Até
pouco tempo atrás, não se pensava no Sol como potencial energético, mas como
sinônimo de belas praias e calor extasiante. Aos poucos, as perspectivas estão
mudando e a disponibilidade de irradiação solar durante o ano inteiro, como é o
caso do Brasil, abre novas e variadas oportunidades de negócios e
desenvolvimento industrial.
Atualmente,
o aproveitamento do Sol pode ser feito por meio de três grandes tecnologias:
aquecimento solar, energia solar fotovoltaica e energia heliotérmica
(Concentrating Solar Power, ou CSP). Apesar de muitas vezes serem confundidas
umas com as outras, elas envolvem maneiras muito distintas de transformar a luz
solar em calor ou energia.
A
energia fotovoltaica, por exemplo, converte a luz do Sol diretamente em energia
elétrica, sem utilizar calor. As outras duas tecnologias – o aquecimento solar
e a energia heliotérmica – funcionam pela captação e armazenamento de calor. A
diferença é que, enquanto o aquecimento solar funciona numa faixa de
temperatura entre 60°C e 150°C, a heliotermia, usando o princípio de
concentração dos raios solares diretos, opera entre 200°C e 1000°C.
O
calor heliotérmico pode ser aproveitado de duas formas: para gerar energia
elétrica, com a utilização de uma turbina movida a vapor produzido pelo calor do
Sol; ou diretamente, em aplicações como o fornecimento de calor industrial ou
refrigeração.
Aplicações
industriais no mundo
A
oferta de calor de processo é uma questão bastante importante nos países
industrializados. Na Alemanha, em 2007, a indústria era responsável por 28% do
consumo total de energia do país, sendo que, desses, 76% eram utilizados para
geração de calor.
Para
o Brasil, as análises do International Energy Outlook 2013 (IEA, 2013) indicam
que, em 2010, 60% da energia total consumida no país era utilizada pelo setor
industrial. A previsão de consumo energético para os próximos anos é de
aumento: cerca de 1,7% por ano entre 2010 e 2014, sendo que a indústria
continua mantendo uma fatia considerável desse consumo.
O
calor de processo em aplicações industriais abrange uma grande faixa de
temperatura – entre 30°C e 1300°C. A tecnologia relacionada à energia
heliotérmica facilmente atinge temperaturas até 400°C, faixa onde se encontram
aplicações nas indústrias alimentícia, de tabaco e papel e celulose, por
exemplo.
Temperaturas
acima de 400°C são empregadas, principalmente, nas indústrias metalúrgica, de
mineração e química. Enquanto no Brasil quase nenhuma experiência existe para
tais processos industriais, no mundo já há muitos exemplos em operação de
aplicação de energia heliotérmica para obtenção de calor de processo.
Empresas
alemãs, francesas e italianas estão operando, por meio de heliotermia, com
vapores superaquecidos de até 540°C a 100 bar de pressão. Na ilha de Sardenha
(Itália), um concentrador solar do tipo Fresnel é empregado na produção de
queijos. Com cerca de 1000 m² instalados e com o uso de vapor com altas
temperaturas, a produção alcança 670 kg/h.
Em
um dos projetos, realizados no Qatar, o calor é empregado em uma unidade de
dessalinização térmica de produção de água doce para irrigação de plantas em
estufas – produz-se cerca de 10m³ por dia de água doce. Também nesse país, os
apaixonados por futebol irão gostar do que está sendo preparado para a Copa do
Mundo de 2022: estádios estão sendo construídos com refrigeração por meio de
CSP.
Um
novo mercado para as empresas fornecedoras e instaladoras
Grande
parte da economia brasileira utiliza processos térmicos em suas atividades
industriais. No entanto, diferentemente do setor comercial, as temperaturas
envolvidas em processos industriais normalmente situam-se acima dos 100°C. Para
temperaturas entre 100°C e 200°C, consideradas baixas para o setor industrial,
os sistemas de coletores solares convencionais atendem com preços bastante
competitivos.
Entretanto,
para médias e altas temperaturas, são necessários concentradores solares.
Assim, o domínio das tecnologias heliotérmicas abre um novo mercado para as
empresas fornecedoras e instaladoras de equipamentos e sistemas de aquecimento
solar.
Para
temperaturas de até 400°C, os coletores tipo Fresnel, que utilizam espelhos
planos e foco em linha, atendem com custos muito competitivos, tanto de
instalação quanto de operação e manutenção, principalmente por terem estruturas
relativamente simples. Outra vantagem dessa tecnologia é a facilidade de
instalação em telhados e coberturas, devido ao seu baixo peso e pela semelhança
de instalação com os coletores convencionais.
Pelo
fato de esses coletores serem uma evolução tecnológica dos convencionais, as
empresas do setor podem, com pouca capacitação e um pequeno incremento em sua
infraestrutura, passar a atuar neste mercado ainda inexplorado no Brasil.
Os
sistemas Fresnel podem ser utilizados tanto para fornecer calor diretamente
para o processo, quanto para realizar o pré-aquecimento, otimizando
energeticamente uma indústria, uma vez que, com os altos cistos da energia
elétrica, diversos processos para gerar calor ficaram inviáveis. Além disso, o
uso dessa energia totalmente limpa e renovável aumenta a sustentabilidade dos
produtos com ela produzidos.
No
Brasil ainda não existem empresas fornecedoras dessa tecnologia, mas há
possibilidades para a associação de empresas brasileiras com empresas
internacionais (como da Alemanha, Estados Unidos e Espanha) para não somente
importar equipamentos, mas também começar a produzir no Brasil. Visto que a
tecnologia está em constante evolução, existe espaço para desenvolvimento
tecnológico no Brasil, de modo que os equipamentos possam se adaptar melhor às condições
brasileiras.
Como
se pode ver, a heliotermia pode ter um papel importante nas aplicações
industriais relacionadas ao calor de processo. Entretanto, atualmente a
complexidade de processos industriais requerem um esforço no planejamento, na
integração e na instalação desses sistemas.
Nesse
sentido, como a utilização dessa tecnologia ainda é insipiente em processos
industriais, a implementação de projetos demonstrativos e incentivos à
utilização, como programas de subsídio, é essencial para ajudar a minimizar os
riscos inerentes aos investimentos e a superar possíveis entraves à
disseminação dessa tecnologia. (ambienteenergia)
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