domingo, 30 de agosto de 2015

Solariza

Você já pensou como o Brasil seria se tivesse painéis solares instalados em todas as residências e prédios? A forma como produzimos e distribuímos energia seria revolucionada! Pensando nisso, lançamos o Solariza, um jogo para engajar os brasileiros em nossa campanha de energia solar.
O Solariza simula a instalação de painéis fotovoltaicos e mapeia o potencial de energia solar brasileiro, além de calcular o potencial solar dos telhados individuais e estimar a economia possível. No final, o vencedor do jogo e uma instituição beneficente serão presenteados com a instalação de placas solares em seus telhados.
Não fiquem de fora!
Acesse o site e ajude a transformar o Brasil em uma potência solar!

Novos projetos de energia solar gerarão 11.261 megawatts

Novos projetos de energia solar habilitados podem gerar 11.261 megawatts, energia comparável a Belo Monte
Leilão de energia solar ocorre em fim de agosto/15 e tem 341 projetos habilitados.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) anunciou em 25/08 ter habilitado 341 projetos de energia solar para o 1º Leilão de Energia de Reserva (LER) 2015, programado para 28/08/15. Os empreendimentos habilitados poderão gerar 11.261 megawatts (MW), volume de energia comparável a grandes projetos hidrelétricos, como a Usina de Belo Monte (PA).
Na avaliação do presidente da EPE, o elevado número de empresas inscritas será bom para a competitividade do leilão. “O grande número de projetos habilitados permite prever uma forte competição no leilão, que vai beneficiar o consumidor”, avaliou o presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim.
A Bahia tem o maior número de empreendimentos habilitados, 125 ao todo, somando 3.998 MW de potência. Entre os estados habilitados a participar da licitação estão ainda Piauí, com 61 projetos; Rio Grande do Norte, com 37 projetos; Pernambuco, com 31 empreendimentos; São Paulo, com 30; Minas Gerais, com 22 projetos; Paraíba, com 18; Ceará totaliza 11 projetos; Tocantins tem cinco habilitados e Goiás com apenas um. (ecodebate)

Maior estacionamento solar em geração do Brasil

Maior estacionamento solar em geração distribuída do Brasil será inaugurado na UFRJ
Projeto é iniciativa do Fundo Verde de Desenvolvimento e Energia para a Cidade Universitária, que tem como objetivo racionalizar recursos energéticos da instituição e incentivar projetos sustentáveis pelo país.
Em 18/08/15 a UFRJ deu um grande passo em busca da utilização mais eficiente de recursos naturais. O campus da Cidade Universitária passará a abrigar o maior estacionamento solar do país em geração distribuída, localizado no prédio anexo do Centro de Tecnologia. O espaço, de 651,64 metros quadrados, com capacidade para 65 carros, alocará 414 painéis solares fotovoltaicos capazes de gerar 140 mil kWh por ano. Essa energia é suficiente para abastecer até 70 residências com consumo médio de 167 kWh por mês. O investimento do projeto é de R$ 1,6 milhão. Participarão do evento o reitor da UFRJ, Roberto Leher; a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão; o Secretário de Fazenda do estado do Rio de Janeiro, Julio Bueno; e o presidente da Light, Paulo Roberto Ribeiro.
O projeto faz parte do programa de energia do Fundo Verde de Desenvolvimento e Energia para a Cidade Universitária da UFRJ, iniciativa que utiliza o recurso do imposto ICMS que é cobrado na conta de luz da universidade para implantar projetos sustentáveis no campus da Cidade Universitária. Suzana Kahn, coordenadora executiva do Fundo Verde, explica que países tropicais têm um grande potencial para projetos desse tipo:
– Por conta de nosso enorme potencial hidrelétrico, tínhamos uma posição confortável em termos de energia renovável. Só que esse potencial não é mais suficiente para o atendimento da demanda de energia elétrica no Brasil. Tanto hidrelétricas quanto termoelétricas exercem forte impacto no meio ambiente e enfrentam muitas limitações, como regiões com grande biodiversidade e, ainda, necessidade de amplo sistema de transmissão para grandes centros. Assim, a energia eólica e a solar são as novas fronteiras de fontes renováveis. Com as iniciativas do Fundo Verde, pretendemos demonstrar a viabilidade e eficácia do uso da energia solar.
Os painéis solares permitem a captação da energia, que alimentará a rede da Light. Segundo a Resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a energia produzida será descontada nas faturas seguintes. Dessa forma, além de inserir na rede da Light energia limpa e renovável, a iniciativa ainda pretende reduzir o valor dos gastos na conta de luz.
Outra vantagem do projeto é o benefício para reduzir o aquecimento global. Com os painéis, aproximadamente 70 toneladas de dióxido de carbono (CO2) deixarão de ser emitidas por ano na atmosfera.
Suzana ainda destaca que o meio ambiente não conflita com o desenvolvimento de uma região e é possível progredir por meio de ações sustentáveis e inovar ao aplicar e fazer bom uso dos impostos recolhidos para medidas objetivas, com eficácia de fácil comprovação. Para Suzana, o estacionamento solar é um dos projetos desenvolvidos pelo Fundo Verde que podem contribuir para que outras cidades comecem a discutir novas práticas de sustentabilidade.
– As cidades brasileiras têm grandes espaços que poderiam ser cobertos com painéis para gerar energia. Estacionamentos são um bom exemplo, pois podem gerar energia ao mesmo tempo que fornecem sombra aos veículos estacionados.
Sobre o Fundo Verde
O Fundo Verde de Desenvolvimento e Energia para a Cidade Universitária da UFRJ é uma iniciativa revolucionária que propõe transformar o campus da Ilha do Fundão em um polo de projetos de desenvolvimento sustentável, para melhorar a mobilidade urbana e tornar mais eficiente o uso de recursos de energia e água. O orçamento destinado ao Fundo Verde é gerenciado pela Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (COPPETEC), da própria UFRJ, e oriundo da isenção do imposto ICMS cobrado na conta de luz do campus da Cidade Universitária. Com a iniciativa, o Fundo Verde pretende ampliar o debate sobre sustentabilidade em todo o país e inovar no uso de recursos financeiros ao alocar o valor dos impostos recolhidos em medidas concretas, eficazes e de fácil comprovação. (ecodebate)

Expandindo horizontes com energia solar heliotérmica

Até pouco tempo atrás, não se pensava no Sol como potencial energético, mas como sinônimo de belas praias e calor extasiante. Aos poucos, as perspectivas estão mudando e a disponibilidade de irradiação solar durante o ano inteiro, como é o caso do Brasil, abre novas e variadas oportunidades de negócios e desenvolvimento industrial.
Atualmente, o aproveitamento do Sol pode ser feito por meio de três grandes tecnologias: aquecimento solar, energia solar fotovoltaica e energia heliotérmica (Concentrating Solar Power, ou CSP). Apesar de muitas vezes serem confundidas umas com as outras, elas envolvem maneiras muito distintas de transformar a luz solar em calor ou energia.
A energia fotovoltaica, por exemplo, converte a luz do Sol diretamente em energia elétrica, sem utilizar calor. As outras duas tecnologias – o aquecimento solar e a energia heliotérmica – funcionam pela captação e armazenamento de calor. A diferença é que, enquanto o aquecimento solar funciona numa faixa de temperatura entre 60°C e 150°C, a heliotermia, usando o princípio de concentração dos raios solares diretos, opera entre 200°C e 1000°C.
O calor heliotérmico pode ser aproveitado de duas formas: para gerar energia elétrica, com a utilização de uma turbina movida a vapor produzido pelo calor do Sol; ou diretamente, em aplicações como o fornecimento de calor industrial ou refrigeração.
Aplicações industriais no mundo
A oferta de calor de processo é uma questão bastante importante nos países industrializados. Na Alemanha, em 2007, a indústria era responsável por 28% do consumo total de energia do país, sendo que, desses, 76% eram utilizados para geração de calor.
Para o Brasil, as análises do International Energy Outlook 2013 (IEA, 2013) indicam que, em 2010, 60% da energia total consumida no país era utilizada pelo setor industrial. A previsão de consumo energético para os próximos anos é de aumento: cerca de 1,7% por ano entre 2010 e 2014, sendo que a indústria continua mantendo uma fatia considerável desse consumo.
O calor de processo em aplicações industriais abrange uma grande faixa de temperatura – entre 30°C e 1300°C. A tecnologia relacionada à energia heliotérmica facilmente atinge temperaturas até 400°C, faixa onde se encontram aplicações nas indústrias alimentícia, de tabaco e papel e celulose, por exemplo.
Temperaturas acima de 400°C são empregadas, principalmente, nas indústrias metalúrgica, de mineração e química. Enquanto no Brasil quase nenhuma experiência existe para tais processos industriais, no mundo já há muitos exemplos em operação de aplicação de energia heliotérmica para obtenção de calor de processo.
Empresas alemãs, francesas e italianas estão operando, por meio de heliotermia, com vapores superaquecidos de até 540°C a 100 bar de pressão. Na ilha de Sardenha (Itália), um concentrador solar do tipo Fresnel é empregado na produção de queijos. Com cerca de 1000 m² instalados e com o uso de vapor com altas temperaturas, a produção alcança 670 kg/h.
Em um dos projetos, realizados no Qatar, o calor é empregado em uma unidade de dessalinização térmica de produção de água doce para irrigação de plantas em estufas – produz-se cerca de 10m³ por dia de água doce. Também nesse país, os apaixonados por futebol irão gostar do que está sendo preparado para a Copa do Mundo de 2022: estádios estão sendo construídos com refrigeração por meio de CSP.
Um novo mercado para as empresas fornecedoras e instaladoras
Grande parte da economia brasileira utiliza processos térmicos em suas atividades industriais. No entanto, diferentemente do setor comercial, as temperaturas envolvidas em processos industriais normalmente situam-se acima dos 100°C. Para temperaturas entre 100°C e 200°C, consideradas baixas para o setor industrial, os sistemas de coletores solares convencionais atendem com preços bastante competitivos.
Entretanto, para médias e altas temperaturas, são necessários concentradores solares. Assim, o domínio das tecnologias heliotérmicas abre um novo mercado para as empresas fornecedoras e instaladoras de equipamentos e sistemas de aquecimento solar.
Para temperaturas de até 400°C, os coletores tipo Fresnel, que utilizam espelhos planos e foco em linha, atendem com custos muito competitivos, tanto de instalação quanto de operação e manutenção, principalmente por terem estruturas relativamente simples. Outra vantagem dessa tecnologia é a facilidade de instalação em telhados e coberturas, devido ao seu baixo peso e pela semelhança de instalação com os coletores convencionais.
Pelo fato de esses coletores serem uma evolução tecnológica dos convencionais, as empresas do setor podem, com pouca capacitação e um pequeno incremento em sua infraestrutura, passar a atuar neste mercado ainda inexplorado no Brasil.
Os sistemas Fresnel podem ser utilizados tanto para fornecer calor diretamente para o processo, quanto para realizar o pré-aquecimento, otimizando energeticamente uma indústria, uma vez que, com os altos cistos da energia elétrica, diversos processos para gerar calor ficaram inviáveis. Além disso, o uso dessa energia totalmente limpa e renovável aumenta a sustentabilidade dos produtos com ela produzidos.
No Brasil ainda não existem empresas fornecedoras dessa tecnologia, mas há possibilidades para a associação de empresas brasileiras com empresas internacionais (como da Alemanha, Estados Unidos e Espanha) para não somente importar equipamentos, mas também começar a produzir no Brasil. Visto que a tecnologia está em constante evolução, existe espaço para desenvolvimento tecnológico no Brasil, de modo que os equipamentos possam se adaptar melhor às condições brasileiras.
Como se pode ver, a heliotermia pode ter um papel importante nas aplicações industriais relacionadas ao calor de processo. Entretanto, atualmente a complexidade de processos industriais requerem um esforço no planejamento, na integração e na instalação desses sistemas.
Nesse sentido, como a utilização dessa tecnologia ainda é insipiente em processos industriais, a implementação de projetos demonstrativos e incentivos à utilização, como programas de subsídio, é essencial para ajudar a minimizar os riscos inerentes aos investimentos e a superar possíveis entraves à disseminação dessa tecnologia. (ambienteenergia)

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Escócia e a maior usina de energia de maré

Escócia terá maior usina de energia de maré do mundo
A iniciativa faz parte de um programa de energia limpa liderado pela Inglaterra.
Das mais de 260 turbinas previstas, 60 devem ficar prontas em 2016.
Uma usina com potencial de 400 MW gerado apenas com a força da maré está sendo construída no litoral da Escócia.
Chamada de MeyGen, a maior usina de marés do mundo ficará no fundo do mar no nordeste do país e poderá fornecer energia para 175 mil casas.
A usina contará com 269 turbinas – 60 delas devem ficar prontas em 2016 e o restante em 2020. A iniciativa, financiada pelo Reino Unido, faz parte de um programa de energia renováveis que prevê que até 2050 os britânicos produzam 190 GW de energia limpa. (asboasnovas)

Escócia e a maior usina de energia das marés

Escócia começa a construir maior usina de energia das marés do mundo
O condado de Caithness, no litoral nordeste da Escócia, está prestes a ganhar uma estrutura no fundo do mar que vai gerar energia suficiente para abastecer 175 mil casas. Trata-se da MeyGen, a maior usina de energia das marés do mundo, com potencial total de 400 MW, que começou a ser em janeiro/15.
Financiada pelo Fundo de Investimento em Energia Renováveis do Reino Unido, a iniciativa faz parte de um programa de energia limpa que prevê que até 2050 os britânicos produzam 190 GW de energia renovável. Para a primeira parte do projeto, foram investidas 51 milhões de libras (aproximadamente 203,5 milhões de reais).
Quando estiver concluída, a obra terá 269 turbinas. A empresa responsável pela gestão do projeto, a australiana Atlantis Resources, estima que 61 turbinas fiquem prontas no ano que vem e as restantes em 2020. A previsão é que a usina já comece a gerar e a entregar energia em 2016, com potencial suficiente para abastecer 46 mil casas.
Aproximadamente 25% da energia que vem do mar na Europa provém das costas escocesas, estima o governo. Só a Escócia gera 30% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, graças, em grande parte, às hidrelétricas. No entanto, o MeyGen é considerado o primeiro projeto de energia das ondas em larga escala no mundo.
Prós e Contras
Além de não ocupar muito espaço, essa fonte de energia não emite gases de efeito estufa quando em funcionamento e é renovável, uma vez que é resultado de campos gravitacionais do Sol e da lua, combinados à rotação da Terra em torno de seu eixo. Também é possível gerar energia com velocidades baixas, mesmo a 1 m/s, graças à densidade da água, mil vezes mais alta que a do ar.
No entanto, ainda existem poucos exemplos de usinas de energia das marés no mundo e não foram determinados todos os impactos ao meio ambiente. Acredita-se que, como as barragens de marés dependem da manipulação do nível dos oceanos, as usinas tenham efeitos ambientais semelhantes ao das hidrelétricas.
A construção das usinas também pode interromper a migração de peixes nos oceanos e as turbinas podem atrapalhar a circulação de grandes animais marinhos.
Outra desvantagem desse tipo de energia é o alto custo. Projeções apontam que a energia das marés será comercialmente rentável até 2020, com tecnologias melhores. Mas, para isso, é necessário mais investimento em pesquisa no setor. (abril)

Energia das marés e os investimentos

Energia das marés entra na agenda mundial de investimentos
O governo dos EUA está financiando com US$ 16 milhões o desenvolvimento de 17 projetos de utilização de energia das marés, ou maremotriz. A ideia é obter energia das marés, que o movimento da lua comanda. Devido aos altos custos, experiências com essa fonte de energia foram abandonadas no passado, mas atualmente essa tecnologia pode tomar impulso graças a turbinas bem mais leves e baratas.
A captação de energia das marés é feita por lâminas que giram, à semelhança das hélices que se movem com o vento, só que instaladas sob o mar. Além de terem um movimento mais previsível do que a energia eólica, a energia das marés também fornecem energia mais barata do que os ventos.
De acordo com o Departamento de Energia americano, a energia das marés tem um potencial de geração anual de 1.400 terawatts-hora por ano. Apenas um terawatt-hora é capaz de abastecer 85 mil lares.
Além dos Estados Unidos, o Reino Unido também vem realizando testes com a instalação de um conjunto de unidades de produção de energia das marés que deverá prover 120 megawatts em 2020.
A gigante GE já está testando turbinas geradoras submarinas e outras tecnologias correlatas nos litorais da Escócia e do País de Gales, consideradas os melhores lugares do mundo para o aproveitamento da energia das marés. (ambienteenergia)

