Investimento em fontes limpas
ainda é insuficiente, mas faz parte de megatendências do mercado que sinaliza
buscar um caminho para combater mudanças climáticas.
A principal mensagem que o
UNFCCC, agência das Nações Unidas para as questões relacionadas às mudanças
climáticas, vem difundindo durante a COP-25, que é realizada até 13/12/19 em
Madri, é que é tempo de agir. Em parte, esse posicionamento decorre da
necessidade de acelerar os investimentos em energias renováveis para ajudar na
redução das emissões de gases de efeito estufa. Em termos globais, um dos
grandes vilões tem sido a geração por meio de carvão mineral, principalmente na
Europa e na Ásia.
De acordo com o professor
Emilio La Rovere, do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da
Coppe-UFRJ e que também é membro do IPCC, no segmento elétrico a questão do
combustível mineral é o principal ponto a ser combatido. Ainda mais no momento
em que o mercado vem buscando novas fontes de geração.
Segundo ele, nesse sentido, o
Brasil está relativamente bem posicionado em decorrência de sua tradicional
matriz elétrica que sempre esteve baseada em fontes renováveis, anteriormente,
hídrica e agora com o avanço de eólica, solar e biomassa. Aqui o problema está
mais concentrado na agricultura e pecuária, que devem adotar medidas que
mitiguem as emissões.
“Em termos globais eu diria
que o grande vilão é o carvão mineral. Esse é um problema na Europa, vemos a
Alemanha que se entusiasmou e implementou um cronograma irrealista de
desmobilização de energia nuclear e se viu diante da necessidade de retomar as
usinas a carvão que devem ficar até 2038”, lembrou ele. “Na China vemos o
avanço do uso desse elemento para a geração e nas siderúrgicas, ao ponto de no
ano passado termos a adição de volumes mais elevados do que toda a energia
eólica acrescentada por lá, e isso é preocupante, mostra que o carvão está
forte. Enquanto não nos livrarmos dele fica complicado alcançar as metas de
redução de emissões”, acrescentou.
Por outro lado, o mercado
começa a mostrar as suas opções. Tanto que apesar do governo dos Estados Unidos
apoiar o setor de carvão e petróleo, o avanço das renováveis tem prevalecido.
Para o acadêmico, esse é o resultado da escolha do mercado, que está cada vez
mais consciente da necessidade de preservação. De certa forma ele corroborou a
visão de Luiz Barroso, da PSR e João Mello, da Thymos, durante a edição 2019 do
Encontro Anual do Mercado Livre de que o mercado é quem escolheu as renováveis.
Ainda esta semana a Climate
Trends, uma organização não governamental ambiental indiana, indicou que o
carvão naquele país entrou em um processo que classificou como o início do fim
desse combustível por lá. Cinco estados já adotaram políticas para não ter mais
novas instalações de geração a base de carvão mineral.
Na opinião de Carlos Alonso,
diretor de Políticas Energéticas e Mudanças Climáticas da Iberdrola, essa é uma
das megatendências globais das quais os mercados não podem fugir, e quem
demorar para tomar uma decisão de mudança para a economia verde – ou de baixo
carbono – ficará para trás.
Sua opinião tem como base a
experiência da companhia espanhola. Cerca de 20 anos atrás houve uma decisão
por investir em fontes renováveis. Desde então aportou, segundo cálculos da
empresa, algo como 100 bilhões de euros e hoje possui 31 GW em potência
instalada de geração por meio de fontes renováveis ante um volume de 19 GW em
outras usinas. Contudo, nesse último grupo não estão nem carvão nem
combustíveis derivados do petróleo, apenas nuclear e gás natural, esta última
apontada por ele como um combustível de transição e que ao passo que as fontes
limpas avançam – com apoio de dispositivos como baterias (ou usinas reversíveis
que atuam como baterias) – deverá ser chamada a despachar cada vez menos.
“Temos demonstrado que a
economia verde não é boa apenas para o planeta e para as pessoas, mas para os
acionistas também, afinal uma empresa deve apresentar rentabilidade”, comentou
ele. “Portanto, o exemplo de negacionistas em grandes empresas de negócios
tradicionais atacando as renováveis que são fontes que não geram resultados,
empregos e crescimento econômico não é verdade”, afirmou o executivo durante o
evento na capital da Espanha.
Alonso
destacou ainda que a redução dos preços das fontes é consequência dessa aposta
do mercado. Lembrou que há 10 anos a tarifa para a solar estava em 450 euros
por MWh e hoje é comum ver patamares abaixo de € 20. Ou seja,
tecnologias mais antigas, como a do carvão estão perdendo competitividade
porque o mercado não quer mais.
“São megatendências contra as
mudanças climáticas que a sociedade vem demandando e o mercado de capitais vem
valorizando, um sinal de que há uma exigência pela descarbonização, por isso
nossa estratégia dos últimos 20 anos se mostra correta”, avaliou. “Posso
incluir ainda a luta contra a poluição atmosférica local, nas cidades que visam
melhorar a qualidade do ar ao reduzir os níveis de CO2, NOx,
particulados e enxofre. E essa atuação envolver as renováveis, eletrificação e
a expansão dos veículos elétricos, ao aplicar tecnologias disruptivas”,
acrescentou. (canalenergia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário