Como Fazer o Planejamento
Estratégico de Empresas Integradoras de Energia Solar?
Em fóruns e blogs
especializados do setor de energia fotovoltaica, assim como em artigos
acadêmicos, muito se aborda sobre os desafios técnicos da tecnologia e da
legislação vigente. Contudo, pouco se fala sobre o planejamento estratégico
nesse setor, um assunto de igual importância para os empresários. Uma gestão
eficiente das empresas integradoras é vital para o desenvolvimento do segmento
solar, pois essas organizações são responsáveis por todo o processo de contato
com o cliente final, aquisição dos equipamentos, dimensionamento do sistema,
projeto, trâmites na concessionária, monitoramento e O&M (operação e
manutenção) do sistema.
Toda empresa demanda
planejamento e cada segmento industrial tem as suas especificidades, assim a
técnica da construção estratégica pode ser aplicada com atenção aos detalhes.
Os pressupostos aqui assumidos consideram que a estratégia é influenciada pelo
contexto concorrencial, tecnológico e institucional no qual a organização está
inserida, assim como, por sua capacidade de aprender e pelas suas capacidades
competitivas internas.
A lucratividade de uma
empresa integradora é definida tanto pelo exterior quanto pelo interior da
firma. Na Figura 1, observa-se que o segmento determina quanto uma empresa é
lucrativa, assim como a lucratividade também é em razão do posicionamento da
organização nessa indústria.
No
caso da indústria de energia solar, as atuais perspectivas de crescimento
demonstram que é um segmento que irá aumentar significativamente o seu pool
(faturamento total do segmento). Para facilitar a compreensão, pode-se fazer
uma analogia ao dizer que a indústria aumentando o seu volume de negócios, é
como um bolo que aumenta de tamanho para então ser repartido (PORTER, 2008).
Figura 1 – Equação da lucratividade de uma
empresa
O outro fator determinante da
lucratividade depende da própria empresa, de seu posicionamento e de sua
capacidade de competir (Figura 1). O planejamento estratégico abrange a eleição
de somente algumas posições dentro do segmento industrial, exigindo que sejam
feitos trade-off (escolhas), elencando apenas as posições que a empresa terá
condições de defender (PORTER, 1996).
A primeira análise é sobre a
capacidade de lucratividade do segmento industrial, realiza-se por meio da
Estrutura das Cinco Forças Competitivas (Figura 2). O segundo estudo é a
definição do posicionamento e do formato da Cadeia de Valor.
Figura 2 – As Cinco Forças Competitivas que
modelam a estratégia
O MODELO DAS CINCO FORÇAS
COMPETITIVAS
O modelo das Cinco Forças
Competitivas foi construído para o entendimento da estrutura e a possível
influência por parte da empresa na modificação de uma indústria (PORTER, 2008):
a) Ameaça de novos entrantes:
quanto menores as barreiras de entrada de novos competidores maior é a ameaça
de novos entrantes, portanto, mantendo a lucratividade do segmento moderada.
b) Poder de barganha de
fornecedores: quando existem poucos fornecedores para os insumos da indústria,
eles são capazes de manter uma significativa parte do valor final do produto ou
serviço para eles.
c) Poder de barganha de
clientes: é o caso onde os clientes conseguem reter a uma maior parcela da
receita em uma cadeia de produção.
d) Ameaça de produtos ou
serviços substitutos: são os produtos que fornecem frutos ou resultados
parecidos através de outro modo modus operandis. Quanto maior a chance de
surgir um serviço ou produto substituto, menor a margem de lucro do segmento.
e) Rivalidade entre
competidores existentes: a disputa entre os concorrentes pode abaixar
significamente o nível de lucratividade do segmento, caso esta concorrência
seja baseada unicamente em descontos e em baixos preços finais.
Considera-se que há conexão
entre a estratégia empresarial e o formato do segmento industrial. A empresa deve
se atentar aos conceitos de criação de manutenção de suas vantagem
competitivas, por meio do posicionamento e determinação de sua Cadeia de Valor
(Figura 1).
A vantagem competitiva é
alcançada por meio das atividades da Cadeia de Valor da organização, tais ações
são ajustadas de maneira única e integrada, de acordo com o posicionamento
determinado (PORTER, 1985). O posicionamento é determinado com base em apenas
um dentre dois critérios: preço baixo com eficiência operacional ou proposta única
de valor (premium) aos consumidores e clientes (PORTER, 1996).
A empresa também deve se ater
às barreiras como aos incentivos oferecidos pelo ambiente concorrencial
estratégico e legal. Considera-se que sempre existe uma diferença entre o que
se planejou e o que foi possível de ser executado, assim, a organização ajusta
as suas ações estratégicas para dar continuidade e para se realinhar em direção
a seguir a sua visão. Isto exige que a empresa compreenda quais são os fatores
do contexto ambiental que interferem na sua estratégia e que faça uma revisão de
suas ações continuamente.
Vale
ressaltar que as informações geradas a partir do questionário abaixo não devem
ser um segredo e que a comunicação efetiva do posicionamento da empresa para o
mercado pode evitar problemas, disputas desnecessárias e facilitar os negócios.
Considerando os pressupostos teóricos expostos acima, propõe-se um roteiro para
que uma empresa INTEGRADORA construa o seu próprio Planejamento Estratégico
(PORTER, 1996; PORTER, 2008; MORAIS NETO; PEREIRA, 2014; MORAIS NETO 2016).