Startup brasileira e a energia das marés

Startup brasileira desenvolve tecnologia voltada para energia das marés
No Brasil, uma startup carioca já está de olho em uma fatia do mercado de energia renovável ainda pouco explorada: a energia das marés. A SeaHorse desenvolveu uma tecnologia capaz de converter ondas do mar em energia elétrica. Esse tipo de fonte de energia ainda recebe pouca atenção, mas a SeaHorse promete um produto renovável e de baixo custo.
A tecnologia funciona através de um módulo que flutua em alto-mar. A movimentação das ondas aciona um mecanismo de pressurização da água dentro do módulo que transforma o movimento das ondas em energia elétrica.
O projeto é financiado pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e está sendo aprimorado na região da Ilha Rasa, a 14 quilômetros de Copacabana. A previsão é de que a startup receba até o final da pesquisa cerca de R$ 13 milhões da Eletrobras Furnas para viabilizar o projeto.
A SeaHorse é uma das 31 startups da Incubadora da Coppe/UFRJ, localizada no Parque Tecnológico da Universidade, que conta também com outras 24 empresas de vários portes. (ambienteenergia)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Energia nuclear

Discutir a questão nuclear exige um enorme equilíbrio e um grande desapego de todas os interesses econômicos envolvidos que modulam posições e determinam estratégias de todos os agentes envolvidos. Não se trata de ser contra, ou a favor da utilização pacífica da energia nuclear. Busca-se exercer apenas reflexão sensata que contribua para agregar argumentos no debate que se realiza.
Existe grande quantidade de agentes e o Painel de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), se alinha com esta posição, que acredita que o uso de energia nuclear é preferível, ao menos em relação ao emprego de termelétricas, para produção energética, na medida em que ocorre geração energética “limpa”, ou seja, isenta da produção de gases de efeito estufa. Este alinhamento ganha críticas igualmente porque assinala a falta de visão holística ou visão mais abrangente, de seus integrantes.
O processo utilizado numa central nuclear parece simples e prosaico, mas é extremamente complexo em suas variáveis e controles. Átomos de urânio tem sua fissão controlada até certa temperatura e emitem energia. O processo é iniciado e deve se impedir a propagação nuclear que tem que ser controlada com a interrupção da sequência reativa em temperatura indicada. Tudo é cuidadosamente planejado, mas relativamente complexo de controlar. Trabalhos descritivos mais cuidados podem ser encontrados em publicações do Prof. Ildo Sauer da Universidade de São Paulo.
Em recente entrevista à TV Câmara, o ativista e arquiteto Francisco Whitaker ressaltou que os protocolos envolvidos nos tratados entre Brasil e Alemanha para a construção das usinas localizadas em Angra, datam da década de 70 do século passado e podem ser considerados defasados em comparação com documentos mais atualizados e recentes que incorporam conhecimentos já acumulados e desenvolvidos após notáveis acidentes com usinas de geração nuclear como em Chernobyl, “Three Mile Island” e mais recentemente “Fukushima”. Na mesma oportunidade, declarou também que o projeto governamental de implantar mais 15 usinas de energia nuclear no nordeste, esbarra em fatos notórios e públicos, declarando que só a produção de energia a partir de biomassa no estado de São Paulo, produz o equivalente a 15 usinas atômicas médias.
Tudo na vida tem uma relação determinada de obtenção de benefícios e riscos envolvidos. A radioatividade está envolvida em várias dimensões da tecnologia do urânio enriquecido. Sendo o maior problema, mas não caracterizando o único risco envolvido. O plutônio produzido, por exemplo, tem segundo Francisco Whitaker tempo de meia vida de 24.100 anos. Sem tentar explicitar a conceituação de tempo de meia vida, bem conhecida de profissionais da área química, isto significa mais um resíduo perigoso a ser administrado por longo tempo.
Na verdade, se o empreendimento representativo de uma usina atômica tivesse todos os seus custos contabilizados, inclusive considerando a adequada disposição e neutralização dos resíduos atômicos que geram radioatividade nociva, pelo tempo e da forma que são necessários, os custos envolvidos seriam proibitivos. Mas permanece um sentimento de improvisação e uma visão retrógrada que não se apropria de toda a realidade envolvida particularmente em termos de realismo econômico, ao não incorporar todas as fases e procedimentos adequados.
Riscos existem em todas as atividades, por melhores, ou por mais defasados, que sejam os protocolos reguladores das atividades. Não se deseja qualquer mimetismo de comportamento, ou transferência de decisões, que são próprias da soberania e da autonomia de cada povo. Mas tem constatações que se evidenciam e falam por si próprias. A Alemanha partiu de um insignificante percentual de sua matriz energética de fonte eólica, há poucas décadas, e hoje, se encontra desativando todas as centrais nucleares e a energia eólica representa um potencial significativo de sua matriz energética, conforme atesta Nicholas Stern, ex-presidente do Banco Mundial em seu livro “O caminho para o desenvolvimento sustentável”, prefaciado por Israel Klabin, e editado pela Elsevier em 2010.
Não é preciso ficar dissecando minúcias das atividades ligadas à geração de energia a partir de fonte nuclear. Pelo contrário, uma visão mais holística permite apropriar que não é conveniente, adequado ou necessário se expor a este risco, seja com tecnologias ou protocolos mais adequados e modernizados ou não. Tampouco se trata de decisão econométrica, baseada em adequadas realizações de apropriações completas ou não de cálculos de custos. A questão é, se independente das variáveis tecnológicas e de procedimentos adequados, torna-se realmente necessário e fundamental para a viabilidade geral da sociedade se submeter a estes riscos e aos elevados custos decorrentes de qualquer irregularidade? A continuidade da industrialização e da modernidade das instalações do país depende desta alternativa?
A sociedade brasileira através de suas entidades representativas da sociedade civil é que deve ter o último posicionamento e determinar o procedimento sobre a alternativa mais adequada neste momento, assim como em outros casos. Cabe democraticamente respeitar a decisão da maioria, mas não se postar com ingenuidade diante das comuns associações ilícitas patrocinadas pelas representações políticas do país no exercício das funções determinadas por normatização legal. Embora isto exija um exercício de equilibrismo, sangue frio e sensatez.
São estas mesmo as características que garantirão resultados satisfatórios. Ainda mais no Brasil. Grande produtor de “comoddities” agrícolas e bens primários, e vocacionado, por variados fatores integrados, a se tornar competidor relevante do mercado agropecuário, internacionalmente. Consta que boa parte dos problemas gerados por Chernobyl foram episódios de radioatividade terem atingido produtos agrícolas por muito tempo. Estes produtos, consumidos posteriormente, geraram efemérides com relatos de atividades carcinogênicas por muito tempo, em variadas geografias.
O Brasil já sabe o que significam restrições sanitárias por febre aftosa ou até mesmo por produtos veterinários empregados em atividades agropecuárias, e sabe quão devastador poderia ser uma restrição na exportação agrícola pela ocorrência de uma contaminação radioativa de produtos agropecuários. A discussão sobre o tema está aberta. São riscos a serem assumidos, ou melhor, seria serem suprimidos? (ecodebate)

