“Um novo ciclo se inicia no
mercado de biodiesel”, afirma Erasmo Carlos Battistella, presidente da
Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) e da fabricante
gaúcha de biodiesel BSBios, com sede em Passo Fundo (RS). “O setor de produção de
biodiesel está em um momento histórico e que pode beneficiar toda a cadeia no
País.” Não é por menos a animação do executivo. Desde setembro, os consumidores
de diesel passaram contar com a possibilidade um combustível mais verde para
abastecer suas frotas de caminhões, camionetes e máquinas agrícolas. Isso
porque os postos foram autorizados a vender o diesel com um maior porcentual de
biodiesel, o biocombustível obtido pela combinação química de certos álcoois a
óleos de gordura animal ou óleos vegetais, como o de soja, algodão, mamona ou
girassol.
Até agosto, o porcentual
obrigatório era de 10% de biodiesel (B10). Vinculada ao Ministério de Minas e
Energia, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
tornou obrigatório o teor de 11% de mistura (B11), podendo chegar a 15% (B15)
imediatamente, dependendo da disposição da distribuidora. Desde setembro, está
instalado um ambiente novo de negócios que é inédito no setor. “É um grande
avanço para toda a indústria, pois permite oferecer maiores concentrações já e
não um porcentual fixo, como era antes”, diz Battistella. A boa notícia é que
esse incremento pode beneficiar os produtores de grãos. A soja é, atualmente, a
principal matéria-prima para a obtenção do biodiesel. “Acredito que a necessidade
pelo grão de soja deve crescer bastante daqui para a frente”, afirma o
executivo. A estimativa da Aprobio é de cerca de 3 milhões de toneladas
adicionais de soja, por ano. Em 2018 foram processadas cerca de 17 milhões de
toneladas, equivalente a 70% da matéria-prima para a fabricação do
biocombustível.
Além
da soja, outras matérias-primas têm ganhado mais espaço no uso das usinas de
processamento do biodiesel. A gordura animal, subproduto dos frigoríficos no
abate de bovinos, aves e suínos, é ainda a segunda maior fonte, com 16,2% de
participação em 2018, segundo a ANP. Naquele ano, foram 860,2 milhões de litros
de óleo bruto – o que representou uma alta de 19,3% sobre 2017, além de ser o
maior volume entregue nos últimos 10 anos. Mas outra fonte também vem
despontando. Trata-se de um grupo generalista, chamado de “outros”. Essa
categoria reúne as fontes de óleo de palma, amendoim, nabo-forrageiro,
girassol, mamona, sésamo, canola, milho e óleo de fritura. Esse grupo saiu de
uma participação de 3,5%, em 2016, para 11,3% em 2017. No ano passado já
representava 13%, totalizando 691,2 milhões de litros de óleo.
Investimento em ações de
energia renovável.
Com a possibilidade do B15, o
mercado pode crescer mais rapidamente do que foi até agora. No ano passado, a
produção foi de 5,4 bilhões de litros, volume 25% acima do ano anterior. O
faturamento das 52 unidades produtoras de biodiesel foi de R$ 14,1 bilhões.
Considerando apenas o aumento de 1%, indo a B11, o volume pode chegar a 6
bilhões de litros até o fim deste ano. Seguindo o cronograma estabelecido pela
ANP, a projeção é que a indústria brasileira atinja a marca de 10 bilhões de
litros, até 2023. A previsão é que em 2028 chegue ao mercado o B20 (20%). O
salto é bastante significativo, quando comparado aos 14 anos necessários para
sair do B2 até o B10.
Negociado via leilões
bimestrais organizados pela ANP, o biocombustível ganhou uma valorização no
remate de agosto, chegando a R$ 2,86 por litro, segundo o engenheiro uruguaio
Juan Diego Ferrés, presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene
(Ubrabio). “Foi o primeiro leilão para as distribuidoras adquirem o biodiesel
para a mistura obrigatória de 11%”, diz ele. “O valor surpreendeu.” A média do
litro vinha sendo negociada por R$ 2,42 pelas usinas (para o consumidor são R$
3,54 por litro). A ideia é que com a maior participação de uma fonte renovável
no diesel, o combustível se torne mais barato e que caiam ainda mais as
importações. O País consumiu no ano passado 55,6 bilhões de litros de mistura,
dos quais 50,2 bilhões de fóssil. Desse total, 11,8 bilhões foram importados
por US$ 6,3 bilhões, segundo o Ministério da Economia, Indústria, Comércio
Exterior e Serviços.
Investimentos
O aumento da mistura também
abre a possibilidade de investimentos. Isso porque a matriz veicular brasileira
é dependente em excesso do diesel fóssil. No ano passado, o diesel respondeu
por 47,9%, ante 4,4% do biodiesel. Em 2017, o porcentual foi, respectivamente,
47,4% e 3,6%, o que mostra ascensão do diesel renovável. “O setor enxerga com
muito otimismo a retomada da previsibilidade de aumento e que realmente está
sendo cumprida”, diz Ferrés.
Esse
movimento permite que as empresas possam traçar planos mais sólidos de
investimentos. E não é somente a BSBios, com receita de R$ 3,15 bilhões em
2018, que investe. Hoje ela é a maior, com o refino de 545,8 milhões de litros,
o equivalente a 10,2% da produção nacional. Investimentos também estão na mira
da Oleoplan, da americana ADM, da paulista Granol e da paranaense Caramuru.
Segundo Battistella, são estimados para toda a cadeia cerca de R$ 6 bilhões em
investimentos nos próximos 5 anos. “Isso não virá somente de melhorias das
indústrias, mas também de estruturação das redes de distribuição e da produção
de matéria-prima”, diz o executivo. “No fim das contas, esse estímulo ao setor
vai gerar empregos, que é o que nós queremos no Brasil”, destaca.
(biodieselbr)
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