A população mundial era de 1,275 bilhão de habitantes em 1870,
chegou ao redor de 1,6 bilhão em 1900 e passou para 7 bilhões em 2011. Um
crescimento de 5,5 vezes, em menos de um século e meio. Foi o maior crescimento
demográfico de toda evolução da vida humana na Terra. Porém, no mesmo período,
a economia mundial (PIB) cresceu 51 vezes, segundo cálculos do eminente
economista britânico Angus Maddison. Ou seja, nunca na história do Planeta
houve um crescimento demográfico e econômico (demo-econômico) tão grande,
propiciando, a despeito das desigualdades, uma significativa melhora no padrão
de vida da população.
A esperança de vida média dos habitantes do globo que estava
abaixo de 30 anos antes de 1900 subiu para 65 anos no ano 2000 e já está
próxima de 70 anos. Houve melhoria das condições de moradia das pessoas, aumento
do nível médio da educação, redução do analfabetismo e redução da jornada média
de trabalho. O número de pessoas com acesso ao telefone (fixo e celular) e à
luz elétrica passou de algo próximo do nada no século XIX para 6 bilhões em
2010. É cada vez maior o número de domicílios com a presença de geladeira,
fogão, máquina de lavar, televisão, rádio, computador, Internet, etc. Embora
exista muita desigualdade social no mundo, o aumento do padrão de vida médio do
ser humano avançou consideravelmente, quando comparado com qualquer período
anterior da civilização. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo que
vinha crescendo ao longo do século XX, passou de 0,558 em 1980 para 0,682 em
2011, um aumento de 22,2% no espaço de 3 décadas. No mesmo período, houve maior
aumento do IDH na Ásia, na África e na América Latina e Caribe, diminuindo as
desigualdades regionais e possibilitando um certo processo de convergência no
índice de desenvolvimento entre as regiões do mundo.
O grande salto da economia e da população foi possível
graças a uma fonte de energia abundante e barata que turbinou o crescimento
durante o século XX. O petróleo já era conhecido há muito tempo. Mas a
indústria de hidrocarbonetos ganhou impulso quando Edwin Laurentine Drake
perfurou o primeiro poço nos Estados Unidos para a procura do petróleo em 1859.
A produção de óleo cru nos Estados Unidos ganhou escala quando atingiu dez
milhões de barris em 1874.
Com sucessivas descobertas a produção mundial cresceu e o
preço caiu. Entre 1950 e 1973 os preços do petróleo estavam extremamente
baixos, possibilitando o maior crescimento da economia internacional em todos
os tempos. Entre 1973 e 1980 os preços subiram devido à instabilidade política
no Oriente Médio. Mas entre 1980 e 2000 os preços voltaram a atingir os seus
níveis mais baixos do século. O baixo custo da energia possibilitou o
crescimento da indústria, das cidades, do transporte e da agricultura.
Acompanhando a queda do valor do petróleo, o preço real dos alimentos atingiu o
seu nível mais baixo na virada do milênio.
Este fato foi fundamental para o crescimento populacional
com melhoria das condições nutricionais. Segundo a FAO, houve um aumento de 25%
na disponibilidade diária de energia alimentar per capita (kcal/pessoa-dia) da
população mundial entre 1960 e 2010. Em consequência, diminuíram as taxas de
mortalidade infantil e materna, gerando um rápido aumento do número de
habitantes.
Segundo o físico e economista Robert Ayres, no livro The
Economic Growth Engine: How Energy and Work Drive Material Prosperity (2009),
75% do crescimento do PIB mundial no século XX pode ser explicado pelo
crescimento do uso da energia fóssil, pois o vetor energia foi fundamental na
equação do crescimento económico. Para Ayres, o crescimento populacional e econômico,
especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, só foi possível devido à
disponibilidade de uma energia barata e abundante (exergy efficiency), que
gerou empregos, aumentou a oferta de alimentos e viabilizou o transporte de
massas.
Portanto, a elevada disponibilidade de combustíveis fósseis
e o baixo preço da energia foram essenciais para o crescimento econômico e
populacional, com aumento do padrão de vida médio dos habitantes da Terra. A
agricultura e a pecuária não teriam atendido a demanda de alimentos sem o uso
intensivo do petróleo. As cidades não teriam se espraiado sem a disponibilidade
de carros para transportar as populações dos subúrbios e o comércio
internacional não seria tão globalizado se não fosse o “milagre” da energia
fóssil.