Casos de câncer são ‘rotina’ em Lagoa Real

Casos de câncer são vistos como ‘rotina’ em Lagoa Real
Segundo secretário, maior parte dos recursos de saúde vai para essa área, mas ligação com radioatividade é incerta.
‘Doença é coisa que anda no mundo, seu menino’, diz moradora.
Ao longo da estrada de terra que deixa a praça central de Lagoa Real e avança para a zona rural do município, onde vivem 80% de seus 15 mil habitantes, a caatinga é cortada por uma série de casas de taipa, erguidas com barro e madeira. Muitas delas, conforme pôde ser verificado pela reportagem, foram abandonadas por famílias que enfrentaram casos fatais de câncer. 
Estudos realizados até agora não apontam vínculo entre a exploração da mina de urânio pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e os casos de câncer na região. O crescimento de tratamentos relacionados à doença, no entanto, já é claramente sentido pela prefeitura de Lagoa Real.
O secretário municipal de Meio Ambiente do município, Willike Fernandes Moreira, relata que os casos de câncer passaram a ser tão frequentes no município que atualmente absorvem a maior parte dos recursos que a prefeitura dispõe para a área de saúde. Como são complexos, o dinheiro é gasto com as duas ambulâncias da cidade, que levam pacientes para serem tratados em Salvador, a 620 quilômetros de distância, ou até mesmo em São Paulo, a 1.420 quilômetros. “É uma situação grave. Nós não temos dados oficiais de câncer na região, mas sabemos que está matando muito”, diz Moreira. 
“Já são uma rotina de assistência para a prefeitura, infelizmente. Às vezes, conversamos com os motoristas das ambulâncias. Eles ficam abismados com o número de biópsias”, diz o secretário. “Há mais de 15 anos, não se ouvia falar nisso. Agora é o tempo todo, mas a causa disso a gente não sabe qual é. Não podemos culpar ninguém, nem mesmo o urânio. Mas que é algo muito preocupante, isso é.”
Em Caetité, na comunidade conhecida como Riacho da Vaca, ao lado da mina de urânio da INB, mora Elenilde Alves Cardoso, que há 19 anos é agente da Secretaria Municipal de Saúde. Seu trabalho é visitar a população local, identificar problemas de saúde e dar encaminhamento. “Temos só 50 famílias nessa vila, 180 pessoas. Dessas, 27 passaram a ter problemas de hipertensão”, disse. “Tem acontecido de crianças nascerem com anomalias. Também é muito comum animais nascerem com problemas de formação. No último ano, tivemos dois casos de óbito por causa de câncer.”
Morador de Lagoa Real, Sebastião José Gerino conta que, dois meses atrás, sua filha, que está grávida de 7 meses, perdeu o marido, de 33 anos. Entre a descoberta do câncer e a morte, foram 45 dias. “As pessoas falam muita coisa sobre as causas da doença, mas é difícil saber o que aconteceu”, disse.
Fiocruz
Um relatório divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em abril de 2014 se propôs a fazer um levantamento de casos de câncer na região, mas enfrentou limitações, por causa das dificuldades em coletar dados oficiais. O estudo, que teve participação da organização francesa Commission de Recherche et d’Information Indépendantes sur la Radioactivité (Criirad), registrou oficialmente 21 casos de câncer na região da mina de urânio entre 2005 e 2014. Outros 113 casos foram levantados desde o início da exploração da mina, em 2000, mas não puderam ser confirmados, por causa de restrições, como falta de documentação fornecida pela família. 
Segundo os especialistas, é comum a situação em que óbitos e tratamentos de câncer são registrados em outros locais, como Salvador e São Paulo, para onde segue a maioria dos pacientes. Moradora a poucos metros da cerca que delimita a área restrita da INB, Vidália Maria de Jesus, de 62 anos, diz que apoia a presença da INB. “As pessoas falam da água daqui, mas a gente ouve da INB que não tem problema. Então, eu acho que não tem mesmo. Doença é coisa que anda no mundo, seu menino. Não fica parada assim não”, afirma ela, que também tem um filho empregado nas instalações da estatal federal.
“Eles ajudam a gente, trazem uma cesta básica de vez em quando, dão um pão pra gente, então não pode reclamar, não está certo”, diz Vidália. “Eu vou construir uma casinha bem ali, do lado da mina.”
Estatal nega que existam riscos
A INB afirmou que pesquisa já demonstraram que o urânio natural não contribui para o aumento de casos de câncer ou outras doenças decorrentes de radiação. “O urânio está presente na crosta terrestre desde a formação do planeta Terra; a atividade de mineração não aumenta a radiação emitida por esse mineral porque ele trabalha com o urânio em estado natural.” A INB também reiterou que tem compromisso com o meio ambiente e a população e prestará esclarecimentos necessários para que “informações deturpadas não venham provocar apreensão na comunidade”. (OESP)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Térmicas elevam emissões do setor elétrico

A apenas três meses da COP21, a conferência do clima em Paris, um novo estudo divulgado em 18/08/15 coloca o setor energético brasileiro em saia justa.
Entre 1970 e 2013, as atividades de produção e consumo de combustíveis e energia elétrica quadruplicaram seus níveis de gases de efeito estufa e já respondem por 29% das emissões no país.
Detalhe: nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão no mesmo período.
Os dados são do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), plataforma criada pelo Observatório do Clima, rede que reúne 37 entidades da sociedade civil para discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro.
Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. Um dos vilões desse incremento é o mesmo responsável pela conta de luz mais salgada em tempo de crise hídrica: o uso intensivo de termelétricas a óleo combustível e diesel, fonte mais cara e poluente que a geração hidrelétrica.
A pesquisa também creditou a expansão das emissões do setor à queda da participação do etanol e consequente aumento do consumo de gasolina e diesel.
Na ponta do lápis, o crescimento das emissões por fonte primária, no período analisado, tiveram predomínio do petróleo (72%), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%).
Para Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).
Segundo ele, embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa.
“As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, diz Rittl.
“É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”
Há esperança
A nova análise do Observatório do Clima traz alguns dados positivos. As emissões do setor de mudança no uso do solo (desmatamento) apresentaram uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013.
Essa queda foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.
No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que a guerra ainda não está ganha. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo, frisando que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.
Agropecuária
A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%.
Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados. Segundo a pesquisa, a grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas.
Processos industriais são o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas.
Processos industriais
Processos industriais são o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no último ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas.
Resíduos
O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país.
O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo). (biodieselbr)

Conceito de Energia Térmica

A energia térmica é conhecida como a energia liberada em forma de calor, ou seja, passa de um corpo mais quente a outro que apresenta uma temperatura menor. Pode ser transformada tanto em energia elétrica como em energia mecânica.
Este tipo de energia pode ser obtido a partir de diferentes situações ou circunstâncias, tais como da natureza, do sol, de uma reação exotérmica, como é o caso da combustão de algum tipo de combustível.
Outra maneira de obter energia térmica é através de uma reação nuclear, seja por fissão (quando a reação nuclear ocorre no núcleo atômico) ou por fusão (vários núcleos atômicos que apresentam uma carga similar se unem para dar lugar a um núcleo muito mais pesado; está acompanhado da liberação de uma grande quantidade de energia).
Assim mesmo, outra maneira de obter este tipo de energia é pelo que se conhece como efeito Joule, um fenômeno que acontece quando em um condutor circula corrente elétrica, parte da energia cinética dos elétrons se transforma em calor como consequência dos choques que sofrem com os átomos do material condutor através da qual circulam.
Por outro lado, também é viável o aproveitamento da energia da natureza que se encontra em forma de energia térmica, como é o caso da energia geotérmica (a energia que se consegue aproveitando o calor interno do planeta Terra) e da energia solar fotovoltaica (eletricidade renovável obtida diretamente dos raios solares).
Vale destacar que a obtenção da energia térmica provoca sempre um impacto ambiental, porque a combustão libera dióxido de carbono e emissões altamente contaminantes. (queconceito)

