Governos
insistem em queimar combustíveis fósseis e podem inviabilizar metas do Acordo
de Paris.
Termelétrica a carvão.
Novo
relatório aponta que os projetos de energia por carvão, petróleo e gás natural
aprovados pelos governos para os próximos anos superam em 120% o limite
necessário para viabilizar a meta de aquecimento do Acordo de Paris em 1,5º C
até 2100.
O
mundo está no caminho de produzir muito mais carvão, petróleo e gás do que
seria consistente com um aquecimento limitado a 1,5ºC ou 2ºC, o que cria uma
“lacuna de produção” que torna os objetivos climáticos muito mais difíceis de
serem atingidos, aponta um relatório inédito que avaliou os planos nacionais e
as projeções para produção de combustíveis fósseis.
O Production Gap Report complementa o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), Emissions Gap Report, que mostra que os compromissos dos países são insuficientes para
realizar as reduções de emissões necessárias para garantir uma elevação média
mais baixa da temperatura do planeta.
Os
países estão planejando produzir combustíveis fosseis em níveis muito acima dos
esperados para cumprir seus compromissos climáticos sob o Acordo de Paris, que,
por sua vez, já são inadequados para viabilizar as principais metas do Acordo.
Esse investimento excessivo em carvão, petróleo e gás natural consolida uma
infraestrutura de combustíveis fosseis que tornará as reduções de emissão de
carbono ainda mais difíceis de se atingir.
“Ao
longo da última década, o debate sobre clima mudou. Houve um reconhecimento
maior do papel que a expansão desenfreada da produção de combustíveis fósseis
desempenha no enfraquecimento do progresso da ação climática”, diz Michael
Lazarus, um dos principais autores do relatório e diretor do U.S. Center do Stockholm Environment Institute. “Este relatório
mostra, pela primeira vez, o quão grande é a desconexão entre as metas de
temperatura do Acordo de Paris e os planos e políticas nacionais para produção
de carvão, petróleo e gás. Ele também compartilha soluções, sugerindo caminhos
para ajudar a reduzir essa lacuna de ação através de políticas domésticas e
cooperação internacional”.
O
relatório foi produzido por organizações de destaque, como o Stockholm Environment
Institute (SEI), International Institute for Sustainable Development (IISD),
Overseas Development Institute (ODI), CICERO Centre for International Climate
and Environmental Research, Climate Analytics, e o PNUMA. Mais de 50
pesquisadores contribuíram para a análise e a revisão, de inúmeras
universidades e centros de pesquisa.
No
prefácio do relatório, o diretor-executivo do PNUMA Inger Andersen aponta que as emissões de carbono se mantiveram
exatamente nos níveis projetados há uma década, sob os cenários de
“business-as-usual” usados no Emissions Gap Report.
“Isto
exige um foco aguçado, e há muito esperado, nos combustíveis fósseis”, Andersen
escreve. “Os suprimentos de energia do mundo continuam dominados por carvão,
petróleo e gás, impulsionando níveis de emissões que são inconsistentes com as
metas climáticas. Para isso, este relatório apresenta a lacuna na produção de
combustíveis fósseis, uma nova métrica que mostra claramente a lacuna entre o
aumento da produção de combustíveis fósseis e o declínio necessário desse tipo
de fonte energética para limitar o aquecimento global”.
As
principais conclusões do relatório incluem:
• O mundo está numa trajetória de produção de combustíveis fósseis
em 2030 50% acima do que seria consistente com o limite do aquecimento em 2ºC e
120% acima do que seria consistente com o limite em 1,5ºC.
• O gap na produção é maior no carvão. Os países planejam produzir
150% mais carvão em 2030 do que o que seria consistente com uma meta de
aquecimento de 1ºC, e 280% acima do que seria consistente com uma meta de
1,5ºC.
• A produção de petróleo e gás natural também está no caminho de
exceder seu “orçamento de carbono”, com investimentos contínuos e
infraestrutura sendo implementada para o uso desses combustíveis; os países
planejam produzir entre 40% a 50% de petróleo e gás até 2040 a mais do que
seria esperado no esforço de limitar o aquecimento em 2ºC.
• Projeções nacionais sugerem que os países planejam produzir 17% a
mais de carvão, 10% a mais de petróleo e 5% a mais de gás em 2030 do que seria
consistente com a implementação de suas contribuições nacionalmente
determinadas (NDC) para o Acordo de Paris – que, por sua vez, seriam
insuficientes para limitar o aquecimento em 1,5ºC ou 2ºC.
Os
países possuem numerosas opções para fechar esse gap de produção, incluindo
limitar a exploração e extração, remover subsídios, e alinhar planos de
produção energética futura com as metas climáticas. O relatório detalha essas
opções, bem como aquelas disponíveis através de cooperação internacional no
contexto do Acordo de Paris.
Os
autores também enfatizam a importância de uma transição justa para um cenário
distante dos combustíveis fósseis.
“Existe
uma necessidade premente de assegurar que os afetados pela mudança social e
econômica não fiquem para trás”, afirmou Cleo Verkuijl, uma das autoras do
relatório e pesquisadora do SEI. “Ao mesmo tempo, o planejamento para essa
transição pode construir consenso para uma política climática mais ambiciosa”.
O Production Gap Report é publicado quando mais de 60 países já se comprometeram a
atualizar suas NDC, que estabelecem seus novos planos de redução de emissões e
compromissos climáticos no âmbito do Acordo de Paris em 2020.
“Os
países podem aproveitar essa oportunidade para integrar estratégias de gestão
da produção de combustíveis fósseis nas suas NDCs – o que, por sua vez, os ajudará a alcançar as metas de redução de
emissões”, disse Niklas Hagelberg, coordenador de
mudanças climáticas do PNUMA.
“A
despeito de mais de duas décadas de política climática os níveis de produção de
combustíveis fósseis estão mais altos do que nunca”, diz Mans Nilsson, diretor-executivo do SEI. “Este relatório mostra que o
apoio continuado dos governos para a extração de carvão, petróleo e gás é uma
parte grande do problema”. Estamos dentro de um buraco fundo, e precisamos
parar de cavar para baixo. (ecodebate)
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