IPT pretende dominar gaseificação de biomassa até 2020
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) está prestes a
fechar o financiamento para a planta piloto de gaseificação de biomassa, que
deverá ser construída até 2016, para começar a operar no ano seguinte, em
Piracicaba, no interior paulista. O presidente do IPT, Fernando Landgraf,
apresentou o projeto nesta segunda-feira (17/9), durante o Simpósio de
Gaseificação de Biomassa, na sede da FAPESP.
O evento, promovido pelo IPT e pelo Programa de Pesquisas em
Bioenergia (BIOEN) da FAPESP, reuniu especialistas do Brasil e do exterior para
apresentar as experiências em projetar e operar plantas piloto de gaseificação.
O projeto do IPT é o maior do gênero no Brasil.
Segundo Landgraf, a planta piloto terá capacidade de
processar 400 mil toneladas anuais de bagaço e palha de cana-de-açúcar. A
gaseificação é um processo de conversão de combustíveis sólidos em gasosos por
meio de reações termoquímicas. No caso da cana-de-açúcar, o objetivo é
gaseificar o bagaço para depois gerar combustíveis, energia elétrica ou até
mesmo biopolímeros.
“As plantas piloto são difíceis de construir e ainda mais
difíceis de operar. Os casos de fracassos se acumulam. Mesmo assim, achamos que
o risco é válido, porque o potencial brasileiro de aumento da produção de
cana-de-açúcar é tão grande que precisamos investir seriamente em diversas
opções bioquímicas e petroquímicas”, disse Landgraf à Agência FAPESP.
Segundo Landgraf, o IPT está fechando o financiamento para a
planta piloto, que terá financiamento de cerca de R$ 30 milhões do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 30 milhões da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), R$ 10 milhões de parceiros industriais
e R$10 milhões do IPT e do governo paulista.
“A FAPESP manifestou interesse em financiar projetos
científicos que apoiem o desenvolvimento da planta piloto e outros projetos
satélites ligados ao Programa BIOEN”, disse Landgraf. Segundo ele, o IPT está
discutindo também com pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), a elaboração de um projeto
temático envolvendo estudos ligados à planta de gaseificação, a fim de
submetê-lo à Fundação.
“O setor sucroalcooleiro cresce 5% ao ano no Brasil e a
projeção é que esse ritmo deverá se manter pelo menos pelos próximos 10 anos.
Já produzimos cerca de 600 milhões de toneladas por ano e com o crescimento
projetado teremos que lidar com uma grande quantidade de palha e bagaço de
cana. Precisamos fazer o melhor aproveitamento que pudermos dessa biomassa.
Para isso, acreditamos que a gaseificação é a melhor alternativa”, afirmou.
Cerca de 25% da energia química contida no bagaço, segundo
Landgraf, pode ser atualmente transformada em energia elétrica. “Supondo que
pudéssemos usar o processo de gaseificação para aumentar esse aproveitamento
para 50%, conseguiríamos dar uma destinação útil para uma quantidade importante
de biomassa”, explicou.
Segundo ele, o IPT decidiu que o processo conhecido como
fluxo de arraste seria o conceito de gaseificação mais adequado para a escala
em que se pretende produzir na planta piloto. O processo é utilizado atualmente
em grande escala para a gaseificação de carvão mineral na China e em países da
Europa.
“Mas temos um longo caminho pela frente em termos de
pesquisa. A gaseificação de biomassa exige um pré-tratamento muito diferente do
carvão mineral. Há várias iniciativas de pesquisa em gaseificação de biomassa
no mundo, mas geralmente são focadas em poucas etapas do processo. Por isso não
há um processo completo disponível comercialmente – e também por isso é tão
importante termos a planta piloto”, afirmou.
Um dos principais gargalos do processo, segundo Landgraf, é
que o bagaço da cana não pode ser jogado diretamente no fluxo de arraste. Em
primeiro lugar, é preciso transformar o bagaço de cana em um pó torrado ou em
um óleo pirolisado. Assim, sob altas pressões e temperatura, essa biomassa
processada é convertida em gás.
“O processo posterior, que consiste em submeter esse gás a
uma reação química para fazer o biocombustível líquido, requer alta pressão,
mas pressurizar o gás custa muito caro. Por isso é importante que o gás seja
pressurizado na primeira parte do processo, no momento da queima, economizando
os recursos que usaríamos para comprimi-lo depois”, explicou.
O gás resultante do processo pode ser utilizado para
produção de energia elétrica em uma turbina a gás, segundo Landgraf. “As
turbinas a gás são mais eficientes que as caldeiras e outras formas de geração
de energia elétrica”, disse.
Para produção de energia elétrica, o gás prescinde de
limpeza, segundo Landgraf. Mas quando o objetivo é usar o monóxido de carbono e
o hidrogênio do gás para provocar uma reação química e produzir combustível, é
preciso realizar um processo de limpeza.
“Para produzir combustível, não podemos ter dióxido de
carbono misturado ao gás – é preciso fazer a limpeza e retirar esse composto,
mantendo apenas o monóxido de carbono e o H2. Uma terceira possibilidade é
produzir polímeros e outras substâncias químicas como o metanol”, explicou.
A previsão do IPT, segundo Landgraf, é que a tecnologia seja
desenvolvida integralmente até 2020. “Nosso sonho é que a partir de 2020 a
planta piloto tenha cumprido sua função e possamos implantar a primeira planta
comercial de gaseificação de biomassa”, declarou.
Atualmente, segundo Landgraf, não existem plantas comerciais
de gaseificação de biomassa no mundo. “Há plantas piloto em vários estágios de
desafio tecnológico. Os maiores investimentos estão na Alemanha, Suécia e
Estados Unidos”, afirmou.
Landgraf afirmou que o simpósio contribuiu para dimensionar
os desafios na área de gaseificação de biomassa.
“Um dos objetivos do evento foi mostrar o tamanho do problema
e o grande número de desafios que temos pela frente. Tenho certeza de que
quando isso acontece os cientistas ficam entusiasmados com as oportunidades que
aparecem. A demanda por projetos na área de termoquímica tem sido pequena, a
FAPESP tem interesse em apoiar. É uma janela de oportunidade interessante”,
afirmou. (ambienteenergia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário