segunda-feira, 12 de julho de 2021

Transição energética não é competição entre países, mas contra o tempo

Transição energética não é competição entre países, mas contra o tempo, diz presidente da IEA.
Para o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês), Fatih Birol, cada país tem autonomia para escolher o caminho para atingir as metas de transição energética, mas o tempo se torna cada vez mais curto.

“Há uma corrida para atingir as metas do clima, mas não é uma corrida entre países e sim contra o tempo. Alguns países começam na frente. Mas, se todos não atingirem o final, ninguém ganha”, avaliou.

Birol participou em 09/06/21 do webinar World Energy Transition, promovido pela FGV Energia.

Ele deixou claro que os estudos feitos pela agência para zerar emissões de carbono é apenas um caminho apontado e não ações mandatórias.

Lembrou que muitos países têm feito compromissos para zerar emissões até 2050 e que, mesmo assim, este ano o mundo deve enfrentar a segunda maior emissão de carbono desde 1945 – causada principalmente pelo uso de carvão na Ásia.

“É um gap entre o que os governos estão falando e estão fazendo. Nós não dizemos que é o caminho, mas um caminho. Cada país tem que escolher o seu”.

No mês passado, o cenário Net Zero adotado pela agência projetou que a neutralidade de carbono até 2050 apenas será alcançada se a indústria de petróleo e gás interromper todos os novos projetos de exploração ainda em 2021.

A posição gerou reações no mercado de óleo pelo mundo. No Brasil, o ministro Bento Albuquerque defendeu a continuidade dos investimentos no setor brasileiro, após ser questionado sobre o documento no início de junho.

A Petrobras está concentrando cada vez mais seus investimentos para acelerar a produção nos ativos de alta rentabilidade do pré-sal e seguindo a estratégia de desinvestimentos com a venda de participações em energia renovável, como a venda da BSBios, Bambuí e Belém Bioenergia, além de parques eólicos.

Durante o webinar, Albuquerque ponderou que o processo de transição energética é complexo e varia com o cenário de cada país. “Não há escolha tecnológica única e nem receita universal”, disse.

O ministro voltou a ressaltar a importância dos projetos na área de biocombustíveis como principal contribuição do Brasil na redução de emissões, bem como o início do projeto Combustível do Futuro, que pretende ampliar o uso de biocombustíveis para aviação e navegação e tornar mais eficiente os já usados no transporte veicular.

“Todos os países e empresas serão afetados pela transição energética”, alerta diretor-executivo.

Birol alertou ainda que as companhias devem considerar em seus planejamentos de longo prazo as mudanças nos mercados globais.

Estas passam, necessariamente, por compromissos com redução de emissões e transição energética – especialmente nas empresas estatais, que têm se atentado menos aos debates internacionais, disse.

Segundo a professora da FGV, Fernanda Delgado, a produção destas companhias nacionais corresponde a cerca de 90% da produção mundial de petróleo e gás.

Há muitas empresas com expertise em exploração de petróleo e gás offshore investindo em eólicas offshore, bem como na captura e armazenagem de carbono e em energia solar, exemplificou o diretor-executivo.

“É uma questão de escolha de modelo econômico. Eu só espero que as empresas nacionais de petróleo que estão completamente ignorando o que está acontecendo no mercado global de energia não sejam pegas de surpresa em seus planejamentos de investimento de longo prazo”.

Crescimento econômico lento não é uma estratégia de baixa emissão, defende.

O diretor-geral defendeu ainda que o melhor caminho para redução de emissões de carbono não é o freio no crescimento econômico, e sim maior compromisso com o cenário de Net Zero.

Para ele, há duas principais medidas para serem tomadas nos próximos 30 anos para concretizar os objetivos de emissão zero.

Em uma primeira frente, avaliou que é preciso fazer com que se incentive ao máximo o uso do leque de energias renováveis já existentes – como solar, eólica, hidráulica, biocombustíveis, nuclear e eficiência energética.

Birol destacou que uma das fontes que tem sido esquecida nos debates atuais é a hidráulica.

Ele avaliou que a hidrelétrica é hoje a maior fonte de energia totalmente livre de carbono e que tem grande importância não apenas no fornecimento de energia, mas de forma combinada com outras fontes intermitentes como solar e eólica.

A IEA deve lançar no dia 30 de junho um estudo voltado especificamente para a energia de fonte hidráulica no mundo.

Por outro lado, também será necessário o investimento dos países em tecnologias que ainda estão em desenvolvimento, como soluções avançadas em bioenergia, captura de carbono e principalmente o hidrogênio, segundo o diretor-executivo.

“Essas tecnologias não estão disponíveis ainda. É trabalho dos países torná-las prontas para o mercado”, disse.

Para Birol, o Brasil tem capacidade de liderar países vizinhos na América Latina para o que considera um caminho inevitável da transição energética.

A íntegra do webinar pode ser vista no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=1EP5TGTLaMY&t=5s. (biodieselbr)

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