sábado, 22 de agosto de 2015

Água contaminada por urânio é vetada

Após denúncia, água contaminada por urânio é vetada
Ministra do Meio Ambiente mandou suspender consumo; presença de metal em poço na Bahia foi revelada por reportagem do ‘Estado’.
Documentos mostram que INB demorou a informar a prefeitura e os proprietários
O Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) determinaram a suspensão imediata do consumo da água dos poços da região onde foi constatada contaminação por alto teor de urânio na Bahia. A decisão de apuração imediata da situação foi ordenada diretamente pela ministra Izabella Teixeira, assim que ela soube da denúncia em reportagem publicada no OESP em 22/08/15.
Além da medida tomada para assegurar a segurança da população, o IBAMA informou que a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) poderá ser multada por omitir informações. Em nota assinada pelo diretor de Licenciamento Ambiental Thomaz Miazak de Toledo, o instituto declarou que “não recebeu da INB os laudos de qualidade da água que, segundo reportagem do Estado, apontam presença de urânio em níveis superiores aos estabelecidos pela Resolução 396 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em poço localizado na região de Caetité”.
“Imediatamente após ser informado pela reportagem, o IBAMA notificou a INB, a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e as autoridades de saúde competentes para que adotem as medidas necessárias de maneira que não haja risco para a população local”, informou o órgão ambiental. “A eventual omissão da INB caracteriza descumprimento da condicionante 1.4 da licença de operação da mina de Caetité, fato que, se confirmado, implicará a aplicação de multa prevista no art. 66 do Decreto 6514/2008.”
A reportagem teve acesso a laudos técnicos e despachos que comprovam que a INB, responsável pela extração e produção de urânio, realizou duas inspeções em poço na região e encontrou água contaminada com índices do metal pesado mais de quatro vezes superiores ao limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Conama. Apesar de ter feito coleta de água em outubro e em março, a INB só comunicou a prefeitura de Lagoa Real no fim de maio. No período, não houve comunicação da estatal sobre o caso para o ministério ou o IBAMA, órgão responsável por licenciar e fiscalizar qualquer tipo de empreendimento ou denúncia envolvendo material radioativo.
“Como órgão licenciador da mina, o IBAMA exige que a INB encaminhe relatórios periódicos de implementação dos programas ambientais e, em caso de evento não usual que possa resultar em dano ao meio ambiente e risco à população, comunique imediatamente a ocorrência ao IBAMA, à Cnen e ao Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia)”, diz o instituto oficialmente.
Sem irregularidades
A INB nega irregularidades no caso, sob justificativa de que a área do poço contaminado, uma região conhecida como Varginha, está a 20 km de distância de sua mineração e não faz parte da área que deve fiscalizar. No entanto, como revelado pela reportagem, a própria estatal afirma, em documento disponível na internet, que inspeciona a qualidade da água na região de Varginha, comunidade de Lagoa Real. 
Em nota, a Cnen repetiu o argumento da INB, de que o poço não estaria em sua área de responsabilidade. “A INB tem obrigação de nos informar sobre os resultados das medidas nos poços de controle ambiental, que são justamente os que refletem os efeitos das atividades de mineração e beneficiamento de urânio. Esta obrigação tem sido cumprida”, disse a comissão. “Se o alto teor de urânio da água encontrada no referido poço fosse proveniente das atividades da INB, a Cnen tomaria as devidas medidas. Neste caso específico, nos cabe apenas ratificar a recomendação da própria INB de que a água do poço não seja usada para consumo humano”, informou, acrescentando que não cabe à comissão avaliar a potabilidade de água fora da área de influência dos empreendimentos que licencia. “Trata-se de responsabilidade mais afeita à vigilância sanitária.” (OESP)

Propina nuclear

No inquérito sobre corrupção na Petrobras (denominada operação lava-jato) surgiu suspeitas de fraudes sobre negócios do grupo Eletrobrás, composto de 15 empresas estatais responsáveis por mais de um terço da energia consumida no país, com patrimônio superior a R$ 60 bilhões.
Todo esse conjunto de empresas está sob investigação por iniciativas coordenadas entre o Ministério público (MP), Tribunal de Contas da União (TCU) e Policia Federal (PF). Além de suas contas estarem sendo auditadas pela Hogan Lovells, escritório de advocacia americano contratado pela Eletrobrás.
As suspeitas sobre negócios escusos foram reforçadas em depoimentos de executivos de empreiteiras, de ex-diretores da Petrobras e de agentes de distribuição de propinas. Foi nessa rede que caiu o diretor presidente da Eletronuclear, uma das menores subsidiárias do grupo Eletrobrás, o almirante da marinha brasileira Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Nesta investigação envolvendo propinas na construção de Angra 3 também esta sob investigação acusados de receber subornos, o ex ministro das Minas e Energia Edson Lobão, o ministro do TCU Raimundo Carreiro e o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU.
O almirante Othon ficou conhecido por liderar, no auge da ditadura militar, a equipe que desenvolveu o Programa Nuclear Paralelo (entre 1979 e 1994) iniciativa militar no âmbito da antiga Coordenadoria de Projetos Especiais da Marinha, em que foram gastos, segundo revelado pelo próprio almirante, US$ 667,9 milhões. O objetivo era bélico com o desenvolvimento de tecnologia em enriquecimento de urânio, e assim produzir artefatos nucleares. Tudo a margem do projeto de construção das usinas nucleares.
No início do primeiro governo Lula o almirante foi convidado como conselheiro presidencial, e em seguida, em 2005 assumiu a presidência da Eletronuclear. Em 2009 se deu a retomada da construção de Angra 3, parada há 23 anos.
O ex todo poderoso Othon, agora encarcerado é acusado de receber R$ 9,8 milhões de propina de empreiteiras contratadas para o projeto da 3ª usina nuclear em Angra dos Reis (RJ), entre 2009 e 2014. Este dinheiro, segundo a investigação saíram dos cofres de empreiteiras com obras em Angra 3 (Andrade Gutierrez, Engevix, Camargo Corrêa, …), passaram pelo caixa da Link Projetos e Participações e chegaram na empresa familiar que o almirante era sócio, a Aratec Engenharia Consultoria & Representações. O ”modus operandi” destas transações criminosas é semelhante ao ocorrido na Petrobras, utilizando empresas de fachada para repasses de propinas.
Inicialmente detido em regime de prisão temporária, depois convertida em preventiva, na prática o ex-presidente da Eletronuclear (em 6/8 a Eletrobrás anunciou seu pedido de demissão) não tem prazo para ser solto. O juiz justificou sua decisão ao escrever no despacho, que “são robustas as provas do pagamento de propina a Othon Luiz em decorrência do cargo exercido na Eletronuclear e mediante a simulação de contratos de consultoria fraudulentos”.
Este episódio envolvendo o executivo principal da Eletronuclear é gravíssimo, e suficiente para a interrupção das atividades nucleares no país, em particular a construção de Angra 3, com o congelamento de novas instalações. Espera-se que todas as denúncias sejam investigadas e apuradas as responsabilidades.
Não se pode mais ignorar as objeções técnicas ao projeto de Angra 3. Como as denúncias com relação à obsolescência dos equipamentos tecnologicamente defasados, e que não atende aos requisitos internacionais de segurança, comprometendo o seu funcionamento e aumentando o risco de um desastre nuclear. Assim nem as seguradoras querem ter Angra 3 como cliente.
Também os altos custos na construção da usina, estimados para mais de R$ 18 bilhões depois de pronta, vai de encontro ao próprio discurso oficial de oferecer energia elétrica a tarifas módicas ao consumidor final.
É inaceitável e não se admite que a decisão de construir centrais nucleares no país tenha sido feita em um mero balcão de negócio, sem a necessária salvaguarda da vida das pessoas. (ecodebate)

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Entenda o processo de enriquecimento do urânio

O processo de enriquecimento do urânio consiste em aumentar a concentração de isótopos 235 deste mineral. Estes isótopos, cujos núcleos possuem 92 prótons e 143 nêutrons, são os únicos átomos de urânio capazes de realizar a fissão nuclear.
Em uma usina nuclear, a fissão fornece calor para o aquecimento da água e produção do vapor que movimenta as turbinas e gera energia elétrica.
O enriquecimento não é uma reação química, mas acontece por aceleração. Na ultracentrifugação, isso ocorre em uma máquina que gira a 70 mil rotações por minuto.
Neste processo, o urânio é enriquecido de 0,7% para em torno de 3%. Só para comparar, uma bomba atômica utiliza urânio enriquecido a mais de 80%.
O Brasil já possuía uma tecnologia de enriquecimento de urânio desde a década de 80. Mas ela não possibilitava a produção em escala suficiente para alimentar usinas nucleares. Por esta razão, o urânio extraído de Caitité (BA) precisava ser enriquecido no Canadá e na Europa antes de seguir para as usinas nucleares brasileiras.
O novo processo de ultracentrifugação foi desenvolvido pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), em conjunto com o Centro Tecnológico da Marinha de São Paulo. Esta tecnologia permite a produção de urânio enriquecido em escala industrial.
Com isso, o Brasil passa a ser o sétimo país no mundo a dominar a técnica, ao lado de Rússia, China, Japão, Holanda, Alemanha e Inglaterra. Os Estados Unidos e a França utilizam outra técnica para enriquecer o minério, a difusão gasosa.
Segundo dados da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o enriquecimento do urânio no Brasil pode representar uma economia de US$ 19 milhões a cada 14 meses. (uol)

O que é o urânio enriquecido?

