Após
denúncia, água contaminada por urânio é vetada
Ministra do
Meio Ambiente mandou suspender consumo; presença de metal em poço na Bahia foi
revelada por reportagem do ‘Estado’.
Documentos
mostram que INB demorou a informar a prefeitura e os proprietários
O
Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) determinaram a suspensão imediata do consumo da
água dos poços da região onde foi constatada contaminação por alto teor de
urânio na Bahia. A decisão de apuração imediata da situação foi ordenada
diretamente pela ministra Izabella Teixeira, assim que ela soube da denúncia em
reportagem publicada no OESP em 22/08/15.
Além
da medida tomada para assegurar a segurança da população, o IBAMA informou que
a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) poderá ser multada por omitir
informações. Em nota assinada pelo diretor de Licenciamento Ambiental Thomaz
Miazak de Toledo, o instituto declarou que “não recebeu da INB os laudos de
qualidade da água que, segundo reportagem do Estado, apontam presença de urânio
em níveis superiores aos estabelecidos pela Resolução 396 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama) em poço localizado na região de Caetité”.
“Imediatamente
após ser informado pela reportagem, o IBAMA notificou a INB, a Cnen (Comissão
Nacional de Energia Nuclear) e as autoridades de saúde competentes para que
adotem as medidas necessárias de maneira que não haja risco para a população
local”, informou o órgão ambiental. “A eventual omissão da INB caracteriza
descumprimento da condicionante 1.4 da licença de operação da mina de Caetité,
fato que, se confirmado, implicará a aplicação de multa prevista no art. 66 do
Decreto 6514/2008.”
A
reportagem teve acesso a laudos técnicos e despachos que comprovam que a INB,
responsável pela extração e produção de urânio, realizou duas inspeções em poço
na região e encontrou água contaminada com índices do metal pesado mais de
quatro vezes superiores ao limite estabelecido pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e pelo Conama. Apesar de ter feito coleta de água em outubro e em
março, a INB só comunicou a prefeitura de Lagoa Real no fim de maio. No
período, não houve comunicação da estatal sobre o caso para o ministério ou o IBAMA,
órgão responsável por licenciar e fiscalizar qualquer tipo de empreendimento ou
denúncia envolvendo material radioativo.
“Como
órgão licenciador da mina, o IBAMA exige que a INB encaminhe relatórios
periódicos de implementação dos programas ambientais e, em caso de evento não
usual que possa resultar em dano ao meio ambiente e risco à população,
comunique imediatamente a ocorrência ao IBAMA, à Cnen e ao Inema (Instituto do
Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia)”, diz o instituto oficialmente.
Sem irregularidades
Sem irregularidades
A
INB nega irregularidades no caso, sob justificativa de que a área do poço
contaminado, uma região conhecida como Varginha, está a 20 km de distância de
sua mineração e não faz parte da área que deve fiscalizar. No entanto, como
revelado pela reportagem, a própria estatal afirma, em documento disponível na
internet, que inspeciona a qualidade da água na região de Varginha, comunidade
de Lagoa Real.
Em
nota, a Cnen repetiu o argumento da INB, de que o poço não estaria em sua área
de responsabilidade. “A INB tem obrigação de nos informar sobre os resultados
das medidas nos poços de controle ambiental, que são justamente os que refletem
os efeitos das atividades de mineração e beneficiamento de urânio. Esta
obrigação tem sido cumprida”, disse a comissão. “Se o alto teor de urânio da
água encontrada no referido poço fosse proveniente das atividades da INB, a
Cnen tomaria as devidas medidas. Neste caso específico, nos cabe apenas
ratificar a recomendação da própria INB de que a água do poço não seja usada
para consumo humano”, informou, acrescentando que não cabe à comissão avaliar a
potabilidade de água fora da área de influência dos empreendimentos que
licencia. “Trata-se de responsabilidade mais afeita à vigilância sanitária.”
(OESP)
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