Contudo, as novas descobertas de petróleo estão diminuindo e
o ritmo de produção está se aproximando do limite possível. O geólogo americano
Marion King Hubbert desenvolveu, nos anos de 1950, um modelo matemático
mostrando que a produção de óleo bruto tende a crescer de forma exponencial até
atingiu um pico e depois iniciar uma queda também de forma exponencial. Ou
seja, a produção de petróleo segue o padrão de uma distribuição normal (curva
de Gauss ou curva em forma de sino). A questão em aberto não é saber se vai
haver fim do crescimento da produção, mas quando será atingido o “Pico do
Petróleo” ou “Pico de Hubbert”.
Alguns autores dizem que o começo do pico do petróleo chegou
em 2008, quando o preço do petróleo se elevou e só não continuou aumentando por
conta da menor demanda ocorrida em função da crise econômica internacional. Por
outro lado, o aumento do preço do petróleo viabilizou a exploração de novas
reservas (como em águas profundas) e o uso de novas tecnologias que não eram
viáveis economicamente quando o preço era baixo. Portanto, o pico do petróleo
pode até ser adiado, porém, a um custo crescente. Um relatório de 150 páginas
do Citigroup, divulgado em setembro de 2012, prevê que a Arábia Saudita deixará
de ser exportadora de petróleo antes de 2030, devido à redução da produção e ao
aumento da demanda interna, pois a população saudita passou de 3 milhões de
habitantes em 1950, para 27 milhões em 2010 e deve chegar a 39 milhões de
habitantes em 2030 (um aumento de 13 vezes em 80 anos). O pico da exportação
saudita de petróleo aconteceu em 2011.
A despeito destes alertas, outros autores dizem que, mesmo
com o aumento da demanda, ainda falta muito tempo para se chegar ao pico da
exploração e que o esgotamento das reservas ainda vai demorar um pouco mais. Por
exemplo, a produção mundial de hidrocarbonetos pode aumentar com a utilização
dos depósitos de “tar sands” (areias betuminosas) e o gás de xisto (shale).
Desta forma, pode ser que o “Pico de Hubbert” seja atingido apenas em 2030 ou
2050. O fato é que em algum momento haverá um choque entre a oferta e a demanda
de energia fóssil. Evidentemente, até se atingir o ponto crítico pode haver um
grande crescimento das energias limpas (solar, eólica, etc.), mudando a matriz
energética baseada nos combustíveis fósseis para a utilização da energia
renovável e de baixo carbono. Mas para tanto é preciso grandes investimentos
nas fontes de energia não fóssil desde já.
Todavia, quanto mais tempo durar a era do petróleo maior
será o impacto negativo sobre o ambiente e maiores serão os efeitos do
aquecimento global e das mudanças climáticas. Portanto, se o pico do petróleo e
do carvão vier logo, provavelmente haverá o fim do crescimento econômico ou
haverá algo parecido com o “estado estacionário”. Mas se a exploração de carvão,
petróleo e gás continuar no longo prazo as ameaças virão pelo lado ambiental.
Em ambos os cenários deve haver aumento do preço da energia e dos alimentos e
uma tendência de aumento do desemprego, pressionando as novas gerações.
Nesta situação, uma continuidade do incremento demográfico
pode gerar um desequilíbrio entre a oferta e demanda de trabalho e a oferta e a
demanda de bens de subsistência, especialmente em um contexto de escassez de
água limpa e potável. A dinâmica da produção de energia é diferente da dinâmica
populacional, pois após o “Pico de Hubbert” a produção de petróleo deve cair
rapidamente, mas a população deve continuar crescendo mesmo após as taxas de
fecundidade atingirem o nível de reposição, devido à inércia demográfica.
Assim, se o pico populacional acontecer depois do pico do
petróleo pode haver sérios problemas sociais. Esta disjunção pode ser o maior
desafio do século XXI. O desequilíbrio será tanto maior quanto mais cedo
acontecer o pico do petróleo e quanto mais tarde acontecer o pico populacional.
Todavia, o mundo pode se preparar para uma conjuntura menos traumática se
promover a aceleração das transições demográfica (para baixos níveis de
fecundidade) e da matriz energética (para baixos níveis de carbono).
(EcoDebate)
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