Em 13 de setembro
completaram-se 25 anos do acidente com césio-137 em Goiânia, considerado o
maior sinistro radiológico do mundo. A radiação de uma cápsula de césio
abandonada em um ferro velho atingiu mais de 6 mil pessoas e gerou 6 mil
toneladas de material radioativo.
Também na mesma
semana passada, a crise nuclear em Fukushima (Japão) completou 18 meses. As
combinações dos desastres naturais com a falta de segurança dos sistemas de
resfriamento do complexo nuclear resultaram no derretimento do núcleo de três
reatores e, consequentemente, no alastramento de radiação por uma área de 13
mil quilômetros quadrados, obrigando 146 mil pessoas a se deslocarem.
Até hoje, o governo e
as autoridades nucleares falham em reconhecer o número correto de impactados em
Goiânia e alterar a fiscalização nuclear no Brasil de forma a impedir que novas
fatalidades aconteçam. A gestão do setor continua confusa; a mesma agência
governamental exerce as funções díspares de fomento e fiscalização de
atividades nucleares.
No início do mandato
da presidente Dilma Rousseff, esperava-se que o governo fizesse uma grande
reformulação na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Curiosamente, o
pacote de mudanças previamente anunciado acabou adiado, em função do acidente
de Fukushima, e nunca se concretizou.
No Japão, a moral do
setor nuclear não anda muito melhor. O Comitê Japonês de Investigação concluiu,
em relatório, que as autoridades foram ineficientes na reação ao acidente
nuclear de Fukushima. O estudo apontou que tanto o operador dos reatores quanto
o órgão regulador japonês falharam em oferecer medidas de mitigação adequadas,
por excesso de confiança na segurança das usinas nucleares.
No Brasil, o que se
seguiu após o desastre do césio-137 foi o avanço do projeto atômico, com a
inauguração da usina de Angra 2, em 2000, e a retomada das obras de Angra 3, em
2009.
Nem os desdobramentos
mundiais do acidente de Fukushima foram suficientes para interromper a
empreitada. Alguns países, como EUA e França, já paralisaram seus planos de
expansão nuclear; outros, como Alemanha, Itália e Suíça, planejam a desativação
de suas centrais até a próxima década. Todos os reatores europeus estão sendo
submetidos a testes de segurança para reavaliar sua verdadeira vulnerabilidade
a acidentes.
Parte dos recursos
para a construção de Angra 3 viria de bancos europeus, intermediados por fiança
alemã, desde que fosse comprovado, dentro dos atuais critérios, que as usinas
do complexo de Angra são seguras e resistem a impactos naturais. Mas novamente
o risco de acidentes vem sendo minimizado pelas autoridades nacionais, que
tardam em providenciar respostas adequadas às limitações de segurança das
usinas de Angra, jamais projetadas e testadas para funcionarem em regiões de
solo desfavorável e sujeitas a deslizamentos, o que dirá outras intempéries.
Pelo menos no campo
energético, o Japão está fazendo sua lição de casa. Desligou todos os seus 53
reatores e resistiu ao aumento da demanda energética no verão do hemisfério
norte, lançando mão de medidas de eficiência energética. O programa de
incentivo a energias renováveis já resultou na instalação de 560MW em energia
solar fotovoltaica após um mês, e prevê-se um total de 2500MW em energias
renováveis até março do próximo ano, o equivalente a duas usinas de Angra 3.
No Brasil, o BNDES
tem investido em energias renováveis, notadamente parques eólicos. No entanto,
também segue como o grande apoiador da construção de Angra 3, aportando R$ 6
bilhões ou 60% do investimento — valor que pode aumentar se o empréstimo
europeu não vier.
Depois do legado dos
acidentes de Goiânia e Fukushima, sem mencionar o trágico episódio de
Chernobyl, na Ucrânia, não precisamos de mais vítimas para ter a certeza de que
esse não é o caminho a ser seguido. Precisamos é de coragem e ousadia para
apostar em uma revolução energética, investindo ainda mais em energias
renováveis e aproveitando o enorme potencial brasileiro de fontes de energia
eólica, solar, por biomassa e oceânica. (EcoDebate)
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