1. Definição do Negócio
Principal (Core Business)
O negócio principal visa
preservar o núcleo de valores que direcionaram a organização do passado em
direção ao progresso. Quais são as respostas para a sua INTEGRADORA?
1.1. Quais são os
valores principais da INTEGRADORA? (de três a cinco).
1.2. Qual é o negócio
principal da INTEGRADORA (missão/core business)?
1.3. Qual é o objetivo
no longo prazo da INTEGRADORA (visão)?
1.4. Quais são os
fatores críticos ao sucesso da INTEGRADORA? São as práticas e táticas que a sua
organização precisa estar cuidando para ser competitiva.
1.5. Quais são as práticas e
as táticas que a INTEGRADORA adota que não estão dando satisfatoriamente certo
e devem ser aperfeiçoadas?
2. Análise do Modelo de
Negócio: Estratégia da INTEGRADORA no setor de Energia Fotovoltaica –
Proposição de Valor Único.
2.1. Escolha das atividades
que serão realizadas (Ex: instalação, projeto, O&M).
2.2. Escolha das atividades
que não serão realizadas (Ex: distribuição e O&M).
2.3. Levantamento e análise
de preços de empresas do setor fornecedoras de módulos fotovoltaicos,
inversores e estruturas de fixação e de proteção elétrica.
2.4. Definição do
POSICIONAMENTO: produtos premium (produtos com valores e qualidade superior) ou
eficiência em custos (produtos mais baratos e serviços com custos enxutos)?
2.5. Definição do segmento da
sociedade que a empresa irá manter relação comercial, o público-alvo é definido
a partir de dados demográficos considerando objetivos mercadológicos.
2.6. Definição especifica das
necessidades destes potenciais consumidores, consumidores e clientes a serem
atendidos.
2.7. Como os produtos e
serviços oferecidos pela INTEGRADORA se distinguirão dos concorrentes atuais e
futuros?
2.8. Elencar os principais serviços
e produtos oferecidos.
2.9. Elencar os serviços ou
produtos mais diferenciados oferecidos.
2.10. Determinar os serviços
ou produtos que mais fornecem rentabilidade à INTEGRADORA.
2.11. Determinar as situações
e/ou canais de compra que mais trazem rentabilidade à INTEGRADORA.
2.12. Identificar e elencar
em ordem decrescente os clientes mais rentáveis. Saber as causas dessa maior
rentabilidade.
2.13. Verificar a
configuração da Cadeia de Valor (conjunto de atividades para a realização
do serviço ou produto) para oferecer o preço de acordo com o posicionamento
escolhido.
2.14. Como identificar e
retirar os custos que não colaboram para oferecer a proposição de valor único
determinada anteriormente?
2.15. De que maneira esta proposição
única de valor pode ser vastamente difundida dentro da INTEGRADORA?
3. Análise do Segmento
Industrial - Determinar a Estrutura da Indústria Fotovoltaica
3.1. Definir o principal
segmento de atuação da INTEGRADORA (Ex: Grupo B de alto padrão; com consumo somente
acima de 5.000 kWh/mês; residencial; comercial; industrial).
3.1.1 Qual a margem de lucro
média do segmento de distribuidores de kits fotovoltaicos?
3.1.2. Qual a margem de lucro
média do segmento de geração centralizada?
3.1.3. Qual a margem de lucro
média do segmento de geração distribuída?
3.2. Qual é o local onde a
INTEGRADORA irá competir? (Ex: escolha estratégica de atuar somente sob a área
de concessão de determinadas concessionárias
que possuem tarifa elevada).
4. De acordo com o exposto na
Figura 2, elencar os participantes mais relevantes de cada um dos segmentos de
atuação fundamentais da INTEGRADORA:
4.1. Quais os principais compradores
do segmento? (Força 1).
4.2. Quais os principais
fornecedores do segmento? (Força 2).
4.3. Quais os principais
competidores do segmento? (Força 3).
4.4. Quais são os principais
produtos substitutos? (Força 4).
4.5. Quais são os principais
entrantes potenciais nesse segmento? (Força 5).
4.6. Considerando as
informações acima, quais destas cinco forças são as controladoras e
determinantes da lucratividade do segmento industrial?
4.7. A condição observada
acima é consistente e provavelmente continuará determinando a lucratividade no
longo prazo?
4.8. Quais são as
características desta estrutura que têm a possibilidade de serem modificadas ou
influenciadas por parte da INTEGRADORA, ou por novos entrantes ou por
concorrentes?
5. Levantar a legislação
pertinente ao setor de energia solar fotovoltaica que influencia nos negócios
da INTEGRADORA.
5.1. Leis federais, estaduais
e municipais.
5.2. Políticas públicas de
incentivo.
5.3. Editais de Pesquisa
& Desenvolvimento de agências públicas.
5.4. Diretrizes das Normas
Internacionais (ISO), Normas MERCOSUL (AMN), CREA, ANEEL, Normas Nacionais
(NBR).
6. Apresentar os principais
órgãos financiadores de energia fotovoltaica e as condições de financiamento
próprio e para clientes.
6.1. Financiamentos
disponíveis para usinas fotovoltaicas centralizadas.
6.2. Financiamentos
disponíveis para clientes finais, em Geração Distribuída.
6.3 Observar condições
disponíveis:
Capital de bancos comerciais.
- Capital subsidiado de bancos de desenvolvimento/fomento.
- Fundos de investimento em energias renováveis internacionais.
- Investidores Anjo.
- Crowdfunding.
- Venture Capital. (portalsolar)
Nenhum comentário:
Postar um comentário