terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Só vale se for renovável

“Um novo ciclo se inicia no mercado de biodiesel”, afirma Erasmo Carlos Battistella, presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) e da fabricante gaúcha de biodiesel BSBios, com sede em Passo Fundo (RS). “O setor de produção de biodiesel está em um momento histórico e que pode beneficiar toda a cadeia no País.” Não é por menos a animação do executivo. Desde setembro, os consumidores de diesel passaram contar com a possibilidade um combustível mais verde para abastecer suas frotas de caminhões, camionetes e máquinas agrícolas. Isso porque os postos foram autorizados a vender o diesel com um maior porcentual de biodiesel, o biocombustível obtido pela combinação química de certos álcoois a óleos de gordura animal ou óleos vegetais, como o de soja, algodão, mamona ou girassol.
Até agosto, o porcentual obrigatório era de 10% de biodiesel (B10). Vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tornou obrigatório o teor de 11% de mistura (B11), podendo chegar a 15% (B15) imediatamente, dependendo da disposição da distribuidora. Desde setembro, está instalado um ambiente novo de negócios que é inédito no setor. “É um grande avanço para toda a indústria, pois permite oferecer maiores concentrações já e não um porcentual fixo, como era antes”, diz Battistella. A boa notícia é que esse incremento pode beneficiar os produtores de grãos. A soja é, atualmente, a principal matéria-prima para a obtenção do biodiesel. “Acredito que a necessidade pelo grão de soja deve crescer bastante daqui para a frente”, afirma o executivo. A estimativa da Aprobio é de cerca de 3 milhões de toneladas adicionais de soja, por ano. Em 2018 foram processadas cerca de 17 milhões de toneladas, equivalente a 70% da matéria-prima para a fabricação do biocombustível.
Além da soja, outras matérias-primas têm ganhado mais espaço no uso das usinas de processamento do biodiesel. A gordura animal, subproduto dos frigoríficos no abate de bovinos, aves e suínos, é ainda a segunda maior fonte, com 16,2% de participação em 2018, segundo a ANP. Naquele ano, foram 860,2 milhões de litros de óleo bruto – o que representou uma alta de 19,3% sobre 2017, além de ser o maior volume entregue nos últimos 10 anos. Mas outra fonte também vem despontando. Trata-se de um grupo generalista, chamado de “outros”. Essa categoria reúne as fontes de óleo de palma, amendoim, nabo-forrageiro, girassol, mamona, sésamo, canola, milho e óleo de fritura. Esse grupo saiu de uma participação de 3,5%, em 2016, para 11,3% em 2017. No ano passado já representava 13%, totalizando 691,2 milhões de litros de óleo.
Investimento em ações de energia renovável.
Com a possibilidade do B15, o mercado pode crescer mais rapidamente do que foi até agora. No ano passado, a produção foi de 5,4 bilhões de litros, volume 25% acima do ano anterior. O faturamento das 52 unidades produtoras de biodiesel foi de R$ 14,1 bilhões. Considerando apenas o aumento de 1%, indo a B11, o volume pode chegar a 6 bilhões de litros até o fim deste ano. Seguindo o cronograma estabelecido pela ANP, a projeção é que a indústria brasileira atinja a marca de 10 bilhões de litros, até 2023. A previsão é que em 2028 chegue ao mercado o B20 (20%). O salto é bastante significativo, quando comparado aos 14 anos necessários para sair do B2 até o B10.
Negociado via leilões bimestrais organizados pela ANP, o biocombustível ganhou uma valorização no remate de agosto, chegando a R$ 2,86 por litro, segundo o engenheiro uruguaio Juan Diego Ferrés, presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). “Foi o primeiro leilão para as distribuidoras adquirem o biodiesel para a mistura obrigatória de 11%”, diz ele. “O valor surpreendeu.” A média do litro vinha sendo negociada por R$ 2,42 pelas usinas (para o consumidor são R$ 3,54 por litro). A ideia é que com a maior participação de uma fonte renovável no diesel, o combustível se torne mais barato e que caiam ainda mais as importações. O País consumiu no ano passado 55,6 bilhões de litros de mistura, dos quais 50,2 bilhões de fóssil. Desse total, 11,8 bilhões foram importados por US$ 6,3 bilhões, segundo o Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Investimentos
O aumento da mistura também abre a possibilidade de investimentos. Isso porque a matriz veicular brasileira é dependente em excesso do diesel fóssil. No ano passado, o diesel respondeu por 47,9%, ante 4,4% do biodiesel. Em 2017, o porcentual foi, respectivamente, 47,4% e 3,6%, o que mostra ascensão do diesel renovável. “O setor enxerga com muito otimismo a retomada da previsibilidade de aumento e que realmente está sendo cumprida”, diz Ferrés.
Esse movimento permite que as empresas possam traçar planos mais sólidos de investimentos. E não é somente a BSBios, com receita de R$ 3,15 bilhões em 2018, que investe. Hoje ela é a maior, com o refino de 545,8 milhões de litros, o equivalente a 10,2% da produção nacional. Investimentos também estão na mira da Oleoplan, da americana ADM, da paulista Granol e da paranaense Caramuru. Segundo Battistella, são estimados para toda a cadeia cerca de R$ 6 bilhões em investimentos nos próximos 5 anos. “Isso não virá somente de melhorias das indústrias, mas também de estruturação das redes de distribuição e da produção de matéria-prima”, diz o executivo. “No fim das contas, esse estímulo ao setor vai gerar empregos, que é o que nós queremos no Brasil”, destaca.
(biodieselbr)

Nenhum comentário: