Discutir
a questão nuclear exige um enorme equilíbrio e um grande desapego de todas os
interesses econômicos envolvidos que modulam posições e determinam estratégias
de todos os agentes envolvidos. Não se trata de ser contra, ou a favor da
utilização pacífica da energia nuclear. Busca-se exercer apenas reflexão
sensata que contribua para agregar argumentos no debate que se realiza.
Existe
grande quantidade de agentes e o Painel de Mudanças Climáticas (IPCC), da
Organização das Nações Unidas (ONU), se alinha com esta posição, que acredita
que o uso de energia nuclear é preferível, ao menos em relação ao emprego de
termelétricas, para produção energética, na medida em que ocorre geração
energética “limpa”, ou seja, isenta da produção de gases de efeito estufa. Este
alinhamento ganha críticas igualmente porque assinala a falta de visão holística
ou visão mais abrangente, de seus integrantes.
O
processo utilizado numa central nuclear parece simples e prosaico, mas é
extremamente complexo em suas variáveis e controles. Átomos de urânio tem sua
fissão controlada até certa temperatura e emitem energia. O processo é iniciado
e deve se impedir a propagação nuclear que tem que ser controlada com a
interrupção da sequência reativa em temperatura indicada. Tudo é cuidadosamente
planejado, mas relativamente complexo de controlar. Trabalhos descritivos mais cuidados
podem ser encontrados em publicações do Prof. Ildo Sauer da Universidade de São
Paulo.
Em
recente entrevista à TV Câmara, o ativista e arquiteto Francisco Whitaker
ressaltou que os protocolos envolvidos nos tratados entre Brasil e Alemanha
para a construção das usinas localizadas em Angra, datam da década de 70 do
século passado e podem ser considerados defasados em comparação com documentos
mais atualizados e recentes que incorporam conhecimentos já acumulados e
desenvolvidos após notáveis acidentes com usinas de geração nuclear como em
Chernobyl, “Three Mile Island” e mais recentemente “Fukushima”. Na mesma
oportunidade, declarou também que o projeto governamental de implantar mais 15
usinas de energia nuclear no nordeste, esbarra em fatos notórios e públicos,
declarando que só a produção de energia a partir de biomassa no estado de São
Paulo, produz o equivalente a 15 usinas atômicas médias.
Tudo
na vida tem uma relação determinada de obtenção de benefícios e riscos
envolvidos. A radioatividade está envolvida em várias dimensões da tecnologia
do urânio enriquecido. Sendo o maior problema, mas não caracterizando o único
risco envolvido. O plutônio produzido, por exemplo, tem segundo Francisco
Whitaker tempo de meia vida de 24.100 anos. Sem tentar explicitar a
conceituação de tempo de meia vida, bem conhecida de profissionais da área
química, isto significa mais um resíduo perigoso a ser administrado por longo
tempo.
Na
verdade, se o empreendimento representativo de uma usina atômica tivesse todos
os seus custos contabilizados, inclusive considerando a adequada disposição e
neutralização dos resíduos atômicos que geram radioatividade nociva, pelo tempo
e da forma que são necessários, os custos envolvidos seriam proibitivos. Mas
permanece um sentimento de improvisação e uma visão retrógrada que não se
apropria de toda a realidade envolvida particularmente em termos de realismo
econômico, ao não incorporar todas as fases e procedimentos adequados.
Riscos
existem em todas as atividades, por melhores, ou por mais defasados, que sejam
os protocolos reguladores das atividades. Não se deseja qualquer mimetismo de
comportamento, ou transferência de decisões, que são próprias da soberania e da
autonomia de cada povo. Mas tem constatações que se evidenciam e falam por si
próprias. A Alemanha partiu de um insignificante percentual de sua matriz
energética de fonte eólica, há poucas décadas, e hoje, se encontra desativando
todas as centrais nucleares e a energia eólica representa um potencial
significativo de sua matriz energética, conforme atesta Nicholas Stern,
ex-presidente do Banco Mundial em seu livro “O caminho para o desenvolvimento
sustentável”, prefaciado por Israel Klabin, e editado pela Elsevier em 2010.
Não
é preciso ficar dissecando minúcias das atividades ligadas à geração de energia
a partir de fonte nuclear. Pelo contrário, uma visão mais holística permite
apropriar que não é conveniente, adequado ou necessário se expor a este risco,
seja com tecnologias ou protocolos mais adequados e modernizados ou não.
Tampouco se trata de decisão econométrica, baseada em adequadas realizações de
apropriações completas ou não de cálculos de custos. A questão é, se
independente das variáveis tecnológicas e de procedimentos adequados, torna-se
realmente necessário e fundamental para a viabilidade geral da sociedade se
submeter a estes riscos e aos elevados custos decorrentes de qualquer
irregularidade? A continuidade da industrialização e da modernidade das
instalações do país depende desta alternativa?
A
sociedade brasileira através de suas entidades representativas da sociedade
civil é que deve ter o último posicionamento e determinar o procedimento sobre
a alternativa mais adequada neste momento, assim como em outros casos. Cabe
democraticamente respeitar a decisão da maioria, mas não se postar com
ingenuidade diante das comuns associações ilícitas patrocinadas pelas
representações políticas do país no exercício das funções determinadas por
normatização legal. Embora isto exija um exercício de equilibrismo, sangue frio
e sensatez.
São
estas mesmo as características que garantirão resultados satisfatórios. Ainda
mais no Brasil. Grande produtor de “comoddities” agrícolas e bens primários, e
vocacionado, por variados fatores integrados, a se tornar competidor relevante
do mercado agropecuário, internacionalmente. Consta que boa parte dos problemas
gerados por Chernobyl foram episódios de radioatividade terem atingido produtos
agrícolas por muito tempo. Estes produtos, consumidos posteriormente, geraram
efemérides com relatos de atividades carcinogênicas por muito tempo, em
variadas geografias.
O
Brasil já sabe o que significam restrições sanitárias por febre aftosa ou até
mesmo por produtos veterinários empregados em atividades agropecuárias, e sabe
quão devastador poderia ser uma restrição na exportação agrícola pela
ocorrência de uma contaminação radioativa de produtos agropecuários. A
discussão sobre o tema está aberta. São riscos a serem assumidos, ou melhor,
seria serem suprimidos? (ecodebate)
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