Só de ler esse nome a gente já pensa em bombas nucleares, né? Mas a principal utilidade do urânio enriquecido é gerar energia elétrica. Ele recebe o adjetivo porque o urânio encontrado na natureza é bastante "pobre": 99,27% do metal é formado por urânio-238, que não serve para as usinas nucleares. Energeticamente falando, o que interessa mesmo é o urânio-235 (U-235), que compõe menos que 1% da massa total do urânio extraído nas minas. O produto enriquecido nada mais é que o metal bruto com uma porcentagem de U-235 aumentada artificialmente. Quando essa quantidade chega a 2% ou 3%, o produto já é capaz de gerar energia nas usinas.
Mesmo com essa proporção aparentemente baixa, a força que tal matéria-prima gera é absurda: alguns gramas de urânio enriquecido fornecem energia equivalente à da queima de toneladas de carvão ou de milhões de litros de gasolina. Esse poder todo vem da fissão, ou seja, da quebra dos átomos do U-235. Não existe forma mais eficiente de obter energia do que quebrar átomos. E o U-235 tem justamente a propriedade de se romper sem resistência. Basta lançar uma partícula - um nêutron, no caso -, para que ele arrebente e gere energia pura. Um exemplo funesto dessa força está nas bombas atômicas. A diferença é que o urânio dessas armas é bem mais rico em U-235 que o das usinas. O urânio-238 que sobra do enriquecimento não vai todo para o lixo. Entre outras coisas, ele pode ser convertido em plutônio, que também serve para as usinas nucleares e, infelizmente, para a fabricação de mais bombas.
Concentração perigosa
Nível de enriquecimento torna o metal útil para usinas ou para bombas atômicas
1. O urânio sai das minas na forma de dióxido de urânio (UO2), misturado a argila, enxofre e outras impurezas. Uma tonelada desse metal na natureza contém apenas 7 quilos de urânio-235 (U-235), o ideal para gerar energia nuclear. O principal composto restante é o menos aproveitável urânio-238 (U-238).
2. O urânio bruto é limpo com elementos como ácido sulfúrico e transformado em pó. Depois, é submetido a um gás à base de flúor sob uma temperatura de 550ºC, tornando-se uma substância gasosa também. Esse produto passa por um novo banho de flúor, a 350ºC, e vira um gás com moléculas compostas por um átomo de urânio e seis de flúor (UF6).
3. O UF6 é direcionado contra uma espécie de peneira, uma barreira cheia de poros microscópicos. O U-235 é menor que o U-238 e passa pelos poros mais facilmente. A passagem pela "peneira" é repetida até a concentração de U-235 chegar ao nível desejado. Depois, outros processos separam o urânio enriquecido do flúor e transformam o metal gasoso em tabletes sólidos.
4. Utilização
a. O urânio pobre - o U-238 barrado na "peneira" — também tem utilidade. Ele é aplicado na blindagem de tanques de guerra e na construção de projéteis (munições), já que é 2,5 vezes mais pesado que o aço. Mas também há um uso civil: denso, ele serve como contrapeso na carcaça de aviões.
b. O urânio pouco enriquecido, com 2% a 4% de U-235, é suficiente para as usinas nucleares. Nelas, a energia criada pela fissão desses átomos é usada para ferver água. E o vapor resultante move as turbinas, gerando eletricidade. Esse mesmo urânio também é usado para impulsionar submarinos e porta-aviões nucleares.
c. O metal altamente enriquecido tem entre 90% e 99% de U-235. Como essa concentração é muito grande, o produto gera uma energia absurda em frações de segundo. Por isso esse é o urânio enriquecido usado nas bombas atômicas. Alguns gramas dele causam mais destruição do que a vista em Hiroshima, no Japão, em 1945.
Como é o processamento de enriquecimento de urânio?
Saiba como ocorre cada etapa do processo de enriquecimento do elemento químico radioativo urânio, que pode ser usado na fabricação de armas nucleares.
O urânio enriquecido no Irã preocupa a comunidade internacional.
O país fechou acordo para trocar parte de seu urânio levemente enriquecido por combustível no Exterior.
Assista a uma explicação simples e detalhada em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/swf/Uranio/loader590x500.swf  (mundoestranho)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Enriquecimento de Urânio

Sabemos que o elemento urânio  é encontrado na natureza na forma combinada. O isótopo mais abundante de urânio (238U) não possui um grande poder de fissão. Mas sabemos que o isótopo de urânio (235U) possui um grande poder de sofrer fissão nuclear. A probabilidade deste isótopo do urânio ser fissionado é da ordem de mil vezes maior que qualquer outro elemento.
Wölsendorfita, um mineral raro que contém urânio em sua composição.
A matéria prima para a fabricação de combustível nos reatores nucleares é o UO2, este óxido é muito pobre em urânio físsil (235U), isto é que pode sofre fissão nuclear. Aproximadamente 0,7% dos átomos de urânio presente neste oxido são urânio físsil, sendo assim necessário o enriquecimento de urânio, ou seja, a separação do urânio físsil do urânio não físsil. Dentre os processos de enriquecimento de urânio apenas dois processos se destacam industrialmente, sendo a difusão gasosa e a ultracentrifugação.
O processo de difusão gasosa consiste em comprimir o hexafluoreto de urânio (UF6) através de membranas porosas, associadas em série a fim de separar o 235U do 238U. No processo de ultracentrifugação, a separação é feita através da força centrifuga.
Para as usinas, o porcentual de enriquecimento é de 3% a 5%. Para mover submarinos, por exemplo, precisa-se de Urânio enriquecido a 20%. Com 95% de concentração de U-235 produz-se uma bomba atômica.
Fissão do núcleo de urânio - 235U, gerando dois novos núcleos, dois nêutrons livres e grande quantidade de energia. (infoescola)

