O crescimento das energias renováveis e a redução das
emissões na China
O
governo Donald Trump, com apoio do Partido Republicano, está na contramão da
história e está possibilitando uma passagem histórica do bastão da liderança
global dos Estados Unidos para a China em tecnologia do clima e das fontes de
energia renovável.
A
nova administração norte-americana está abandonando a liderança das ações de
mitigação das mudanças climáticas, além de reduzir o financiamento em energia
limpa e abraçar os investimentos em carvão mineral e petróleo – as fontes sujas
de energia do passado, que os especialistas dizem não poder criar um grande
número de novos empregos sustentáveis. Ao mesmo tempo, a China está reduzindo o
uso de carvão e apostando fortemente em energia renovável, que é claramente a
maior fonte de empregos permanentes de alta remuneração nos próximos anos.
Artigo
de Joe Romm (28/02/2017) mostra que, de fato, Pequim planeja investir US$ 360
bilhões apenas em geração renovável até 2020. A agência de energia chinesa diz
que o “emprego resultante será de mais de 13 milhões de pessoas”.
Como
expõe o gráfico acima, em 2016, o consumo de carvão chinês caiu pelo terceiro
ano consecutivo, enquanto instalou quase o dobro de painéis solares, como em
2015, que também foi um ano recorde. E essas tendências continuarão em 2017. A
meta da China de instalação de capacidade solar para 2020 provavelmente será
alcançada em 2018, o que não deixa de ser uma façanha bastante impressionante.
A
China já se tornou o país líder mundial em ações climáticas, já que suas
próprias emissões de CO2 se estabilizaram e diminuíram desde 2013.
Mas o que Pequim realmente quer é que a próxima geração de tecnologias
energéticas venha da China. E que este processo crie empregos, reduza a pobreza
e aumente a influência do país no resto do mundo.
O
artigo de Joe Romm mostra que, tragicamente para os trabalhadores americanos,
enquanto os EUA ajudaram a pavimentar o caminho para um acordo com a China, e
depois um acordo global, foi eleito um presidente que fez campanha travando uma
batalha perdida para estancar a perda de empregos de combustíveis fósseis. Assim
como no caso do carvão, os postos de trabalho na área de petróleo estão
diminuindo devido à automação e à maquinaria avançada, e não à regulação
estatal.
O
gráfico abaixo (Simon Göss, 13/02/2017) mostra que em um ano a China
acrescentou quase a mesma geração de energia renovável que a geração total de
energia renovável da Alemanha, de acordo com as estatísticas de janeiro de 2016
pela Administração Nacional de Energia da China e pelo Conselho de Eletricidade
da China. No entanto, a fonte de eletricidade do país continua dependendo
fortemente do carvão. Mas o que o gráfico mostra é que as fontes não fósseis
(eólica, solar e nuclear) foram as que mais cresceram em 2016.
Artigo
de Macarena Liy, em El País, mostra que, em apenas oito anos, a China, o maior
emissor mundial, deu uma guinada de 180 graus em sua política para a mudança
climática. Durante anos, o carvão foi vital para a China: é sua principal fonte
de energia, tanto que o país responde por cerca de metade do consumo mundial. Mas
também está na raiz de muitos de seus problemas: é a causa de 70% de sua
poluição mais perigosa. Mas, pelo terceiro ano consecutivo, a China reduziu seu
consumo desse mineral. Com os cortes, a proporção desse combustível fóssil na
matriz energética chinesa caiu de 64% para 62%. Os dados indicam que a China,
que se comprometeu a começar a reduzir suas emissões a partir de 2030, está em
via de cumprir a meta de manter o consumo de carvão abaixo dos 4,1 bilhões de
toneladas e reduzir para 58% até 2020 o peso desse combustível em suas
necessidades energéticas.
Artigo
de Bridgette Burkholder (07/04/2017) resume as 5 maneiras pelas quais a China
está assumindo a liderança na luta contra as mudanças climáticas e acelerando a
implantação da economia de baixo carbono:
1. A
capacidade solar da China cresceu 82% no ano passado;
2. O
consumo de carvão da China caiu por três anos consecutivos;
3. A
China planeja investir pelo menos US$ 360 bilhões em geração de energia
renovável até 2020;
4.
Os empregos em energia renovável estão crescendo na China. A energia renovável
já emprega 3,5 milhões de pessoas e espera que novos investimentos criem mais
13 milhões de empregos no setor até 2020;
5. A
China pretende ter cinco milhões de veículos elétricos na estrada até 2020.
Sem
dúvida, a China está fazendo um esforço concentrado e planejado para liderar a
mudança da matriz energética de forma que atenda aos novos acordos climáticos,
mas também que garanta muito dinheiro e influência para o país. O avanço
tecnológico e o crescimento das energias renováveis de fato devem contribuir
para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Mas o monopólio
tecnológico e comercial chinês pode ser uma nova fonte de conflito mundial e
pode ser mais um motivo para a permanência da pobreza e a desigualdade global.
Assim,
enquanto o governo Barack Obama passou anos tentando puxar a China para um
Acordo Global do Clima, agora no governo Donald Trump as coisas se inverteram e
é provável que a China passe à liderança do processo de mitigação do
aquecimento global. Os papéis das duas superpotências foram trocados. Talvez
isto reflita o fato de que os EUA são uma potência em declínio relativo e a
China, para o bem ou para o mal, seja uma potência em ascensão. (ecodebate)
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