor de tecnologia, que tem o objetivo de tornar-se ainda mais sustentável, a empresa desenvolveu um guia de compras que exige padrões bem específicos dos fornecedores.
“Apenas consideramos a compra de eletricidade renovável produzida por meio de biomassa, se a produção não estiver ligada ao carvão ou outro combustível fóssil e se a biomassa não estiver ligada ao desmatamento”, explica o responsável ambiental global da SAP, Marcus Wagner. “Além disso, nós exigimos que as usinas não tenham mais de dez anos, pois queremos incentivar a inovação na produção de energia renovável”, completa.
O próximo passo no caminho das energias renováveis será a compra dessas energias por meio de grandes produtores de energia eólica ou solar para atender parte das necessidades das empresas. Algumas empresas já estão realizando parcerias com fornecedores de energia para construir usinas de energia solar ou eólica. A Mars fez uma parceria com a Sumitomo para a construção de uma usina eólica no Texas com 118 turbinas, 200 megawatts, lançada em 2015. Atualmente, a instalação produz eletricidade equivalente a 100% das necessidades de energia da empresa nos EUA, o que elevou sua participação de energia renováveis a 25% do seu uso global.
No ano passado, o Walmart fez uma parceria com a Pattern Energy em outra usina eólica no Texas, comprometendo-se a comprar metade da energia produzida pela instalação com capacidade de 200 megawatts. Essa parceria corresponde a 18% da energia utilizada pela empresa nos EUA. O Walmart já atingiu 32% do seu objetivo de usar apenas energia renovável.
Poucas empresas geram diretamente parte da sua energia elétrica. Uma dessas exceções é a Gloogle, que possui atualmente 37% do seu consumo energético total baseado em fontes de energia renovável. A Google usa uma combinação de compra de energia renovável de fontes próximas às suas instalações e investimento em projetos renováveis para atingir a sua meta, incluindo uma planta solar de 1,9 megawatts na sua sede na Califórnia, que é capaz de gerar 30% da necessidade energética nos horários de pico de uso energético. O tamanho, o sucesso e a vontade da Google de ser o líder mundial em sustentabilidade são exemplos para a indústria.
O processo de mudança para energia renovável, no entanto, nem sempre é tranquilo. O entendimento completo do assunto, inclusive como as energias são geradas, como comprá-las e como apoiar tecnologias inovadoras, pode ser um desafio. Para evitar esse tipo de dificuldade, o Walmart e outras 11 empresas decidiram criar em 2014 o grupo chamado Corporate Renewable Energy Buyers’ Principles, uma organização que promove novas ideias e tecnologias, tornando mais fácil a adoção de energias renováveis por empresas. Entre as sugestões dadas pela organização, estão a criação de contratos em longo prazo e acesso a financiamentos.
Outras fontes de informação sobre o assunto também estão sendo criadas. John DeAngelis, responsável pelas energias renováveis do departamento de sustentabilidade da Steelcase, falou sobre o Business Renewables Center, parte da organização não governamental Rocky Mountain Institute, localizada no Colorado. A organização é focada em encontrar soluções voltadas a energias limpas, transportes eficientes e construções sustentáveis. O Business Renewables Center da RMI trabalha oferecendo conselho para empresas com o objetivo de migrar para as energias renováveis.
Diversas empresas participantes estão descobrindo que o comprometimento com energias renováveis oferece muito mais vantagens do que apenas o sentimento de fazer o que é certo. Além disso, a presença de grandes corporações no mercado dos renováveis contribui com a criação de uma demanda estável.
“O Walmart e outras grandes empresas comprometidas com o uso de energias renováveis geram certa garantia ao mercado e incentivam novos investimentos, o que ajuda a reduzir os custos para todo mundo”, explica Gardner. (renenergyobservatory)

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