Contaminação da água por urânio em Caetité

Contaminação da água por urânio em Caetité - BA
Artigo selecionado dentre os "estudos de casos" apresentados por alunos na disciplina Sustentabilidade no Contexto das Ciências, oferecida pela Diretoria de Extensão da Fundação Cecierj. O artigo descreve a contaminação da água usada para consumo humano coletada na área de influência direta da mineração de urânio no município de Caetité, na Bahia. São fornecidos links de vídeos e bibliografia de apoio com os quais o professor pode complementar o assunto nas aulas de disciplinas como Biologia, Ciências, Química e Educação Ambiental, entre outras, além de servir como sugestão para realização de trabalhos da turma em seu próprio meio ambiente.
Introdução
Os metais são provavelmente os elementos tóxicos mais antigos conhecidos pelo homem. Nem todos os metais são tóxicos: existem os essenciais, que possuem funções biológicas importantes no corpo humano. São exemplos de metais essenciais: ferro, zinco, manganês, cromo, cobalto e cobre.
O elemento químico urânio é um metal branco-níquel, pouco menos duro que o aço e se encontra em estado natural nas rochas da crosta terrestre. Sua principal aplicação comercial é na geração de energia elétrica, sendo empregado como combustível para reatores nucleares de potência.
É também utilizado na produção de material radiativo para uso na medicina e na agricultura.
Figura 1: Uraninita.
O urânio é extraído da uraninita (Figura 1) e de outros minérios contendo fosfatos e arseniatos uraníferos, purificado e concentrado sob a forma de um sal de cor amarela conhecido como yellowcake (ou concentrado de U3O8), cuja composição química é o diuranato de amônia. Esses minérios aparecem geralmente nas rochas eruptivas e nos pegmatitos associados ao tungstênio. Suas maiores concentrações estão, porém, nas rochas sedimentares.
Figura 2: Minério de urânio.
O Brasil possui uma das maiores reservas mundial de urânio (Figura 2), o que permite o suprimento das necessidades em longo prazo e a disponibilização do excedente para o mercado externo.
Figura 3: Minério de urânio.
O processo de beneficiamento do minério de urânio é o de lixiviação em pilhas (estática): depois de britado, o minério é disposto em pilhas e irrigado com solução de ácido sulfúrico para a solubilização do urânio contido nele. Essa técnica dispensa fases de moagem, agitação mecânica e filtração, permitindo uma operação com menores custos de investimentos, em face do reduzido número de equipamentos e unidades operacionais envolvidos. A concentração do urânio é realizada pelo processo de extração por solventes orgânicos, seguida da separação por precipitação, secagem e estocagem em tambores.
Os impactos ambientais advindos da exploração e do beneficiamento de urânio são em grande parte semelhantes àqueles causados por atividades de mineração em relação a seus rejeitos e efluentes. A liberação de efluentes líquidos e atmosféricos (gases e particulados) para o meio ambiente causado pela extração e pelo beneficiamento de urânio tem o potencial de alterar a qualidade do ar, do solo e da água.
Contudo, a presença de radiatividade no minério dá origem ao impacto radiológico e, consequentemente, a aspectos adicionais relativos ao gerenciamento ambiental, como disposição e tratamento de rejeitos, controle de emissões e monitoramento ambiental.
Os radionucleídeos liberados na atmosfera misturam-se, dispersam-se e depositam-se na superfície do solo e dos vegetais, entrando na cadeia alimentar.
Enriquecimento do urânio
O urânio é um metal pesado radiativo. Para que o urânio seja utilizado energeticamente, é preciso que, antes do procedimento de fissão nuclear, ocorra o enriquecimento no isótopo 235U, que é a única forma capaz de realizar a fissão nuclear e que consegue sustentar uma reação em cadeia. Durante a fissão nuclear há a geração da chamada energia nuclear. Tornar o urânio enriquecido significa exatamente separar o urânio físsil do não físsil.
O processo de enriquecimento pode ocorrer de várias maneiras, entre elas a difusão gasosa, a ultracentrifugação e a utilização de raios laser. As mais comuns, em nível industrial, são a difusão gasosa e a ultracentrifugação. Para as usinas termelétricas, o enriquecimento é de 3% a 5%; como combustível para mover submarinos, por exemplo, precisa-se de urânio enriquecido a 20%; para produzir uma bomba atômica deve-se atingir 95% de concentração de 235U.
Figura 4: Modelo de fissão nuclear do 235U.
Os produtos de fissão resultantes do combustível nos reatores nucleares sofrem tratamento especial em usinas de reprocessamento, onde são separados e comercializados para uso nas diversas áreas de aplicação de radioisótopos. Os materiais radiativos restantes, que não têm justificativa técnica e/ou econômica para serem utilizados, sofrem tratamento químico especial e são vitrificados, guardados em sistemas de contenção e armazenados em depósitos de rejeitos radiativos.
Séries radiativas
Cada elemento radiativo, seja natural ou obtido artificialmente, se transmuta com uma velocidade característica de desintegração. Esse tempo foi denominado meia-vida, que é uma medida de decaimento da radiatividade à metade de seu valor original. No caso de elementos radiativos usados em laboratórios de pesquisa, a fonte tem uma meia-vida curta, e, após algumas semanas, a radiatividade chega a um valor que não se distingue do ambiental. Esse é o caso do 131I, usado na medicina nuclear em exames da tireoide; seu decaimento é de oito dias. O 235U sofre desintegrações sucessivas até formar um núcleo estável de chumbo. Em cada desintegração ele emite radiações alfa, beta ou gama, formando intermediários ainda instáveis.
Figura 5: Desintegração de núcleos radiativos.
A meia-vida do U pela série natural radiativa é de 713 milhões de anos, quando pela emissão de partículas alfa se transmuta em tório 231, que tem a meia-vida de 24,6 horas e emite partículas beta, formando o protactínio 231, que tem uma meia-vida de 32.000 anos e assim por diante.
Com o surgimento de máquinas aceleradoras de partículas, os núcleos radiativos puderam ser "fabricados" em laboratório, para que sua desintegração fosse planejada.
Figura 6: Séries radiativas naturais.
Estudo de caso: Caetité-Ba
O Distrito Uranífero de Lagoa Real, localizado na Serra Geral, Caetité-BA, foi descoberto durante a execução de levantamentos geofísicos realizados entre 1974 e 1979. Tal descoberta colocou o Brasil em posição de destaque mundial, sendo o 7º país com maior reserva de urânio do mundo, iniciando a sua extração apenas em 1998, com o esgotamento da exploração em Poços de Caldas-MG. A empresa estatal exploradora de urânio na região é a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), substituta da Nuclebrás, e visa à extração do urânio para abastecer energeticamente as usinas nucleares de Angra dos Reis (Figura 4).
Figura 7: INB Caetité-BA.
A mina e uma unidade de beneficiamento de urânio são gerenciadas pela INB, que estima que a reserva de urânio apresente teor e dimensão estimadas em 100.000 toneladas exclusivamente de urânio. Essa quantidade é suficiente para o suprimento das centrais nucleares Angra 1, 2 e 3, além das usinas previstas no Plano Nacional de Energia 2030 - EPE (4000mW) durante toda a vida útil dessas instalações.
Alguns elementos são química e bioquimicamente estáveis e apresentam vida longa no solo, nos sedimentos e na água, causando grande impacto ambiental. Esse é justamente o caso dos compostos de urânio presentes na natureza, que persistem no meio e podem causar efeitos crônicos à biota e aos seres humanos.
Impactos ambientais gerados pela mineradora
A mineradora está operando com capacidade de produção de 400 ton/ano de concentrado de urânio. Para atender à demanda de combustível nuclear pela instalação de Angra 3, a INB dobrou sua produção para 800 toneladas de yellowcake por ano em Caetité. A expansão da mineração leva a aumento dos impactos ambientais e sociais na área de influência direta da mina e faz crescer a frequência de transportes terrestres e marítimos de urânio enriquecido em áreas urbanas populosas da Bahia e do Rio de Janeiro para completar o ciclo de vida do combustível nuclear.
O estudo de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (Rima) da INB Caetité definiram como área de influência direta da mineradora localidades socioeconômicas e culturais relacionadas pela implantação e pela operação da mina, abrangendo habitantes situados em um raio de 20 km a partir do centro do empreendimento. Algumas bacias vizinhas também foram incorporadas, porque a água é o elemento transportador mais significativo em função da facilidade de escoamento dos possíveis poluentes pela rede de drenagem superficial e subterrânea (INB, 1997).
De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, desde 2000 já ocorreram em Caetité várias contaminações das águas subterrâneas e superficiais por metais pesados e particulados em várias ocasiões.
O Greenpeace coletou amostras de água e sedimentos de Caetité em agosto de 2008 (Figura 8). Os resultados indicam a presença de radionucleídeos naturais das séries urânio-238 e tório-232 em duas lagoas naturais no entorno da mina. Segundo a pesquisa realizada por essa entidade, a amostra de água colhida de um poço artesiano a cerca de oito quilômetros da mina apresentou concentrações de urânio sete vezes maiores do que os limites máximos indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Outra amostra, coletada de uma torneira que bombeia água de poços artesianos da área de influência direta do empreendimento da INB, estava com o dobro do limite estabelecido pela OMS e acima do Índice Conama.
Figura 8: Ativistas do Greenpeace coletam amostra de água contaminada em poço de Juazeiro, Caetité-BA.
Figura 9: Vazamento de urânio em Caetité-BA.
O EIA/Rima do projeto de exploração de urânio em Caetité previa diversos impactos, entre os quais:
