A era do petróleo está chegando ao fim, e a humanidade sai em busca de
novas fontes para saciar seu consumo crescente de energia. E elas precisam ser
limpas, seguras e renováveis.
Biocombustível
- O êxito brasileiro
O
planeta passou da primeira década do século XXI diante de um dilema energético
nunca antes registrado na história da humanidade. O uso do combustível que ao
longo do século passado definiu o mundo como o conhecemos hoje, impulsionando o
crescimento da indústria, do transporte, do comércio, da agricultura e da
população, que encontrou inéditas condições para se expandir torna-se cada dia
mais inviável. Seja por sua anunciada finitude e iminente escassez, seja pelo
caráter altamente poluente ou pelas complicações políticas a que sempre está
associado, o petróleo não é mais visto como a fonte de energia que moverá o
mundo para sempre.
Os
combustíveis fósseis ainda são responsáveis pelo fornecimento de três quartos
da energia consumida no mundo demanda que por enquanto só cresce e ainda
respondem por boa parte dos negócios e principalmente das políticas
internacionais das grandes potências econômicas. No entanto, além do futuro
esgotamento das fontes naturais do chamado "ouro negro", a Terra não
tem mais capacidade de absorver os gases provenientes de sua combustão o gás
carbônico é apontado como o grande vilão do efeito estufa, responsável pelo
aquecimento global. Somados às abruptas oscilações de preço e aos problemas
geopolíticos que acometem quase todos os grandes países produtores de petróleo
(a eterna instabilidade do Oriente Médio e os arroubos ditatoriais de Hugo
Chávez, por exemplo) o problema ambiental e a escassez conferem urgência à
mudança da matriz energética global.
Daí
a importância da passagem cada vez mais rápida para fontes limpas, renováveis e
que não coloquem em risco a segurança dos países. A ameaça do fim da era do
petróleo vem provocando mudanças de enfoque nas principais empresas
petrolíferas do mundo. É o caso, por exemplo, da BP (que até alterou seu
nome, de British Petroleum para Beyond Petroleum, ou "além do
petróleo"), ExxonMobil, Shell e a própria Petrobras, que tornaram públicas
suas estratégias de investir no desenvolvimento de energias alternativas, como
o gás natural, o álcool, o biodiesel, a célula de hidrogênio, a energia solar e
a eólica.
Com
o aumento das pressões ambientais, os governos e organismos internacionais
resolveram aumentar seu empenho na substituição dos combustíveis fósseis. A União
Europeia, por exemplo, convocou os 27 países membros a trocar pelo menos 10% do
volume de combustíveis fósseis usados em veículos por biocombustíveis
até 2020. Mais do que isso, os líderes europeus se comprometeram a
diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2) em 20% dos níveis
de 1990 no mesmo prazo. Há ainda uma obrigação de aumentar a geração de energia
solar, eólica e hidrelétrica. Caso dê certo, a UE pretende convencer outras
nações poluentes, como os Estados Unidos, a China e a Índia, a adotar o mesmo
plano.
Dependência
americana
Nos
EUA, a substituição dos combustíveis fósseis virou questão de segurança
nacional. Em um programa de metas energéticas anunciadas no início de 2007, o ex-presidente
George W. Bush estabeleceu o dever de substituir, em dez anos, 20% da gasolina
consumida nos Estados Unidos por biocombustíveis. Frisou, em meio a um
pronunciamento à nação, que tratava-se de uma medida para livrar seu país da
dependência externa do petróleo, que deixava os EUA vulneráveis a ataques terroristas.
Para atingir o objetivo, Bush determinou que, até 2017, estejam disponíveis
para consumo interno 35 bilhões de galões de combustíveis renováveis (cerca de
132 bilhões de litros), e que os motores dos carros que usem derivados de
petróleo tenham sua eficiência aumentada, para que consumam cada vez menos
litros de gasolina e óleo diesel por quilômetro rodado.
No
Brasil, antes mesmo de o efeito estufa e o aquecimento global se transformarem
numa das principais preocupações dos grandes líderes mundiais, os dois choques
do petróleo da década de 70 levaram o país a aumentar o uso de fontes
renováveis em substituição ao combustível fóssil: energia hidráulica,
importação de hidreletricidade, carvão vegetal e produtos da cana-de-açúcar álcool
e bagaço de cana. Com o etanol e mais recentemente o biodiesel, o Brasil
desenvolveu duas das mais bem-sucedidas alternativas ao combustível fóssil da
história. Só em 2007, vai produzir 16 bilhões de litros de álcool e manter a
liderança como o maior produtor do mundo. Após um período de pouco uso e
desconfiança do consumidor, o brasileiro voltou a andar em carros movidos a
etanol graças à nova tecnologia flex, dos veículos bicombustíveis.
Na
liderança mundial
Em
2005, a oferta interna de energia no país atingiu o equivalente a 218,6 milhões
de toneladas de petróleo. Desse total, 97,7 milhões, ou 44,7%, eram de fontes
renováveis. Essa proporção contrasta significativamente com a média mundial,
que é de apenas 13,3%. Entre os países que compõem a Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é de modestíssimos 6% para a
participação das energias renováveis. Essa posição brasileira é resultado,
principalmente, da participação das fontes hidrelétricas e do etanol na matriz
energética nacional. Juntas, representam 28,9% da oferta total de energia. Uma
das principais metas contidas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
anunciado pelo governo federal no início do segundo mandato de Luiz Inácio Lula
da Silva é um investimento de 503,9 bilhões de reais em infraestrutura. Desta
quantia, 274,8 bilhões de reais estão prometidos para o setor energético, sendo
17,4 bilhões a serem aplicados em combustíveis renováveis até 2010.
O
Brasil tem condições concretas de ser líder mundial na produção de energia
limpa, mas para isso precisa produzir excedentes significativos para exportar
quase toda a produção de etanol, por exemplo, é para consumo interno. A
"mudança de consciência energética" por que passa o planeta pode ser
garantia de futuros mercados ao biocombustível brasileiro, mas ainda não é uma
realidade. Atualmente, o Brasil é o único país a utilizar o etanol em larga
escala 20% da frota nacional roda com álcool. Seja como for, o Brasil tem um
bom produto para oferecer às grandes economias mundiais. Se elas quiserem usar
combustível limpo, a indústria brasileira é a única em condições de ser uma
fornecedora em escala global. Que o diga George W. Bush, que em visita ao país
em março de 2007 colaborou para acelerar o processo de transformação do etanol
em uma commodity energética internacional, ao assinar um acordo de padronização
da produção do combustível junto ao ex-presidente Lula. (abril)
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