Incentivo de Trump à energia fóssil – Um passo atrás e em falso.
Incentivo à produção de energia à base de carvão
mineral e desestímulo à energia limpa são duas consequências imediatas do
decreto assinado em 28 de março pelo presidente dos Estados Unidos. Outro
efeito – perverso e, infelizmente, desconsiderado por Donald Trump – é o
aumento da vulnerabilidade da própria sociedade norte-americana aos efeitos
negativos da mudança climática. Nesse cenário, cabem preocupações sobre o
quanto essas medidas afetarão em cadeia o esforço global de reduzir as emissões
de gases de efeito estufa; por outro lado, abre-se espaço para que o Brasil e
outros países consolidem-se como protagonistas de uma nova economia voltada à
proteção ambiental e à baixa emissão de carbono.
O decreto de Trump desmonta o Plano de Energia Limpa
dos EUA aprovado pelo seu antecessor em 2015, que criava incentivos para o
avanço de fontes de energia não baseadas em combustíveis fósseis. Sob
argumentos contestáveis de retomada de postos de trabalho, Trump deu um passo
atrás e em falso ao tirar restrições do setor de carvão mineral, que é uma das
fontes de energia mais poluentes.
A posição do atual governo norte-americano implicará
ainda na não adaptação do seu território aos efeitos adversos da mudança
climática. Em 2005, o Furacão Katrina tirou um milhão de pessoas de suas casas,
e, certamente, as alterações no clima global tendem a tornar esse e outros
eventos extremos cada vez mais frequentes. Isso significa que os EUA estão
arriscando vidas, estruturas, atividades econômicas e a biodiversidade ao
negligenciar a mudança climática.
Os custos de reparar danos como esses serão maiores
que o investimento em ações para evitá-los – como já comprovou em 2006 o
economista britânico do Banco Mundial Nicholas Stern. Ademais, se essa
adaptação fosse feita aproveitando o potencial que os ambientes naturais têm
para tornar as sociedades mais resilientes, haveria custo ainda menor e
benefícios adicionais, como mostra um estudo de 2015 da Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza.
Mesmo se houver esforço positivo do setor privado,
os entraves governamentais tendem a dificultar que os EUA atinjam as suas metas
de redução de gases-estufa, estabelecidas voluntariamente no Acordo de Paris –
que entrou em vigor em 2016 e hoje conta com 141 países. Contudo, somando as
contribuições nacionais de todos, não se alcança o mínimo desejado para limitar
o aumento da temperatura média global a algo entre 1,5 e 2°C até o fim do
século; hoje, estima-se que o limiar esteja em 3°C.
Justamente quando o mundo precisa de lideranças que
puxem suas metas para cima e, pelo exemplo, estimulem outros a segui-los, os
EUA querem sair do jogo. Pelo menos, China e países da União Europeia já estão
tomando a frente. Ao Brasil também há a oportunidade de se firmar como
protagonista, desde que vá além das suas metas nacionais de redução de
gases-estufa. Isso inclui zerar o desmatamento em todos os biomas; investir em
fontes de energia renováveis – solar, eólica, biocombustíveis etc.; e
modernizar a agropecuária nacional.
A mudança global do clima é um dos maiores desafios
do século XXI, que traz tanto prejuízos quanto oportunidades. O presidente
Donald Trump, infelizmente, foca apenas no lado negativo. Ele fecha os olhos
para o fato que o mundo está em transformação, rumo a um futuro mais sustentável
e a uma nova economia de baixo carbono. Cabe, agora, aos demais países fazer a
sua parte e potencializar seus esforços. Não há escolha nem tempo a perder.
(ecodebate)
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