· alteração da qualidade do ar devido às emissões atmosféricas durante a operação do empreendimento decorrente da movimentação dos solos e do desmonte de rochas na lavra, na britagem e rebritagem do minério, "gerando quantidade significativa de material particulado, além da emanação de gás radônio". Segundo o Rima, esses contaminantes podem ser transportados pelos ventos, atingindo o meio ambiente e, consequentemente, o homem;
· contaminação dos mananciais subterrâneos com alterações das suas propriedades e potabilidade. "A liberação de poluentes para o meio ambiente durante a implantação e a operação do empreendimento, com possíveis alterações na qualidade das águas subterrâneas, poderá ocorrer, de forma significativa a partir do desmonte de rochas na lavra, do pátio de lixiviação, da bacia de deposição e reciclagem de efluentes líquidos, da disposição de rejeitos sólidos e estéreis, da unidade de tratamento do rádio, dos pátios de estocagens de insumos das operações da unidade de processo." O estudo previa que o controle sobre a qualidade da água deveria ser constante, e os dados periodicamente informados aos usuários e à comunidade em geral;
· deposição de partículas comuns e radiativas sobre a cobertura vegetal. "O aerossol gerado nessas atividades de mineração de urânio deverá conter certo teor de isótopos radiativos devido à ocorrência dessas substâncias no solo e no subsolo da área do projeto. Esse pó, ao ser dissipado pelo vento, irá depositar-se sobre a cobertura vegetal das áreas vizinhas, podendo causar sua contaminação com isótopos radiativos. Devido à longa duração das emissões, este foi considerado um impacto significativo e negativo."
Figura 10: Extração subterrânea de urânio em Caetité-BA.
Riscos à saúde decorrentes da incorporação de urânio pelos habitantes de Caetité
Elementos radiativos como o urânio chegam ao interior do corpo humano quando ingeridos em alimentos e na água, inalados, absorvidos pela pele ou mucosas ou quando administrados em exames que utilizam esses materiais. No caso de liberação de urânio para o meio ambiente, esse elemento é ingerido diretamente via água contaminada e toda a cadeia alimentar por meio de vegetais, do leite e da carne.
As limitações encontradas na origem da contaminação indicam significativo potencial de exposição da população local a níveis elevados de radiatividade; foram feitos estudos sobre efeitos da radiação na saúde e levantamentos sobre casos de câncer no município nos últimos anos. Em Caetité, metade dos 46 mil habitantes do município vive na zona rural, onde cria gado, planta mandioca, cana-de-açúcar, feijão, milho e outros produtos. Na região, há consumo humano e animal de água não tratada de poços artesianos e de um riacho que atravessa a mina de urânio, o Riacho da Vaca.
Em 2007, foi desenvolvida uma pesquisa para determinar o grau de contaminação ambiental por urânio, utilizando dentes humanos como bioindicadores (dentes extraídos por motivos ortodônticos de pessoas de 5 a 87 anos de idade) e determinando os níveis de incorporação do radionucleídeos pela técnica de espectrometria de massa acoplada ao plasma de argônio (ICPMS) no Laboratório do Centro de Laser e Aplicações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Universidade de São Paulo (USP). O principal objetivo do trabalho foi estudar a contaminação ambiental à qual estão expostos os moradores de Caetité e os consequentes efeitos à saúde. Como a concentração de urânio em dentes é muito similar à verificada no esqueleto, os resultados do estudo expressam o conteúdo de urânio no esqueleto como um todo. Para efeito de comparação e controle, a pesquisa coletou dentes de habitantes da Represa Guarapiranga, na região metropolitana da cidade de São Paulo. Esse estudo originou a dissertação de mestrado na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus-BA intitulada Estudo de contaminação ambiental por urânio no município de Caetité-BA.
Nos resultados do estudo citado, os habitantes da região de Caetité apresentaram incorporação média de urânio igual a 52,3 ppb (μg/L), cerca de duas vezes maior que nos municípios baianos vizinhos.
Os índices de incorporação de urânio por habitantes de Caetité foram 25 vezes maiores do que os apresentados na região controle, a Represa de Guarapiranga, e cerca de cem vezes maiores do que a média mundial. O estudo conclui que esses resultados são bastante consistentes com o fato de que a maior proximidade com a planta de extração e processamento de urânio operada pela INB resulta em maior contaminação ambiental, levando assim os habitantes de seu entorno a ingerir relativamente mais urânio. Essa foi a situação verificada em Caetité, onde a ingestão de urânio é mais do que o dobro dos valores encontrados nas duas outras regiões mais distantes da planta de processamento da INB, Lagoa Real e Igaporã.
E continua: "Admitindo-se que a correlação entre urânio incorporado e urânio ingerido seja aproximadamente linear, concluiríamos que em Caetité a população ingere cem vezes mais urânio do que a média mundial".
As populações dessas localidades e de Caetité, em particular, estão sujeitas a riscos radiobiológicos muito superiores aos de populações de outras regiões, tanto no país como no restante do mundo. Essa circunstância pode levar a sérios problemas de saúde como a ocorrência de neoplasias.
Figura 11: Coleta de água na região de Caetité por famílias locais. Fonte: Greenpeace
As consequências das radiações nucleares para os humanos são diversas e dependem dos órgãos do corpo e sistemas atingidos. Quando o corpo é exposto à radiação, absorve certa quantidade de energia dessa radiação, chamada dose absorvida. Quanto maior a exposição, maior a dose absorvida, maiores serão os danos provocados pela radiação; é consenso entre especialistas de que não há dose de radiação tão pequena que não produza efeito colateral no organismo humano, existindo assim uma relação contínua entre exposição e risco.
A exposição a doses de radiação muito altas pode causar falência do Sistema Nervoso Central e síndrome gastrintestinal, seguida de morte em horas ou dias. Existem efeitos, porém, que aparecem depois de anos ou décadas. Um exemplo é o câncer, que só surge vários anos após a irradiação do organismo.
Ingestão crônica de urânio
Alguns radionucleídeos se depositam em tecidos e órgãos importantes e, dessa forma, constituem-se num componente importante do background (histórico) radiativo que irradia permanentemente o indivíduo. Esse é justamente o caso do urânio.
A afinidade iônica faz do esqueleto humano um órgão retentor de metais. Isso significa que, mesmo depois de cessada ou reduzida a fonte externa (exógena) emissora de radiação, o indivíduo continuará exposto ao elemento que ficou retido na estrutura óssea. O esqueleto passa a funcionar como fonte interna (endógena) de radiação. Assim sendo, quanto maior a retenção de elementos radiativos no corpo, maior e mais longa será essa exposição.
Além disso, estudos demonstraram que baixas concentrações de urânio ingeridas de forma crônica, ou seja, no transcurso de longos períodos, levam ao acúmulo do elemento não somente nos ossos como também em todo o volume da medula óssea, colocando as células produtoras de sangue, chamadas de células estaminais hematopoiéticas, no raio de alcance da radiação alfa.
Observa-se ainda que, depois do esqueleto, a maior acumulação de urânio se dá nos rins, saturando a partir de idades iguais e superiores a 10 anos. Essa constatação é grave em decorrência da alta nefrotoxicidade de alguns compostos de urânio, notadamente os sais de uranila. Portanto, além dos riscos radiobiológicos, os habitantes de Caetité também estariam sujeitos aos efeitos toxicológicos nos rins.
Os efeitos hereditários ou genéticos podem surgir somente nos descendentes do ser irradiado como resultado de danos por radiação nas gônadas, que são as células dos órgãos reprodutores. Ainda não existe conhecimento consolidado sobre danos hereditários em seres humanos, apesar de estudos em camundongos e vegetais apontarem que a radiação nuclear é um agente que induz mutações. A radiação tem também efeito teratogênico, quer dizer, provoca alterações significativas no desenvolvimento de mamíferos irradiados quando ainda no útero materno.
Considerações finais
Figura 12: Protesto do Greenpeace diante das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em Caetité.
Após anos de operação da INB em Caetité, a denúncia do Greenpeace confirma a contaminação ambiental por urânio na área de influência direta do empreendimento, prevista no EIA/Rima. O estudo do Greenpeace concluiu que a contaminação das águas pode ter sido causada pela "presença natural de urânio e tório no solo" e que enchentes e transbordamentos na mina de urânio podem ter aumentado as áreas de concentrações naturais, já que o material radiativo pode ser carreado pela água. Essa pesquisa não consegue responder exatamente se a operação da INB causa contaminação ambiental no entorno da mina de Caetité ou a contaminação é natural. Os impactos ambientais provenientes da exploração e do beneficiamento do urânio podem gerar impactos radiológicos e, consequentemente, impactos ambientais, contaminando ar, água e solo.
Efeitos tardios, como o câncer, são mais difíceis de identificar por conta da demora em aparecer – torna-se incerto afirmar se a patologia se deve à exposição radiativa ou ao processo de envelhecimento natural do ser humano. Por essa razão, a identificação dos efeitos tardios causados por radiações nucleares só é possível se houver controle histórico e amplo sobre a população afetada.
A região de Caetité é composta por caatinga e semiárido, tendo sido escolhida para a implantação da mineradora devido ao fato de não ser urbanizada. A maior preocupação no momento é equilibrar a região, que tende à desertificação e à exaustão dos aquíferos locais e da preservação ambiental.
A reportagem realizada pelo Jornal da Record sobre o acidente ocorrido em 2008 e sua a relação entre casos de câncer pode ser vista no Youtube no link https://www.youtube.com/watch?v=7DMISDJbs9g (educacaopublica)