Presidente da associação acredita em um impulso
para o segmento a partir da conclusão das obras da usina de Angra 3.
A Associação Brasileira para Desenvolvimento
Atividades Nucleares enxerga um horizonte para a geração nuclear no Brasil para
além de Angra 3. A expectativa da entidade é que, uma vez concluído o terceiro
projeto do complexo situado em Angra dos Reis (RS), o segmento ganhe novas
perspectivas no país, a partir da necessidade de implementação de
empreendimentos que operem na base do sistema e com características
ambientalmente interessantes.
O presidente da associação, Celso Cunha, adianta,
na entrevista abaixo, algumas das questões que serão abordadas em palestra na
próxima edição do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico. O Enase é promovido pelo Grupo
CanalEnergia em parceria das principais associações do setor
elétrico brasileiro, e este ano ocorre nos dias 17 e 18 de maio, no Rio de
Janeiro.
Agência
CanalEnergia: Quais os temas centrais que a Abdan levará para discussão no
Enase 2017?
Celso
Cunha:
A Abdan acabou de elaborar seu novo Plano Estratégico. Entre os objetivos
estratégicos no documento, que coadunam com os objetivos do evento, estão a
elaboração do Roadmap para o setor nuclear; a conclusão de Angra 3; a
importância do setor nuclear na matriz energética brasileira, ressaltando as
qualidades de ser uma energia limpa e de base; a importância socioeconômica e
ambiental da tecnologia nuclear nas diversas atividades que a utilizam; e o
engajamento do setor privado no setor nuclear.
Agência
CanalEnergia: Que espaço tem hoje a energia nuclear na expansão da capacidade
de geração do setor elétrico?
Celso
Cunha:
Em função da redução dos potencias hídricos disponíveis, a energia nuclear, que
tem entre as suas características ser uma energia de base e limpa, pode vir
assumir um papel de protagonista na matriz energética brasileira, garantindo a
segurança de fornecimento em casos de períodos prolongados de estiagem.
Agência
CanalEnergia: A questão envolvendo o armazenamento de resíduos ainda é um
entrave para a nuclear na área de energia elétrica?
Celso
Cunha:
A questão de armazenamento de resíduos já possui boas soluções. Pode-se
inclusive ressaltar a recente licitação, pela Eletronuclear, de um sistema e
armazenamento a seco para o combustível usado.
Agência
CanalEnergia: A Abdan vê riscos na conclusão do projeto de Angra 3 em função
dos escândalos de corrupção revelados com a Operação Lava-Jato?
Celso Cunha: O momento atual do
país não permite dizer que nenhum projeto existente está livre do risco de interrupção.
Contudo, entendemos que grande parte do investimento já foi feito e acreditamos
que o projeto será concluído. A Eletronuclear está à procura de parceiros para
a conclusão de Angra 3 e a Abdan apoia os esforços para a retomada do
empreendimento.
Agência
CanalEnergia: O alto custo dos projetos de geração nuclear podem ameaçar a
expansão dessa fonte no país para além do Complexo de Angra dos Reis?
Celso
Cunha:
A análise de custo de um projeto nuclear não pode ser observada somente pelo
seu custo inicial de implantação. Quando observamos a curva de amortização do
investimento, este se torna altamente viável. Plantas nucleares construídas
hoje têm tempo de vida, por projeto, de 60 anos, com possibilidade de extensão
no futuro. São projetos que atendem a diversas gerações. Não podemos deixar de
ressaltar aqui a característica de ser uma energia de limpa e de base.
Agência
CanalEnergia: Como o Brasil, detentor de grandes reservas de urânio e dominando
a tecnologia de enriquecimento da fonte, pode potencializar a nuclear na matriz
elétrica?
Celso
Cunha:
A Abdan acredita na abertura do mercado para a maior participação das empresas
privadas. Como o Brasil domina a tecnologia do ciclo do urânio, a construção de
novas usinas dinamizará todo o setor, levando a investimentos em todas as
etapas do ciclo. Poderíamos ser completamente autônomos.
Agência
CanalEnergia: A abertura do mercado para empresas estrangeiras é o único
caminho para a inserção da nuclear no país?
Celso Cunha: Não é o único caminho,
mas, no momento em que vivemos, é o caminho que apresenta maiores
possibilidades de sucesso. A capacidade de investimento do governo federal em
grandes projetos de infraestrutura é limitada e há empresas privadas que teriam
interesse em investir nestes projetos. (canalenergia)
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